Sweet Tooth é a nova produção da Netflix que exala fofura e o famoso ‘quentinho no coração’ e agrada em vários aspectos, como o universo distópico apresentado, a história, as temáticas sérias, os personagens agradáveis e suas subtramas envolventes, os cenários coloridos e um protagonista apaixonante. Vou te dizer o porquê vale a pena dar o play e conhecer esta trama encantadora.
Sweet Tooth é baseada na série de quadrinhos da DC criada por Jeff Lemire e ambientada em um mundo distópico que há 10 anos, ‘O Grande Colapso’ causou estrago no mundo com o surgimento de um vírus letal e o misterioso nascimento de bebês híbridos – parte humanos, parte animais. Sem saber se os híbridos são a causa ou o resultado do vírus, muitos humanos os temem e caçam.
Após uma década vivendo com segurança em sua casa isolada na floresta, Gus, um menino-cervo, inesperadamente faz amizade com um viajante solitário chamado Jepperd. Juntos, eles partem em uma aventura extraordinária em busca de respostas: sobre as origens de Gus, o passado de Jepperd e o verdadeiro significado de um lar. Mas sua história é cheia de aliados e inimigos inesperados, e Gus logo aprende que o mundo exuberante e perigoso além da floresta é mais complexo do que ele imaginava.
Narrativa
A 1ª temporada de Sweet Tooth tem oito episódios de 40 a 50 minutos que apresenta narrativa tão bem fluída que o espectador não sente o tempo passar, justamente por ficar atraído e absorvido na história instantaneamente. Apesar de criar um universo distópico na qual o mundo luta e sobrevive em meio a uma epidemia letal, gerando sentimentos, confusões e descobertas dos personagens, a série ganha uma narração em 3ª pessoa (James Brolin), uma trilha sonora calma e uma ambientação encantadora que deixam a trama doce e leve de acompanhar, sem desmerecer os assuntos mais sérios ou descartar um humor mais sombrio.
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Tendo como história principal a vida de Gus e sua jornada mundo a fora em busca de novas descobertas, além do seu grande objetivo, Sweet Tooth apresenta a cada episódio um personagem diferente que, em algum dado momento da série, se encaixa um ponto específico da linha cronológica da trama até se conectar com o enredo do protagonista, o que faz a série ligar os pontos, dar forma à história e apresentar o conjunto da narrativa.
Mesmo utilizando efeitos em que, certos pontos, tornam-se nítidos o uso dessa técnica, a série ganha um cenário encantador em que as paisagens panorâmicas aparentam ser uma pintura e ganham cores claras e fortes com tons de amarelo, verde, azul e laranja, que contribuem para a construção de uma atmosfera de tranquilidade e esperança para uma jornada de descobertas em meio a certos perigos, como a doença do Flagelo, o medo e a caça aos híbridos, pontos que dividem os personagens entre bondade e maldade no caos.
A caracterização das crianças híbridas são bonitas e ganham um toque realista em que os personagens ganham modificações em sua parte animal, seja a orelha, o nariz, a pele, até mesmo algumas mudanças nos sentidos, como o faro aguçado e uma super audição. É um ponto que a série soube construir sem deixar cair para a superficialidade, tornando estes personagens extremamente fofos e agradáveis.
Mundo distópico
O universo distópico de Sweet Tooth se molda em meio ao ‘Grande Colapso’, em que boa parte da população foi infectada por um vírus letal, conhecida como a doença do Flagelo. Paralelamente, surge o nascimento misterioso de bebês híbridos, em que cada ser humano pode adquirir uma parte animal e suas características. Tal distopia não só constrói esta sensação do inesperado, como também divide os sobreviventes que enxergam o lado bom, mal e vantajoso de como viver neste mundo novo.
A partir de cada personagem, o espectador se depara com a existência de pessoas que se libertaram da antiga e pacata vida, ou que se tornaram presos ao seu próprio medo de viver; há aqueles que se debruçam na hipocrisia em nome da proteção e do bem maior coletivo; há os mais radicais que acreditam com veemência que os híbridos são os culpados pela disseminação do vírus, capazes de ir até as últimas consequências para adquirir o poder e controle total sobre a humanidade que restou e a próxima que virá.
Sweet Tooth arquiteta e trabalha com leveza e seriedade temas que moldam o ser humano nesta nova sociedade, como o livre arbítrio, caráter, a bondade, ambição, compaixão, resiliência, entre outros, tudo isso em volta da personalidade dos personagens que foram afetados e buscam por moldes que se encaixem neste novo mundo.
