A Sony Pictures começa 2024 com Madame Teia (Madame Web) nos cinemas, que traz uma heroína enigmática do universal da Marvel e propõe uma história com mistério instigante. No entanto, tenho que dizer que o filme é assistível, mas fica bem a desejar.
É uma galhofa na qual o público até se diverte com cenas absurdas e enxerga um roteiro cheio de conveniências, diálogos bregas, momentos que beiram ao ridículo, um vilão que até tenta dificultar, mas tem um desfecho fácil demais e um final que enxerga um futuro incerto. Madame Teia não é tão ruim quanto Morbius, sabe até entreter, mas tem problemas.
******CONTÊM SPOILERS******
Com direção de SJ Clarkson, Madame Teia conta a origem de uma das heroínas enigmáticas da Marvel. O filme dá início em 1973 e mostra a mãe de Cassandra, Constance (Kerry Bishé) no Peru, em busca de aranhas específicas e o poder que essas espécies carregam, possíveis de curar doenças raras. Grávida, ela fica à mercê de Ezekiel que lhe machuca para colocar as mãos na aranha, já ciente do tipo de poder que tem nas mãos.
Um grupo especial de ‘homens-aranhas’ da floresta ajuda Constance, que imediatamente dá à luz a Cassandra, salvando a filha com o poder de uma das aranhas, exceto a mãe, que falece logo depois.
Os anos passam e Cassandra Webb se torna uma paramédica em Manhattan em constante atividade. Um dia, quando ajudava uma das vítimas, ela sofre um acidente ao cair na água, despertando o que estava dentro dela desde o nascimento: o poder da clarividência, que a faz enxergar o futuro, ou seja, o que vai acontecer desde daqui a alguns anos ou, até mesmo, minutos depois.
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Após ficar confusa com as visões e sem conseguir ajudar algumas pessoas na qual ela viu o que vai acontecer, Cassandra finalmente compreende que consegue enxergar o destino, especialmente daqueles que são mais próximos dela. Assim, quando ela vê que três garotas irão se transformar em heroínas poderosas no futuro, mas poderão morrer no presente pelas mãos de uma figura ameaçadora, Cassandra inicia uma jornada para proteger este trio, enquanto entende e controla os seus poderes e descobre sobre o seu passado e quem ela é de verdade.
Madame Teia começa com pontos positivos que vão diminuindo, a começar pela construção da clarividência de Cassandra, a princípio sendo uma espécie de ‘deja vu’ que, logo depois, tanto a protagonista quanto o espectador têm a visão explicada de que aquilo é real e será concretizado a qualquer momento. As visões que Cassandra tem sobre qualquer personagem podem ser minimamente confusas e boas, dando início a um mistério promissor e enigmático, algo que o filme deveria ter explorado melhor, em contrapartida, entrega um desenvolvimento fajuto em várias ocasiões.
Ao invés de mergulhar no mistério, na atmosfera thriller e nos enigmas da clarividência de Cassandra, Madame Teia entrega um roteiro cheio de conveniências e facilidades que retiram toda a carga enérgica que a história poderia oferecer.
A protagonista tem facilidade demais em descobrir sobre o seu passado, cria um sentimento negativo e desconhecido do público (porque não é falado às claras) sobre a mãe que desconhece; viaja ao Peru com a maior facilidade do mundo, vai exatamente no lugar certo em que a mãe estava onde tudo aconteceu; e ainda é recepcionada pelo grupo dos ‘homens-aranhas’ que já estavam esperando por ela para contar toda a verdade. O líder poderia até saber que, um dia, ela apareceria ali, mas como ele sabia exatamente o dia, horário e local? Entendem a facilidade fajuta que o roteiro oferece?
Junto a isto, Cassandra se reúne a Julia, Anya e Mattie, as três garotas que tem o futuro promissor ameaçado pelo vilão. A química do quarteto é boa e segura bem as pontas, o que salva boa parte do filme, juntamente a época que estão, o início dos anos 2000 (mais precisamente 2003), em que o longa traz ótimas referências a cultura pop do momento, como Britney Spears com a canção ‘Toxic’, e o estrelato de Beyoncé que estourou com ‘Crazy in Love’.
Obviamente, a protagonista revela a atual situação às meninas e sua capacidade de enxergar o futuro, sem contar o que elas realmente se tornarão, com o intuito de apenas convencê-las da necessidade de segurança e apoio, já que elas não podem contar com suas respectivas famílias. Cabe a Cassandra tomar as rédeas de uma responsabilidade já destinada a ela.
