Ted Bundy – A Irresistível Face do Mal traz uma perspectiva embaçada e ambígua sobre um dos mais temíveis assassinos em série da história dos Estados Unidos durante a década de 1970. Não é uma história que relata a brutalidade do homem e desmembra a psicologia do psicopata, mas passeia duvidosamente sobre a história de um homem de família, charmoso, amoroso, sedutor e comunicativo. Talvez isso incomode o espectador, mas para compreender tal visão dúbia do filme, é necessário ter em mente que Ted Bundy é um monstro e os fatos já estão mais do que consumados.
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Para mergulhar melhor nos detalhes sobre o filme, é preciso saber que o currículo brutal de Theodore Robert Bundy conta com 36 assassinatos de mulheres, com suspeitas de mais de 100 homicídios. Caso tenha curiosidade em saber mais sobre tal face do mal, assista ao documentário Conversando com um serial killer: Ted Bundy.
Partindo desses fatos, Ted Bundy – A Irresistível Face do Mal, dirigido por Joe Berlinger permeia pelo significado de irresistível em uma história tão brutal, uma perspectiva absurda e real de um caso chocante. Para começar, adianto que o filme não tem o propósito de mostrar os assassinatos, revelar quem são as vítimas e suas famílias, as motivações que levaram Ted a cometer uma atrocidade atrás da outra, o mergulho dentro da mente do assassino e a base psicológica por trás deste homem. Acredito que alguns possam se sentir incomodados e até revoltados por não desenvolver este lado, no entanto, o diretor se propôs a trazer a visão de empatia que o assassino teve ao longo de suas prisões, tanto de sua namorada e amante, quanto do próprio público que acompanhou seu julgamento televisionado.
É, eu sei, é absurda e inaceitável, mas infelizmente, havia defesas para o assassino, especialmente de mulheres que cometeram o equívoco de achar que um homem bonito, charmoso e sedutor seria incapaz de machucar alguém. Tal linha narrativa começa a se costurar no instante em que Liz Kendall suspeita que Ted seja o rapaz do autorretrato procurado pela polícia. O roteiro se desenvolve sobre tal indagação e, junto, vai alinhando todas as pistas até chegar a ele. Porém, nas entrelinhas surge a tal inocência do homem afirmada com veemência e, longe das pistas concretas que conectam a ele, a dúvida é instalada dentro da trama e, é claro, aos olhares do público.
A linha entre a acusação e inocência caminham paralelamente, sendo que a segunda ganha mais nitidez no filme, uma vez que o espectador conhece um lado amigável do assassino, principalmente quando ele inicia um grande romance com Liz e desfruta da construção da família e do lar. Quem conhece a história sabe que ele é culpado, mas ainda assim, sente como o filme tem a capacidade de atrair para o lado oposto dos fatos.
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Junto a essas duas vertentes, cresce a tensão, o desespero em saber a verdade, uma vez que as pistas não confirmam 100% e não há desenvolvimento sobre as razões de Ted ser um assassino, enquanto acompanhamos olhares e atitudes suspeitas, prisões e fugas que vão crescendo gradativamente a ambiguidade. Afinal, ele é culpado ou não?
As melhores cenas são quando Ted vai para a cadeia pela terceira vez e tem um momento ousado e afrontoso ao falar com a imprensa. Além disso, o ápice da história se encontra no atrativo arco do tribunal, em que Ted Bundy torna-se o seu próprio advogado e caminha com o julgamento, onde a dúvida ainda permanece diante de uma condenação justa.
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O papel de Ted Bundy cai como uma luva para Zac Efron, que se encaixa perfeitamente não só nas características físicas do assassino sedutor, como também incorpora expressões enigmáticas e atitudes instigantes. As cenas em que a câmera fecha em seu rosto capta o olhar assassino do personagem, feito com singularidade pelo ator. Acredito que se a psicopatia e os assassinatos fossem desenvolvidos neste filme, Efron teria um brilho ainda maior em sua performance.
Lily Collins está bem no papel e traz uma apaixonada Liz Kendall, que vê sua vida ganhar luz quando conhece Ted e desmoronar em bebidas, tristeza e dúvidas ao longo dos anos por ficar dividida entre a paixão e a razão por um possível assassino (ela não tinha certeza ainda). A química com Efron funciona e a cena final dos dois é fria e chocante.
Kaya Scodelario é Carole Ann Boone e traz uma interpretação que exalta a obsessão cega por Ted, além de espalhar palavras contraditórias e uma defesa nada plausível a uma legião de simpatizantes pelo assassino. Haley Joel Osment é Jerry, amigo de trabalho de Liz que, aos poucos, vai entrando na vida da amiga para ajudá-la. A interpretação é satisfatória, mas não ganha tanto destaque.
O filme termina com as tradicionais cenas de arquivo que confirmam fidelização com os fatos, seja a caracterização do protagonista, o figurino e, até mesmo, cenas marcantes como o do julgamento.
Considerações finais
Ted Bundy – A Irresistível Face do Mal traz um retrato ambíguo, embaçado e glamourizado sobre um serial killer. O filme mostra a perspectiva de pessoas que criaram empatia e defesa diante de uma caracterização física atraente e uma sedução aparentemente nada nociva, enquanto o seu currículo monstruoso era criado com a inocência de mulheres que, infelizmente, cruzaram o seu caminho.
É um filme que vai dividir opiniões, mas é possível compreender que, assim como tem o lado da verdade, também tem o lado cínico de uma história tão crua como esta.
Ficha Técnica
Ted Bundy – A Irresistível Face do Mal
Direção: Joe Berlinger
Elenco: Zac Efron, Lily Collins, Kaya Scodelario, Haley Joel Osment, Angela Sarafyan, Jim Parsons, John Malkovich, Dylan Baker, Jeffrey Donovan, Terry Kinney e James Hetfield.
Duração: 1h50min
Nota: 7,6