O que você faria se soubesse que poderia guardar a alma de alguém em uma fotografia? Essa é a premissa de A Noiva (Nevesta ou The Bride) que, por sinal, é muito interessante, mas que falha drasticamente no desenvolvimento. Dirigido por Svyatoslav Podgayevskiy, a trama se passa na Rússia no século XIX, uma época em que fotografar os mortos era uma forma de manter a alma da pessoa neste plano. Eles acreditavam que ao fotografar a pessoa morta, a alma ficava registrada no negativo do filme. Para este ritual, o olho do defunto era pintado para transmitir a ideia de que a pessoa ainda está ali. No entanto, tal ritual torna-se macabro nas mãos de um fotógrafo. Ao perder a sua noiva dias antes do casamento, ele a fotografa para capturar a sua alma para colocá-la no corpo de outra pessoa, de preferência uma mulher jovem e virgem.
Décadas se passam e, nos dias de hoje, acompanhamos a história de Nastya (Victoria Agalakova), uma jovem que viaja com o seu futuro marido Vanya (Victor Solovyev) para a casa da família dele. Ao chegar lá, ela conhece Liza (Alexandra Rabenok), irmã de Vanya, seus dois filhos e uma bisavó que não pode ser nem vista e nem perturbada. Os dias passam e Nastya se dá conta que a visita pode ter sido um grande erro. Rodeada por pessoas estranhas e receosa com as atitudes e a ausência do noivo, ela passa a ter visões horríveis à medida que a família do seu futuro esposo a prepara para uma tradicional cerimônia de casamento eslava.
Com relação ao ambiente, A Noiva foi gravado na vila Stroganov Estate, perto de Moscou, na Rússia, para combinar os interiores que restavam dos tempos da nobreza russa com as paisagens sombrias. O cenário do filme não fica a desejar, mas já não posso dizer o mesmo do roteiro e de outros adendos. Por ser baseado em fatos reais, a premissa se torna ainda mais instigante e chama muito a atenção. Mas infelizmente, o longa é muito mal executado, desde a performance de alguns atores até falhas absurdas no desenvolvimento da trama.
Por ser um filme russo, A Noiva ganha uma dublagem americana. Não se pode negar que a dublagem brasileira é a melhor de todas, e este filme confirma isso. A dublagem é péssima, sem nenhum ritmo ou emoção, especialmente quando uma cena tensa exige uma expressão verbal mais forte e temerosa. Por exemplo, muitas vezes o (a) personagem não expressa absolutamente nada, mas a dublagem revela que ele está desesperado; em outros momentos, o (a) personagem mal abre a boca para falar, mas a dublagem mostra que o personagem falou uma frase completíssima. Entendem o que eu quero dizer? Isso sem contar nos grunhidos e gemidos constrangedores e sem emoção nenhuma. Não era melhor ter deixado o filme em russo e legendado?
Por falar em emoção, as interpretações só não são 100% péssimas, porque ainda há um pouco de carisma em alguns personagens, como é o caso de Nastya. Mas, a performance fica a desejar. Por se tratar de um filme de terror, espera-se no mínimo que o personagem demonstre medo, tensão ou até coragem para enfrentar o mal. Por ser o alvo principal, Nastya fica sem ação ou reação em vários momentos. E no instante em que ela resolve agir, suas ações são bem fracas e nada convincentes para o público. Já Vanya tem atitudes estranhas e contraditórias, uma vez que ele fala que a noiva não devia ter vindo, quando na verdade ele nunca diz isso. Já a personagem Liza soa forçada em certos momentos, uma vez que ela deveria transmitir mais mistério, medo e tensão com mais naturalidade.
A princípio, o roteiro nos oferece uma trama atrativa, mas devido a inúmeras falhas, a história se contradiz com a própria proposta. No início do filme, o espectador fica ciente de algumas regras e objeções com relação ao ritual, porém ou essas regras são quebradas ou, simplesmente, passam batidas como se nunca tivessem sido citadas. Não quero dar muitos detalhes para não dar spoilers. Os efeitos especiais são ruins e nada convincentes. Em determinada cena ocorre uma ventania forte dentro da casa em que o espectador fica na dúvida se é vento ou um terremoto. Papeis flutuam por toda parte (presume-se que é vento), mas não se sabe de onde surge tanto papel. Em outra cena, a parede interna da casa começa a pegar fogo, sem que a casa inteira fique em chamas, muito menos revela como elas foram apagadas. Por mais bobos que sejam, esses detalhes fazem a diferença dentro do contexto do filme e não passam despercebidos aos olhos do público.
Considerações finais
A cena final não só deixa o filme em aberto para uma possível continuação, como também é um verdadeiro deboche que menospreza a inteligência do público. A Noiva tem uma premissa muito boa, mas o desenvolvimento é mal executado, as performances são ruins e os personagens ficam a desejar, há falhas absurdas em algumas cenas e os efeitos especiais não convencem. A trama tinha tudo para dar certo, mas infelizmente o filme deu um tiro no próprio pé.
Ficha Técnica
A Noiva
Direção: Svyatoslav Podgayevskiy
Elenco: Victoria Agalakova, Victor Solovyev, Alexandra Rebenok, Igor Khripunov, Lada Churovskaya.
Duração: 1h33min
Nota: 3,0