A Pixar já nos fez viajar por lugares inimagináveis, deu vida e nos apresentou a personagens incríveis, desde brinquedos que ganham vida, a rotina e aventuras de insetos trabalhadores, os bastidores dos monstros que nos assustam na madrugada, as emoções que controlam nossa mente. Que tal ir um pouco mais além, mais no íntimo e dar vida à essência que nos torna? Que tal falarmos sobre a alma?
Qual é a sua missão? Qual é o seu propósito? O que é que o torna…você? Soul é a mais nova animação da Pixar que chega em um momento crítico de nossa realidade para fazer todos nós refletirmos sobre ela, a vida. Bem ao estilo Pixar de ser, a trama traz aquele famoso quentinho no coração com a diversão e a sensibilidade doce sobre a essência da alma. Além disso, o filme nos traz personagens incríveis e carismáticos, um conceito animado original, além de traços diferentes e bonitos. Se não emocionar, no mínimo, o espectador ficará bastante pensativo com a mensagem desta história.
Dirigido por Pete Docter (DiveritdaMente, Up, Monstros S.A), Soul conta a história de Joe Gardner (Jamie Foxx), um professor de banda do ensino médio que está insatisfeito com a profissão e acredita que seu objetivo na vida é tocar jazz, mas a vida continua atrapalhando o seu destino. Quando finalmente ele consegue o que tanto almeja, Joe sofre um grave acidente, que o faz ir direto para a ala celestial (You Seminar), ficando entre a vida e morte. O local é onde as almas são criadas, e lá, Joe conhece uma alma apelidada de 22, que não gosta da Terra, não gosta dos humanos, tanto que evitou ir para o planeta por milhares de anos. No entanto, Joe e 22 acabam trabalhando juntos para encontrar uma maneira de levá-lo de volta ao seu corpo, viajando pelos reinos cósmicos ao longo do caminho.
Mundo celestial incrível
Enquanto em DivertidaMente deu vida e cor à estrutura mental de uma pessoa, colocando as emoções como protagonistas, Soul tem como primeiro ponto positivo a construção da ala celestial chamada pré-vida. É lá que conhecemos os poderes cósmicos que comandam a formação de almas prestes a ir para Terra, enquanto outras, que já cumpriram sua missão, partem para a luz branca.
A animação entrega um cenário colorido, claro e calmo com tons verde, branco e rosa para representar tal ambientação celestial. Os Zé’s são as divindades, as energias cósmicas do universo que lideram todas as almas em formação; Terry é a energia cósmica que comanda a contagem de almas que vão para o além, enquanto temos as almas que se tornam mentores voluntários uma vez que ainda não estão preparadas para a partida.
O mais incrível é que Soul não para por aí e nos dá uma aula de como tudo acontece neste mundo celestial: como as almas são criadas; quais personalidades elas ganham (ou vocês achavam mesmo que a pessoa só ganharia depois? rs) – egocêntrica, desinteressada, manipuladora, dramática, desleixada, inteligente, agitada; e qual o propósito dela, afim de que ela ganhe o selo oficial para partir preparada para a Terra.
Há também as almas que estão em transe, ou seja, quando uma pessoa lá na Terra está extremamente focada em algo como meditar ou ama tanto algo que é capaz de sair do corpo tamanha paixão que tem pelo que faz.
Outro ponto interessante é que, além do lado bonito, o filme também apresenta o lado triste e feio deste mundo celestial, onde ficam as almas perdidas, que ganham formas escuras de monstros, enquanto a ‘alma em si’ está presa nesta escuridão, uma vez que a pessoa se tornou obsessiva por algo, se perdeu no caminho, só vê o lado ruim das coisas ou desistiu de viver.
Soul retrata tudo isso de forma tão sutil, leve e tocante que é quase impossível não se apaixonar por todo o cenário construído e os personagens carismáticos.
