Mesmo com uma observação aqui e acolá, Cobra Kai não decepciona, tornando-se uma das melhores séries atuais da Netflix. A produção retorna em sua 5ª temporada que engrena devagar e aleatoriamente ganhando ritmo, força, conexão e coesão que geram reviravoltas empolgantes que faz o espectador assistir um episódio atrás do outro.
Há declínios e superações, rivalidades na qual o bem e o mal caminham paralelamente com um desequilíbrio positivo que dá ótimo gás nas ações, com sequências de luta mais dosadas que continuam formidáveis. Tudo isso traz transformações significantes, uniões improváveis e funcionais rumo a um amadurecimento evolutivo dos personagens, enquanto buscam acabar com uma rivalidade cujas proporções se tornam desonestas e perigosas, dando um excelente toque especial ao final da temporada que aflora as emoções de todos.
Mais uma vez, a série retorna com sua genialidade simples que conquistou o público à primeira vista. De novo, se você nunca viu Cobra Kai, dê uma chance e conheça esta história que só fica cada vez melhor.
******CONTÊM SPOILERS******
Mudanças e desequilíbrios
A 5ª temporada de Cobra Kai parte dos eventos finais da 4ª temporada em que vemos Terry Silver vencer o campeonato Regional de caratê conseguindo, assim, o que tanto almejava: poder total ao dojo cobra kai, enquanto o Myagi-Do e o Presas de Águia fecham as portas, como o combinado.
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Isso faz com que a temporada inicie com desequilíbrio e mudanças, mas não digo isso de forma negativa. Nada é perfeito para tudo e todos e, às vezes, uma queda, decepção, uma porta fechada é necessário para que as coisas engrenem novamente. É deste jeito que Cobra Kai nos mostra nestes novos episódios com dinâmicas que, anteriormente, não me agradavam muito, mas agora, funcionam bem e te conquistam nesta nova chance.
De início, temos a aguardada viagem ao México em que Miguel vai à procura do pai, enquanto Johnny e Robby aproveitam a road trip para o acerto de contas entre pai e filho. Alguns pontos deste plot ficam a desejar, uma vez que a série não faz questão de perder muito tempo no desenvolvimento e entrega soluções aleatórias e fáceis demais. De exemplo, temos Miguel procurando por um pai cujo nome é sua única informação, abordando todos os ‘Hectors’ da cidade, até encontrar o pai de forma acidental, em apenas cinco minutos após a sua chegada em um país desconhecido, o que não faz sentido. Tudo leva a crer que este Hector é o pai de Miguel, mas nada é concretizado, pois tudo se baseia em conversas aleatórias, achismos e informações que apenas coincidem, além de um perigo que ronda Hector, o faz o garoto recuar e acreditar na palavra da mãe. No fim das contas, este arco serviu como um erro para o personagem corrigir e crescer, enquanto o espectador apenas acompanha aleatoriamente.
Para não dizer que nada foi em vão, a viagem serve para reunir Johnny e Robby, dar os primeiros passos nesta parceria de pai e filho afetada por anos que, consequentemente, traz também um acerto de contas entre Miguel e Robby. Claro que eles não fazem as pazes rapidamente, leva alguns episódios para isso acontecer, mas finalmente, os dois se acertam em uma luta limpa com comunicação sincera, na qual os erros do passado são perdoados. Não vou negar, mas ver Robby e Miguel amigos é lindo sim! Espero que nada estrague a parceria dos dois.
Enquanto isso, outra personagem que ganha destaque por conta do seu amadurecimento nesta 5ª temporada é Samantha. Sinceramente, não entendo quem não gosta dessa personagem. Para mim, a Sam representa uma adolescente em fase de mudanças, com complexidades, emoções oscilantes, amores que vem e vão, brigas, entre outras coisas, o que é normal ver nesta época da vida.
Desta vez, Sam se vê completamente perdida dentro de si, como se sua identidade tivesse desaparecido, uma vez que seu foco era o caratê, ou a briga com a Tory ou o namoro com o Miguel e o Robby. Entre este triângulo, onde realmente estava a Sam? A vemos dar um freio em tudo, especialmente pela raiva que sente ao ver o Myagi-Do encerrado, o que a faz ter a chance de se reencontrar em meio ao momento caótico. Claro que para Sam se reerguer, ela não precisa deixar de lado o que ama (família, amigos e o caratê), mas agora, ela se coloca como prioridade em que ela luta por algo, mas principalmente, por ela mesma.
Com relação ao relacionamento, eu tenho preferência pelo casal Sam e Robby desde a 1ª temporada, mas o laço dela com Miguel é mais forte, e acredito que os dois possam ficam juntos no final de tudo. Enquanto isso, a parceria de Robby e Tory passa por desafios, ao mesmo tempo que fica forte, uma vez que vemos Tory balançar no muro, enquanto o garoto não desiste de ajudá-la.
