Em 2016, Esquadrão Suicida chegou aos cinemas tornando-se um grande divisor de opiniões do público, fazendo o filme receber uma enxurrada de críticas até hoje, infelizmente, inclinando-se para o negativo. Após cinco anos de uma estreia que gerou expectativas e decepcionou a maioria, a Warner Bros Pictures dá mais uma chance e entrega O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad) sob nova direção, com uma trama similar e bem desenvolvida com veteranos e novos personagens que marcam presença. O resultado? Um roteiro simples, bem feito e não perfeito, atuações boas que se destacam em uma narrativa e montagem bem elaboradas. O filme sabe abraçar a sua estranheza e entrega uma caminhada insana na qual muitos vão gostar de acompanhar.
Com direção de James Gunn (Guardiões da Galáxia 1 e 2), O Esquadrão Suicida segue uma premissa simples e direta. Na trama, vamos acompanhar a Força Tarefa X, em que um grupo formado pelos presos mais perigosos da penitenciária Belle Reve terá que realizar uma missão suicida na ilha Corto Maltese, que esconde um projeto extremamente perigoso capaz de ameaçar a segurança e estabilidade do mundo todo.
Sob o comando de Amanda Waller, este esquadrão terá que seguir as regras à risca se quiser sobreviver, mas será que todos chegarão até o fim da missão? Quem é digno de confiança? Quem será o primeiro a trair o grupo? Afinal, nenhum possui o currículo de super-herói.
Antes de mais nada, é preciso dizer que O Esquadrão Suicida não é remake e nem reboot. Seria uma continuação do filme de 2016, uma vez que temos alguns dos mesmos personagens nesta sequência – Arlequina, Amanda Waller, Flag e Capitão Bumerangue – mas sem mencionar os eventos do filme anterior.
Com isso, já se pode afirmar que o primeiro ponto positivo do filme é o roteiro simples que constrói a atmosfera de estranheza e abraça a sua imperfeição que prende a atenção do público e entrega bons personagens em cima de uma boa história desenvolvida.
Aliás, tal formato da história chama a atenção a partir de uma narrativa não linear em que o filme entrega cenas da mesma situação em perspectivas diferentes a fim de que o espectador se encontre em conflito diante da cena e se surpreenda ao conhecer um ponto de vista oposto que trará uma compreensão maior do momento em que os personagens se encontram. Algumas vezes, a trama é rebobinada e volta dias ou minutos para explicar como se chegou naquela atual situação, uma espécie de narrativa ioiô aplicada na dose certa que não torna a história cansativa de acompanhar e não atrasa o seu desenrolar.
Além da tradicional divisão dos três atos, O Esquadrão Suicida também ganha uma divisão em blocos para que o espectador saiba qual será a próxima missão ou objetivo do grupo a seguir, dando a impressão de uma leitura de HQ, o que torna a narrativa fluída, divertida e caricata.
Se a violência é marca registrada em Esquadrão Suicida (2016) e Aves de Rapina (2020), tal característica fica ainda mais forte em O Esquadrão Suicida, que não poupa o banho de sangue em suas cenas de confronto brutais, desde cabeças decepadas, corpos dilacerados, tiros explosivos até lutas braçais que causam aflição e tensão. Outra característica pontual do filme – e, é claro, do diretor – é a trilha sonora que está ótima, que conta até com música brasileira! Talvez as músicas não sejam “chiclete” como a de Guardiões da Galáxia, mas o longa não perde mérito nenhum em suas faixas bem escolhidas.
Esquadrão estranho e suicida
O diretor James Gunn tem ótima habilidade ao trabalhar a estranheza nas histórias de heróis e vilões, como prova em O Esquadrão Suicida que, ainda, ganha uma montagem bem superior ao filme de 2016 que sofreu negativamente com uma edição picotada.
De fato, o filme tem um roteiro simples, bom e com algumas imperfeições, mas o seu ponto alto é o vasto elenco de personagens que ajuda a moldar a narrativa enquanto o público saboreia a história, ao mesmo tempo que questiona quem vai morrer e quem vai sobreviver até o final, uma dúvida previsível desde o início, uma vez que são muitos personagens. Este é um ponto na qual James Gunn consegue pregar peças, criar armadilhas e enganar o espectador não somente com relação aos sobreviventes, mas também ao nível de caráter e lealdade de cada um, já que o filme lida com vilões e não super-heróis.
