Se você achou espetacular o episódio The Six Thatchers, então vai achar The Lying Detective uma obra-prima, pois é exatamente isso que Steven Moffat e Mark Gatiss entregaram neste episódio: um roteiro impecável, muitíssimo bem planejado e arquitetado do começo ao fim, com peças do quebra-cabeça em seus devidos lugares pronto para se conectarem na hora certa. Não há outra forma de dizer o quão perfeito foi esse episódio e o tanto de mistério que ele gerou, deixando praticamente todos os telespectadores de queixo caído com a cena final. Se você não ficou assim, você não assistiu direito. Sugiro que veja novamente.
A mensagem póstuma de Mary não era apenas uma simples mensagem emotiva. Havia muito mais naquela gravação. “Save John Watson”. Salvá-lo de que, afinal? A morte de Mary foi um baque na vida de todos, especialmente dos dois amigos. Foi difícil e por ser repentino demais, os roteiristas tiveram a ideia de introduzir a personagem como um fantasma visto por John, uma espécie de último adeus que pudemos dar. Até mesmo como uma imagem da consciência de John, Mary foi astuta e esperta dando pistas e dicas ao marido e a forma como ele estava levando sua vida nessas últimas semanas. John chegou a dizer sobre a moça do ônibus e Mary apenas disse para seguir em frente. E é exatamente isso que ele tem que fazer. Mas, como?
Na série nada acontece por acaso e já sabemos disso desde a primeira temporada. Por se sentir culpado pela morte de Mary, Sherlock entra em uma espécie de “depressão” se afundando em drogas e pegando casos loucos para desvendar. Até que ele se depara com o caso do Dr. Culverton Smith, um homem milionário que ajuda diversas instituições e hospitais, mas que guarda um segredo. Ele quer matar alguém. Mas, quem? Qualquer um. Isso mesmo, qualquer um pode ser a sua vítima. A única que sabe disso é sua filha e é ela quem pede ajuda a Sherlock, já que teve sua memória “apagada” no dia em que descobriu o segredo do seu pai.
Smith entra para a lista de melhores vilões da série, pois sua frieza é tamanha capaz de guiar a série toda se for possível, porém seu arco serviu apenas para este episódio, o que já foi brilhante demais. Mesmo drogado, o raciocínio de Sherlock continua extremamente rápido e, em pouco tempo, ele descobre que Smith é um serial killer. Achei legal a série brincar com a palavra “serial killer” colocando o vilão para fazer uma propaganda de “cereal killer”. São esses detalhes que me fazem apaixonar cada vez mais pela série.
A brincadeira de gato e rato fica ainda mais confusa, pois não sabemos se Sherlock está dizendo a verdade ou se tudo não passa de uma alucinação sua por causa das drogas. Porém, o fato é que Smith não é flor que se cheire e ele esconde algo. Só é preciso que alguém tire a verdade de sua boca. Sherlock até tenta e coloca a filha de frente com o pai, porém o detetive percebe que ela não é a mesma mulher que o visitou semanas atrás.
É nesse contratempo que as peças começam a se juntar. Sherlock não enlouqueceu da noite para o dia; ele colocou sua vida em risco propositalmente para que John pudesse salvá-lo e, consequentemente, Sherlock salvasse John. Essa foi a verdadeira mensagem que Mary deixou para ele no vídeo. É aí que as peças começam a fazer sentido. A ida de Sherlock ao consultório da terapeuta de John; a mulher que visita Sherlock; o caso de Smith que surge em suas mãos na hora certa; tudo isso começa a fazer sentido no final do episódio.
Smith confessa que é um serial killer, encerrando o caso. Mas há outro que continua intrigando não só Sherlock, mas a nós também. A mulher que vai a sua casa não foi uma alucinação causada pelas drogas. Foi real e o bilhete que Sherlock encontra confirma que ele estava dizendo a verdade o tempo todo. Quem é essa mulher? A cena final é tão perfeita na montagem que o suspense aumenta a cada palavra dita. Enquanto Sherlock desvenda o bilhete contendo a mensagem “Miss Me?”, John interroga sua terapeuta e percebe que ela sabia de mais coisas sobre Sherlock que ele nunca tinha falado. Quem é essa mulher? A terapeuta é a mesma mulher do ônibus que John conheceu; ela é a irmã oculta de Mycroft e Sherlock. Ela é Eurus Holmes. Que cliffhanger foi esse? Pelo visto, a inteligência e o raciocínio rápido são genéticos, pois nem Sherlock conseguiu reconhecê-la. E isso faz a gente perguntar: será que Sherlock sabe que tem uma irmã? Ou Mycroft escondeu esse segredo do irmão? Será que Eurus tem alguma ligação com Moriarty, afinal ela usou o termo “Miss Me?” em seu bilhete. Será que ela é uma peça do jogo póstumo do vilão?
The Lying Detective é o exemplo de que um episódio pode ser perfeito do começo ao fim e ainda pregar aquela peça em todo mundo, até no detetive mais inteligente que a gente conhece. Eurus Holmes entrou em campo. Vamos ver qual será a sua próxima jogada e como Sherlock irá reverter esse jogo.
E aí, o que acharam do episódio? Deixem nos comentários! Falta só um episódio para a 4ª temporada de Sherlock acabar e já estou com saudades.
PS: Posso dizer que a Sra. Hudson brilhou neste episódio? “Eu sou viúva de um traficante e alugo apartamentos no centro de Londres. É claro que o carro é meu! E pela última vez, não sou sua empregada”. Sério, mais espaço na série para a Sra. Hudson, por favor!
PS 2: Quem também surpreendeu neste episódio foi Mycroft e seu caso amoroso com a Sra. Smallwood. Quem diria hein? Adorei.
PS 3: O episódio The Lying Detective faz referência ao conto The Dying Detective (O Detetive Moribundo/O Detetive Agonizante). O vilão é o mesmo e Sherlock também “fica doente” para arrancar a verdade do assassino.
PS 4: Gostei da forma como John colocou sua raiva e tristeza pra fora. Sobrou pra Sherlock, mas foi necessário isso acontecer.
Avaliação
Melhor personagem: Sherlock, John Watson, Smith, Mary, Hudson, Mycroft e Eurus.
Melhor cena: John batendo em Sherlock; Sherlock arrancando a verdade de Smith; Sherlock e John se abraçando. A revelação da identidade de Eurus.
Nota: 10
Fotos: IMDB