Pode não ser perfeita e com algumas ressalvas a se fazer, mas se tem uma série que gostei de assistir é Bridgerton. Se você gosta de romances de época, esta produção é uma ótima dica para você assistir. Mas caso não curta tanto este gênero, sugiro que ao mesmo dê uma chance para conhecer a história.
Confira a crítica em texto ou em vídeo.
Finalmente temos a primeira produção original de Shonda Rhimes (Grey’s Anatomy) para a Netflix. Em parceria com a produtora Shondaland e criada por Chris Van Dusen e produzida também por Betsy Beers, a 1ª temporada de Bridgerton contém oito episódios de 1 hora de duração, enquanto que o último tem 70 minutos. Sinceramente? Tanto a trama quanto os personagens são tão cativantes que o espectador não sente o tempo passar. Quando você percebe, o episódio já acabou e já quer ir para o próximo.
A série é ambientada na alta sociedade luxuosa e regente de Regency London, em 1813, em que vamos acompanhar a poderosa família Bridgerton, composta por uma mãe viúva e oito filhos unidos. Passando pelos salões de baile de Mayfair e dos palácios aristocráticos de Park Lane, o grupo percorrerá o mercado matrimonial em busca de romance, aventura e amor.
O primeiro episódio não só introduz bem os personagens como já estabelece a narrativa que será desenvolvida. Logo no início nos deparamos com as jovens donzelas que entraram na fase de debutar, ou seja, se apresentar para a sociedade para dizer que estão prontas para encontrar o pretendente ideal e se preparar para o futuro matrimônio. Por se passar nos anos 1800, tal costume é mais do que tradicional às mulheres que, desde pequenas, aprendem e se preparam para formar uma família. A cultura e os estudos ficam de cenário de fundo, apenas um complemento à formação de caráter da mulher, enquanto a educação, posicionamento como donzela e o casamento são prioridades.
Com a trama bem posicionada, a série nos apresenta a família Bridgerton, em que quase todos têm os seus bons momentos na história. Os oito filhos recebem nomes em ordem alfabética, um costume da família para “se organizar” melhor com tantos membros: Anthony, Benedict, Colin, Daphne, Eloise, Francesca, Gregory e Hyacinth. Daphne (Phoebe Dynevor) é a primeira mulher da família a debutar, tornando-se o diamante bruto aos olhos da sociedade nesta temporada de bailes e atraindo os variados pretendentes. Mas é com a chegada de Simon (Regé-Jean Page), o Duque de Hastings, que tudo vai mudar para Daphne e mexer com o coração da jovem de imediato.
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Posso dizer que a série tem um enorme carinho com o espetacular figurino de época, cenários lindos, claros e com tons pastéis, além de maquiagens simples, clássicas e bonitas. Além disso, Bridgerton ganha representatividade em seu elenco, um toque especial e jamais esquecido por Shonda Rhimes.
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O que move toda a trama de Bridgerton é a chegada de Lady Whistledown, uma escritora anônima dos artigos mais intrigantes da cidade, revelando as fofocas, intrigas e os escândalos da sociedade. Nada passa despercebido por ela, uma vez que sabe de tudo e está presente em quase todos os bailes, onde tudo acontece. Mas quem é ela? A identidade da personagem é o grande mistério da série, mas isso não tira o foco das demais histórias. No entanto, a narração fica por conta da atriz Julie Andrews, que dá a voz a Lady Whistledown e não a interpreta.
O mais interessante é que todos os personagens se preocupam com que Lady W. dirá a respeito das famílias, debutantes e atitudes de cada um, uma vez que um texto assinado por ela pode colocar alguém no pedestal da sociedade, como também pode derrubar, acabar com a reputação e ainda deixar uma grande mancha no nome da família.
A grande pergunta é: a identidade da escritora é revelada? Sim, mas não direi quem é. O espectador ficará intrigado para descobrir quem ela é, mas não ansioso. Os demais arcos da série sabem prender a atenção e dividir o espaço de tela para que o público desfrute dos dramas de cada personagem, sem ficar focado em apenas um.
Fiel ao livro?
Bridgerton é uma série baseada nos nove livros da autora Julia Quinn, com foco no primeiro livro ‘O Duque e Eu’. Obviamente, se você leu o livro, irá fazer comparações automaticamente para saber o que está fiel ou não. No meu caso, ainda estou lendo o primeiro livro, mas o que posso dizer é que tente separar as obras. A fidelidade não é 100%, mas faz certo jus à história desenvolvida pela autora. A série altera a ordem dos fatos ocorridos, no entanto, os principais pontos da obra aparecem na adaptação.
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Um ponto positivo é que a série funciona muito bem para quem não leu os livros, então não se preocupe em sair correndo para ler. Para isso, a série faz questão de adicionar personagens e desenvolver alguns que ganham um espaço menor nos livros.
Família Bridgerton
Quase toda a família tem seu momento de brilhar em Bridgerton. O maior destaque vai para Daphne, a debutante da vez e intitulada o diamante da sociedade. Daphne tem todos os quesitos de uma donzela perfeita e o currículo ideal para o casamento. Mas tudo isso é colocado à prova quando ela conhece Simon, o novo Duque de Hastings.