Além dos veteranos, O Esquadrão Suicida surpreende com os novos personagens como Sanguinário, Caça-Ratos 2, Pacificador, Tubarão e Bolinhas. O filme consegue dar espaço para todos, mas faz introduções mais profundas na trama de Sanguinário (Idris Elba), que ganha uma roupagem semelhante ao do Pistoleiro quando conhecemos seu passado, suas habilidades e a relação com a filha (Storm Reid) que, por sinal, é ácida e divertida.
Já a Caça-Ratos 2 (Daniel Melchior) é uma das melhores surpresas do filme, uma personagem que aparenta não acrescentar em nada e surpreende com a sua evolução e sua forma doce e compreensiva de se aproximar de cada integrante do grupo. Seu histórico é contado durante uma viagem de ônibus, dando mais naturalidade ao enredo, o que faz o público entender o poder de controlar os ratos, a razão para fazer isso e como ela foi parar na prisão e, consequentemente, neste esquadrão disfuncional. A química dela com o Sanguinário é paternal, enquanto ela consegue humanizar o Tubarão com uma amizade bem estranha e divertida.
Outro personagem de grande destaque é o Pacificador (John Cena), que possui mecanismos semelhantes ao de Sanguinário, criando uma relação de parceria e rivalidade entre eles para saber quem é o melhor. Posso dizer que o Pacificador é um caixinha de surpresa e entrega uma reviravolta surpreendente que, talvez, divida opiniões e sentimentos. Aliás, John Cena está incrível no papel.
Bolinhas é um personagem que ganha o seu devido espaço na trama e surpreende com um poder estranho (atirar bolinhas coloridas mortais) e a forma como foi adquirido, usando tal gatilho como mecanismo para entrar em ação e matar nos momentos cruciais. Aliás, o ator David Dastmalchian é veterano do universo da DC, uma vez que já atuou em Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008), na série Gotham (2014-2019) e, recentemente, participou da 7ª temporada de The Flash (2014-) como o vilão Abra Kadabra.
Deste catálogo das estranhezas, outro em destaque é o Tubarão Nanaue, que ganha uma dublagem divertida de Sylvester Stallone. É um personagem bobão e de poucas e desconexas palavras, mas não se deixe enganar, pois Tubarão é carniceiro, um dos mais fortes e resistentes do esquadrão que não mede força e nem perde tempo na hora de “abocanhar” seu oponente.
A atriz Alice Braga interpreta Sol Soria, uma das personagens do grupo da resistência que se junta ao esquadrão para derrubar o inimigo em comum. Não espere muito, pois a participação da atriz é menor e não ganha um desenvolvimento mais aprofundado, mas também não prejudica em nada.
Outro personagem que chama a atenção desde a divulgação é o Pensador (Peter Capaldi), um dos bons vilões da DC que, inclusive foi explorado na série The Flash. Em O Esquadrão Suicida, é ele quem está por trás do projeto secreto na qual o grupo deseja exterminar. No entanto, o filme não aproveita este personagem como deveria, colocando-o na linha de frente já que ele é um dos principais alvos, podendo assim, desfrutar mais da atuação do ótimo ator Peter Capaldi.
Esquadrão de veteranos
Margot Robbie nasceu para ser Arlequina e pela terceira vez ela entrega a personagem de um jeito fantástico e, digamos, até mais sério. Como sua história já foi contada em Esquadrão Suicida e Aves de Rapina, O Esquadrão Suicida não repete a trama e dá espaço para a personagem entrar em ação, com cenas sangrentas, mas que ganham um toque florido, afinal, a própria Arlequina enxerga tudo colorido quando há sangue, uma fórmula usada em seu filme solo. Toda vez que aparece ela rouba a cena e não seria diferente, como a sequência do seu resgate após ser capturada pelo grupo inimigo. Outro ponto positivo é que a personagem está menos sexualidade e continua com o seu lado sarcástico, insano, problemático e forte.
O coronel Flag (Joel Kinnaman) sai mais de sua bolha neste filme, se encaixando melhor no grupo e se entrosando mais com os personagens, mas sem deixar de priorizar a missão e suas responsabilidades.
A atriz Viola Davis continua formidável e, desta vez, entrega uma Amanda Waller mais cruel em sua autoridade. Ela continua destemida e sem medo diante do esquadrão perigoso, mas é confrontada por quem ela menos espera.
******COM SPOILERS******
Nesta segunda parte vou comentar sobre alguns momentos instigantes e as reviravoltas do filme, por isso, vai conter spoilers.