E por falar em Tory, tenho que reconhecer que a personagem cresce e entra em um estado de evolução que dá orgulho de acompanhar nesta 5ª temporada de Cobra Kai. Para quem não gostava dela desde o início (como eu), vê-la se ressignificar nestes novos episódios é um potencial bem aproveitado, já que o amadurecimento parte do seu declínio na qual ela deseja sair. Ao descobrir a fraude no campeonato, as intenções malignas de Silver e a lavagem cerebral que o cobra kai está fazendo nos demais alunos – como a Devon (Oona O’Brien) e o Kenny – Tory apenas segura as pontas neste papel fake de líder na tentativa de ser uma infiltrada do Kreese para derrubar o inimigo. Mas, novamente ela é deixada na mão, o que a faz ter atitudes mais justas e sábias. O espectador até sente dó pelas situações que a personagem enfrenta e se orgulha da forma como ela lida com este caos.
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A grande surpresa desta 5ª temporada é ver o começo de uma união improvável entre Tory e Samantha, já que ambas estão passando por transições internas. A comunicação é a chave para muita coisa e finalmente isso acontece entre as duas, o que faz Tory reconhecer os seus erros e sua agressividade em resolver as coisas, enquanto a Sam finalmente enxerga quem a Tory é de verdade. Elas pretendem encontrar um jeito de inocentar Kreese e culpar Silver pela agressão ao Arraia (Paul Walter Hauser), uma forma de condenar o vilão. Será que elas vão conseguir? Torço para que sim!
Declínio e superação
Um ponto interessante que Cobra Kai nos apresenta nesta 5ª temporada e a inversão de papeis entre Daniel e Johnny. Todos se lembram como cada um começou lá na 1ª temporada, certo? Agora, vemos um Johnny dando a volta por cima em várias situações de sua vida, como o relacionamento com o Robby, o fortalecimento como figura paterna ao Miguel e, é claro, a relação amorosa com Carmen que, agora, vai gerar frutos.
Johnny vai ser vai pai de novo e a novidade o faz repensar nos erros do passado, além dos atuais, com o objetivo de deixar o ‘antigo Johnny’ para trás. Com isso, vemos uma transformação radiante do protagonista, sem deixar de lado a sua essência que conquistou os fãs desde o primeiro episódio. Aqui, temos um Johnny que até encara os desafios de ser um motorista de aplicativo, o que é simplesmente sensacional. No entanto, o mais importante é que ele não deixa que o seu lado sensei se apague, retornando ao dojo para dar as mãos ao Daniel, ajudar os jovens e, é claro, encontrar um jeito de acabar com Terry Silver.
Enquanto isso, vemos Daniel LaRusso sofrer um declínio na qual não esperava. Mesmo sendo triste, Cobra Kai constrói a derrota do ‘menino de ouro’ de uma forma tão melancólica e genial que faz o público se emocionar com as cenas e torcer contra a sua desistência.
A forma como Terry Silver infiltra e envenena a mente de Daniel é incrível, fazendo o protagonista cair em armadilhas aparentemente bobas, mas que geram um caos psicológico e físico afetando o trabalho, o casamento com Amanda e a relação com os filhos, cuja obsessão lhe cega, colocando em uma espiral que o afunda mais ainda.
O ápice é a cena em que Terry dá uma grande surra em Daniel, confirmando a força do antagonista, enquanto vemos o grande campeão de Karatê Kid derrotado no chão, fazendo a esperança ir embora pela porta. Mas Daniel não está sozinho e se ergue com a ajuda de todos que, consequentemente, o leva a reabrir as portas do Myagi-Do, trazendo a luz pacífica para todos, além de uma nova chance para derrotar o mal já enraizado. Vai ser fácil? Claro que não! Mas quem disse que estes personagens e o público querem resoluções fáceis? rs
Destaques da temporada
Se um dia, tudo começou com a briga entre Johnny e Daniel, Cobra Kai consegue aumentar a rivalidade em proporções mais perigosas. Se você já achava o Terry Silver ruim nos filmes, prepare-se para ver tal ruindade em um nível ainda mais elevado nesta 5ª temporada.
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Terry é a típica serpente adormecida que não deveria ter sido despertada. E quem o trouxe de volta, está pagando um preço alto. No caso, Kreese é uma peça retirada do tabuleiro, está na cadeia por algo que não fez e também não recebe a ajuda daqueles que, um dia, foram machucados por ele. Talvez podemos pensar que uma cobra pode ser derrotada por outra, mas acredito que o buraco é mais embaixo e, por enquanto, Kreese só merece ser inocentado pela agressão.