Personagens
Não se pode falar de Sweet Tooth sem falar de Gus, nosso personagem principal por quem o espectador se apaixona imediatamente. Interpretado por Christian Convery, Gus é um garoto meio humano e meio cervo, mas que com a criação e o amor do pai, aprendeu a falar e se expressar, o que o torna um híbrido evoluído. Após os eventos que ocorrem logo no início, Gus quebra a regra principal e sai de casa para alcançar seu objetivo, o que o faz conhecer o mundo na qual não fazia ideia da sua existência. Gus conquista pela fofura e doçura e encanta com sua inocência e sede pelo conhecimento e a alegria em descobrir tudo, desde o gosto do chocolate até o trem que se movimenta nos trilhos. É um personagem na qual você acompanha o crescimento, aprendizado e maturidade como se fosse um filho.
Nesta aventura pelo novo mundo, Gus faz uma amizade improvável com Jepperd (Nonso Anozie), conhecido como Grandão, uma dupla na qual o público torce do início ao fim. Jepperd carrega um passado triste e sombrio que, agora, o faz querer almejar a coisa certa e, consequentemente, vemos isso na relação dele com Gus, na qual criam um laço paternal com proteção e cumplicidade.
Em meio a essa aventura, Sweet Tooth apresenta outros personagens que despertam a curiosidade, como é o caso de Bear (Stefenia LaVie Owen), líder de um grupo que, parece ser nocivo, mas tem como regra proteger os híbridos por acreditar que estes seres tornam a Terra um lugar melhor. Bear é impetuosa, direta nas palavras, mas tem um bom coração enorme. A química com Gus é doce e fraternal, enquanto com Jepperd torna-se até cômico por conta da rivalidade e discordância que, aos poucos, vai melhorando.
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Já a personagem Aimee (Dania Ramirez) retrata aquela pessoa que enxergou o ‘Grande Colapso’ como a oportunidade de se libertar e admitir que a natureza é mais forte que o homem. Ao lado da filha híbrida Wendy, ela cria um grande centro de refúgio para híbridos, mas está prestes a correr um grande perigo com a chegada dos ‘últimos homens’, caçadores de híbridos sob comando do General Abbott (Neil Sandilands), que carrega cartas perigosas na manga, esconde uma intenção sombria e planeja ações imperdoáveis em nome de um bem maior, além do poder e controle total sob a humanidade. É um personagem que ganha uma caracterização típica de personagem de HQ, assusta quando o seu objetivo é revelado e causa repulsa e raiva no espectador.
Enquanto acompanhamos a jornada encantadora de Gus e os demais personagens, do outro lado, Sweet Tooth apresenta aqueles que viveram e ainda vivem sob a atmosfera da epidemia do flagelo, como é caso do médico Dr. Singh (Adeel Akhtar), que esteve no epicentro de tudo – a chegada do vírus e dos híbridos – até a sua adaptação ao novo mundo em meio à hipocrisia humana a fim de proteger a pessoa que mais ama, sua esposa Rani (Aliza Vellani). Em meio a esses novos tempos, Dr. Singh desafia a sua ética em busca de uma possível cura, uma vez que este caminho não é o mais apropriado, agradável e correto.
Considerações finais
Os dois últimos episódios de Sweet Tooth são reveladores e trazem respostas sobre o passado de Gus, como Colapso começou, desvenda mais sobre a vida de alguns personagens, como Jepperd e a Bear e entrega verdades doloridas e necessárias para continuar a ter esperança para salvar os híbridos e conseguir um espaço seguro neste novo mundo. Além disso, a reta final desta temporada cruza as subtramas dos personagens, deixando excelentes ganchos para uma possível 2ª temporada.
Sweet Tooth é mais um acerto da Netflix que mergulha em um mundo distópico com temas sérios e que ganham leveza com uma ambientação bonita e uma atmosfera de esperança carregada por um protagonista na qual você se apaixona de imediato. Vale muito a pena conhecer esta história encantadora.
Ficha Técnica
Sweet Tooth
Adaptação da série de HQ’s de Jeff Lemire
Criação: Jim Mickle e Beth Schwartz
Produção executiva: Robert Downey Jr, Susan Downey, Amanda Burrell e Linda Moran
Elenco: Christian Convery, Nonso Anozie, Adeel Akhtar, Dania Ramirez, Stefania LaVie Owen, Aliza Vellani, Neil Sandilands, Will Forte, James Brolin, Naledi Murray, Sarah Peirse, Mia Artemis e Nixon Bingley.
Duração: 1ª temporada (8 episódios)
Nota: 9,5