A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (um título enorme, eu sei) é a mais nova produção da Sony Animation que chega no Brasil pela Netflix. A animação não é só divertida e enche os nossos olhos com um visual colorido, emblemático e encantador, como traz uma história que mistura relação familiar e tecnologia que molda a forma como ser humano pensa e age no dia a dia, resultando em uma aventura repleta de caos e explosão, com pequenas doses de sarcasmo, discussões interessantes sobre a conexão humana. É um filme para assistir mais de uma vez com a família ou sozinho, pois você não vai se arrepender.
Com direção de Mike Rianda e produção de Phil Lord, Christopher Miller e Kurt Albrecht – os mesmos criadores de Homem-Aranha no Aranhaverso, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas acompanha uma família comum que precisa enfrentar o grande desafio de salvar o mundo de um apocalipse robô.
Tudo começa quando a criativa Katie Mitchell é aceita na escola de cinema dos seus sonhos, em outra cidade, e está ansiosa para sair de casa. Preocupado com a falta de conexão na família, seu pai insiste em levá-la até a universidade pela oportunidade perfeita para uma última ‘viagem em família’. Assim, todos embarcam no carro e partem em direção à estrada.
E como tudo sempre pode piorar, no meio do caminho, os Mitchell acabam se envolvendo em uma revolta de robôs: aparelhos tecnológicos que se voltam contra a humanidade em um plano maligno para capturar todas as pessoas da Terra. Agora cabe à família – incluindo a otimista mãe Linda, o peculiar irmão Aaron, o carismático pug Monchi e dois robôs divertidíssimos – salvar o planeta!
Em primeiro lugar quero ressaltar o excelente visual da animação, que ganha um estilo excêntrico, traços mais encorpados e fortes, como se estivéssemos acompanhando uma história sendo contada em um quadrinho, em que várias cenas ganham momentos onomatopeicos que desenha, expressa e intensifica os sentimentos, ações e reações dos personagens, seja o aperto de mão dos irmãos Katie e Aaron; quando um deles tem uma ideia mirabolante; quando algo dá errado; quando uma vitória é conquistada, entre outras coisas.
Além de enaltecer, a figura de linguagem complementa o cenário que abusa de cores fortes, vibrantes e não tem medo de despejar o colorido na tela. Se você já assistiu Homem-Aranha no Aranhaverso, vai reconhecer tal técnica utilizada pelos criadores que, na minha opinião, acerta mais uma vez e hipnotiza o olhar de adultos e crianças com paisagens cheias e extremamente coloridas.
Não posso deixar de falar que a dublagem brasileira está ótima, o que intensifica os diálogos irônicos, o tom sarcástico dos personagens, além dar aquele toque abrasileirado tanto nas piadas quanto nas gírias. Assistam esta animação dublada tranquilamente.
Dinâmica da família
O filme entrega rapidamente que a família Mitchell é comum, disfuncional e, simplesmente, gente como a gente, um ponto no qual muitos espectadores vão se identificar, uma vez que os personagens apresentam uma relação familiar com qualidades e defeitos em que o amor e a admiração falam mais altos no final. Cada integrante tem características peculiares e o seu momento de brilhar, mas a relação de Katie com o pai Rick é o grande destaque da trama e que traz ótimas lições sobre diferenças, aceitação, respeito, admiração e evolução, em que um tem muito o que aprender com o outro.
Katie (Abbi Jacobson) é a personagem principal e a que tem mais camadas para conhecer. Desde pequena ela é apaixonada por cinema e tenta descobrir a sua verdadeira identidade, pontos que a fez não ter amigos na escola e ser muito diferente para os demais. Mesmo sem ainda encontrar o seu lugar, ela nunca deixou de fazer o que ama, que são filmes caseiros. O filme faz questão de mostrar todo o processo de filmagem e edição, em que ela sempre conta com a ajuda do irmão, do cachorro, o apoio da mãe, menos do pai, uma vez que ele não enxerga o potencial da filha e acredita que isso não lhe dará futuro, o que faz os dois se desentenderem constantemente, e este é o motor que faz a trama se mover e crescer.
