O Pintassilgo (The Goldfinch) traz uma trama que até sabe atrair o espectador ao retratar sobre trauma, luto, tristeza, recomeço, conspiração com um elenco forte e envolvente, no entanto, o filme apresenta um roteiro longo e uma edição picotada com o objetivo de mergulhar no drama e suspense, mas que, no final, acaba chegando-se ao resultado da exaustão. Mas se você tiver um pouco de paciência de acompanhar duas horas e meia de filme, ainda vale conhece esta história.
Dirigido por John Crowley, roteirizado por Peter Straugha e adaptado da obra da autora Donna Tart, O Pintassilgo conta a história de Theodore ‘Theo’ Decker, um menino que, aos 13 anos, vê sua mãe morrer durante um ataque a bomba no Metropolitan Museum of Art. A tragédia muda o curso de sua vida, enviando-lhe para uma emocionante odisseia de tristeza e culpa, reinvenção e redenção, e até mesmo amor. Apesar de tudo, ele segura um pedaço de esperança tangível desse dia terrível… uma pintura de um pequeno pássaro acorrentado a seu poleiro.
O filme inicia apresentando ao público um Theo adulto prestes a fazer algo inconsequente. Logo em seguida, passamos a acompanhar o Theo que consegue sair do museu e espera sua mãe voltar ao apartamento, uma espera que, infelizmente, não terá fim. Assim que o garoto recebe a notícia sobre o falecimento, a única pessoa que lhe vem à cabeça para lhe ajudar é a Sra. Barbour (Nicole Kidman), mãe de quatro filhos, sendo um deles Andy (Ryan Foust), amigo de Theo. É a partir daqui que se inicia uma jornada densa sobre a vida de Theo, trazendo inúmeras reflexões sobre vida e morte misturadas à culpa e redenção, paralelamente a uma caminhada de suspense e conspiração.
Qual é o problema de O Pintassilgo que pode fazer com que as pessoas fiquem entediadas enquanto assistem? É a forma como o roteiro é construído, misturando passado e presente (que parece o futuro) do protagonista, junto com as circunstâncias que o faz ter reencontros, desentendimentos, arrependimentos e decisões precipitadas. Junto a uma edição picotada, a história fica bem lenta uma vez que o filme tem por objetivo criar uma atmosfera densa de puro drama e suspense, mas acaba encontrando o caminho do cansaço. A história se divide em vários pedaços para contar o que realmente aconteceu no dia do atentado, demorando a revelar a identidade da mãe até mostrar os pequenos ocorridos que levaram Theo a ir embora com algo valioso nas mãos. Talvez essa tenha sido uma forma também de trazer um grande peso à culpa que o garoto sente, já que havia uma razão para ele e a mãe estarem no museu naquele dia, naquela determinada hora.
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Junto às cenas do grande atentado, o público passa a acompanhar quatro momentos da vida de Theo: quando ele vai morar temporariamente com a família Barbour; quando ele conhece o antiquário Hobart & Blackwell e passa a conviver com o Sr. Hobie e a aprender sobre peças e mobílias antigas; quando ele passa a morar com o pai e a madrasta; e, por fim, quando a gente passa a acompanhar a fase adulta do protagonista, junto ao início de uma conspiração que pode mudar o percurso de sua vida.
Como o filme opta em mesclar todos esses momentos em um formato bem retalhado, ao invés de seguir uma linha cronológica mais linear, tal ousadia faz O Pintassilgo ser bem cansativo: ora o espectador está acompanhando uma cena específica da infância de Theo; ora o filme corta bruscamente para uma cena na fase adulta, sendo que a conexão será feita somente mais à frente. O filme deixa de aproveitar momentos cruciais para se aprofundar em situações que mereciam mais detalhes, como por exemplo, a relação maternal entre a Sra. Barbour e Theo, uma vez que a ausência da figura da mãe é algo muito forte e dolorosa ao personagem e, talvez, essa nova relação pudesse apaziguar mais o sofrimento antes que novas circunstâncias viessem à tona na vida do garoto.
