Malévola foi o primeiro filme solo da Disney que trouxe a história de uma das vilãs icônicas das clássicas animações dos contos de fadas que conhecemos e adoramos, especialmente por entregar um bom viés sobre as motivações que endureceram o coração da antagonista ao ponto de criar uma maldição para adormecer eternamente a princesa Aurora. Além de ter sido um dos meus filmes favoritos de 2014, a Disney acertou ao trazer no formato live-action uma história já conhecida, mas com uma perspectiva diferente e leves mudanças, fugindo um pouco da trama original e criando um novo olhar sobre o nascimento de uma maldade que, na verdade, nem sempre foi má como imaginávamos.
Agora, em 2019, temos a continuação desta história em Malévola – Dona do Mal, que traz as mesmas referências do conto de fadas, mas com uma trama completamente original, diversa e rica. É um filme perfeito? Não, mas é um filme que surpreende por não ter revelado muitas coisas em seus materiais de divulgação, entregando uma história bonita e triste sobre preconceito, liberdade, escolha e paz entre povos divergentes.
Dirigido por Joachim Ronning, Malévola – Dona do Mal se passa alguns anos após os eventos do primeiro filme em que Malévola derrota o rei Stefan e torna Aurora uma das integrantes oficiais da floresta de Moors. Nos dias de hoje, a garota se tornou oficialmente a rainha de Moors, liderando de forma meiga e tranquila as criaturas mais formidáveis da floresta. Mas, o pequeno grande detalhe é que, mesmo os anos passando, as pessoas ainda temem pela presença de Malévola, acreditando que ela possa fazer algum tipo de mal contra os seres humanos. Quem se alimenta deste medo é o reino de Ulstead, governado pelo rei John e a rainha Ingrith. Enquanto o rei deseja unificar os povos e selar definitivamente a paz entre Moors e Ulstead, a rainha cria uma grande atmosfera de receios e dúvidas quanto ao fim da guerra, uma vez que suas intenções são completamente diferentes e, até, obscuras.
Não só para selar a paz como também para celebrar o amor que sentem, o príncipe Phillip pede a mão de Aurora em casamento (não é spoiler, está no trailer), uma vez que ambos estão apaixonados. Mas há vários empecilhos para a realização desta união matrimonial, como as intenções de Ingrith e, é claro, a relutância de Malévola ao ver sua filha “praga” crescer e dar um grande passo na vida. Mas, mais do que isso, Malévola não se sente tão confortável, justamente por saber que o medo e a vingança ainda pairam sobre as cabeças dos homens.
Revelar mais do que foi descrito acima seria spoiler, então o que posso dizer é que Malévola – Dona Mal surpreende por ir muito mais além do que uma birra entre fada e rainha, como os próprios trailers sugerem, uma vez que Ingrith a provoca por se aproximar de Aurora a fim de tomar o posto de ‘mãe’, já que a própria Malévola faz este papel à sua maneira.
O filme abrange temáticas importantes como preconceito, escolhas e liberdade, uma vez que alguns desejam unir povos e raças, enquanto outros querem vingança e distância apenas por serem diferentes, se sentirem ameaçados e/ou, apenas, por interesses próprios, já que Moors se engrandece pela riqueza frutífera na terra e a magia que governa por todo o canto.
Tal conflito não só coloca Aurora e Malévola em posições opostas, devido às dúvidas, receios e possíveis provocações e novas maldições, como também entrega ao público novos mundos para conhecer. Assim como vimos nos trailers, Malévola – Dona do Mal mostra que existe mais criaturas iguais à Malévola, desenvolvendo a sua origem e a razão dela ser uma fada extremamente poderosa e com poderes únicos.
Justamente por causa da guerra com os humanos, as fadas (homens e mulheres) precisaram se esconder e criar uma nova comunidade no subsolo da floresta, uma espécie de caverna gigante a fim de que nenhum homem possa chegar até lá. Aqui conhecemos a grande diversidade dentro da mesma comunidade, com fadas brancos, negros e mestiços, um gênero completamente enriquecedor de se contemplar. O público conhece, junto com Malévola, este novo mundo pelas explicações de Conall, interpretado por Chiwetel Ejiofor. Sua participação é pequena, o que é uma pena, mas é pontual e essencial para trazer informações relevantes à história, especialmente às reviravoltas.
