A 5ª temporada de Orange Is The New Black veio com o objetivo de mostrar as consequências da rebelião após a morte de Poussey (Samira Wiley) em apenas 72 horas. Acredito que esse foi um dos roteiros mais difíceis de ser elaborado, afinal, criar uma história que se passa em um espaço curto de tempo não é algo tão simples. Mesmo com uma proposta ousada, a nova temporada não tem o mesmo impacto que a anterior – que criou uma tensão assustadora a cada episódio – no entanto, ela tem grande êxito, gerando um saldo positivo e estabilizando a série.
O primeiro episódio traz a resposta que os fãs da série tanto esperavam: Daya (Dascha Polanco) atirou ou não no policial Humphrey (Michael Torpey)? Não vou dizer a resposta para não dar spoiler, mas a decisão de Daya traz uma série de consequências não só para ela, mas também para as demais detentas de Litchfield. Com o gatilho puxado ou não, o intuito dessa temporada é mostrar o que essas mulheres são capazes de fazer quando estão com o PODER nas mãos. Assim que elas se veem sob o comando do presídio, elas não pensam duas vezes em fazer os guardas de reféns. O intuito da rebelião é conseguir um sistema carcerário justo, melhores condições humanas em Litchfield e, é claro, a tão merecida justiça para a morte de Poussey. A série mostra várias e várias vezes que o feitiço sempre pode virar contra o feiticeiro. Se na temporada anterior vimos as detentas sofrerem nas mãos dos guardas, nesta, eles comem o pão que o diabo amassou. Elas não pensam duas vezes em deixá-los encarcerados, sem água e comida. Quando a fome fala muito alto, um balde de “lavagem de comida de porco” é a solução. Banheiro? Só se for para ficar preso sob o fedor constante e matador dos banheiros químicos. Isso sem contar com a humilhação constante que eles sofrem: assédio e tortura psicológica. A cena do reality show de talentos é o ápice da vergonha para eles.
Se de um lado temos detentas usando o poder para humilhar, dominar o espaço e conseguir uma boa negociação, do outro temos personagens usando esse poder a favor de sua própria sentença, como é o caso de Maria Ruiz (Jessica Pimentel) e Glória (Selenis Leyva). Ao pensar na família, elas tomam atitudes radicais que geram consequências não muito agradáveis para as demais (assista para saber o que elas fizeram). No entanto, a ação de cada uma chega a ser compreensível, pois elas tomam consciência de que, talvez, a rebelião só piore ainda mais a situação dos que realmente não estão tão envolvidos.
O que é muito comum nas outras temporadas são os flashbacks, algo que não acontece com tanta frequência nessa temporada e, sinceramente, não faz muita falta. Na minha opinião, não queria que a série perdesse tanto tempo voltando no passado das personagens e, sim, mostrasse aos telespectadores o que iria acontecer naquelas 72 horas que definiriam o futuro de Litchfield. Mesmo assim, para satisfazer àqueles que curtem “uma volta ao passado”, a série apresenta alguns flashbacks (Daya, Frieda, Abdullah e Janae Watson) relevantes e satisfatórios, que mostram o significado de tomadas de decisão, sobrevivência, família e voz própria.
Taystee, a rainha da temporada
Ninguém pode negar: Taystee Jefferson (Danielle Brooks) é a rainha do momento e comanda a 5ª temporada com maestria, ministrando as negociações da rebelião com os representantes do governo (a assistente Nita e Mrs. Fig). Sob o efeito da fome e do sono, Taystee lida com os problemas com força e irreverência, desde o caos no presídio até os problemas internos de seu grupo (como o surto de Suzanne). Mas, ao mesmo tempo em que vemos a força de Taystee triplicar nessa temporada, o seu lado sentimental e vulnerável também é explorado. A raiva se estampa em seus olhos ao ter que lidar com a injustiça da morte de Poussey, mas esse sentimento chega a diminuir temporariamente ao fazer um tributo emocionante à amiga.
Enquanto isso, o telespectador vê Bayley (Alan Aisenberg) definhar pelo peso na consciência e o fardo de ter tirado a vida de uma inocente. O intuito da 5ª temporada de Orange Is The New Black é mostrar que a negação do perdão soa muito mais forte na vida de uma pessoa do que uma simples punição. Por mais que Taystee lute por justiça (e ela não está errada em fazer isso), Bayley já está sofrendo a pior consequência disso. Mas espero que a próxima temporada revele o destino do personagem e traga a paz que Poussey realmente merece.
