Nesta sexta-feira (25), chega à Netflix a primeira temporada de 3% (3 por cento), primeira série brasileira do serviço de streaming criado e dirigido por Pedro Aguilera, Cesar Charlone, Ivan Nakamura, Dani Libardi e Daina Gianecchini. A série se passa numa época futurística, em um mundo pós-apocalíptico onde as pessoas moram no Continente, um lugar miserável e devastado que falta a base essencial: água, comida e energia. Ao completar 20 anos, cada cidadão tem o direito de participar de um processo seletivo que oferece uma única oportunidade de ir para o Mar Alto, uma espécie de ilha paradisíaca onde tudo é aparentemente perfeito, com oportunidades para se ter uma vida digna. No entanto, há uma regra: apenas 3% passarão nesse processo, que promete testar o físico e o psicológico dos candidatos, colocando-os em dilemas morais e situações de risco.
O Pipoca na Madrugada teve a oportunidade de assistir os primeiros episódios da série antes da estreia e posso dizer que a premissa é forte e promete bons plots no decorrer dos oito episódios. É difícil julgar uma série com base em dois episódios, mas logo na season premiere já se tem uma noção geral sobre o ambiente devastado, o local onde as autoridades elaboram o processo seletivo, como esse processo é executado e, é claro, a apresentação dos principais personagens. Logo de cara, a série me lembrou com muita nitidez o filme Divergente, onde a sociedade pós-apocalíptica foi dividida em facções. Se nessa trama, os personagens podem escolher a qual verdadeira facção pertence e aqueles que não são dignos se tornam os sem facção, a série 3% mostra ao contrário: ela dá a chance de uma pequena porcentagem dos “sem facção” de ter uma vida melhor em um lugar melhor.
Mas como funciona esse processo? O primeiro episódio apenas mostra três fases dessa seleção, onde o candidato passa por uma entrevista em que seu psicológico é testado até o limite. Achei bem interessante essa parte, pois os entrevistadores são bastante frios quando questionam e não se importam com as emoções de quem está do outro lado do vidro. Para eles, o que realmente importa é se a resposta está de acordo com o que eles querem ouvir e se o candidato tem a esperteza e a frieza suficientes para seguir em frente. O segundo teste é uma espécie de avaliação da ficha do candidato, para saber se tudo o que está ali é verdadeiro. Logo depois, eles passam pelo teste do cubo, em que os candidatos irão começar a mostrar suas facetas, sejam elas boas ou ruins. Não vou dizer o que acontece para não dá spoiler. Por isso, assista!
Um ponto que pode incomodar o telespectador é a performance meio robótica dos atores. Quase todos eles apresentam seus personagens dessa forma, com diálogos curtos e frios, como se estivessem lidando com objetos e não com pessoas. Acredito que esse tipo de interpretação seja proposital para mostrar que o que menos importa nessa trama é a emoção, especialmente quando as autoridades precisam retalhar aqueles que infringem as regras. Por enquanto, duas personagens que fogem desse tipo de interpretação são a candidata Michele e a funcionária Julia, esposa de Ezequiel, chefe do processo.
Quanto ao cenário, eu gostei bastante da forma como a produção montou o ambiente. De um lado, você tem um lugar deserto e devastado, uma espécie de favela futurística dividida em blocos. Do outro, você tem um ambiente totalmente branco, clean, representando o governo, a autoridade e o poder. O que separa esses dois mundos é uma longa trilha por onde os candidatos caminham, dando aquela impressão de que eles estão saindo de um buraco, do fundo do poço, para se chegar ao topo e encontrar uma ponta de esperança.
Personagens
Logo no primeiro episódio, o público já descobre quem são os candidatos protagonistas da série e as primeiras facetas de cada um. Bianca Comparato é Michele, uma garota muito esperta e inteligente que logo mostra ter generosidade e bondade com outras pessoas que sentem dificuldades para lidar com o processo. Mas é ela que traz o ápice na história, revelando qual é o seu verdadeiro propósito nessa seleção, que vai muito além de ir para o Mar Alto. Michele, com certeza vai se destacar em várias cenas, por isso é bom ficar de olho nela. Repito: não vou dizer o que ela fala e faz para não dá spoiler.
