Casal Improvável (Long Shot) reforça o significado de ‘boa química’ na tela com uma dupla extremamente improvável que revela uma dinâmica natural e apresenta um amor crescente, misturado a comédia e política sem ser original, mas renovador, gratificante e divertido.
Dirigido por Jonathan Levine, a trama apresenta Charlotte Field (Charlize Theron) que, atualmente, ocupa o cargo de Secretaria do Estado norte-americano, afirmando o poder que ela conseguiu alcançar em sua carreira. Um dos seus maiores desejos é se candidatar à presidência em 2020 e, de fato, ela consegue, juntamente com o apoio do atual presidente dos EUA.
Do outro lado, conhecemos Fred Flarsky (Seth Rogen), um jornalista revolucionário, democrata radical, que tem opiniões fortes e coloca em risco a sua pele para escrever matérias para onde trabalha, como ele faz quando se infiltra em um grupo de nazistas do local. Com a venda do jornal para a empresa privada que ele mais odeia, Fred larga o emprego em prol dos seus valores e pensamentos, mas agora terá que recomeçar, o que não é uma boa opção, já que ele não se esforça tanto e não dá o braço a torcer quando algo ou alguém difere de suas opiniões.
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Um dia, Fred e Charlotte se encontram em uma festa e relembram o passado, fazendo a secretária do Estado aproveitar o momento para convidá-lo a trabalhar com ela como jornalista e redator de seus discursos para sua campanha à presidência. A partir daqui a amizade fortalece, levando-os uma intimidade maior, em que este amor se tornará bom para a dupla, mas estranha e improvável aos olhares alheios, uma vez que ambos vivem em mundos completamente diferentes.
Casal Improvável não traz nada de original, mas faz uma divertida homenagem às antigas comédias românticas, como Uma Linda Mulher e Um Lugar Chamado Notting Hill ao renovar o gênero e provar a possibilidade de juntar personagens completamente distintos utilizando fórmulas naturais de encontros, casos e acasos e, ainda, introduzir momentos absurdos que não são embaraçosos ou forçados, tornando o filme ainda mais agradável de assistir.
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O ponto forte da trama é o desenvolvimento da personalidade e características de cada protagonista. De um lado, temos Charlotte que ocupa um cargo importante, tornando-se uma figura pública e representante do país, repleta de holofotes ao seu redor. Isso faz com que sua aparência seja sempre mantida no alto nível, ao mesmo tempo que a faz questionar se é possível manter-se neste pedestal frágil por muito tempo, uma vez que sua vida pessoal caminha paralelamente e que muda radicalmente com a chegada de Fred.
Além disso, o filme faz uma abordagem afiada sobre o papel feminino em cargos de grande poder e autoridade, questionando a capacidade da mulher em atribuir e contribuir em um trabalho que, indiretamente, só poderia ser praticado por homens. Há cenas divertidas e irritantes que provam isso, seja quando um programa de televisão questiona a candidatura de Charlotte, colocando comentaristas homens para debater o assunto de forma mesquinha e pejorativa.
Do outro lado, o público conhece a personalidade forte de Fred, mostrando teimosia e opiniões forte a ponto de não abrir caminho para pensamentos divergentes do seu, o que o faz, muitas vezes, perder boas oportunidades por ser cabeça dura. Diversas vezes ele bate de frente com Charlotte diante das atitudes tomadas durante a campanha, sem ao menos se dar conta de que a candidata está rodeada de pessoas acima dela, capazes de cometer difamações e outras atrocidades.
Ao construir características tão marcantes, Casal Improvável entrega uma trilha capaz de construir um amor engraçado e progressivo em que os personagens conseguem trabalhar bem os sentimentos da forma mais natural possível, como quando Fred começa a escrever os discursos e precisa conhecer melhor quem é a verdadeira Charlotte, o que ela gosta de fazer, quais coisas que a tiram do sério e o que a deixa feliz. É interessante, pois o roteiro aproveita para inserir boas referências à cultura pop, seja falando sobre Game of Thrones, ou questionando o porquê Charlotte ainda não assistiu aos filmes da Marvel.
A parte cômica poderia cair em um abismo embaraçoso e absurdo, mas o filme consegue inserir momentos hilários formidavelmente, provando ser uma comédia romântica nada a séria, o que torna a história aceitável e surpreendente aos olhos do público. As cenas que provam isso são quando Charlotte precisa lidar com um sequestro em um momento alucinante que está passando; um vídeo vazado; a fuga após um atentado; a primeira dança de Charlotte e Fred; e o discurso inesquecível que prova que ela é a candidata perfeita à presidência.
O elenco de apoio não fica para trás, dando energia e dinamismo ao filme, seja a Chefe de Gabinete, Maggie Millikin (June Diane Raphael) que está sempre colocando Charlotte nos trilhos e batendo de frente com suas decisões; o ajudante Tom (Ravi Patel) e suas opiniões pontuais e divertidas; Lance (O’Shea Jackson Jr) que está sempre guiando Fred ao caminho certo e fazendo com que ele quebre as próprias barreiras que o impede de ser feliz; Alexander Skarsgard como o primeiro ministro do Canadá que adora flertar com Charlotte; Andy Serkis como Parker Wembley, um chantagista empresário das telecomunicações; e Bob Odenkirk como o atual presidente dos EUA e entusiasta do cinema e da fama.
Considerações finais
O desfecho é divertido, hilário, satisfatório e feliz, do jeito mais improvável que poderia ser. Casal Improvável é um acerto da comédia romântica dos tempos atuais, que não é original, mas se renova no gênero, nos personagens, traz uma abordagem afiada sobre política e feminismo e ainda prova que a melhor química pode acontecer entre duas pessoas completamente distintas, do jeito mais normal possível.
Ficha Técnica
Casal Improvável
Direção: Jonathan Levine
Elenco: Charlize Theron, Seth Rogen, June Diane Raphael, O’Shea Jackson Jr, Bob Odenkirk, Ravi Patel, Andy Serkis, Randall Park, Alexander Skarsgard, Tristan D. Lalla e Aladeen Tawfeek.
Duração: 2h5min
Nota: 8,2