Pânico (Scream) está de volta aos cinemas e homenageia a franquia de horror slasher de sucesso, a nostalgia e o legado de Wes Craven com novos personagens carismáticos, enquanto os originais retornam às raízes em uma nova história que causa euforia, angústia e ansiedade para saber quem está por trás da máscara Ghostface. Pode se dizer que as expectativas são atendidas e o filme vai um pouco mais além ao brincar com a metalinguagem em sua narrativa que sabe carregar o fator surpresa. Pânico retornou e do melhor jeito possível.
Dirigido por Matthew Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett que, por sinal, entregam uma boa direção homenageando todo o trabalho de Wes Craven (falecido em 2015) e com produção executiva de Kevin Williamson, responsável pelos roteiros de Pânico (1996) e duas das sequências, Pânico se passa 25 anos após o primeiro massacre em Woodsboro em que um novo assassino veste a máscara Ghostface e aterroriza a cidade deixando um rastro de sangue por onde passa, despertando o medo dos novos moradores que iniciam uma investigação para descobrir a identidade deste vilão. Assim, eles contam com a ajuda de antigos rostos – Sidney, Gale e Dewey – que retornam para acabar com este mal mais uma vez.
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Antes de mais nada, preciso dizer que para assistir ao quinto filme, é necessário assistir os quatro filmes da franquia, uma vez que as conexões tanto dos personagens quanto da narrativa são fortes. Dito isso, esta sequência surpreende em vários aspectos, seja na construção da trama que faz o espectador compreender a razão para o assassino surgir novamente; as ótimas conexões com os filmes anteriores; os novos personagens que, por sinal, são bons e ganham carisma com a atuação do ótimo elenco escolhido; e, é claro, as motivações que fazem o trio original retornar para encarar este mal novamente.
Assim, o primeiro ponto positivo de Pânico está na construção da narrativa que se eleva totalmente ao zombar a própria franquia e fazer piadas de si mesmo. Ao mesmo tempo que o filme brinca de não se levar a sério – o que desperta a risada do público várias vezes – o roteiro se aproveita de tal piada para analisar a cultura do fandom, em que, muitas vezes, o fã debocha, critica e discute ferozmente sobre a originalidade de um filme que marcou gerações versus sua sequência ou reboot que pode causar um gosto amargo aos apaixonados pela história original. Mas tal análise não para por aí, e o filme aproveita a oportunidade não só para cutucar esta cultura, mas também para desenhar toda a história que, até o final, fará sentido para todos.
Outro ponto positivo é que Pânico traz uma trama nova que se debruça em suas origens ao enaltecer as referências clássicas dos filmes anteriores, como a metodologia que é atualizada e aplicada para desvendar o mistério. Da mesma forma como já foi visto anteriormente, tanto os personagens quanto o espectador compreendem que a motivação do assassino está de acordo com a construção das histórias dos filmes, já que a trama de Sidney Prescott ganhou uma adaptação nos cinemas com a franquia ‘Facada’ (Stab) que, novamente, é mantida nesta nova sequência.
Um detalhe interessante é que o filme se diverte ao mencionar e brincar com os clássicos filmes de horror dos anos 80 e 90 (Halloween, Sexta-Feira 13) com o pós-terror em que a personagem Tara enaltece todo o seu conhecimento sobre este gênero ao citar os filmes Babadook, A Bruxa e Hereditário e os longas do Jordan Peele.
O filme ganha um início triunfal com a famosa sequência em que o Ghostface ataca a sua primeira vítima que, por sinal, até foi visto nos trailers, fazendo referência nostálgica ao início do filme de 1996. O começo é introdutório, apresenta os novos personagens e suas conexões com os filmes anteriores, ou seja, nenhum rosto está aqui aleatoriamente, como é o caso da protagonista Samantha e seu namorado Ritchie; Tara, a primeira vítima do assassino, e seus amigos: Amber, Mindy, Wes, Chad e Liv. Todos apresentam um laço entre eles e com o passado já visto na franquia. Aliás, é necessário ressaltar as boas atuações em que os personagens têm o seu espaço de tela merecidamente, em que alguns se sobressaem um pouco mais que os outros de acordo com o destino traçado para cada um.
Já o trio original – Sidney, Gale e Dewey – são bem introduzidos nesta nova trama em que o público descobre o status de cada um, ganham informações a respeito de suas vidas nos últimos anos, além de uma motivação convincente que faz os três retornarem para Woodsboro, especialmente Sidney, uma vez que ela não retornaria à toa, já que ela enfrentou este mal quatro vezes.
Aliás, a atuação dos protagonistas originais continua ótima, em que Neve Campbell retorna como a boa e velha Sidney Prescott, muito mais experiente no assunto, sabendo exatamente como e quando agir, mesmo que o assassino possa atacar a qualquer momento.