Rodolfo Valente é Rafael, um rapaz que já revela não ter boa índole e se for necessário, ele jogará sujo para salvar a sua pele. Junto com ele, somos apresentados a Joana, interpretada por Vaneza Oliveira, uma moça que mostra mistério e até aprecia a atitude de Rafael. Ainda não dá para saber como ela vai proceder durante o processo, mas ela já mostrou que é forte, determinada e nenhum pouco boba a ponto de acreditar em tudo o que vê ou falam. Acredito que ela será uma grande surpresa nesta série, ganhando o posto de destaque nesta primeira temporada.
Michel Gomes é Fernando, um cadeirante que logo no início recebe olhares tortos pelo fato não poder andar e estar participando de um processo seletivo que testará os limites físicos. Apesar da cadeira de todas, Fernando sonha em ter uma vida muito melhor que a do seu pai, além de alcançar a sua independência total. Vamos ver o que a série guarda para ele.
Por fim, temos Marco, papel de Rafael Lozano, um rapaz que vem de uma família conhecida por sempre passar no processo. Todos eles estão à espera do garoto no Mar Alto e o fato de que todos os seus parentes obtiveram sucesso poderá se tornar um fardo e uma pressão a mais nas costas de Marco. Aparentemente ele demonstra ser uma pessoa calma, zen e bastante confiante. Mas, com certeza, essa confiança será mexida e remexida muitas vezes.
No lado do Poder, temos João Miguel interpretando o chefe do Processo Ezequiel, um homem aparentemente culto, misterioso e com a paciência um pouco curta. Um dos episódios conta como era a vida de Ezequiel antes de se tornar chefe e como a sua personalidade mudou radicalmente após crescer profissionalmente, lidando com o segredo de sua esposa e os riscos e erros que o processo causa ao longo do caminho. Tenho quase certeza de que Ezequiel irá bater de frente com os candidatos, especialmente com a Michele.
Nesse lado também temos Aline, interpretada por Viviane Porto, uma jovem e ambiciosa funcionária com a missão de avaliar o processo comandado por Ezequiel. Com o jeito doce, intelectual e correto, Aline joga as cartas na mesa e revela a verdadeira razão para estar ali (assista para saber). Mas logo nas primeiras cenas, a personagem se mostra incrédula e surpresa com certas atitudes de Ezequiel, o que a faz colocar ele na parede e questioná-lo sobre sua postura e ação com relação aos candidatos e os demais funcionários.
Considerações finais
A série 3% (3 por cento) tem uma premissa forte e atual, que navega por um mundo meritocrático e futurístico, mas que mostra exatamente a realidade dos dias de hoje. Apesar de algumas interpretações serem meio secas e robóticas, os personagens mostram força, o que pode levar a série a um patamar maior e, assim, alcançar o seu sucesso. Como disse, é difícil julgar uma série baseando-se em apenas um ou dois episódios, mas neste caso, o que posso dizer é que esta primeira temporada tem tudo para dar certo. Vamos ver como a história se seguirá nos próximos episódios.
E aí, ficaram animados para assistir a série? Vamos lá, deem uma chance!
Ficha Técnica
3% (3 por cento)
Criação e Direção: Pedro Aguilera, Cesar Charlone, Ivan Nakamura, Dani Libardi, Daina Gianecchini e Jotagá Crema.
Elenco: Bianca Comparato, João Miguel, Mel Fronckowiak, Michel Gomes, Rodolfo Valente, Viviane Porto, Vaneza Oliveira, Rafael Lozano, Sérgio Mamberti, Zezé Motta e César Gouvea.
Duração: 1ª temporada – oito episódios
Nota: 7,0 (para o primeiro episódio)