O Dublê (The Fall Guy) chega aos cinemas para proporcionar diversão e entretenimento com uma boa história que mistura ação, comédia, romance e mistério, além de fazer uma ótima homenagem a uma classe trabalhadora deixada de escanteio, mas muito importante à indústria cinematográfica: os dublês. Um filme envolvente com uma dupla de protagonistas que vai prender a sua atenção do começo ao fim. Vale a pena assistir e vou te dizer o porquê.
Com direção de David Leitch – que dirigiu o ótimo Trem Bala – O Dublê é o trabalho mais pessoal do diretor, uma vez que Leitch foi dublê na vida real, transmitindo a sensação e emoção às telas de como é trabalhar nesta área tão conhecida e pouco valorizada.
Inspirado em Duro na Queda, série de TV de sucesso dos anos 1980, a trama acompanha o dublê Colt Seavers, que se entrega de corpo e alma ao trabalho, desde cenas arriscadas de explosão, tiroteio, incêndios, até acidentes de carro, capotamentos e quedas das mais altas janelas. Neste meio, ele conhece e mantém um relacionamento com Jody, que trabalha na produção. E os dois planejam, pelo menos, um futuro aconchegante para eles.
Colt é o dublê principal do astro Tom Ryder, ator super requisitado na indústria, mas que não gosta de fazer cenas de ação, não é à toa que a parte árdua fica para Colt, enquanto a empresária de Tom, Gail, cuida da carreira dele e acompanha Colt para que nada saia dos trilhos.
Um dia, durante uma gravação, Colt sofre um grave acidente que o afasta da carreira por mais de um ano, deixando tudo e todos para trás, inclusive Jody. O trauma é tão marcante que Colt opta trabalhar em um estacionamento ao invés de voltar a ser dublê. Mas o destino o obriga a retomar a carreira quando descobre que Jody irá dirigir um grande filme de ação, protagonizado por Tom Ryder. E a produção precisa, mais do que nunca, do melhor dublê do ator.
Mas o que era para ser apenas uma retomada na carreira, se torna uma grande aventura perigosa, pois além de reconquistar o coração e a confiança de Jody, Colt terá que investigar o paradeiro de Tom Ryder, que desapareceu repentinamente, para que o filme possa ser lançado. Mas o que poderia dar errado? Quase tudo.
Quem assistiu ao filme Trem Bala, a mais recente produção de Leitch, vai perceber e sentir a mesma adrenalina divertida em toda a trajetória de O Dublê. E o primeiro ponto positivo e muito bem elaborado é a narrativa que usa e abusa da metalinguagem, ou seja, tal conteúdo audiovisual não está ali apenas para contar uma simples história, mas também avisa ao público que se trata de uma obra de ficção que falará sobre nichos do próprio cinema, além de referenciar o que acontece na vida desses personagens que acompanhamos, enquanto fazem um filme.
Sem dúvida, o primeiro ponto a se ressaltar aqui é a ótima homenagem aos dublês não só enaltecendo esses profissionais, como também aponta o lado árduo de ser um dublê, que exige força física e psicológica para arriscar a pele a realizar manobras radicais a fim de que tal cena seja a mais real possível aos olhos do público.
Em meio a metalinguagem, vemos a produção do filme ‘Metalstorm’ ao mostrar o passo a passo de uma gravação de cena de ação, desde a preparação do cenário, até o instante de atear fogo no corpo do dublê, ou realizar uma sequência de capotamento de um carro, na qual faz Colt até perder o trauma que sofreu.
O filme brinca bastante com referências ao cinema e à cultura pop, como fato de Jody estar determinada a gravar o melhor take que será exibido durante a San Diego Comic-Con, no Hall H; hilárias referências ao filme Duna; e as citações a frases de filmes como Velozes e Furiosos e O Último dos Moicanos, que move os personagens diante de determinada situação bem arriscada.