O que não curti
Enquanto a série teve bons plots, outros foram quase totalmente irrelevantes. Neste caso, estou falando das personagens Leanne (Emma Myles) e Angie (Julie Lake). A dupla toma conta de boa parte da temporada e até protagoniza alguns momentos interessante na série, mas infelizmente elas mais atrapalham do que contribuem para o desenvolvimento da história. Um exemplo disso é quando elas resolvem perseguir Doggett (Taryn Manning) para puni-la por ter defendido o guarda Coates (seu par romântico conturbado). Se a garota já estava cumprindo o seu castigo, por que Leanne e Angie estragaram tudo? Quando as coisas começam a caminhar direito, elas surgem para atrapalhar e isso me irritou em vários momentos.
Outro plot que me incomodou foi o de Judy King (Blair Brown). Depois de ter passado por maus bocados durante a rebelião, finalmente ela recebe a tão aguardada liberdade. Mas o que mais me revoltou foi a personagem não fazer absolutamente nada lá fora para ajudar aquelas que realmente ficaram do seu lado. O timing era perfeito para que a apresentadora de TV fizesse uma boa ação, mas ela opta em se portar como vítima ao invés de falar o que realmente estava acontecendo dentro da prisão, dando credibilidade para as detentas e uma chance de serem ouvidas e respeitadas pela sociedade. É Judy King, você foi tarde.
Quem é o vilão desta temporada?
O posto de vilão dessa temporada é ocupado pelo guarda Piscatella (Brad William Henke), que arregaça as mangas e mostra seu lado sombrio e vingativo apenas no oitavo episódio. Por sinal, este é o meu episódio favorito, pois é aqui que se instala o suspense, o medo e a tensão nas celas de Litchfield, afinal, ainda não sabíamos o plano que o personagem executaria com as detentas. Nem mesmo o passado de Piscatella alivia ou traz algum tipo de compreensão com relação às suas ações e o telespectador cria um sentimento de revolta e repulsa por saber que suas intenções são as piores possíveis (especialmente com Red). Gostei de ver o personagem como vilão, mas acho que a série demora um pouco para colocá-lo em ação.
Outro personagem que dá o que falar é Humphrey e seu final é mais do que merecido. Sinceramente, não tive dó dele em nenhum momento. Pra quem não se lembra, ele foi o responsável por trazer a arma para dentro da prisão, além das torturas que as detentas sofrem na 4ª temporada.
A união faz a força
Pode ser que alguns achem a 5ª temporada um pouco arrastada e sem tanta tensão. Para mim, ela foi mais do que uma rebelião de três dias. Os episódios constroem passo a passo uma força que jamais poderíamos imaginar naquele presídio: a união. Ver grupos, que até então se estranhavam e provocavam, se unirem por uma causa maior é um dos momentos mais fortes da série. A temporada nos dá as duplas mais inusitadas, como Flores (Laura Gomez) e Red (Kate Mulgrew). Elas se tornam o alívio cômico durante metade da temporada até o instante em que elas atraem Piscatella à prisão. Eu ri e me diverti com as duas sob o efeito de “vitaminas”, vasculhando as salas como duas loucas em busca de informações secretas.
Maritza (Diane Guerrero) e Flaca (Jackie Cruz) também ganham destaque nessa temporada, trazendo beleza e glamour ao conquistarem seus merecidos “15 minutos de fama” como youtubers. Mais do que isso, elas provam que a amizade verdadeira é aquela que sobrevive nos piores momentos. Outro momento interessante foi ver a união das latinas e “nazistas”. Para mim, esse momento é tão significativo, pois revela que a união é um dos fatores principais que move essa temporada.
Considerações finais
A 5ª temporada de Orange Is The New Black nos apresenta um desenvolvimento positivo de um roteiro que se passa em apenas 72 horas. A tensão e a força são bem menores do que vimos na 4ª temporada, mas isso não significa que ela seja ruim. Pelo contrário, essa temporada explora o poder nas mãos das detentas e mostra a união dos distintos grupos em busca de melhores condições de vida em Litchfield e um sistema carcerário mais justo. O desfecho para alguns (como Piscatella e Humphrey) é justo e merecido; para as detentas, este final abre portas para uma nova leva de consequências, uma vez que as negociações dão um passo para frente e três para trás. Enquanto Piper (Taylor Schilling) e Sophia (Laverne Cox) ganham pouco espaço na trama, Taystee é o grande destaque dessa temporada e meus aplausos vão para a sua excelente performance que não fica a desejar em nenhum momento, assim como Cindy (Adrienne C. Moore), Abdullah (Amanda Stephen), Janae (Vicky Jeudy), Red, Frieda (Dale Soules), Gloria, Boo (Lea DeLaria), Doggett e o grupo das nazistas e latinas. Já Caputo (Nick Sandow), mais uma vez, decepciona com sua ausência de astúcia, força e voz. Agora, resta esperar um ano para saber o que vai acontecer com as mulheres de Litchfield.
E aí, o que acharam desta temporada? Deixem nos comentários!
Ficha Técnica
Orange Is The New Black
Duração: 13 episódios (apróx.60 minutos)
Nota: 8,0