Após quase dois anos de espera, finalmente a 2ª temporada de Sweet Tooth chega na Netflix, dando continuidade a jornada do adorável protagonista menino-cervo que conquistou o público com sua doçura e a chama da esperança em meio a um mundo pós-apocalíptico.
Os novos episódios entregam mais informações sobre o passado e como isto afeta o presente e as ações dos personagens. Não há tantas novidades e poucos novos rostos, mas há movimentações na trama que desenvolvem momentos sombrios, fortalecem os laços, unem famílias e entregam desfechos melancólicos, mas também esperançosos em busca de mais respostas por uma solução para salvar o mundo.
Narrativa
A 2ª temporada de Sweet Tooth traz oito novos episódios de 40 a 50 minutos de duração que, novamente, apresenta uma narrativa fluída na qual o espectador não sente o tempo passar enquanto assiste. A narração continua em 3ª pessoa com a excelente voz do ator James Brolin, uma trilha sonora que mescla calmaria e ação, uma vez que há mais confrontos nesta nova temporada, em meio a uma ambientação que se divide entre o encantador, com o intuito de dar esperança aos personagens para sair da situação caótica que se encontram; e cenários escuros e com cores fortes como preto, vermelho e verde para representar os momentos sombrios, a autoridade maligna, guerra e o caos em meio a um universo já destruído por conta do ‘O Grande Colapso’.
Sweet Tooth: crítica da 1ª temporada
Em primeiro lugar, quero dizer que foi mais fácil assistir a 2ª temporada de Sweet Tooth, uma vez que a série estreou na época em que nós vivíamos a pandemia do covid-19. Não tinha como não se identificar com a história, uma vez que a trama também apresentava um mundo que colapsava por conta de um vírus letal. Mesmo que a pandemia ainda exista, está muito mais minimizada e controlada e, consequentemente, o público assiste aos novos episódios com um olhar mais acalentado, menos preocupado e mais focado na história, separando-se um pouco da nossa realidade.
Dito isso, os novos episódios partem do desfecho da 1ª temporada em que os Últimos Homens invadem o zoológico, capturam as crianças híbridas, incluindo Gus, deixando Aimee desesperada pelos filhos que correm grande risco, enquanto ela salva a vida de Jepperd, para assim, ter um aliado para iniciar o resgate de todos e atacar o inimigo.
Um ponto positivo desta 2ª temporada é que, mesmo não apresentando tantos novos rostos, a série trabalha mais o desenvolvimento dos personagens já apresentados na temporada anterior, cria novas dinâmicas entre eles, além de subtramas em que os personagens se dividem em grupos ou pares, se encontram em situações diferentes, para que, no fim, todos se conectem, uma vez que o objetivo é unânime: chegar ao zoológico, salvar as crianças e derrotar o mal. Mas nesta nova jornada de resgate, alguns se corrompem, sacrificam e são sacrificados, escolhem caminhos tortos para chegar aonde quer, enquanto outros ganham uma chance de redenção, seguem a cartilha corretamente, mas destino traça um caminho fatídico e trágico.
Enquanto o espectador acompanha a narrativa presente, Sweet Tooth volta ao passado novamente para entregar mais informações de como tudo começou lá no laboratório com Birdie, mãe de Gus. Ganha-se mais detalhes sobre a origem dos híbridos e do vírus do Flagelo. Mais do que isso, a série vai a fundo e entrega a verdadeira razão para estes cientistas darem início a uma pesquisa que geraria um colapso e novos tipos de seres humanos. Além disso, a série entrega novos detalhes sobre alguns personagens, como a própria Birdie, Gus e como sua origem pode mudar o cenário mundial atual e o que levou Jepp a se tornar um caçador de híbridos até conhecer a doçura do menino-cervo.
O elenco de Sweet Tooth continua adorável e com uma química doce na qual é impossível não gostar deles. Christian Convery continua extremamente fofo na pele de Gus, no entanto, vemos um protagonista em amadurecimento, mais forte e ousado, uma vez que a atual situação exige que o garoto seja impetuoso para se proteger e também os seus iguais. O grupo do zoológico se torna a sua mais nova família, criando um novo laço fraternal e de cumplicidade, algo que faz Gus manter a esperança em reencontrar Jepp e não desistir de sair desta prisão.
O menino passa por maus bocados nas mãos dos Últimos Homens – inclusive há três cenas de partirem o coração – enquanto ele tenta compreender o real objetivo dos homens maus pela perspectiva do Dr. Singh, o único que ainda é complacente com Gus na medida do possível, já que o médico também está à mercê do grupo, seja por sua vida, principalmente pela esposa Rani.
