Uma série muito comentada lá fora finalmente chegou ao Brasil pelo Prime Video. Estou falando de Na Mira do Júri (Jury Duty), uma produção que te fisga com a proposta, causa estranheza no início, te envolve com o nonsense hilário para saber como a história vai acabar e, no fim, te emociona quando a verdade vem à tona, mesmo já ciente do que está acontecendo. Vale a pena assistir e vou te dizer o porquê.
Se você é fã de The Office, este é só um dos motivos para você dar o play em Na Mira do Júri, afinal, são dos mesmos produtores da série estrelada por Steve Carrell, Lee Eisenberg e Gene Stupnitsky.
A sinopse parece um spoiler, mas acredite, não é. Em Na Mira do Júri, acompanhamos um grupo de pessoas convocadas para comparecer ao tribunal e compor a bancada de jurados que, junto ao juiz, irão deliberar sobre o julgamento de uma dona de confecção que acusa o seu funcionário de provocar enorme prejuízo, após um incidente na fábrica.
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Mas a grande pegadinha é que absolutamente tudo é falso, até mesmo a situação que está sendo colocada sob julgamento. Os 11 jurados, juiz, policial assistente e demais são todos atores, exceto uma única pessoa: Ronald Gladden, que acredita que assinou um termo para participar de um documentário sobre como funciona uma banca de jurados em um tribunal, algo comum de acontecer nos Estados Unidos quando um caso é levado para lá.
Na Mira do Júri tem oito episódios de 30 minutos e, logo de cara, o espectador nota que a série mistura documentário, reality show e comédia, seja pelos depoimentos dados pelos jurados frente às câmeras; as situações mais absurdas e constrangedoras criadas pelos atores, que usam do improviso com maestria em que, às vezes, o próprio espectador não diferencia se algo é improvisado ou se está mesmo no script; e as manipulações para ver as ações e reações de Ronald diante de uma situação que é verdadeira apenas para ele.
Imediatamente a série faz lembrar do filme O Show De Truman ao vermos Ronald viver uma situação irreal que, para ele, é tudo verdade…até dizerem o contrário.
Acredito que muitos vão perguntar se Ronald não desconfiou de nada. Para mim, em algum momento, ele deve ter desconfiado por conta das situações rotineiras com os demais jurados, mas por se tratar de atores e toda uma equipe por trás, a manipulação era feita de acordo com as ações do próprio protagonista, a fim de que não descobrisse a verdade. Posso dizer que é uma série bem arquitetada. E para quem está assistindo e sabendo de tudo, é mais fácil dizer isso, mas, e quem vive a situação? Será que é tão fácil apontar o dedo e dizer que algo é mentira?
Além disso, o fato do Ronald ter “assinado” um termo para participar de um documentário sobre os bastidores de um tribunal aumenta a atmosfera de veracidade, junto com as câmeras e a captação dos depoimentos de cada um, não somente do jurado alvo.
Mas, vamos ao que importa? Pois, o ponto alto que faz tudo funcionar em Na Mira do Júri são os atores escalados para compor este júri improvável e todo o arco. Cada ator e atriz incorpora um personagem peculiar e único, sem medo de expor suas verdades e essências aos demais presentes, as câmeras e, é claro, em meio a um julgamento acontecendo.
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O grupo é composto pelo ator James Marsden, o rosto mais conhecido do grupo. Ele incorpora um ator fora da caixinha, com estrelismos, que dá chilique, tenta escapar para não ser convocado para o júri, se acha ao receber o roteiro da sua nova produção, se frustra quando as coisas não dão certo, todas as emoções elevadas ao quadrado, algo que você até imagina um ator fazendo e, ainda assim, fica chocado ao presenciar.
No grupo temos o Todd (David Brown), um jovem obcecado em criar gadgets cibernéticos para facilitar o dia a dia, mas que causa mais estranheza; Barbara (Susan Berger), uma senhora de idade que dorme durante o julgamento; Vanessa (Cassandra Blair), que julga apenas com as caras e bocas que faz e é hilário; Noah (Mekki Leeper), um rapaz que não tem medo de expor que é virgem e está preocupado com o seu relacionamento, já que ele tá preso nesse julgamento; Jeannie (Edy Modica), que não hesita em demonstrar atração pelo Noah e cria situações divertidas apenas com uma fala.
