Mais triste do que ver um filme fraco, é assistir a uma animação fraca. E, infelizmente, Meu Malvado Favorito 4 (Despicable Me 4) se encaixa neste quesito. Mesmo com personagens carismáticos e queridos pelo público, esta nova sequência entrega uma história bagunçada e sem muito foco, forçando um humor que, talvez, não funcione mais para todos. Meu Malvado Favorito 4 ainda pode agradar as crianças, afinal, é o público-alvo principal. Mas já não deve funcionar tanto para os adultos. E vou explicar o porquê.
Com direção de Chris Renaud e Patrick Delage, Meu Malvado Favorito 4 traz de volta o vilão querido por todos em uma nova fase de sua vida. Casado com Lucy e ao lado das três filhas, a família dá as boas-vindas ao pequeno Gru Júnior. O bebê é adorável com todos, exceto com o pai, na qual tem dificuldade de criar um vínculo com o filho, que o atormenta sempre que pode.
Enquanto a família se expande, Gru continua em ação e trabalhando a favor de capturar outros vilões. Seu novo alvo é Maxime Le Mal e a namorada Valentina. Maxime é o destaque e homenageado da escola de vilões, além de ser o queridinho da diretora. Ele aproveita a festa de cerimônia para revelar o seu mais novo plano: apresentar sua nova tecnologia e criar um exército de baratas. Mas o momento é interrompido por Gru, que faz o inimigo jurar vingança ao protagonista.
Para impedir que o pior aconteça, Gru e a família se mudam para uma nova cidade de proteção a agentes secretos. Agora, ele, Lucy e as crianças precisam se adaptar com a nova rotina e os vizinhos, enquanto tenta encontrar um jeito de derrotar Maxime de uma vez por todas, antes que ele coloque o seu plano em ação definitivamente.
Enquanto a família passa por esta adaptação, os Minions são realocados para a agência secreta onde serão treinados, enquanto alguns são selecionados para passar por uma alteração radical, transformando-os em Mega Minions com super poderes.
Meu Malvado Favorito conquistou o público com uma história original e personagens que cativam qualquer um até hoje. Não é à toa que já estamos no quarto filme da franquia, além de dois spin-offs focados nos ajudantes amarelos.
No entanto, o maior problema de Meu Malvado Favorito 4 é o roteiro que não apresenta foco na história. A sensação que dá é que o público assiste a várias esquetes simultaneamente ao invés de um longa-metragem com uma trama fluída e conectada.
Para começar, temos um novo vilão apresentado logo no início, juntamente com o seu afago por baratas e o objetivo de criar um exército destes seres e ainda usar da sua nova tecnologia para ter poder. Imediatamente, o plano é interrompido para o antagonista colocar Gru como o seu grande alvo, por ter acabado com a homenagem, além de prendê-lo.
Primeiro, a apresentação do novo vilão é superficial, além de ser um pouco grotesca, por ter baratas como exército, sendo que há tantos outros animais como opção. Como uma pessoa que detesta este inseto, digo que foi uma escolha péssima para colocar na animação.
A vingança contra Gru só acontece justamente por este reencontro de vilões, despertando sentimentos conturbados e um passado marcado, afinal, Maxime já se sentiu trapaceado por Gru e, agora, quer se vingar de qualquer jeito.
Se o filme realmente focasse no conflito entre protagonista e antagonista, teria funcionado melhor, e ainda deixaria as outras subtramas mais coerentes dentro da história. Mas em vários momentos, o público pode até se esquecer do real objetivo da trama, enquanto é mergulhado em outras situações descartáveis.
Para começar, temos a adaptação da família na nova cidade que é mal aproveitada. Ora vemos Lucy tentando seguir uma nova profissão, além de ser mãe e dona de casa; ora vemos Margot tentando se adaptar na nova escola; ora vemos Edith e Agnes lidando com suas novas atividades e tendo dificuldades em se adaptar.