Assim como os humanos, as (os) fadas também se dividem entre querer selar a paz e querer um novo conflito para tomar de volta a liberdade e o espaço que são de direitos, como é o caso de Borra, um dos integrantes do grupo, com boa interpretação de Ed Skrein. Borra é um personagem que gosta de causar, tem suas boas motivações, mas surpreende no decorrer da trama.
Crítica: Ad Astra – Rumo às Estrelas
Além de conhecer um mundo novo, Malévola – Dona do Mal não deixa de lado Moors, um dos cenários principais do filme, que ganha efeitos especiais satisfatórios, extremamente coloridos e encantador, especialmente pelas variadas criaturas que enriquecem a diversidade da trama, como por exemplo, as árvores soldados; as flores da morte, que representam as fadas que já não existem mais; fadinhas que brotam em flores, espécies de cogumelos e porco-espinho, como é o caso do Pingo, uma criatura fofa e adorável, entre muitos outros. Claro que não poderia faltar o trio de fadinhas Fauna, Flora e Primavera, que ajudou a criar Aurora.
Personagens
Angelina Jolie nasceu para ser a Malévola e, novamente, entrega uma fada formidável e estonteante. Malévola é irônica e formal, irredutível e, alguns momentos, um pouco controladora, mas é possível compreender isso, justamente por saber que ela ainda teme sobre a unificação entre povos, uma vez que os humanos ainda sentem medo dela, isso sem contar que ela teme que façam algo contra Moors e as criaturas. Sua química com Elle Fanning continua boa e divertida, sempre prevalecendo o lado maternal, o que agrada bastante, especialmente quando essa relação fica abalada devido às circunstâncias que passam no filme.
Quem também se destaca é Michelle Pfeiffer, que não fica a desejar em nenhum momento. A rainha Ingrith entrega um ar misterioso, uma vez que você não sabe o que ela realmente deseja. No primeiro momento, ela reluta, mas aceita o casamento do filho. No entanto, quando o público conhece suas verdadeiras intenções, a personagem ganha uma nova identidade, o que a torna extremamente impetuosa em suas ações. Ela é uma mulher egoísta, que finge se importar com os outros, mas a verdade é que ela se importa somente com suas vontades.
A interpretação de Elle Fanning é satisfatória, mas fica um pouco a desejar em alguns pontos. Falta mais energia e ação de Aurora, o que complica e até pode irritar o espectador, é o fato dela ser bastante influenciável. Claro que sempre haverá os clichês e as motivações para fazer a história ganhar forma, mas acredito que poderia ter sido feito de um jeito mais realista, mostrando uma Aurora mais esperta para captar o que se passa em sua volta.
Interpretado por Harris Dickinson, o príncipe Phillip também se encontra na mesma posição de Aurora: ora lhe falta energia e esperteza para se impor mais diante da situação; ora ele consegue conquistar o público em alguns momentos, salvando a atuação do ator.
Sam Riley continua divertido como Diaval, o corvo de Malévola em forma de homem. Suas cenas são pontuais, o que traz certo alívio cômico ao filme.
Considerações finais
O grande estopim acontece no terceiro ato, que é o momento em que o filme surpreende a todos com uma boa reviravolta que traz tristezas e sacrifícios, ao estilo Disney, mas que não deixa de ser trágico. Há redenção, recomeço e paz, enquanto alguns encontram um final feliz, e outros um final justo.
Malévola – Dona do Mal acerta por ser uma continuação que traz referências ao clássico conta de fadas em uma história completamente original, com boas temáticas sobre preconceito, diversidade, liberdade, escolha e paz. Os cenários e efeitos especiais são satisfatórios e coloridos, enriquecendo as terras encantadas do filme. O elenco é bom, com destaque para Jolie e Pfeiffer e, apesar de algumas ressalvas em algumas interpretações, no geral, os personagens são cativantes. Novamente, Malévola traz uma boa trama sobre uma grande vilã cuja maldade se transforma em amor.
Ficha Técnica
Malévola – Dona do Mal
Direção: Joachim Ronning
Elenco: Angelina Jolie, Elle Fanning, Michelle Pfeiffer, Chiwetel Ejiofor, Ed Skrein, Harris Dickinson, Sam Riley, Juno Temple, Robert Lindsey, Imelda Stauton, Lesley Menville e Anthony Kaye.
Duração: 1h58min
Nota: 7,5