No começo deste ano, recebemos a grande notícia de que a Netflix faria a produção da primeira série brasileira, algo que agradou muitos ouvidos. Já estamos em novembro e, no dia 25 (sexta-feira), estreia a série 3% (3 por cento), criada e dirigida por Pedro Aguilera e César Charlone (diretor de fotografia de Cidade de Deus). Mas qual é a história? A trama distópica é ambientada em um mundo pós-apocalíptico, onde a maior parte da população vive no Continente, um lugar miserável e decadente onde falta tudo: água, comida, energia etc. Aos 20 anos de idade, todo cidadão tem o direito de participar do processo, uma seleção rígida que oferece a única oportunidade de passar para o Mar Alto, uma espécie de ilha fictícia paradisíaca onde tudo é abundante e há oportunidades para se ter uma vida mais digna. Mas, há um pequeno detalhe: apenas 3% dos candidatos são aprovados nesse processo seletivo, que testa os limites de cada um em provas físicas, psicológicas, colocando-os em dilemas morais.
Como essa ideia tão futurística e, ao mesmo tempo, tão real e presente surgiu? Nesta segunda-feira (21), a convite da Netflix, o Pipoca na Madrugada participou da coletiva de imprensa com os atores João Miguel, Bianca Comparato, Michel Gomes, Vaneza Oliveira, Rodolfo Valente, Viviane Porto e o criador da série, Pedro Aguilera. Em uma hora e meia, jornalistas e blogueiros descobriram não somente a origem dessa história, mas também a mensagem complexa que traz, revelando uma sociedade brasileira distópica e bastante desigual.
“Um dos tópicos abordados na série é a meritocracia, ou seja, o fazer por merecer. Eu li um livro sobre esse assunto (infelizmente não lembro o nome) e a conclusão que o autor chegou é que, como as pessoas não tinham mais como colocar a culpa nos outros pelos seus fracassos, elas se tornavam deprimidas. A partir daí, encaramos esse ponto de vista um pouco mais diferente. Na série, a gente se esforçou muito para mostrar os dois lados, ou seja, explicar as qualidades e os defeitos de cada um e do próprio sistema, com a ideia do processo de seleção e a necessidade de se passar por ela. Tentamos fugir de uma história que tivesse apenas um único lado para ser contado. Além disso, temos personagens com diferentes pontos de vista para mostrar as diferentes visões sobre essa sociedade”, explica Pedro Aguilera.
Aguilera conta que a história se originou em 2009, época em que era estudante de cinema na USP e fã dos livros “Admirável Mundo Novo”, de Aldoux Huxley, e “1984”, de George Orwell. Influenciado por essas obras e com uma ideia na ponta do lápis, Aguilera utilizou fases de sua vida (escola, vestibular, formação e primeiro emprego) e transformou em um grande processo seletivo. Com os amigos Ivan Nakamura, Dani Libardi, Daina Gianecchini e Jotagá Crema, eles desenvolveram e roteirizaram um piloto de três capítulos sobre uma terra devastada, onde as pessoas tinham apenas uma chance de ir ao paraíso, mas apenas 3% eram aprovados. Após o piloto ser colocado no YouTube, a Netflix apostou nessa ideia dando a oportunidade de termos a primeira série brasileira em um dos maiores serviços de streaming do mundo.
Personagens
Na série 3%, além dos rostos conhecidos como o de João Miguel (Ezekiel) e Bianca Comparato (Michele), temos os novatos, como Vaneza Oliveira (Joana), Viviane Porto (Aline), Michel Gomes (Fernando), Rodolfo Valente (Rafael) e Rafael Lozano (Marco), que pretendem surpreender em seus papéis. Durante a coletiva, Bianca contou o que realmente atraiu nessa história. “A primeira coisa que me atraiu no projeto do Pedro Aguilera foi a ideia dessa segregação – 3% versus 97%. A mensagem tem um fundo político e social que mostra muitas coisas que a gente vive no presente, apesar de se passar em um mundo futurístico. É como a série Black Mirror, e digo isso no sentido de explicar de que a série é sobre o futuro, mas a verdade é que a história é sobre a gente mesmo. O Brasil, de alguma maneira, já é uma distopia. Por isso, topei fazer a série, justamente por causa dessa mensagem que ela traz. E olha que na época o roteiro nem estava pronto.”
Para Rodolfo Valente, intérprete de Rafael, entrar na série 3% seria uma grande oportunidade em sua vida. “Eu acordei, peguei o celular, entrei no instagram e quando eu vi o vídeo da Bianca anunciando a produção da série, eu mesmo falei que precisava fazer um teste para entrar para o elenco. Se eu não passasse, tudo bem, pelo menos eu tinha tentado. Eu cheguei a fazer uns sete testes e, graças a deus, hoje estou aqui conversando com vocês em frente ao logo da Netflix, uma empresa que admiro muito. É realmente incrível tudo isso que está acontecendo”.
Vaneza Oliveira também contou que passou pelo mesmo processo que Rodolfo. “Fiz vários testes, mas não sabia pra qual personagem. Quando eles me enviaram o resumo sobre a Joana, eu me apaixonei por ela de imediato e fiquei feliz ao saber que ela seria uma das protagonistas. Aos poucos, fui trabalhando com a personagem, conhecendo ela melhor, além de todo o elenco e a produção da série que é maravilhosa”.
Durante a coletiva, os atores foram questionados sobre como foi encarnar os personagens com personalidades tão complexas. Rodolfo explica que cada personagem é multifacetado, ou seja, nenhum deles tem apenas um único lado para mostrar e, ao longo da série, os telespectadores irão descobrir várias facetas, qualidades e fraquezas de cada um.
“A Joana apresenta várias camadas e o meu desafio era conseguir chegar em todas elas e mostrar uma Joana forte, resistente e, ao mesmo tempo, mais doce. Foi super legal trabalhar com isso, porque ela vai mudando de acordo com cada personagem com quem ela se relaciona. São esses pequenos detalhes que trazem profundidade ao personagem”.
E aí, curiosos para assistir a série? Os oito episódios da primeira temporada de 3% estarão disponíveis na Netflix no dia 25 de novembro para 190 países. Além disso, o elenco irá participar da CCXP 2016! E não se preocupe! O Pipoca na Madrugada vai trazer uma review com as primeiras impressões sobre a história, os personagens e revelar se vale a pena ou não. Fiquem ligados!
Crédito das fotos: Pedro Saad/Netflix