Temos também o Lonnie (Ishmel Sahid), o mais sensato dos jurados, que engana ao abraçar bem a situação, na qual Ronald se identifica; Ken (Ron Song) diverte e irrita por falar extremamente devagar; Ross (Ross Kimball), um professor que está com saudades da esposa; Ravi (Pramode Kumar), que demonstra um pouco da sua cultura aos demais; e Pat (Kirk Fox), um homem que vai direto ao ponto; e a Inez (Maria Russell), que gosta de deixar tudo às claras.
Do outro lado do tribunal temos o juiz Alan (Alan Barinholtz); a policial Nikki (Rashida Olayiwola); Jacquiline (Whitney Rice), a vítima; a advogada de acusação Debra (Trisha LaFache); o réu Trevor (Ben Seaward); e o advogado de defesa.
Todos eles, de alguma forma, criam alguma situação constrangedora que faz o espectador dar risada de tão absurda que é, ao mesmo tempo que soa natural por conta dos improvisos geniais que os atores aplicam, juntamente com o apoio da produção que coordena e ensaia nas horas vagas.
Há cenas hilárias, como o James Marsden lendo o roteiro da sua nova produção e estudando seu personagem; os flertes estranhos entre a Jeannie e o Noah; os gadgets bizarros criados por Todd, além do seu jeito ‘awkward’; situações embaraçosas como a cena do banheiro; os intermináveis intervalos em que o juiz demora a dar continuidade no processo; o despreparo do advogado de defesa que irrita e diverte, entre muitas outras que só assistindo para entender e mergulhar neste universo nonsense.
Jurado herói
Claro que Na Mira do Júri cria toda esta situação fake para justamente mirar no Ronald, o verdadeiro protagonista da história. O mais interessante da série é acompanharmos as ações e reações do Ronald que surpreende pela forma como se expressa e toma atitudes com cada jurado que, ao fim, se torna um amigo para ele.
Ronald apresenta uma personalidade tímida e reservada, se envergonhando das primeiras situações – o que é normal – e tomando uma posição séria entre os jurados. Ele é educado, respeitador, bom ouvinte, honesto, divertido e calmo, características que são colocadas à prova especialmente nas situações mais constrangedores.
Ele é testado o tempo todo, não é à toa que se torna o líder do grupo, levando muito a sério o julgamento ao analisar a situação e as provas com conversas e debates, algo que surpreende a todos, até mesmo a produção que não esperava tamanha importância vindo da parte de Ronald.
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Os dois últimos episódios são perfeitos, pois vemos toda a revelação e o castelo de cartas desmoronar para o Ronald. O mais interessante é que, mesmo o espectador já sabendo que tudo é fake, se emociona e fica surpreso ao acompanhar como tudo foi planejado detalhadamente para a série, incluindo as falhas e o improviso em cima do improviso, tornando a série ainda melhor. É impossível não se comover e torcer ainda mais por Ronald que, no fim, confirma ser a ótima pessoa que é.
Considerações finais
Na Mira do Júri é um grande refresco ao mundo das séries, uma produção inovadora que se destaca em meio aos gêneros bastante consumidos nos últimos tempos. Com um elenco com rostos pouco conhecidos – apenas o de Marsden – a série entrega improviso, diversão e constrangimentos sem ofensas que hipnotiza o espectador que fica até o fim para saber como vai acabar.
No fim, Na Mira do Júri te conquista com uma história fake e emociona ao apresentar um herói real, gente como a gente.
Ficha Técnica
Na Mira do Júri
Criação: Lee Eisenberg e Gene Stupnitsky
Direção: Jake Szymanski
Elenco: James Marsden, Ronald Gladden, Alan Barinholtz, David Brown, Susan Berger, Rashida Olayiwola, Cassandra Blair, Kirk Fox, Ross Kimball, Pramode Kumar, Trisha Lafache, Mekki Leeper, Edy Modica, Ishmel Sahid, Whitney Rice, Kerry O’Neill, Maria Russell, Ben Seaward, Ron Song e Brandon Loeser.
Duração: 1ª temporada (8 episódios, 30 min).
Nota: 4,5/5,0