Glamorous é a nova série da Netflix cuja divulgação inicial foi sorrateira, chamando a atenção de vários olhares por conta da atriz Kim Cattrall no elenco. Outros pontos que aguçam a curiosidade para dar o play é a trama se passar no universo da beleza e maquiagem misturados ao drama de trabalho e autodescoberta. Assim que compreendemos sobre o que se trata, nota-se que a produção apresenta uma versão LGBTQIA+ do sucesso O Diabo Veste Prada, filme queridinho de muitos. Mas será que a série vale o seu tempo?
Criada por Jordon Nardino, Glamorous acompanha Marco Mejia (Miss Benny), um jovem queer que é apaixonado pelo universo da beleza e maquiagem e luta para se tornar um influencer digital de sucesso da área, mesmo com poucos seguidores neste início de carreira. Enquanto não engata de vez, Marco trabalha como vendedor de uma loja de produtos de beleza, afinal, os boletos precisam ser pagos e ele não pode ser dependente de sua mãe a vida toda.
Um dia, durante o trabalho, Marco é surpreendido ao ver que sua cliente é a poderosa Madolyn Addison (Kim Cattrall), ex-modelo de sucesso e, atualmente, dona do império de maquiagem Glamorous by Madolyn. É neste atendimento que Madolyn enxerga o potencial de Marco e o seu olhar sobre o público-alvo consumidor, algo que poderá fazer a diferença em sua empresa. Assim, Madolyn oferece a oportunidade para Marco trabalhar como seu segundo assistente, que não hesita e aceita a oferta com a chance de finalmente fazer carreira no que sempre sonhou. Mas será que ele vai dar conta do recado?
Glamorous tem 10 episódios de 45 minutos e apresenta uma trama que retrata sobre autodescoberta e amadurecimento em um drama de trabalho com a tentativa de trazer assuntos em torno da geração Z. A ideia é boa e desperta a curiosidade de assistir imediatamente. No entanto, à medida que avançamos nos episódios, o espectador nota a ausência de força e ousadia em explorar tais temáticas e entregar um desenvolvimento mais potente do protagonista.
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É normal pensarmos, à primeira vista, que Glamorous é uma versão LGBTQIA+ de O Diabo Veste Prada e, sinceramente, acho isso genial e fabuloso, pois há um prato cheio para retratar a comunidade em si e como é o mercado de trabalho para eles em meio a autodescoberta, amadurecimento e preconceito, enquanto desfrutamos de outras subtramas como amizades, relacionamentos e rivalidades. De fato, estes temas estão na série, mas falta vontade em querer explorar mais, deixando superficiais. E sim, era possível fazer isso ao longo de 10 episódios, na qual alguns se tornam até descartáveis.
A princípio, nota-se certas facilidades na narrativa para fazer as coisas acontecerem, como fato da magnata do ramo de cosméticos cair de paraquedas justamente no local de trabalho de Marco, e ainda oferecer um proposta de emprego. Quem dera se na vida real fosse assim, mas é possível comprar tal ideia. Mas mesmo com tal facilidade para a trama engatar, a história vai ganhando contornos fáceis em que poderia se aprofundar nos pontos essenciais.
O ator Miss Benny está super confortável no papel de Marco e o público torce para que o personagem engate no novo desafio e encare as dificuldades para alcançar os seus objetivos, desfrute do seu sonho com gosto, aprenda com os erros e veja realmente o que é cabível dentro da sua jornada de amadurecimento ou não, assim como acontece com a Andy em O Diabo Veste Prada. No entanto, Marco é colocado em uma zona de conforto e preguiça, sendo o segundo assistente que comete erros, corre atrás do prejuízo inicial, mas continua caminhando nos mesmos trilhos na qual não demonstra tanta iniciativa como os demais personagens.
Em um dado momento, a própria mãe de Marco, Julia (Diana Maria Riva) comenta sobre a postura do filho e como ele precisa encarar a vida adulta, antes que seja tarde demais. Ao falar isso, acredita-se que veremos exatamente isso acontecer, mas Marco é colocado em um caminho sem ousadia, focando mais nos relacionamentos e flertes bagunçados, enquanto o trabalho fica em segundo plano.