Outro exemplo, é a amizade de Theo e Pippa (Aimee Laurence), que se encontram na mesma situação: a dor da perda da mãe e a dor por terem passado pelo mesmo atentado. Tal relacionamento dos dois é singelo e forte, algo que poderia ter sido mais aproveitado em tela a fim de trazer mais camadas à situação psicológica de Theo, tanto como garoto quanto adulto.
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Enquanto há momentos em que o filme não aproveita, há outros que poderiam ter sido cortados facilmente, diminuindo uns 30 minutos de duração, como por exemplo, um novo relacionamento que surge na vida Theo. Até existe certa conexão com a trama, mas que, sinceramente, não faz diferença nenhuma, tornando-se apenas cenas para preencher um vazio que nem existe. Talvez no livro isso faça mais sentido? Sim, mas no filme essa nova relação fica algo à parte e desnecessária.
Mas O Pintassilgo acerta ao levar o público a conhecer um outro lado da vida de Theo com o seu pai Larry (Luke Wilson) e a madrasta Xandra, interpretada de forma engraçada e ótima por Sarah Paulson. Ao sair do conforto e da segurança da casa dos Barbour, Theo vai para um cenário isolado de tudo e todos, se afastando ainda mais das lembranças boas de sua mãe, ficando apenas com a culpa e o luto novamente, já que seu relacionamento com o pai é uma corda bamba. Luke Wilson encarna um pai ausente, egoísta, agressivo e interesseiro, fazendo tudo se intensificar ainda mais por ser uma pessoa alcoólatra. Mas mesmo tendo um lado ruim, há um lado bom que, neste caso, foi conhecer Boris, interpretado por Finn Wolfhard, um garoto russo, com personalidade forte, que ajuda Theo a se libertar mais, uma vez que ambos conseguem conectar suas personalidades opostas, mas apresentam vulnerabilidades semelhantes. E tal amizade não fica por aí, uma vez que eles se reencontram na fase adulta, já que Boris ajuda Theo em uma situação complicada.
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Com relação à conspiração, O Pintassilgo também caminha lentamente no desenvolvimento, mas acerta no grau de suspense e na resolução, levando finalmente o protagonista ao caminho da redenção e do perdão a si mesmo.
Oakes Fegley interpreta um jovem Theo machucado, assustado e extremamente culpado, onde sua proteção se encontra quando ele se encolhe em formato de casulo a fim de que nada possa atingi-lo, enquanto sua liberdade começa a ser construída ao passar por novas situações e conhecer novas pessoas. Ansel Elgort também está bem no papel. Ele entrega um Theo adulto ainda carregando a culpa do passado e assustado com a nova situação que se encontra devido às suas ações após o atentado. Theo é triste e apaixonado, é seguro e vulnerável, é forte e fraco; é um homem que precisa de perdão e recomeço.
O restante do elenco está bem também, como Nicole Kidman interpretado uma mãe formal, mas doce e protetora. Jeffrey Wright encarna uma boa figura paterna para Theo, além de ser o seu mentor. Quem também está bem é Aneurin Barnard que interpreta o adulto Boris, um homem esperto, que se dá bem na vida, mas também carrega certa culpa nas costas.
Considerações finais
O Pintassilgo é um filme denso sobre tragédia, luto, culpa, tristeza, medo, conspiração, redenção e recomeço. Os personagens são bons e prendem a atenção do público com um elenco forte. Mesmo com uma história até boa, o filme pode entediar pelo roteiro e edição longos e retalhados.
Ficha Técnica
O Pintassilgo
Direção: John Crowley
Elenco: Ansel Elgort, Nicole Kidman, Jeffrey Wright, Oakes Fegley, Finn Wolfhard, Aneurin Barnard, Luke Wilson, Sarah Paulson, Ashleigh Cummings, Willa Fitzgerald, Aimee Laurence, Denis O’Hare, Boyd Gaines, Peter Jacobson, Luke Kleintank, Robert Joy e Ryan Foust.
Duração: 2h30min
Nota: 6,0