A atriz Courteney Cox continua fabulosa como Gale, que continua mergulhada no mundo das notícias em que ela não perde a oportunidade de um bom furo de reportagem. Ela continua ousada e teimosa, só que um pouco mais comedida nesta trama, revelando um lado mais dramático e pessoal. Já David Arquette entrega um Dewey que carrega as cicatrizes e o peso nas costas de ter lidado com todos os massacres ocorridos em Woodsboro. Dewey está mais recluso e introspectivo, mas o seu lado altruísta fala mais alto ao se posicionar como líder que ajuda a desvendar a identidade do novo assassino.
O trio original não aparece instantaneamente no filme e cada personagem tem o seu momento exato e sua motivação certa para retornar à cidade como mentor do novo grupo de vítimas.
Com relação ao próprio Ghostface, Pânico acerta em cheio ao entregar um assassino que continua macabro, só que muito mais frio e assustador nas suas ações, entregando sequências de suspense maiores, que desperta uma angústia crescente no espectador em saber se o assassino aparecerá ou não em cena. A expectativa pelo pior é três vezes maior, o filme sabe brincar com tal sentimento ao entregar clichês de horror que funcionam muito bem. As mortes são boas e bem sangrentas, em que algumas cenas chegam a ser bem explícitas e gráficas, como por exemplo, um momento em que o assassino enfia a faca no pescoço de uma de suas vítimas bem devagar.
******COM SPOILERS******
Nesta segunda parte do texto haverá spoilers em que darei mais detalhes e minha opinião sobre a trama e o desfecho de Pânico.
Você já parou para pensar porque o filme se chama apenas Pânico e não Pânico 5? Mesmo sendo uma sequência, o título indica uma possível revisita às origens da história o que, de fato, acontece, e esta é uma das motivações que desenha toda a narrativa do filme.
Crítica: Turma da Mônica – Lições
Além de brincar e analisar sobre a cultura do fandom, em que o roteiro critica as ações e reações do fã que inicia discussões árduas sobre filme original vs sequência/reboot, o filme também usa esta temática como razão para o massacre acontecer novamente em Woodsboro, uma vez que a última sequência de ‘Facada’ foi péssima, as críticas massacraram e os fãs ficaram insatisfeitos.
Assim, tanto o espectador quanto os personagens descobrem que esta é a motivação do assassino, ou seja, ele deseja reescrever a trama revisitando a história original, fazendo Pânico se conectar com o longa de 1996.
Com isso, o público ganha uma compreensão maior dos novos personagens e suas conexões com o passado, uma vez que eles mesmos sacam qual é o objetivo do novo assassino. Aqui, descobrimos que Tara e Samantha são irmãs, no entanto, Sam foi embora de casa há anos ao descobrir que é filha de Billy Loomis, fruto de um caso que a mãe teve e escondeu do pai que criou as meninas.
Sam tem visões com Billy e teme em carregar a mesma personalidade do pai biológico, afinal, ela é filha de um serial killer. Aliás, gostei da participação do ator Skeet Ulrich, que ganha um belo rejuvenescimento, já que o Billy morre ainda jovem.
Uma das maiores surpresas, sem dúvidas, é a conexão de Sam com Billy, na qual se torna um elemento positivo ao filme, além da boa atuação da atriz Melissa Barrera como protagonista, uma vez que ficamos dividido se ela se tornará uma ‘final girl’ ou a grande vilã da história, já que o instinto de serial killer está no seu DNA. Como curiosidade, a personagem se chama Samantha Carpenter em homenagem a John Carpenter, criador da franquia Halloween.
Tal segredo faz o público entender a razão para Tara (Jenna Ortega) ter sido atacada. No entanto, a sequência inicial faz todos acreditarem que a garota morreria no início, mas diferente da sequência inicial do filme de 1996, protagonizada por Drew Barrymore, que chocou o público na época ao matar uma das personagens do elenco principal, o novo Pânico surpreende ao manter Tara viva no filme, tornando-se uma das ‘final girls’ da história.
Conscientes da conexão de Tara e Sam, o filme introduz o restante dos personagens que também apresentam um laço importante com a franquia. Os irmãos gêmeos Chad e Mindy são filhos de Martha, irmã de Randy, o que faz o público entender a expertise de Mindy sobre filmes originais e reboots, em que ela entrega uma das minhas cenas favoritas do longa ao dar a primeira explicação sobre a motivação do assassino e apontar os possíveis suspeitos, assim como Randy fez nos filmes Pânico e Pânico 2. Inclusive, as referências clássicas vistas no quinto filme são sensacionais. Apenas assistam.
