A Netflix traz mais uma adaptação de uma série animada querida pelos fãs. Avatar: O Último Mestre do Ar (Avatar: The Last Airbender) é a nova produção do streaming que conquista à primeira vista com a história de aventura e fantasia, tem um bom elenco com atuações satisfatórias até então, muitos efeitos que não ficam a desejar e um desenrolar que aponta para um futuro promissor à série.
Assim como One Piece conquistou e agradou o espectador, acredito que Avatar: O Último Mestre do Ar irá não só agradar os fãs do desenho, como também conquistará um novo público, especialmente aqueles que nunca tiveram contato com a história do desenho, como é o meu caso. No geral, o saldo é positivo e vou te dizer o porquê.
******CONTÊM SPOILERS (alguns)******
Com oito episódios com até uma hora de duração, Avatar: O Último Mestre do Ar é uma reimaginação em live-action da série animada Avatar: A Lenda de Aang. A trama apresenta o universo das quatro nações Água, Ar, Fogo e Terra, que viviam em harmonia sob a supervisão de Avatar, mestre capaz de controlar os quatro elementos, um guardião da paz. Mas quando o último Avatar morre, a Nação Fogo resolve tomar as rédeas, dizimando outras nações, para se tornar a poderosa e única do mundo.
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Assim, a série apresenta Aang, um jovem de apenas 12 anos e dobrador de ar da Nação dos Nômades de Ar. Ele recebe a notícia de que é a nova encarnação de Avatar e a nova esperança de salvar tudo e todos do domínio da Nação do Fogo. Mas, durante um passeio sob o mar com Appa, Aang sofre um acidente que o deixa congelado por 100 anos. Paralelamente ao que vemos com o garoto, os Nômades do Ar são totalmente dizimados pelos dobradores de fogo.
Nos dias atuais, a série nos leva para conhecer a Tribo da Água do Sul, onde há os dobradores de água. Lá, somos apresentados a Katara e Sokka, irmãos e membros da tribo, que encontram Aang que descongela um século depois. Ao descobrir que Aang será o futuro Avatar, os irmãos embarcam ao lado do novo amigo em uma missão fantástica para que Aang aprenda a dominar os quatro elementos, encontre os antigos avatares e absorva todas as lições possíveis para se tornar o Avatar capaz de salvar o mundo. Junto a isso, o trio terá que lidar com vários obstáculos, se deparar com nações amedrontadas e na defensiva, encarar o príncipe Zuko no encalço de Aang a todo momento e reagir à guerra instalada por Ozai, Senhor do Fogo.
O Pipoca na Madrugada já assistiu aos oito episódios e pode dizer que Avatar: O Último Mestre do Ar é uma grata surpresa especialmente ao público leigo. Como não tive contato com a série animada, esta crítica será voltada somente a live-action.
Sendo assim, é possível dizer que a série conquista, agrada, funciona e abraça o novo espectador que dá uma chance a esta produção, mesmo desconhecendo a história. O primeiro ponto positivo é que os oito episódios entregam 90% de bom equilíbrio, com uma boa introdução ao universo fantástico e aos personagens, sendo possível compreender como um todo.
O primeiro episódio é o ótimo exemplo disso, pois apresenta as quatro nações; quem é o vilão dominador e seus “capangas” a travar as batalhas pelo caminho; a primeira comunidade a ser dizimada pelo mal, enquanto as demais sobrevivem e se defendem ao terror do Fogo; comunidades menores que ganham força em meio caos; os heróis que irão realizar toda a trajetória de vitórias e derrotas; as ambientações deste universo; e a jornada de crescimento e amadurecimento dos heróis em seu grande papel nesta guerra.
Avatar: O Último Mestre do Ar explica e exemplifica quem são os dobradores de cada nação, revelando que estes têm a habilidade de dobrar o elemento de sua nação, ou seja, manipular, moldar e transformar o elemento em arma de defesa, ataque e, possivelmente, cura. Quem não é um dobrador, se torna guerreiro para defender sua comunidade de alguma forma.
A série apresenta uma narrativa em que temos a base principal da história – os heróis em busca de aprendizado, a formação do avatar e a busca pela paz e equilíbrio mundial – enquanto acompanhamos uma ‘adventure trip’ em que a cada episódio, o público conhece um novo cenário, novas tribos, novos aliados e vilões, enquanto tudo isso engradece os protagonistas que, consequentemente, se deparam com o que ocorreu no mundo nos últimos 100 anos e o que podem fazer daqui para frente.