É no meio de toda essa aventura em que o quarteto foge do vilão enquanto arranja um jeito de derrotá-lo, que Madame Teia traz toda a ação do filme. E vamos dizer que estes momentos até divertem e arrancam risadas do público com cenas absurdas beirando ao ridículo, como por exemplo a sequência de perseguição em que Cassandra dirige uma ambulância e atravessa o outdoor de um prédio (Velozes e Furiosos mandou alô); a sequência dos fogos de artifício dentro de uma indústria capazes de explodir uma parede facilmente, além de fazer o buraco ideal para as personagens atravessarem; além da sequência final em que vemos o quarteto lutar contra o vilão e derrotá-lo com facilidade e sem graça, se comparado a força e o poder que ele apresentou desde o início, o que soa totalmente contraditório.
A atriz Dakota Johnson tem potencial e gosto dela, mas em Madame Teia, ela entrega uma Cassandra que poderia ser mais enérgica e atordoada de acordo com a essência enigmática que a personagem carrega e promete. Há um esforço na atuação, especialmente nas cenas de ação, mas quando é preciso trazer emoção, raiva e perturbação mental, a atriz derrapa. Pode ser culpa do roteiro e direção também.
Há uma cena em que Cassandra sai do corpo e vai de encontro com a mãe no passado (Doutor Estranho mandou um alô também), em que tal sequência é bem sofrível, caricata e engraçada de tão ruim que é. Cassandra demonstra uma raiva pela mãe que não fora mencionada anteriormente. Repentinamente a raiva some ao descobrir toda a verdade por trás das ações da mãe, passando a amá-la novamente, tudo em questão de segundos.
Já as meninas são um ponto positivo em meio ao caos sofrível de Madame Teia, o que eleva os pontos do filme. A atriz Sydney Sweeney é Julia, uma jovem reclusa, inicialmente tímida e insegura, que sofre com a ausência da mãe e a distância do pai que casou novamente; Isabela Merced é Anya, que sofre com os problemas do pai, quer resolver as coisas sozinha, é mais independente e pé no chão. Eu gostei dela; Celeste O’ Connor é Mattie, que também sofre com a ausência dos pais que ficam longe por conta do trabalho; é a mais teimosa das três, impetuosa e impulsiva. As três ao lado de Cassandra entregam uma química divertida de assistir, salvando o filme em alguns momentos.
O ator Tahar Rahim é o vilão Ezekiel, que adquiriu poderes da aranha que roubou no passado, adquirindo não só a habilidade de enxergar o futuro, mas também força e a capacidade e expelir um veneno letal. É um antagonista genérico que demonstra poder que não é tão bem desfrutado, tem cenas dramáticas e caricatas, até sabe fazer um estrago, mas é derrotado de forma fajuta. Nesta missão de encontrar as meninas, ele conta com a ajuda de sua assistente Amaria (Zosia Mamet), que só fica inspecionado as câmeras de segurança e simplesmente desaparece no final, sem ter um desfecho.
Madame Teia também conta com as participações de Adam Scott como o jovem Ben Parker, paramédico e amigo de Cassandra que a ajuda nos momentos cruciais; e Emma Roberts como Mary que, está grávida e prestes a dar à luz a nosso futuro Peter Parker (cujo nome não é mencionado, mas fica bem evidente).
Considerações finais
A reta final conta com o confronto do quarteto com o vilão, culminando na derrota do arqui-inimigo, mas também no acidente que deixa Cassandra sem enxergar, mas mantém as suas visões intactas. Ela enxerga um futuro que vê as meninas se tornarem heroínas poderosas ao seu lado, assim como a responsabilidade que Ben Parker terá com o seu sobrinho daqui a alguns anos.
Madame Teia tem os seus momentos satisfatórios e um quarteto que segura as pontas de vez em quando. Mas apresenta uma premissa que promete mistério e enigmas, mas entrega um roteiro com conveniências, diálogos bregas, cenas absurdas e até ridículas que provocam risadas, resoluções fáceis, atuações sem energia em cenas que necessitavam de potência e um final que aponta para um futuro….mas incerto.
Morbius é bem pior, mas Madame Teia derrapa por não saber aproveitar o potencial que tinha, infelizmente.
PS: O vilão morre ao ser esmagado por uma das letras de um letreiro de outdoor. Sim, achei patético.
Ficha Técnica
Madame Teia
Direção: SJ Clarkson
Elenco: Dakota Johnson, Sydney Sweeney, Isabela Merced, Celeste O’Connor, Tahar Rahim, Adam Scott, Emma Roberts, Mike Epps, KerrY Bishé, Zosia Mamet e Kathy-Ann Hart.
Duração: 1h57min
Nota: 2,3/5,0