Além disso, os bastidores de Metalstorm também chacoalham o romance de Jody e Colt, interrompido pelo trauma e a distância, mas agora, com uma nova chance para dar certo. Mas Jody não facilita em nada ao protagonista, colocando-o em situações arriscadas como dublê, enquanto questiona a razão para ter partido, a importância dos sentimentos entre eles, e se Colt está disposto a reconquistar sua confiança. Tudo isso enquanto gravam o filme, o que torna O Dublê ainda melhor.
Claro que entre ação, comédia e romance, não poderia faltar o gênero que dá o toque especial a tudo: o mistério. E é aqui que O Dublê sabe prender muito bem o espectador ao apresentar um desparecimento repentino de um ator famoso, sem indícios de como o levou ao sumiço, obrigando Colt a investigar algo que nem ele mesmo sabe por onde começar.
Mas com a ajuda de Gail, Colt inicia uma aventura que vai exigir não só as suas habilidades como dublê, como testar sua perspicácia e enaltecer seu lado heroico, colocando-o na posição de verdadeiro protagonista da história que o espectador assiste.
As sequências de investigação de Colt são as melhores, desde a balada, as visões alucinantes que ele tem com um unicórnio, as conversas românticas com Jody pelo telefone, com referências aos filmes Um Lugar Chamado Notting Hill e Uma Linda Mulher, as descobertas e lutas no hotel e na casa de Tom Ryder, até as cenas de fuga e briga no trânsito, isso sem contar o ápice da história que se desenvolve na gravação final de ‘Metalstorm’. Mas só assistindo para sentir a adrenalina e este sabor cômico.
O mais interessante é que O Dublê fala de tudo um pouco sobre cinema, em um filme dentro de outro filme, apresenta um bom mistério que rende em boas reviravoltas que, talvez, o público não capte com antecedência, o que soa positivo para a surpresa ser bem aproveitada.
Além da ótima direção e uma narrativa bem construída sem ser pretenciosa, o que torna O Dublê mais atrativo para assistir e tudo funcionar é o elenco. Ryan Gosling e Emily Blunt entregam uma química natural e gostosa de ver na tela, além de humor, ação, romance e drama com direito a uma cena hilária ao som de ‘All Too Well’ da cantora Taylor Swift.
Emily Blunt entrega uma Jody determinada e focada a realizar o maior sonho de sua carreira, sem deixar de lado o jeito doce e de apaixonada. Mas quando precisa lidar com um obstáculo ou um mal a frente, vemos um lado hilário e forte da personagem. A sequência que acontece dentro do trailer da Jody é sensacional. Só assistam.
Não dá para negar que Ryan Gosling está no auge da carreira e beleza. Impossível não suspirar pelo ator em O Dublê, que entrega carisma, boa atuação, impacto e paixão, o que deixará muitos hipnotizados na tela.
Os demais no elenco estão ótimos e dão o toque especial à trama, como a maravilhosa Hannah Waddingham como a empresária Gail; Aaron Taylor-Johnson como Tom Ryder, Winston Duke como Dan, o coordenador dos dublês; Teresa Palmer como Iggy e Stephanie Hsu como Alma. Cada um é uma caixinha surpresa no timing certo.
Considerações finais
A reta final de O Dublê rende em ótimos plots twists, revelações e o desfecho divertido ao filme ‘Metalstorm’ e o final justo para cada personagem, incluindo a dupla Jody e Colt. Aliás, o longa ainda conta com uma participação especial que é sensacional.
O Dublê aproveita bem da metalinguagem ao falar sobre cinema, homenageia o trabalho do dublê, enquanto mistura ação, romance, comédia e mistério do melhor jeito possível.
Ficha Técnica
O Dublê
Direção: David Leitch
Elenco: Ryan Gosling, Emily Blunt, Hannah Waddingham, Aaron Taylor-Johnson, Winston Duke, Teresa Palmer, Stephanie Hsu, Bem Knight, Matuse, Adam Dunn, Zara Michales e Angela Nica Sullen.
Duração: 2h06min
Nota: 3,9/5,0