Representatividade
Impossível falar de Soul e não falar de representatividade. A animação apresenta personagens negros e protagonistas que ganham traços lindos, seja no tipo de pele, corpo e cabelo. Um bom exemplo é a cena da barbearia onde Joe sempre corta o cabelo. Cada personagem que aparece ali, seja coadjuvante ou não, ganha uma caracterização maravilhosa, assim como a família de Joe, como sua mãe e suas ‘tias’ que trabalham na casa de costura.
Qual é a sua essência?
Assim que o espectador é introduzido neste mundo celestial fantástico, ele passa a se aprofundar neste cenário pela perspectiva de Joe e 22. Junto a isso, também acompanhamos as aventuras dos dois, a perspectiva sobre o significado de vida, a missão que cada personagem tem, ponto crucial que faz Soul entregar uma mensagem linda, emocionante e muito reflexiva sobre a nossa essência, nosso propósito de estar na Terra, sobre estarmos aproveitando de verdade (ou não) os melhores momentos em vida. À medida que vemos Joe fissurado em retornar ao seu corpo, o público entende toda a questão levantada quando ganha conhecimento sobre as memórias do protagonista, das coisas que ele fez e deixou de fazer.
Crítica: Mulher-Maravilha 1984
Por falar em personagens, Joe e 22 são a dupla de protagonistas que comandam toda essa jornada incrível de forma leve e muito cômica. De um lado temos Joe, um cara triste e insatisfeito com a profissão que não lhe rende nada, mas não perde as esperanças de ter um futuro promissor na carreira como músico de jazz. Ao ver a vida escorrer pelos dedos, ele passa a enxergar todos os erros cometidos, todas as palavras que não foram ditas, os medos que o cegaram, os pequenos prazeres da rotina não aproveitados, sempre enxergando a vida em preto e branco (a cena do metrô é o que melhor representa isso). Joe quem melhor representa a pessoa que ganha uma nova chance para fazer as coisas da forma certa.
A 22 já pode entrar para a lista de personagens favoritos. Mais do que carismática, 22 é a alma única e diferenciada de toda ala celestial, pelo único motivo de odiar a Terra e jamais querer fazer parte desta humanidade que ela repudia. Por conta disso, ela ignora todos os aprendizados, irrita todos os seus mentores (Abraham Lincoln, Madre Thereza de Calcutá e outras figuras importantes da história) e não dá a mínima para nada.
Mas quando os caminhos de Joe e 22 se cruzam, mais do que uma aventura começa, e sim uma troca de olhares, aprendizados, essência e significados. 22 aprende o que a Terra tem a oferecer, enquanto Joe reaprende aquilo que deixou passar despercebido a sua vida toda. É uma dupla formidável de acompanhar.
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Um ponto a observar é que como o segundo ato do filme se passa na Terra, o público sente falta do mundo celestial, mas não se preocupe, pois, o cenário retorna ao filme e jamais se perde. Além disso, tenho que ressaltar que assisti Soul dublada e a dublagem está perfeita, sem defeitos. Não vi legendado, mas o elenco de voz original é sensacional e conta com nomes renomados e representatividade, como Jamie Foxx, Phylicia Rashad, Daveed Diggs, Questlove, Angela Bassett, Tina Fey como 22 e Alicia Braga que dá voz a celestial Zé. Por fim temos uma trilha sonora incrível também composta por Jon Batiste, Trent Reznor e Atticus Rose.
Considerações finais
Soul é mais uma animação grandiosa da Pixar que se aventura em dar vida ao abstrato. Desta vez, temos uma história sobre vida, morte, alma, essência e propósito, trazendo uma mensagem linda e reflexiva sobre quem somos, o que somos e o que nos tornamos. A animação entrega uma ambientação incrível e colorida, personagens maravilhosos, trilha sonora bonita e uma ótima dublagem.
Ficha Técnica
Soul
Direção: Pete Docter
Elenco: Jamie Foxx, Tina Fey, Phylicia Rashad, Angela Bassett, Daveed Diggs, Questlove, Alice Braga, Richard Ayoade e Graham Norton.
Duração: 1h40
Nota: 9,0