Terra Selvagem (Wind River) é um thriller real, lento e bom. Escrito e dirigido por Taylor Sheridan, o filme nos apresenta Cory (Jeremy Renner), um caçador de predadores que, traumatizado pela morte da filha adolescente, encontra o corpo congelado de uma garota em um local remoto da Área de Preservação Indígena Americana, dando início a uma investigação ao lado da agente novata do FBI Jane Banner (Elizabeth Olsen) que tem esperança de solucionar a misteriosa morte.
Terra Selvagem faz parte de uma trilogia temática (Sicario: Terra de Ninguém e A Qualquer Custo) que explora a fronteira norte-americana moderna. Baseado em fatos reais, o filme tem como responsabilidade retratar as falhas que ocorrem com relação à Reserva Natural Indígena em que casos de estupro e desaparecimento não são solucionados, se estendendo para a não superação da tragédia e a conformidade em morar em uma terra que não é apropriada para viver. “Enquanto estatísticas para desaparecidos são compilados para as outras minorias, elas não existem para as mulheres índias. Ninguém sabe quantas estão desaparecidas”. Ao destacar essa frase, o filme revela que tais estatísticas não existem pelo simples fato de que essas reservas não recebem o cuidado merecido, nem do Estado e nem do Federal (o principal responsável). Ou seja, tudo o que acontece lá poderá ficar sem punição, uma vez que a própria terra acoberta tais tragédias.
Com relação ao filme, o roteiro apresenta um desenvolvimento lento e progresso. A ideia de Terra Selvagem não é somente mostrar a investigação e entregar de bandeja o culpado e, sim, criar o passo a passo do caso junto com o sofrimento de pessoas que passam por essas circunstâncias cientes de que não haverá justiça a não ser que elas mesmas encontrem o culpado. De um lado há o assassinato de uma garota que, de início, não sabemos o que acontece, apenas descobrimos que a própria natureza contribui para a morte, mesmo com a vítima enfrentando todos os obstáculos a qualquer custo; do outro lado, temos o peso de outra morte nas costas do protagonista, que tem como finalidade explorar a conformidade de não saber a verdade e ainda lidar com esse fardo por anos.
Em meio a esses dois grandes pesos, acompanhamos uma investigação guiada por Jane, em que o próprio filme deixa nítido tanto o seu esforço quanto a sua insegurança, já que esta é a primeira vez que ela investiga um caso forte em que poucas autoridades dão importância, como a própria estatística revela. É somente no terceiro ato que descobrimos a verdade sobre a morte da garota encontrada em meio à neve. A cena em si parece desnecessária nos primeiros minutos, mas no instante em que seu ápice acontece, o espectador logo conclui o grau de importância que tem e como ela levará essa história a um desfecho digno.
O que torna esse filme real e tenso é o desenvolvimento dos personagens e as boas interpretações. Jeremy Renner traz um Cory durão, introspectivo e envolto a uma casca que, à primeira instância, não permite mostrar suas fraquezas e sentimentos. Mas no decorrer do filme, a casca se quebra aos poucos e sua vulnerabilidade vai surgindo à medida que a investigação progride, revelando suas dores (uma interpretação bem dosada) com relação à morte da filha. A cena em que ele conversa com o pai da garota assassinada é o melhor exemplo do que eu acabei de falar. Pode ser que alguns achem o personagem fechado demais e até robótico, mas acredito que a ideia seja mostrar como o fardo de um sofrimento sem solução pode transformar alguém.
Elizabeth Olsen não fica para trás e representa uma FBI insegura diante de um caso que, a princípio, não possui um ponto de partida claro. Ao mergulhar de vez na investigação, vemos a coragem e o medo da personagem baterem de frente até o final, o que nos dá a ideia de como pessoas de fora também se sente com esses casos não solucionados. Jane não fracassa em solucionar a morte, mas acredito que em determinado momento do filme, a personagem sente o peso do fracasso por saber que este não será nem o primeiro e nem o último caso sem um ponto final decente.
Considerações finais
Terra Selvagem é um filme baseado em fatos reais que não só aponta para a falta de cuidado, averiguação e investigação em casos hediondos nas áreas de reserva indígena, como também cria analogias e traz reflexões sobre o homem e o ambiente, o homem selvagem e a vingança, a natureza e a sobrevivência. O ritmo do filme é lento, mas a proposta vai mais além do que solucionar um caso e, sim, desenvolver os personagens e mostrar como situações não solucionadas afetam e transformam vidas.
Ficha Técnica
Terra Selvagem
Direção: Taylor Sheridan
Elenco: Jeremy Renner, Elizabeth Olsen, Kelsey Asbille, Jon Bernthal, Gil Birmingham, Graham Greene III, Tantoo Cardinal, Eric Lange, Tokala Clifford, Martin Sensmeier, Hugh Dillon e Blake Robbins.
Duração: 1h47min
Nota: 8,0