Paralelamente, Meu Malvado Favorito 4 também tenta encaixar a dinâmica de pai e filho não qual Gru se esforça para conquistar o carinho do bebê Júnior, que ainda faz manhas e provocações quando estão somente os dois.
A animação também acrescenta a nova parceria de Gru com a vizinha adolescente Poppy, cujo sonho é se tornar na mais nova vilã de sucesso. Para isso, ela precisa da ajuda de Gru para realizar um plano que a colocará sob os holofotes da escola de vilões.
Não satisfeito, ainda é adicionado à história a transformação de alguns Minions em Mega Minions, com o objetivo de torná-los em novos heróis que possam ajudar a civilização. No entanto, este é o plot mais desperdiçado no filme, pois esta evolução dos Minions demora e, quando alterados, eles atrapalham quase que o tempo todo, ajudando apenas na reta final, uma ajuda ‘meia boca’.
Acredito que a introdução dos Mega Minions serviu para um possível Minions 3. Mas confesso que a ideia não convence as pessoas a assistir a um terceiro filme focado neles.
Aliás, um ponto a ser ressaltado aqui é o humor de Meu Malvado Favorito 4, que conquistou o público lá no primeiro filme com a introdução dos Minions e dinâmica divertida dos ajudantes amarelos. No entanto, neste quarto filme, o humor ganha um tom exagerado e chato, aparecendo no timing errado em alguns momentos. Sim, é possível ainda dar umas risadinhas com estes personagens, mas já não como era antes.
A verdade é que Meu Malvado Favorito 4 ainda pode funcionar com o público infantil, seja pelos personagens, o colorido na tela e, até mesmo, pelo humor. Mas acredito que esta graça não funcione da mesma forma aos adultos, que gostaram do primeiro filme na época. E é nestas horas que é possível pensar que deveriam parar de estender esta franquia.
Outro ponto a se ressaltar é o fato de as crianças não terem crescido na animação. Meu Malvado Favorito está no quarto filme, com Gru casado e com um bebê. Por que as meninas não cresceram também? Seria uma escolha técnica para não ter que alterar a estrutura das personagens? Seria preguiça de criar novos ângulos no roteiro, afinal, as personagens estão crescendo? Seria uma decisão com foco comercial para continuar lucrando com produtos do filme para as crianças? A verdade é que perderam a oportunidade de evoluir com uma história que começou com o pé direito.
Crítica: Um Lugar Silencioso: Dia Um
A dublagem continua boa, com Leandro Hassum dando voz ao Gru, Maria Clara Gueiros como Lucy e Lorena Queiroz como Poppy. Por isso, podem assistir a animação dublada tranquilamente.
Considerações finais
A reta final chega ao ápice do caos que junta todas as subtramas em um desfecho que salva a história. O final é fechado e sem pontas soltas, com direito ao reencontro dos vilões da franquia e todos os personagens cantando e dançando. Pelo menos, o final é divertido.
Meu Malvado Favorito 4 é uma animação que funciona para o público infantil, mas talvez não tanto para o público adulto. Mesmo com personagens carismáticos, o roteiro é bagunçado e sem foco, além de ter um humor exagerado que pode não gerar tanta diversão, como no primeiro filme.
Meu Malvado Favorito 4 é o exemplo de que há franquias que precisam saber quando parar. Mas a verdade é que há chances desta ainda continuar, mesmo que a qualidade não caminhe junto.
Ficha Técnica
Meu Malvado Favorito 4
Direção: Chris Renaud e Patrick Delage
Elenco de voz: Steve Carrell, Kristen Wiig, Joey King, Will Ferrell, Sofia Vergara, Miranda Cosgrove, Dana Gaier, Madison Sky Polan, Pierre Coffin, Steve Coogan, Chloe Fineman, Stephen Colbert
Elenco de voz brasileiro: Leandro Hassum, Maria Clarra Gueiros, Lorena Queiroz, Jorge Lucas, Pamella Rodrigues, Ana Elena Bittencourt, Bruna Laynes e Mauro Ramos.
Duração: 1h35min
Nota: 2,8/5,0