Quem assistiu One Piece, notará tal semelhança nesta fórmula narrativa que funcionou muito bem e, aqui, também funciona positivamente. Claro que, quem é fã da série animada e tem vasto conhecimento da história, irá notar diferenças na adaptação, o que já é esperado, podendo trazer críticas mais ferrenhas por conta de certas mudanças. Mas para quem é leigo, a série funciona no geral, mesmo que se faça algumas observações do que pode melhorar para o futuro da produção, caso ganhe uma 2ª temporada.
Outro ponto positivo de Avatar: O Último Mestre do Ar são o CGI e os efeitos especiais que, sim, são muitos e a série é carregada disso, o que é fato. A produção apresenta uma paleta de cor bem saturada que representa cada nação, além de enaltecer suas personalidades e caráter entre o bem e o mal. De exemplo, a Nação do Fogo ganha uma paleta forte das cores vermelho, amarelo e preto, trazendo a sensação de calor, força, raiva e poder para retratar o lado obscuro que a nação representa. Já a Nação Água ganha cores claras, neutras e frias, como azul e branco, representando esperança, paz e vida; A Nação Terra se envolve nas cores marrom e verde; e a Nação Ar traz o branco, mas também se mescla com o vermelho e amarelo nos uniformes dos membros da comunidade, juntamente com outros elementos e características únicas, como a tatuagem da flecha da cabeça até as costas.
As ambientações, na maioria, são efeitos e é notável isso. Pode ser que incomode alguns, como não. Sinceramente, não vi problemas graves e grotescos com relação a isso. A série entrega efeitos satisfatórios aos olhos do público, que não prejudica na experiência de mergulhar na história. Até mesmo em cenas que realmente necessitam desses efeitos, seja para criar uma criatura ou desenhar as habilidades dos dobradores em ação, o CGI funciona de forma agradável. Mas isso vai da opinião de cada um.
Dos cenários, a cidade de Omashu e o Mundo Espiritual são os que chamam a atenção. Já os episódios 3, 5 e 6 são os meus favoritos.
Personagens
Outro ponto fundamental de Avatar: O Último Mestre do Ar é o elenco e suas atuações que, novamente, no geral, agrada, mas com algumas observações a melhorar. E obviamente a série nos presenteia com personagens agradáveis, cativantes, aqueles que gostamos de odiar, enquanto outros despertam raiva por completo.
Aang (Gordon Cormier) é o nosso protagonista e ele entrega exatamente o que se espera: uma criança de 12 anos com o grande peso de se tornar o herói capaz de salvar o mundo. O personagem consegue transmitir este fardo nas costas, enquanto lida com as dúvidas, medos e inseguranças à medida que destrincha a caminhada de se tornar um Avatar. Seria artificial demais termos um personagem tão novo e precoce nas atitudes, sem contar com o fato de que ficou congelado por 100 anos. A série constrói as suas camadas com sabedoria, erros e acertos, amadurecimento e evolução, o que é o caminho certo a se percorrer. Entregar um personagem já pronto para ser um herói seria um erro grave e até amador, o que não acontece aqui.
Sem a presença de seus mestres para lhe ajudar, Aang conta com a ajuda de Katara (Kiawentiio) e Sokka (Ian Ousley), que são fundamentais na história e, assim como o protagonista, os dois têm muito o que aprender e evoluir. E, é claro, que Avatar: O Último Mestre do Ar também destrincha os dois personagens.
Crítica: Anatomia de uma Queda
De um lado temos Katara em busca de conhecimento para dominar as suas habilidades como dobradora de água, algo que sempre fora podado e limitado a ela por conta da Nação do Fogo. Mas o risco é mais do que necessário e Katara, mesmo nova, demonstra força, astúcia, determinação, prática e empoderamento, mesmo quando tentam dizer o contrário ou diminuir a força da mulher em uma batalha que necessita da ajuda de todos. Katara não aprende da noite para o dia, ela treina, pratica e se esforça para se tornar a melhor, com falhas e acertos.