O público irá acompanhar a história de amor dos dois a temporada inteira, desde as provocações, planos, desentendimentos até o despertar dessa paixão. Enquanto Daphne quer casar e formar uma família, Simon é avesso a essa tradição, prometendo nunca se casar e nem ter filhos. Tudo isso está conectado ao seu passado na qual a série explica muito bem o que aconteceu, para entendermos as motivações do personagem. Esta é uma dupla na qual desperta vários sentimentos e você torce por eles até o fim.
Enquanto isso, a irmã Eloise (Claudia Jessie) segue logo atrás de Daphne, que ganha a atenção do público com sua personalidade atípica para a época e opiniões fortes. Eloise não pensa em debutar, muito menos casar. Mesmo em uma época em que a mulher é vista como frágil e dependente do homem, Eloise sonha em ser mais independente e estudiosa com o propósito de ter alguma carreira profissional. Ela vai na contramão de todos, mesmo ciente de que as chances de conseguir o que quer são poucas. Aliás, ela é a mais interessada em descobrir a identidade de Lady Whistledown e vai despertar o seu lado escritora/investigadora para encontrar respostas. Já posso afirmar que ela será uma das personagens favoritas de muitos.
Anthony (Jonathan Bailey) é o filho mais velho, visconde e matriarca da família, já que o pai é falecido. Ele é o mais teimoso, cabeça dura e esquentado, tenta sempre dar um jeito das coisas acontecerem para que os demais sejam felizes, mas acaba mais atrapalhando do que ajudando, especialmente quando se trata da felicidade de Daphne. No entanto, ele também se encontra com certos conflitos internos e está perdido sobre o que quer para si, especialmente no quesito amor.
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Os demais irmãos também conquistam a atenção com o carisma, mas nem todos ganham o merecido destaque, como é o caso de Colin (Luke Newton). Infelizmente o personagem fica apagado na série e somente ganha desenvolvimento por conta de outra personagem (mas não direi para não dar spoilers). Já Benedict (Luke Thompson) é o personagem mais apaixonante e amorzinho, ganha um plot interessante, mas também nada que seja grandioso.
Já Gregory e Hyacinth (Florence Hunt) são os irmãos mais novos que trazem um alívio cômico para a série.
Viúva, Violet (Ruth Gemmell) é aquela mãe que deseja o melhor para todos os filhos, especialmente para Daphne que está no auge como debutante. Mesmo sem o marido, Violet consegue segurar as pontas de todos os filhos em meio a intrigas e pequenos escândalos. É outra personagem que vai te conquistar também.
E os demais?
Como disse anteriormente, há personagens que são menores no livro, mas ganham destaque e desenvolvimento em Bridgerton, como é o caso da família Featherington, que não perdem a postura, muito menos tentam descer do pedestal, apesar de guardar certos segredinhos. A matriarca Portia (Polly Walker) quer o melhor para suas filhas e não irá medir esforços para arranjar casamentos incríveis. Das três irmãs, o destaque vai para a jovem Penelope (Nicola Coughlan), uma garota que, ao mesmo tempo segue a tradição de debutar e casar, quer traçar um caminho próprio, assim como sua melhor amiga Eloise. É outra personagem carismática e divertida, que vai conquistar o espectador de imediato.
Mas a família Featherington vai ter a sua rotina chacoalhada com a chegada de Marina Thompson (Ruby Baker), uma prima distante que veio para arranjar um casamento decente. No entanto, o plot de Marina é bem interessante e vai render boas reviravoltas. Apenas digo isso.
Quem também ganha um bom destaque é Lady Danbury (Adjoa Andoh). No livro, a personagem é vista como chata e difícil, na qual todos querem certa distância, mas na série, Danbury é maravilhosa! Ela fez parte da vida de Simon, dá ótimos conselhos ao duque, assim como apoia os demais personagens. Sem contar que ela também prepara incríveis bailes.
Por fim, Bridgerton nos apresenta a Rainha Charlotte (Golda Rosheuvel), que está atenta a tudo, quer saber de tudo a sua volta, especialmente sobre a identidade de Lady Whistledown, mas não dispensa uma boa fofoca e ser o centro das atenções. Assim como ela, também conhecemos o príncipe Friederich (Freddie Stroma), sobrinho da rainha, que chega em Londres para encontrar sua futura esposa.
Considerações finais
Bridgerton entrega uma temporada e boa e introdutória no começo, cuja trama se fortalece ao longo dos episódios que, mesmo com duração longa, prende a atenção do espectador com uma história de época que envolve romance, tradições, segredos, escândalos e mistério, com personagens carismáticos e um elenco que entrega uma ótima atuação. A série funciona para quem não leu os livros e é uma boa dica de maratona para quem gosta do gênero romance de época.
Ficha Técnica
Bridgerton
Criação e produção: Chris Van Dusen, Shonda Rhimes, Betsy Beers
Adaptação dos livros de Julia Quinn
Elenco: Julie Andrews, Phoebe Dynevor, Regé-Jean Page, Golda Rosheuvel, Claudia Jessie, Jonathan Bailey, Luke Newton, Nicola Coughlan, Luke Thompson, Ruth Gemmell, Ruby Barker, Sabrina Barlett, Adjoa Andoh, Polly Walker, Jason Barnett, Joanna Bobin, Harriet Cains, Bessie Carter, Florence Hunt, Molly McGlynn, Ruby Stokes, Freddie Stroma e Jamie Beamish.
Duração: 1ª temporada (8 episódios 1h aprox.)
Nota: 8,0