Nos primeiros 10 minutos, O Esquadrão Suicida não perde tempo e entrega uma sequência sanguinária de confronto entre os grupos oponentes em missão, em que boa parte dos personagens morrem instantaneamente, fazendo jus ao título do filme. Quem você acreditou que iria até o fim não vai, como é o caso de Sábio, interpretado por Michael Rooker, que ganha destaque no início e aparenta ser destemido e ter força, mas demonstra tamanha covardia que faz Amanda Waller apertar o botão e exterminá-lo imediatamente.
E quem poderia ser leal ao grupo, é o primeiro a trair como é o caso de Blackguard (Pete Davidson), que morre rapidamente. Durante o confronto morrem também os personagens T.D.K (Nathan Fillion), que tem um poder bizarro de se desmembrar; Mongal (Mayling Ng), Javelin (Flula Borg), Doninha (Sean Gunn) e o Capitão Bumerangue (Jai Courtney), na qual não esperava, pois acreditava que este iria, pelo menos, até a metade do filme. Por isso, não se apegue a ninguém, pois as coisas pioram.
Uma outra surpresa em O Esquadrão Suicida é a participação de Taika Waititi que interpreta o pai da Caça-Ratos 2 na qual a gente compreende como ela aprendeu tudo sobre o poder de controlar os ratos e o amor imenso ao pai que, infelizmente, vê sua vida diluir por conta das drogas.
Quem é Starro?
As reviravoltas se desdobram quando o esquadrão tem como missão ir atrás do Pensador que encabeça o Projeto Estrela-Do-Mar, que tem como principal objetivo controlar mentalmente as pessoas, hospedar em seus corpos para, assim, impor suas vontades e dominar o território. Quanto mais pessoas possuídas pela estrela, maior é o seu exército.
A Estrela-Do-Mar é conhecida por Starro, o grande inimigo perigoso da Liga da Justiça nos quadrinhos. Starro é tido como o membro mais famoso e poderoso de uma antiga civilização alienígena conhecida por Conquistadores Estelares.
Ao tomar conhecimento deste projeto, o grupo descobre que os americanos também estão por trás disso, o que faz todos entenderem o real objetivo desta missão: apagar qualquer vestígio do governo americano relacionado a este projeto. Com isso, Flag consegue os arquivos essenciais para expor na imprensa. No entanto, ele é impedido pelo Pacificador que se revela um grande traidor e mão direita de Amanda Waller, disposto a ir as últimas consequências para finalizar a missão.
Durante o confronto entre os dois, Pacificador mata Flag, causando um choque e uma reviravolta ainda maior quando ele tenta matar a Caça-Ratos (Cleo) 2 que, felizmente, é salva por Sanguinário que atira em Pacificador.
No meio deste grande confronto, eles acabam libertando Starro que começa a dominar as pessoas para controlar o território. Sanguinário, Cleo, Arlequina, Tubarão e Bolinhas desobedecem a Amanda Waller, que é traída pelos próprios funcionários. No embate final, o grupo derrota Starro e salva a cidade. Sanguinário recupera os arquivos confidenciais e chantageia Waller em troca da liberdade de todos.
Cena pós-crédito
O Esquadrão Suicida tem duas cenas pós-crédito. A primeira é logo após o final do filme em que é revelado que a Doninha não morreu afogada como acreditamos lá no início da história. Ela sobrevive e se esconde na mata.
A segunda cena acontece ao final dos créditos em que revela que o Pacificador sobreviveu ao tiro dado por Sanguinário. Apesar de muito ferido, ele resiste fortemente no hospital após ser resgatado por Amanda Waller, fazendo um ótimo gancho para a série solo do personagem que chegará em breve na HBO Max.
Considerações finais
Sob nova e fantástica direção, O Esquadrão Suicida é superior ao filme de 2016 com um roteiro simples que abraça a estranheza e entrega uma história insana e imperfeita que se desenvolve com personagens fortes, carismáticos e completamente estranhos, moldados por uma narrativa não linear e montagem bem desenhada. O filme não poupa violência e sangue em suas sequências de ação, engana com mortes inesperadas e surpreende com boas reviravoltas.
Ficha Técnica
O Esquadrão Suicida
Direção e roteiro: James Gunn
Elenco: Margot Robbie, Idris Elba, Viola Davis, John Cena, Daniela Melchior, Joel Kinnaman, David Dastmalchian, Michael Rooker, Nathan Fillion, Storm Reid, Peter Capaldi, John Ostrander, Alice Braga, Jai Courtney, Flula Borg, Mayling Ng, Pete Davidson, Sean Gunn, Stephen Blackehart, Jennifer Holland, Taika Waititi, Juan Diego Botto, Joaquín Cosio, Lynne Ashe e Maya Le Clark.
Duração: 2h12min
Nota: 8,9