Outro ponto positivo de Sweet Tooth é que a 2ª temporada mostra a corrompimento do Dr. Singh, que entra em uma espiral obsessiva pela busca da cura do Flagelo, na qual ele acredita estar conectado com os híbridos. Mas qual seria essa conexão, de fato? Sabemos que os híbridos não são culpados pelo surgimento do vírus, o que nos leva a confirmação de que a caça incessante por eles é movida por uma raiva cega e ignorante. O médico consegue chegar a tão esperada resposta, mas o caminho faz o personagem perder de si mesmo, em uma cegueira que lhe afasta do objetivo de proteger a Rani, enquanto alimenta cada vez mais a obsessão em achar a cura, em meio ao medo da ameaça de Abbott.
Outro destaque nesta temporada é a Bear (Becky), que adquire novas informações sobre a mãe de Gus e, por conta disso, ela arrisca tomar o caminho mais perigoso para encontrar o garoto. Digamos que a sorte, força, esperança e coragem foram favoráveis à personagem, levando-a não só ao Gus, mas também a alcançar o maior sonho que ela procura desde pequena. Quem viu a 1ª temporada, sabe do que estou falando.
A dinâmica de Jepp e Aimee também é boa, iniciando entre o estranho e desconfiável para corajoso, humilde e resiliente. Há contratempos, ao mesmo tempo que ambos conseguem bons aliados que ajudam no resgate. São novos rostos que ajudam em momentos específicos, sendo que um deles faz até conexão com o passado.
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Do lado de lá, Sweet Tooth se aprofunda um pouco mais nesta 2ª temporada no arco dos Últimos Homens, acompanhando a dinâmica do grupo dentro do zoológico, a forma como caçam e tratam os híbridos, a raiva consumida pela nova espécie humana, tornando-os completamente ignorantes, além de disseminar mentiras e ilusões em nome do poder acima dos submissos.
O maior destaque é o General Abbott, que deseja dominar os demais com a cura desenvolvida pelo Dr. Singh. Mas a intenção do vilão nunca foi de salvar o mundo, e sim, de uma ‘seleção forçada’, ou seja, salvar apenas os mais fortes e aqueles que estejam a seu favor.
No entanto, acredito que Sweet Tooth derrapa ao perder a oportunidade de explorar mais este vilão que tem a oferecer à série, seja mostrando mais sobre o seu passado, quem ele era antes do Grande Colapso, a razão específica para odiar os híbridos e como ele se tornou o líder dos Últimos Homens. Confesso que não lembro de muitos detalhes da 1ª temporada, então caso a série já tenha abordado algo semelhante sobre vilão, desconsiderem esta parte.
******COM SPOILERS******
Nesta segunda parte do texto irei abordar alguns pontos da 2ª temporada de Sweet Tooth com spoilers.
Para começar, Sweet Tooth abraça o espectador ao explorar a dinâmica adorável e corajosa dos híbridos, desde encontrar maneiras de sair da prisão, a expectativa de Aimee e Jepp de resgatá-los, o envolvimento entre eles na qual abordam as diferenças, contratempos e união que tornam a amizade, igualdade e lealdade ainda mais fortes.
E sim, Sweet Tooth faz o público sofrer com os momentos de tensão em que as crianças correm grandes riscos, sendo que alguns (infelizmente) são sacrificados, como é o caso de Roy (menino camaleão) e Peter (menino jacaré), na qual o Dr. Singh procura nos híbridos o antídoto para o Flagelo; e Gus, que também não passa ileso pelas mãos dos Últimos Homens e tem parte do seu cifre decepado, uma cena que causa angústia de assistir por um inocente sofrer por pura ignorância.
No entanto, mesmo que este mal tenha ocorrido e o Gus segue firme e forte, é parte do chifre do menino-cervo que dará a informação que Singh tanto almeja: Gus é a resposta para a cura do Flagelo, uma vez também que descobrimos que os híbridos e o vírus foram criados paralelamente, sendo o vírus um erro científico durante a germinação dos ovos para criar mais híbridos.
O passado faz o espectador entender melhor como o vírus foi originado e se espalhou gravemente, enquanto Birdie salva Gus e vai à procura de uma resposta para a cura do Flagelo. É aqui que também descobrimos o estopim de tudo. Na busca pela cura de uma doença degenerativa muscular, a cientista Dra Gilllian é quem dá início a estas pesquisas, dando continuidade ao que o seu bisavô tanto procurava. Nesta jornada, temos o encontro da flor roxa e também a descoberta que Gillian foi a primeira infectada do mundo, propositalmente, acreditando que Gus a curaria. De fato, ele é a chave para isso, mas Birdie opta em nunca revelar o paradeiro do menino e, assim, seguir para uma viagem ao Alasca em busca de mais respostas, enquanto o mundo colapsava totalmente.
