A Netflix iniciou 2021 com Cobra Kai e, agora, a produção retorna em sua 4ª temporada para encerrar o ano com chave de ouro. Mais uma vez, a série volta com força em que a narrativa brinca com o equilíbrio da balança ao trazer discussões interessantes como aceitação das diferenças do próximo, vulnerabilidades, corrompimento, regressão e superação no bom e velho ritmo de ataque e defesa do caratê que o público acompanha por dinâmicas variadas entre os personagens nesta nova temporada que, por sinal, entrega um desfecho empolgante, instigante e com bons ganchos para a 5ª temporada.
O Pipoca na Madrugada já assistiu a todos os episódios e dará as primeiras impressões sem spoilers sobre o que esperar desta 4ª temporada de Cobra Kai, que estreia dia 31 de dezembro na Netflix.
Diferença X Aceitação
Enquanto a 3ª temporada de Cobra Kai trouxe um desenvolvimento de transição aos personagens com relação ao que aconteceu nas temporadas anteriores, a 4ª temporada mostra a ação e reação de cada um em meio a rivalidade estabelecida entre os dojos, em que a série traz antigos rostos de Karatê Kid para injetar reviravoltas na trama; trabalha muito bem dinâmicas variadas que destacam as diferenças e aceitações entre os personagens diante dos medos e novos obstáculos a se enfrentar, resultando em regresso e superação para alguns, enquanto outros acabam indo para o caminho do corrompimento.
Cobra Kai: 3ª temporada triunfante – crítica
Novamente temos uma temporada com 10 episódios de 30 a 40 minutos que fluem muitíssimo bem em que o público acompanha o desenvolvimento da aliança inesperada de Johnny e Daniel feita ao final da 3ª temporada, quando John Kreese toma a posse do Cobra Kai, levando Robby, Tory e os demais alunos ao seu lado.
Se tem uma coisa que Cobra Kai consegue trabalhar bem é o entrosamento dos protagonistas cuja rivalidade ainda se mantém, mas é explorada pela perspectiva da diferença e aceitação de cada um. As discussões e o desentendimento entre os dois continuam como pano de fundo, enquanto a série explora como cada um pode quebrar sua camada de proteção a fim de aceitar o jeito do outro.
Um ponto muito interessante é ver Daniel LaRusso chegar ao ápice da sua defensiva e bater de frente consigo mesmo, uma vez que ele resiste em aceitar o estilo de luta do Johnny, enquanto vê os próprios alunos lhe dar uma boa lição em como abrir a mente para aprender com as diferenças, como é o caso da própria Sam que, a vida toda, aprendeu a ficar na defensiva e, agora, está disposta a se impor e atacar, aplicando isso tanto no caratê quanto em sua personalidade, uma vez que ela ainda sente os traumas das duas grandes brigas – na escola e na sua casa – especialmente com relação à Tory.
Além disso, tal defensiva em excesso acaba trazendo certos efeitos colaterais dentro da família LaRusso, como é caso de Anthony, irmão mais novo de Sam que, por sinal, cresceu e, agora, se tornou um adolescente cujas atitudes são impertinentes e causam consequências positivas e negativas.
Mesmo relutantes, Daniel e Johnny trocam aprendizados entre eles de forma involuntária, o que é sensacional de acompanhar nesta 4ª temporada. Há cenas divertidíssimas com os dois, como a sequência do beisebol e os treinamentos em que um aplica ao outro, em que Johnny aprende a controlar sua raiva e a criar a sua própria defensiva, enquanto Daniel finalmente percebe que, às vezes, é necessário se impor, atacar primeiro e estabelecer um limite ao oponente.
A dinâmica de gato e rato destes personagens continua excelente, com altos e baixos, mas no fim das contas, as lições finalmente começam a ser aplicadas e a aceitação é iniciada durante este processo. Acredito que o público irá curtir bastante este arco da série e como isso influencia no restante das subtramas, como é o caso da parceria de Johnny e Miguel, que ficou extremamente forte na temporada anterior e, agora, o sensei precisa dividir a atenção do seu protegido com o Daniel, que acaba trazendo uma influência positiva para Miguel tanto no caratê quanto na vida pessoal e no seu futuro.
Claro que este entrosamento acaba gerando ciúmes e discussões que, novamente, ressaltam a questão da aceitação. De um lado, Miguel se sente à vontade em querer aprender mais as lições do Myagi Do, mas do outro lado, ele se mantém fiel ao Johnny que, inclusive passa a transmitir uma imagem paternal que sempre foi ausente na vida de Miguel, um ponto que vai pesar bastante no arco do personagem, especialmente nas suas decisões finais nesta temporada.
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Além das duplas Johnny e Daniel, Sam e Miguel sofrerem transformações internas e externas, os demais personagens coadjuvantes também colhem frutos desta união entre os dojos, como é o caso de Demetri que evolui e surpreende bastante em sua performance no caratê, mesmo sendo imperfeito; e Eli/Falcão que passa por uma regressão em um dado momento da história por conta de algo que acontece, mas o personagem consegue dar a volta por cima e tem um desfecho inesperado e muito bom. Os demais alunos também apresentam evolução, provando mais uma vez que esta aliança, apesar dos percalços e de outros obstáculos que ainda aparecem por aqui, foi uma boa decisão.
