Entre Irmãs é mais uma bela história do interior do Brasil que ganha contornos puramente femininos e intimistas. Aliás, este é mais um acerto do cinema brasileiro da qual o público sairá satisfeito dos cinemas. Baseado no livro A Costureira e o Cangaceiro, de Frances de Pontes Peebles, a história dirigida por Breno Silveira relata a vida de Emília (Marjorie Estiano) e Luzia (Nanda Costa), irmãs muito conectadas desde pequenas. Na infância, um acidente deixa Luzia deficiente de um braço, mas isso não faz dela nenhum pouco fraca. Anos se passam e as duas seguem juntas, mas com objetivos completamente diferentes. Enquanto Emília é mais sonhadora e almeja se casar com um príncipe encantado e se mudar para a capital, Luzia é mais selvagem e pé no chão, acreditando na liberdade do sertão onde vive. Criadas para serem costureiras, o destino faz com que cada uma siga caminhos completamente diferentes. Sequestrada por Carcará (Julio Machado), Luzia viaja sertão afora ao lado de um grupo de cangaceiros; sem sua irmã, Emília segue o seu próprio rumo, se casa com Degas (Rômulo Estrela), um rapaz distinto de uma família da alta sociedade, e parte para Recife para reiniciar uma nova vida. Essas mulheres tecerão suas próprias histórias em um cenário adverso à afirmação feminina. Apesar de lutas, conquistas e derrocadas, as duas irmãs separadas pela distância e pelas escolhas, sempre cultivaram uma mesma certeza: sabiam que só podiam contar uma com a outra.
Ao longo de quase três horas de duração, o roteiro – assinado por Patrícia Andrade – caminha por vários segmentos bastante discutidos, como homossexualidade, preconceito, feminismo e machismo, além de retratar uma história brasileira datada da década de 1930. Nas minhas palavras, posso dizer que Entre Irmãs é um filme de aparências. Como assim? Ao utilizar uma montagem paralela que se alterna entre a vida de Emília na capital e a vida de Luzia no cangaço, o filme nos dá a impressão de que Emília viverá um conto de fadas enquanto Luzia passará pelo maior pesadelo de sua vida. Mas não é exatamente assim. Extremamente sonhadora, Emília se dá conta de que nem todos os sonhos se tornam realidade, e caso se torne, a vida ainda segue um caminho completamente diferente para que isso aconteça. Ao se casar com Degas, a jovem percebe que a vida na capital não é tão fácil para uma moça vinda do sertão, uma vez que o preconceito e o machismo falam muito mais altos. Príncipe encantado? Nada disso. Como diz a própria Luzia, “você tanto pede um príncipe que Deus vai ter dar um pangaré”.
Por mais que a vida de Luzia não seja nada fácil em meio a tantos cangaceiros, a garota consegue sentir o sabor da liberdade, lutar pelo seu sertão e ainda viver um amor verdadeiro que não se era esperado. A própria que nunca sonhou em amar alguém, não consegue um príncipe encantado, mas conquista alguém que lhe vê como mulher em todos os sentidos e a ama à sua forma. Além disso, nota-se uma referência forte da história de Lampião e Maria Bonita, mas o filme não se foca nisso, apenas dá essa roupagem para que os personagens contem as suas próprias histórias.
Mesmo separadas, é lindo acompanhar a história das irmãs que te conquista de uma forma épica e delicada. Marjorie Estiano e Nanda Costa executam um dos melhores papéis da carreira delas. No entanto, na minha opinião, as irmãs ficam distantes quase que o filme todo, para somente no final voltarem a se ver. Com quase três horas de duração, era possível que esse reencontro pudesse acontecer mais cedo, para que uma nova distância acontecesse com o intuito de impactar ainda mais a história.
Com relação aos demais personagens, não quero dizer muita coisa, mas o que posso falar é que Leticia Colin, Rômulo Estrela e Julio Machado interpretam seus papéis com grande eficiência. Enquanto os dois primeiros retratam a homossexualidade e o feminismo e como os outros enxergavam isso naquela época, Machado encarna o tradicional cangaceiro do sertão, incorporando todos os traços de seu personagem, desde o figurino, até o jeito de se expressar. Um ótimo show em tela da parte de cada um.
Considerações finais
Entre Irmãs é um filme delicado e puramente feminino que vale a pena assistir. Através da vida das duas irmãs, a história se expande e aborda assuntos como feminismo, machismo, homossexualidade, preconceito e a vida no sertão. Mas, mesmo sendo uma história bonita, ela é bastante longa e, talvez, se a narrativa fosse destrinchada em uma minissérie, ela ganharia um formato perfeito.
Ficha Técnica
Entre Irmãs
Direção: Breno Silveira
Elenco: Marjorie Estiano, Nanda Costa, Julio Machado, Rômulo Estrela, Leticia Colin, Gabriel Stauffer, Cláudio Jaborandy, Cyria Coentro, Ângelo Antônio, Fábio Lago e Rita Assemany.
Duração: 2h40min
Nota: 8,0