Em meio ao início da guerra contra os Últimos Homens e o resgate dos híbridos, várias coisas acontecem simultaneamente. Dr. Singh e Rani têm a chance de fugirem, mas a obsessão de Singh fala mais alto, fazendo o médico ficar para buscar a cura, enquanto Rani decide deixar o marido para trás para viver os seus últimos momentos em liberdade e em paz, uma vez que ainda está infectada. Acredito que ambos vão se reencontrar dando duas possibilidades: Singh encontra a cura e salva a esposa; ou ele a encontra a tempo de se despedir.
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Enquanto acompanhamos Aimee e Jepperd, a série nos entrega mais alguns detalhes sobre o passado do Grandão, como a razão para se juntar aos Últimos Homens. Ele se torna um caçador de híbridos (a contra gosto) para ter informações sobre o paradeiro de sua família. No fim das contas, é apenas entregue a ele restos mortais de sua esposa e filho híbrido, um momento sombrio e triste do personagem, que encontra luz e redenção ao lado de Gus. Aimee fica decepcionada com a mentira, mas o perdão vem logo quando Jepp se arrisca totalmente para salvar Gus e todas as crianças, enquanto Aimee se junta aos Senhores do Ar para atacar Abbott pelo céu, uma sequência interessante.
Quando o resgate dá certo e todos estão temporariamente salvos e longe do zoológico, novas consequências surgem, com Bear encontrando sua irmã Wendy, uma vez que elas foram separadas ainda pequenas; e a descoberta de que Aimee está infectada.
Com o destino já traçado, Aimee se recusa a tomar um antídoto temporário feito de seu filho Roy (que foi morto por isso). Mesmo sendo uma escolha digna, acredito que Aimee poderia ter tomado o remédio para viver um pouco mais, assim como Rani. Com esta escolha, Aimee sobrevive um pouco mais para colocar Jepp e Bear como os novos responsáveis pelos seus filhos, enquanto luta para protege-los e derrotar Abbott de uma vez por todas.
Na reta final, vemos um momento de suspense que faz o espectador ficar apreensivo sobre o que aconteceu. Antes de invadir o chalé onde Gus e as crianças estão, o vilão mata o Exército de Animais (amigos da Bear), mata o Johnny, que descobrimos ser o seu irmão mais novo. Ao saber desta informação, reforço a ideia de que a série poderia ter explorado mais sobre o passado do antagonista.
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Durante a invasão, Abbott e o grupo são atacados e derrotados. Aliás, o último confronto é marcado pela descoberta do poder que Gus tem sob os animais, que invadem o local e pisoteiam Abbott. Mas antes, ele consegue dar uma flechada no garoto, deixando-o entre a vida e a morte.
No fim, Aimee se rende à infecção e morre ao lado de Wendy, enquanto Gus sobrevive. Ao escutar a fita que Birdie gravou, enquanto Bear descobre um mapa sobre o paradeiro da cientista, Gus decide ir atrás da mãe. Assim, Gus, Jepp, Bear e Wendy se juntam para ir até o Alasca. Enquanto isso, Dr. Singh está com parte do chifre de Gus e iniciará uma nova busca também para a cura. Será que Singh encontrará o grupo também?
Além disso, mesmo que os Últimos Homens tenham sido derrotados, não significa que todo o mal acabou, uma vez que existe outros grupos e com segundas intenções.
A 2ª temporada de Sweet Tooth é mais nichada, concentrando-se em um desenvolvimento maior do que foi apresentado na 1ª temporada, explorando os personagens e criando mais e novas dinâmicas entre eles que resultam em uma trama positiva. Alguns pontos poderiam ter ganhado um desenvolvimento maior sim, mas, ainda assim, a 2ª temporada rende bons frutos à série.
Com este gancho, Sweet Tooth tem grandes chances de ser renovada para uma 3ª temporada e, possivelmente a última, uma vez que a viagem ao Alasca, o encontro com Birdie e a cura são os desfechos principais para a série. Claro que, por se basear nas HQ’s Sweet Tooth, é bem provável que haja mais histórias. Vamos aguardar.
O que acharam da 2ª temporada de Sweet Tooth?
Ficha Técnica
Sweet Tooth
Adaptação da série de HQ’s de Jeff Lemire
Criação: Jim Mickle e Beth Schwartz
Produção executiva: Robert Downey Jr, Susan Downey, Amanda Burrell e Linda Moran
Elenco: Christian Convery, Nonso Anozie, Adeel Akhtar, Dania Ramirez, Stefania LaVie Owen, Aliza Vellani, Neil Sandilands, Will Forte, James Brolin, Naledi Murray, Sarah Peirse, Mia Artemis, Nixon Bingley, Marlon Williams, Harvey Gui, Yonas Kibreab, Amie Donald, Christopher Sean Cooper Jr,
Duração: 2ª temporada (8 episódios)
Nota: 4,0/5,0