Da mesma forma como Randy sobreviveu no primeiro filme, os sobrinhos Chad e Mindy também sobrevivem após serem atacados pelo Ghostface, especialmente depois que Mindy descobre a identidade do assassino e entra para o grupo das ‘final girls’. O ator Mason Gooding e a atriz Jasmin Savoy Brown estão ótimos no papel, entregam carisma misturados ao deboche e esperteza, em que mesmo cientes do mal acontecendo, eles acabam caindo nas mãos do assassino, mas conseguem sair desta situação.
Já no time de quem não sobrevive das facadas do Ghostface estão Wes (Dylan Minette) e sua mãe Judy Hicks (Marley Shelton), nova xerife da cidade, que conhecemos em Pânico 4. A sequência da morte dos dois é bem interessante, já que é carregada de suspense e ganha uma cena bem gráfica da morte de Wes. Aliás, o personagem se chama Wes em homenagem ao Wes Craven; Vince (Kyle Gallner), um personagem que apresenta pequena conexão com o grupo, mas se torna bem aleatório na história e apenas uma vítima que estava no lugar errado e na hora errada; e Liv (Sonia Ammar), namorada de Chad, que morre no instante em que a identidade do assassino é descoberta.
Infelizmente, quem também faz parte das vítimas do assassino é Dewey que, ao ajudar Sam e Tara a fugir, ele é morto na ótima sequência que acontece no hospital em que ele retorna ao local ao constatar que é preciso dar um tiro na cabeça do Ghostaface, método aplicado por Sidney desde o início.
Porém, a ação de Dewey é tardia, o que o leva a morte, deixando Gale completamente chocada por ter perdido o parceiro e amigo, mesmo não estando mais casados, o que faz o público entender a reclusão de Dewey em Woodsboro, sua aposentadoria como xerife, enquanto Gale segue como apresentadora de um telejornal em Nova York.
A morte de Dewey se torna a grande motivação para Sidney retornar à cidade natal, uma vez que ela segue a vida feliz, casada e com duas filhas. Aqui, o público descobre que Sidney casou com Mark, o detetive de Pânico 3, interpretado por Patrick Dempsey, mas que não aparece neste novo filme.
Final explicado
É no terceiro ato de Pânico que temos os novos e clássicos personagens reunidos para acabar de vez com o Ghostface que, seguindo as regras da franquia, é sempre um conhecido e nunca é somente um.
Tanto a descoberta da identidade dos assassinos quanto o desfecho do filme ganham a mesma ambientação do final do primeiro filme, que se passa na antiga casa de Stu, cúmplice de Billy. Aqui descobrimos que um dos Ghostaface é Amber (Mikey Madison), amiga de Tara, enquanto seu cúmplice é Ritchie, namorado de Samantha.
Amber e Ritchie são pessoas fanáticas pela franquia ‘Facada’ (Stab) e fãs que não aceitaram a última sequência lançada. Insatisfeitos com o destino do seu filme favorito, eles decidem rescrever a história se baseando na trama original, assim como o próprio longa faz ao revistar o primeiro Pânico e brinca com a metalinguagem.
A sequência ganha uma boa atmosfera de suspense, uma vez que o medo de mais um personagem importante morrer é grande. Além disso, o ator Jack Quaid entrega uma atuação incrível, cínica e sádica em que Ritchie ainda consegue plantar a semente da desconfiança colocando Tara como a possível assassina, uma vez que ela guarda ressentimentos por ter sido abandonada pela irmã.
O final surpreende e ganha um tom tarantinesco (a lá Quentin Tarantino) ao vermos Samantha matar Ritchie, enquanto ela se livra das visões de Billy que, no final das contas, acaba lhe ajudando na execução final. Enquanto isso, Sidney e Gale entram em um confronto bruto com Amber, que morre queimada e com um tiro na cabeça dada por Tara.
Considerações finais
Pânico reintroduz seu universo de horror slasher de forma satisfatória para uma nova geração com uma história sádica, divertida e sangrenta em que as regras são atualizadas e se mantém fiéis à história de origem, em que os novos personagens são carismáticos e trazem um bom equilíbrio à trama, junto com o trio clássico de protagonistas que executam uma experiente mentoria ao novo grupo, inovando e honrando todo o legado da franquia Pânico.
Ficha Técnica
Pânico
Direção: Matthew Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett
Elenco: Neve Campbell, Courteney Cox, David Arquette, Melissa Barrera, Jenna Ortega, Jack Quaid, Dylan Minnette, Jasmin Savoy Brown, Mason Gooding, Mikey Madison, Sonia Ammar, Kyle Gallner, Chester Tam e Marley Shelton.
Duração: 1h54min
Nota: 4,0/5,0