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Rick (Danny McBride) é o chefe da família, um pai mais raiz que ama a natureza e quer que os filhos tenham mais contato com a vida lá fora. Ele é avesso à tecnologia e fica inconformado quando vê todos com a cara enfiada no celular. Por conta disso, ele não liga muito para o potencial da filha, o que o faz subestimar o sonho de Katie, gerando contratempos e discussões entre pai e filha, em que um tenta agradar o outro para descomplicar.
Linda (Maya Rudolph) é a matriarca da família, uma mãezona otimista, apoia os filhos e tenta apaziguar as discussões entre Rick e Katie. Ela preza muito pelos momentos em família, mas sabe que a sua não é tão perfeita assim, o que a faz comparar constantemente com a família Posey, os seus vizinhos perfeitos. A mãe é sensacional e quando o dever é proteger os filhos, ela se transforma radicalmente. Há uma cena hilária da mãe em que ela praticamente se transforma em uma ‘Kill Bill’ e isso é sensacional!
Por fim, temos Aaron (Michael Rianda), o irmão caçula que também não tem muitos amigos, admira a irmã e é apaixonado por dinossauros. Ele é tímido, mas tem uma relação incrível com a Katie, que fica ainda melhor com o pug Monchi, que é o melhor cachorro e o melhor personagem!
Revolta das Máquinas
O ponto alto da trama é tratar a tecnologia e como e por quê ela se vira contra a humanidade. Aqui, o filme faz uma apresentação ao estilo da Apple para apresentar os novos robôs que vão substituir o celular e fazer tudo para os humanos. No entanto, a inteligência Pal (Olivia Colman), da empresa que comanda tudo, se vira contra o seu dono e domina tudo com o objetivo de despachar a humanidade para o espaço, sem volta.
Mesmo com toques cômicos, a animação faz um excelente crítica sobre a alienação do homem com relação à tecnologia, uma vez que estamos sempre conectados, vidrados em uma tela brilhante, sem olhar para o lado e movido pelo wi-fi. Um exemplo que prova tudo isso é quando a vilã desliga o wi-fi, deixando todos desnorteados e sem ter para onde correr, provando o quanto a humanidade está dependente da tecnologia, o que faz a própria ficar contra o homem.
Assim, vemos inúmeros robôs, criados para ajudar o homem, se virarem contra e fazer uma grande guerra para capturar as pessoas e acabar com a humanidade na Terra, rendendo cenas de ação muito boas, com direito à fuga, perseguição e planos mirabolantes da família Mitchell que, por sinal, são ótimas. Além disso, essa revolta das máquinas coloca à prova a relação desta família em meio ao caos, em que os defeitos e as qualidades são colocados à mesa para que um aprenda com o outro, sem julgamentos, um fato que vemos com intensidade entre Katie e o pai.
Considerações finais
A reta final do filme é repleta de sequências de lutas, planos divertidos e ótimos confrontos para alcançar o grande objetivo de acabar com o reinado da vilã Pal. O desfecho é ótimo e satisfatório, assim como toda a jornada da família Mitchell.
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é uma ótima animação que traz um visual colorido deslumbrante e que intensifica as ações dos personagens, uma história que aborda a relação familiar e critica o ser humano alienado à tecnológica, apresenta uma ótima dublagem brasileira, personagens carismáticos e com características fortes que evoluem no decorrer da trama e um desfecho redondo e feliz.
Fica a dica de uma animação divertida, envolvente, dinâmica e com uma boa história para contar.
Ficha Técnica
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
Direção: Mike Rianda
Elenco: John Legend, Abbi Jacobson, Olivia Colman, Maya Rudolph, Chrissy Teigen, Danny McBride, Eric Andre, Charlyne Yi, Fred Armisen, Conan O’Brien, Madeleine McGraw e Beck Bennett.
Duração: 1h53min
Nota: 8,9