Glamorous poderia facilmente equilibrar os dois pontos, mostrando Madolyn desafiando o rapaz no trabalho, enquanto Marco toma a iniciativa de tirar a empresa do conservadorismo, mostrando o que a geração Z tem de bom e porquê a empresa deve voltar os olhos para este público e a comunidade LGBTQIA+. Isso até acontece quando a Madolyn precisa fazer um upgrade na marca antes que as coisas piorem, mas quando entramos neste arco, outros personagens ganham um destaque maior e o protagonista acaba ficando em segundo plano.
A Kim Cattrall está bem no papel e é sempre um prazer ver a atriz em alguma produção. Madolyn Addison é força, poder e potência e queria ter visto um gás maior da personagem em seu desenvolvimento com relação aos demais personagens. Ela quer fazer o que é melhor pra empresa sim, mas não demonstra muito em alguns momentos quando é necessário. Ela poderia ter instigado mais o Marco nessa trajetória, assim como ele faz com ela durante o novo projeto, mas não o suficiente.
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Mas para não dizer que Glamorous só tem pontos negativos, a série consegue segurar a atenção do público seja no relacionamento de Marco e Parker (Graham Parkhust), abordando com sutileza o preconceito dentro da comunidade LGBTQIA+; a relação de Madolyn e o filho Chad que, a princípio, é apresentado como um rapaz chato e mimado que quer chamar a atenção. No entanto, Chad (Zane Phillips) mostra ser muito dependente da aprovação de Madolyn, sendo que não precisa, uma vez que ele é inteligente, esforçado e tem potencial de sobra no trabalho, um ponto ressaltado pela mãe de Marco. Aliás, adorei essa dupla na série.
Chad se junta a Venetia (Jade Payton), assistente principal de Madolyn para correr contra o tempo para salvar a empresa e fechar o tão aguardado contrato. É gostoso acompanhar os dois personagens se esforçando ao máximo, enquanto se deparam com obstáculos que batem de frente com suas éticas profissionais e podem derrubá-los a qualquer momento. E era isso que eu queria ter visto com o Marco também.
Outros personagens coadjuvantes que dão um bom reforço à trama são Britt e Ben do time de design da empresa. Ambos são parceiros de trabalho e grandes amigos, se ajudando especialmente na área amorosa. Britt (Ayesha Harris) é a voz da sabedoria, dando aqueles toques no momento ideal para que ninguém pise na bola, a não ser que seja da escolha da pessoa. Ela engrena uma relação legal com uma pessoa, mas só assistindo para você descobrir.
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Já Ben (Michael Hsu Rosen) entrega carisma, fofura e não esconde o seu encanto à primeira vista por Marco. Ben demonstra insegurança e timidez no quesito relacionamentos e é um personagem que cresce e amadurece nesta área, um ponto positivo à série.
Considerações finais
Glamorous é uma série que apresenta uma proposta formidável, mas falha no desenvolvimento de alguns pontos da trama e do protagonista no ambiente de trabalho. A série trata de diversidade em meio ao drama e autodescoberta, o que é super interessante, mas peca em não explorar mais, beirando à superficialidade, mas que é salva da metade para o final.
Glamorous é uma produção com ótimas intenções e potencial, mas com um desenvolvimento que poderia ser melhor. É uma série legal de assistir, mas longe de ser perfeita ou para criar expectativas altas.
Caso Glamorous seja renovada para uma 2ª temporada, torço para que a série aproveite para corrigir os erros apresentados na 1ª temporada, desfrute e explore mais da história, do protagonista e todo a sua potência.
Ficha Técnica
Glamorous
Criação: Jordon Nardino
Elenco: Kim Cattrall, Miss Benny, Jade Payton, Zane Phillips, Ayesha Harris, Graham Parkhust, Michael Hsu Rosen, Diana Maria Riva, Lisa Gilroy, Nicole Power, Ricardo Chavira, Kaleb Horn, Mark Deklin, Damian Terriquez e Mark Suknanan.
Duração: 1ª temporada (10 episódios de 45 min.)
Nota: 2,9/5,0