Retorno de Terry Silver
Se de um lado Cobra Kai trabalha a parceria de Johnny e Daniel, a 4ª temporada adiciona um antigo novo parceiro para John Kreese. Apresentado em Karatê Kid 3, o personagem Terry Silver (Thomas Ian Griffith) está de volta ao dojo e irá surpreender. Claro que, por conta dos anos que passaram, Terry está mudado, apresentando grande evolução a quem ele era no passado. A raiva, o impulso e o vício ao álcool e as drogas foram tratados, mas será que foram realmente superados?
O retorno de John Kreese mexe bastante com Terry que, a princípio, reluta em retornar ao Cobra Kai uma vez que ele admite que o passado precisa ficar para trás. Mas as origens desta amizade que começou na guerra obrigam o personagem a voltar a ficar ao lado de Kreese, uma vez que os sentimentos de culpa e dívida falam mais alto.
Como disse, esta 4ª temporada brinca bastante com o equilíbrio da balança e, assim como os demais personagens que transitam entre evolução, regressão e superação, vemos Terry entrar em conflito com o que ele lutou tanto para calar, uma vez que a sua fraqueza é cutucada, despertando o ‘grande leão’ que estava adormecido dentro dele.
A parceira de Terry e Kreese começa aparentemente bem, mas os bastidores revelam indiretas, provocações e cutucadas entre os dois com relação ao objetivo de cada um para os seus alunos e, é claro, ao legado do Cobra Kai. Essa parceria vai trazer consequências muito interessantes, especialmente nos dois últimos episódios que geram reviravoltas inesperadas e dita uma parte do rumo da série para a 5ª temporada.
Robby e Tory
Enquanto Sam e Miguel lidam com os seus próprios conflitos tanto pessoais quanto no dojo, Cobra Kai não esquece do lado oponente que se destaca com Tory e Robby. A 4ª temporada finalmente dá espaço para o espectador conhecer melhor a Tory, cujas camadas são reveladas à medida que suas vulnerabilidades começam a ficar em destaque.
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Após as duas grandes brigas entre os grupos, especificamente com Sam, Tory passa a perceber o quanto ela tem a perder se não souber controlar a sua raiva que, por sinal, é alimentada no Cobra Kai. No entanto, a garota também fica ciente de que precisa aceitar a ajuda daqueles que estão dispostos a estender a mão, como é o caso de Amanda, mãe de Sam que, inicialmente, se vê irredutível em não deixar a punição de lado, mas quando ela passa a enxergar a Tory, Amanda revê algumas das suas opiniões com relação à garota, dando a oportunidade de que ela tenha uma possível chance de melhorar a sua personalidade, controlar os seus impulsos e rever as suas atitudes.
Está aí uma dupla que não imaginava que fosse acontecer em Cobra Kai, mas que dá os primeiros passos para uma possível redenção e aprendizado para ambas. Claro que tal “união” acaba atingindo a Sam fortemente, que consegue extrair algo bom para lidar com os seus conflitos, resultando no que vemos ao final desta temporada.
Já o Robby se encontra bastante dividido nesta 4ª temporada. De um lado, o garoto ingressa novamente ao Cobra Kai para alimentar uma vingança contra Miguel, Daniel e Johnny por tudo o que aconteceu na temporada anterior, gerando novos confrontos e certas atitudes imprudentes da parte dele (não vou dizer o que é). Do outro lado, o espectador nota um Robby que debate consigo mesmo, enxerga os pontos negativos desta rivalidade criada e como isso pode corromper não só ele, como outras possíveis vítimas nas mãos de Kreese e Terry.
Isso é visto na dinâmica dele com o Kenny, o garoto novo que sofre bullying na escola e encontra refúgio no Cobra Kai para aprender a atacar e se proteger. Kenny é um garoto doce, divertido, adora jogos, cosplays e várias nerdices, o que não há problema algum. Ver a sua personalidade ser corrompida aos poucos faz Robby enxergar a si mesmo e notar o tipo de caminho que está trilhando e como isso reflete para quem está ao seu lado.
Final surpreendente e emotivo
Os dois últimos episódios da 4ª temporada de Cobra Kai se passam no tão esperado Torneio Regional, trazendo momentos angustiantes, empolgantes e emocionantes, tanto no tatame quanto nas últimas decisões tomadas aqui, influenciadas ao que vemos no decorrer da temporada, o que gera ganchos muito bons para a 5ª temporada que, inclusive, as filmagens já foram encerradas.
Além disso, a reta final de Cobra Kai traz o retorno de outros personagens já vistos na série e que irá, mais uma vez, surpreender e engatilhar teorias interessantes para os futuros novos episódios.
No geral, posso dizer que a 4ª temporada de Cobra Kai entrega uma narrativa que sabe explorar o equilíbrio do caos, trabalhando variadas dinâmicas dos personagens que caminham entre a diferença e a aceitação enquanto tentam se encontrar em meio a regressão e superação. Novamente, a série entrega uma temporada empolgante, com personagens que crescem cada vez mais e reviravoltas que sabem surpreender o público.
Ficha Técnica
Cobra Kai
Criação: Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg, e Josh Heald
Elenco: Ralph Macchio, William Zabka, Xolo Maridueña, Tanner Buchanan, Mary Mouser, Martin Kove, Thomas Ian Griffith, Jacob Bertrand, Courtney Henggeler, Peyton List, Gianni DeCenzo, Vanessa Rubio, Rose Bianco, Joe Seo, Aedin Mincks, Owen Morgan, Hannah Kepple e Griffin Santopietro
Duração: (4ª temporada – 10 episódios – 30 aprox.)
Nota: 10