Já Sokka, mesmo não sendo um dobrador, ele busca crescer como um guerreiro na tribo, algo que também se torna o seu ponto fraco por conta das dúvidas e insegurança. É um personagem divertido e com potencial, mas acho que a série poderia ter desenvolvido mais ele neste quesito, assim como fazem com a Katara, colocando-o em situações mais desafiadoras e ousadas, e menos na zona de conforto. É um ponto a melhorar futuramente. Aliás, a série faz questão que os irmãos usem das fragilidades familiares para servir de estepe para uma força maior. E espero que o Sokka desfrute mais disso em futuras temporadas.
Do lado da Nação de Fogo, há dois personagens em grande destaque, aqueles que você gosta de odiar e se simpatiza: Príncipe Zuko e o tio Iroh (Paul Sun-Hyung Lee). Se tem um personagem que ganha um bom desenvolvimento é Zuko (Dallas Liu), que é introduzido como o responsável a capturar o Avatar para o pai, Senhor do Fogo. Às vezes, chega a ser engraçado a obsessão dele em colocar as mãos no protagonista, que sempre escapa, parecendo o Dr. Abobrinha e suas tentativas de comprar e derrubar o castelo na série Castelo Rá-Tim-Bum.
O público sabe do foco e sente a ira de Zuko em realizar a missão a qualquer custo, mas quando descobrimos as verdadeiras intenções por trás, os sacrifícios feitos e uma certa bondade escondida no fundo do coração do príncipe, cria-se certa afeição pelo personagem, justamente pela série conseguir já destrinchar a humanidade nele. A relação fria que o pai Ozai tem pelo filho faz o espectador compreender totalmente quem o Zuko era e quem ele se tornou, com a esperança de um possível início de redenção. Outro ponto que faz o público gostar do antagonista é a relação de cumplicidade de tio e sobrinho, repleta de apoio e sabedoria pela parte mais velha. Sim, eles são vilões, mas te cativam e, em alguns momentos, é possível torcer por eles.
Já o Senhor do Fogo Ozai (Daniel Dae Kim) e a Princesa Azula (Elizabeth Yu) são frios e detestáveis, com o único objetivo de destruir o Avatar ter o mundo sob os pés da nação do Fogo. Enquanto você sente empatia por Zuko, a raiva por Azula é crescente, tudo isso alimentado por um pai frio, calculista e sem medo de ser ruim com os próprios filhos.
Um personagem que não curti muito é o Rei Maluco (Utkarsh Ambudkar) de Omashu. Existe uma ligação entre ele e Aang, é interessante, mas sinto que a série poderia ter aproveitado esta relação de forma mais direta na tela, sem muitos joguinhos em que o rei desafia Aang. É um personagem bem caricato que, talvez alguns gostem, outros não.
Em Avatar: O Último Mestre do Ar temos a apresentação de dois grupos. No início, conhecemos o grupo de guerreiras; e na cidade de Omashu conhecemos um grupo clandestino de guerreiros liderado por Jato (Sebastian Amoruso), que são parte da resistência contra a Nação do Fogo. Apesar das intenções erradas e contraditórias, é um grupo que desperta curiosidade e o espectador quer ver mais deles e o que são capazes de fazer. Acredito que tanto eles quanto as guerreiras podem, futuramente, se tornar aliados do Avatar. Aliás, preferia ter visto mais de Jato do que do Rei Maluco.
Considerações finais
A reta final de Avatar: O Último Mestre do Ar culmina em uma batalha entre a Nação Fogo e Água em que temos destruições, sacrifícios a serem feitos, traições e grandes golpes, abrindo portas para a história continuar em uma possível 2ª temporada que, provavelmente, virá.
Avatar: O Último Mestre do Ar é uma série que conquista o público leigo desta história ao destrinchar bem este universo inicialmente. Acredito que também pode agradar os fãs que, provavelmente, verão diferenças com mais afinco. No geral, a série tem mais pontos positivos do que negativos, abrindo portas para novas temporadas e mais melhorias.
Ficha Técnica
Avatar: O Último Mestre do Ar
Criação: Albert Kim
Elenco: Gordon Cormier, Kiawentiio, Ian Ousley, Dallas Liu, Ken Leung, Paul Sun-Hyung Lee, Daniel Dae Kim, Yvonne Chapman, Lim Kay Siu, Maria Zhang, Elizabeth Yu, Momona Tamada, Thalia Than, Matthew Yang King, Arden Cho, Sebastian Amoruso, Utkarsh Ambudkar, Danny Pudi, C.S Lee, George Takei, Amber Midthunder e Meegwun Fairbrother.
Duração: 8 episódios (1ª temporada)
Nota: 3,7/5,0