As Tartarugas Ninja: Caos Mutante (Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem) chega aos cinemas e é tipo de animação que não se espera nada e fica feliz e satisfeito com o resultado na tela. Mesmo com uma trama simples, o filme entrega uma história bem feita e desenvolvida, personagens famosos no universo cartunesco que continuam carismáticos, uma estética caótica e hipnotizante, misturados a uma atmosfera de comédia com temáticas relevantes debatidas de forma leve e agradável. O longa é uma grata surpresa e vou te dizer o porquê.
Com direção de Jeff Rowe, As Tartarugas Ninja: Caos Mutante traz os heróis ninja mais famosos só que em suas versões adolescentes, algo que poderia dar muito errado e, felizmente, funciona com maestria.
Nada de novo sob o sol, a trama engata na revelação sobre a origem das tartarugas ninja, desde quem iniciou o plano de criar animais mutantes e razão para fazer isso, a emboscada, o acidente e o contato com a fórmula, a transformação e a formação da família quando o ratão Splinter encontra e passa a cuidar das tartarugas bebês como seus filhos.
A partir daí, a história passa a acompanhar a versão adolescente de Leonardo, Donatello, Raphael e Michelangelo que, após anos se escondendo pelos esgotos da cidade, sentem o forte desejo de viver no mundo exterior, porém o medo sempre fora alimentado pelo pai, uma vez que o último contato com os humanos não foi nada bom.
Agora, os irmãos querem conquistar os corações das pessoas e serem aceitos da forma como são, mas esta não será uma tarefa fácil. Com a ajuda da nova amiga, a estudante April O’Neil, as tartarugas ninja decidem colocas suas habilidades em jogo e realizar atos heroicos. No entanto, esta aventura faz com que o quarteto relembre as suas origens, enfrente um misterioso sindicato do crime e, acidentalmente, libertem vários mutantes.
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Como disse, a animação não traz uma trama extremamente inovadora, mas entrega uma narrativa bem construída cujo desenvolvimento se debruça em um caos organizado, sob uma atmosfera de comédia que sabe debater temáticas relevantes de forma leve e emocionante na medida certa.
Para começar, o maior ponto positivo do filme é apresentar a versão jovem das tartarugas ninja, personagens no auge desta fase na qual a impulsividade, o desejo de se aventurar, tomar iniciativas e descobrir coisas novas e pessoas falam muito mais alto. E estes pontos ganham uma força maior para os irmãos que desejam ter uma vida normal ao lado dos humanos (ir à escola, ao cinema, namorar, ter amigos), mas para isso eles terão que lidar com a insegurança por ser quem são.
A animação debate a diversidade mutante e aceitação tanto pelo ponto de vista das tartarugas ninja que usam dos seus atos heroicos para mostrar quem são de verdade e conquistarem o merecido espaço no mundo além dos esgotos; e também do ponto de vista de April O’Neil que, mesmo sendo uma humana, quer também enfrentar os seus medos e lidar com o bullying na escola pelos motivos certos. Para isso, ela coloca em jogo o seu talento como jornalista para descobrir quem é o grande criminoso de Nova York, o que a coloca frente a frente às tartarugas.
Já adianto que a animação, em nenhum momento, quer lacrar com este debate. Pelo contrário, o roteiro se debruça na diversão e comédia para pautar tais assuntos, seja na dinâmica engraçada entre os irmãos, cujas personalidades são bem diferentes, tonando cada personagem único e gracioso à sua maneira, seja a nerdice e doçura de Donatello; a liderança de Leonardo; a força e o temperamento de Raphael; e a esperteza e a boa comunicação de Michelangelo. Eles se amam, se apoiam, não se aguentam, mas não conseguem ficar um longe do outro, e é isto que torna a dinâmica tão afiada e palpável na tela. E quando o contato entre tartarugas e April surte o primeiro efeito positivo, o público nota que a tarefa de aceitação será uma jornada que valerá a pena enfrentar para ir em busca de um final gratificante.
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Toda esta dinâmica funciona graças ao texto eficiente que garante ótimos diálogos seja com referências à cultura pop (desde Vingadores à Beyoncé), sentimentalismo não exagerado, vulnerabilidades bem exploradas e a força ao enfrentar os medos e buscar pelo que sonha. Impossível não dar boas risadas e se emocionar levemente com estes personagens adoráveis.
Claro que As Tartarugas Ninja: Caos Mutante também apresenta o seu antagonismo que ajuda a inflar este caos, seja com a equipe misteriosa liderada por Cynthia Ultrom que deseja colocar as mãos na fórmula secreta e criar um exército de animais mutantes; seja com o grupo de criminosos liderado pelo moscão, que quer acabar com os humanos, já que são menosprezados pela sociedade.
O embate entre aceitação, medo e fazer a coisa certa entram conflito fazendo cada um repensar suas atitudes e a forma como enxergam a situação, em que alguns recalculam a rota e suas motivações, enquanto outros decidem ir até o fim com o seu real objetivo.
Outro ponto positivo de As Tartarugas Ninja: Caos Mutante é a estética que mistura traços cartunescos rabiscados e com definição com efeitos 3D, o que faz o espectador lembrar dos filmes Aranhaverso e A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas. Aliás, Jeff Rowe é quem dirige ambas animações, o que faz ser notável a grande semelhança entre as produções, não só visualmente, mas também em seu ritmo acelerado.
A estética das tartarugas ninja ganha tonalidades fortes, com as cores tradicionais e famosas dos personagens. Já os vilões ganham traços mais escuros, bagunçados e até medonhos, fazendo jus ao caos na qual são os responsáveis.
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Como assisti dublado, posso dizer que a dublagem de As Tartarugas Ninja: Caos Mutante está bem feita dando um tom de doçura, comédia e caos com piadas adaptadas aos brasileiros. A animação conta com vozes de Any Gabrielly e Léo Santana. Podem assistir dublado tranquilamente. Mas caso assista legendado, não irá se decepcionar, uma vez que o elenco conta com Ayo Edebiri, Seth Rogen, Jackie Chan, Maya Rudolph, Rose Byrne, Paul Rudd, Giancarlo Esposito, Ice Cube, John Cena e outros nomes na dublagem.
Considerações finais
A reta final eleva o caos em um embate frenético entre heróis e vilões com um desfecho feliz, abrindo portas para mais e novas aventuras e descobertas para as tartarugas ninja. Há uma cena pós-créditos que revela que um novo mal irá surgir e mais atos heroicos serão requisitados para o quarteto mutante.
As Tartarugas Ninja: Caos Mutante é uma animação que apresenta uma trama simples que inova pelo desenvolvimento com bons debates, personagens bem construídos e carismáticos às suas maneiras, emoldurados por uma estética lindamente caótica, assim como as cenas de ação são bem desenhadas e funcionam do início ao fim.
As Tartarugas Ninja: Caos Mutante é uma animação que não aparenta trazer novidades e faz o espectador sair feliz e satisfeito com o que viu na tela.
Ficha Técnica
As Tartarugas Ninja: Caos Mutante
Direção: Jeff Rowe
Elenco de vozes: Micah Abbey, Shamon Brown Jr, Nicolas Cantu, Brady Noon, Ayo Edebiri, Jackie Chan, Maya Rudolph, Seth Rogen, John Cena, Paul Rudd, Rosey Byrne, Natasia Demetriou, Giancarlo Esposito, Post Malone, Hannibal Buress, Jimmy Donaldson e Derek Wilson.
Dublagem brasileira: Any Gabrielly e Léo Santana
Duração: 1h39min
Nota: 4,0/5,0