Nestes novos episódios, Terry se finca como o melhor vilão da série, na minha opinião, provando que é inteligente e usa de suas estratégias sujas em nome do poder maior, não importa quem saia lesionado. É um personagem que avisa que vai atacar sem você saber quando, como e onde, envenenando situações que causam reviravoltas instigantes e angustiantes, desde a cena do evento beneficente até a manipulação sobre os alunos do seu dojo. Aqui, destaca-se a nova personagem Kim, uma sensei inescrupulosa que treina os alunos com frieza, obrigando a garotada a se livrar de qualquer dor ou sentimento, a fim de atingir o lema ‘No Mercy’.
Eu não sei vocês, mas acredito que Terry Silver não será uma peça fácil de ser retirada do jogo e, talvez, ele irá causar estragos ainda maiores em uma possível 6ª temporada de Cobra Kai.
Outro grande destaque desta 5ª temporada, sem dúvidas, é o Chozen (Yuji Okumoto), uma das melhores coisas que aconteceu na série. Inteligente, perspicaz, sábio, e excelente sensei, Chozen se torna mentor e braço direito de Daniel, não só para ajudá-lo a derrubar o cobra kai, mas para orientá-lo quando sai dos trilhos.
Dá gosto de acompanhá-lo em todos os episódios, desde o momento em que ele se infiltra no mundo de Terry Silver, até as brigas e os treinamentos que ele faz com os alunos do Myagi-Do e Presas de Águia. É impossível não gostar do Chozen e você torce para que nada aconteça com ele.
Participações desta 5ª temporada
Uma participação bastante aguardada nesta 5ª temporada de Cobra Kai é do personagem Mike Barnes (Sean Kanan), apresentado em Karatê Kid 3, como um dos aliados de Terry Silver. Tudo levou a crer que ele retornaria a favor do antagonista, mas, mais uma vez, a série surpreende a todos ao trazer um Mike repaginado e disposto a reconhecer os erros do passado.
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Casado e dono de uma grande loja de móveis, Mike tem um reencontro comicamente estranho com Daniel, uma vez que LaRusso acredita que ele será recrutado novamente por Silver. Assim como o público, Daniel também fica surpreso ao ver a transformação positiva de Barnes, junto com o pedido de desculpa pelos eventos do passado.
Mas nem tudo são flores e, como disse, Silver sempre está um passo a frente. Como Barnes entrega informações importantes à Daniel, como vingança, ele sofre retaliação e tem a sua loja incendiada pelo vilão. Mesmo sendo boa, infelizmente a participação de Mike Barnes é curta nesta 5ª temporada, mas a série deixa as portas abertas para o seu retorno e, possivelmente, a favor de Daniel. Espero que isso aconteça.
Com relação aos demais personagens queridos de Cobra Kai, a 5ª temporada os deixa em uma posição maior de ‘coadjuvantes de apoio’, como o Falcão e Demetri, figuras favoritas de muitos, mas que tem um arco reduzido se comparado com as temporadas anteriores. Eles não deixam de aparecer, muito menos deixam de ser importantes, mas suas histórias ficam em segundo plano. Em parte, isso até faz sentido, pois a briga chega a um patamar mais perigoso que cabe aos adultos tomarem as rédeas da situação, com o elenco jovem como forte apoio. Entendo quem ficar frustrado com essa decisão, mas é possível relevar.
Uma participação também nostálgica que acontece é da personagem Jessica (Robyn Lively), apresentada no terceiro filme Karatê Kid. Sua participação é rápida e divertida, na qual descobrimos que foi ela quem apresentou Amanda (elas são primas) para o Daniel, além de dar mais detalhes sobre o passado conturbado deles dois com Terry Silver, o que faz Amanda compreender melhor o que está acontecendo com o marido atualmente.
Nesta leva de participações, uma que se tornou recorrente é a de Kenny (Dallas Dupree Young), apresentado na temporada anterior. Infelizmente, temos um personagem completamente corrompido, saindo do posto de vítima para aquele que faz bullying, com Anthony LaRusso (Griffin Santopietro) como o seu principal alvo. Por um lado, é interessante ver como a série constrói a ‘lavagem cerebral’ que ele sofre. Mas, por outro lado, é um personagem que testa a paciência do espectador toda vez que aparece, tornando-se uma ‘grande pedra no sapato’ que irrita bastante. Aliás, prepare-se para passar raiva com ele no 9º episódio, durante uma luta com Falcão.
Ficha Técnica
Cobra Kai
Criação: Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg, e Josh Heald
Elenco: Ralph Macchio, William Zabka, Xolo Maridueña, Tanner Buchanan, Mary Mouser, Martin Kove, Thomas Ian Griffith, Yuji Okumoto, Jacob Bertrand, Courtney Henggeler, Peyton List, Gianni DeCenzo, Vanessa Rubio, Rose Bianco, Joe Seo, Aedin Mincks, Owen Morgan, Hannah Kepple, Griffin Santopietro, Sean Kanan, Paul Walter Hauser, Dallas Dupree Young e Oona O’Brien.
Duração: (5ª temporada – 10 episódios – 30 aprox.)
Nota: 4,0/5,0