Mogli – O Menino Lobo me fez voltar à infância, na época em que ia à locadora, alugava um desenho (em VHS) e assistia o final de semana inteiro sem parar. Nesta semana pude reviver esse momento no cinema na versão live-action. Dirigido por Jon Favreau, o filme recria a história clássica de Mogli (Neel Sethi), um menino criado por uma alcateia de lobos no meio da selva que está sendo ameaçado pelo temível tigre Shere Khan (Idris Elba/Thiago Lacerda). Por estar correndo risco de morte, Mogli inicia uma jornada para encontrar a aldeia dos homens ao lado de Bagheera (Ben Kingsley/Dan Stulbach) e, durante o caminho, o garoto enfrenta desafios, faz grandes amizades, fica cara a cara com o perigo e passa por grandes superações.
A live-action conseguiu seguir o desenho que muitos conheceram quando eram crianças. Algumas cenas foram modificadas e trouxeram momentos que não foram mostrados no clássico da Disney, afinal, acho que não seria tão apropriado para uma criança ver naquela época. Mesmo assim, o filme é fiel e desperta uma grande satisfação em quem assiste. O trabalho de Jon Favreau está excelente aqui (aliás, ele vem me surpreendendo em vários filmes, como Chef e Homem de Ferro), pois ele elabora um cenário em CGI cuja proposta é retratar uma aventura aos olhos do menino lobo e não uma realidade a que estamos acostumados. Por exemplo, todo mundo sabe que um orangotango não é gigante como o Rei Louie (Christopher Walken/Thiago Abravanel) é apresentado no filme. Entenderam a ideia? Por isso, não fiquem criticando tanto o filme nesse aspecto, pois o objetivo é exatamente esse: tirar a gente do real e nos colocar em um mundo onde um garotinho fala com ursos e enfrenta tigres e cobras.
E sim, a nostalgia vai bater na mesma hora, pois as cenas clássicas em que Mogli e Baloo cantam “necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais”, e a canção do Rei Louie vai nos levar de volta ao passado e vai fazer com que o público cante junto (baixinho, sem atrapalhar ninguém no cinema).
Personagens
Eu não poderia deixar de falar sobre o ator Neel Sethi, pois ele conseguiu trazer todas as características de Mogli para a tela do cinema. O espectador enxerga exatamente o menino do desenho em Neel e isso é fascinante. As marcas, os machucados e a coragem que o garoto transmite deixa a história ainda mais real. A interação dele com os outros animais não é superficial em nenhum momento. O mais legal foi que o filme deu um espaço maior para a relação do garoto com os lobos (algo que não é tão aprofundado no desenho) e, é claro, a amizade dele com o urso Baloo. Aliás, as cenas dos dois são as melhores, pois Baloo (Bill Murray/Marcos Palmeira) é o típico urso debochado, engraçado, irônico e preguiçoso, exatamente como no desenho. A dupla mostra o que é uma amizade verdadeira deixando o público com os olhos marejados. Bagheera é a pantera que tem os pés no chão e sempre alerta Mogli sobre o perigo que o ronda. Apesar de ser duro em alguns momentos, Bagheera representa o irmão mais velho de Mogli, ensinando o certo e o errado, mas sem deixar de acreditar na coragem do garoto.
Aqui, duas cenas e dois personagens me surpreenderam. A primeira é a cobra Kaa (Scarlett Johansson/Aline Morais) que, no desenho, ronda o garoto e o hipnotiza para comê-lo. No filme, esse propósito vai além, pois Kaa revela o passado para Mogli e o público através de seus olhos. O que ela revela? Assista e descobrirá. Gostaria de ter visto mais a Kaa no filme, porque ela aparece em uma única cena.
Outro personagem que ganha destaque é o antagonista Shere Khan. No desenho, o tigre ronda o garoto pela floresta e usa um tom irônico para ameaçá-lo. No filme, o animal é rancoroso, vingativo, agressivo, temeroso e violento. Ele consegue despertar o medo no espectador, pois ele não aceita que o homem viva na selva, já que este destrói tudo o que vê com a temerosa flor vermelha (o fogo). Ele quer vingança e não aceita ser contrariado por ninguém, especialmente pelos lobos Akela (Giancarlo Esposito) e Rakcha (Lupita Nyong’o/Júlia Lemmertz).
Considerações finais
Mogli – O Menino Lobo é uma live-action nostálgica que vai fazer você cantar e voltar à infância. O final é comovente e diferente do que vimos no desenho, revelando a verdadeira escolha de Mogli. O filme fala de coragem, medo, determinação, família e, é claro, amizade verdadeira. Tenho certeza que, depois de ver este filme, você vai se perguntar se você tem um amigo fiel, assim como Mogli tem o Baloo (vice-versa). A única coisa que senti falta foi a cena em que os urubus aparecem para ajudar Mogli a enfrentar Shere Khan, como acontece no desenho. Sim, eu esperei por essa cena, mas tudo bem, pois isso não prejudicou em nada no desenvolvimento do filme. A única coisa que não gostei foi ter assistido em 3D. Senti minha vista embaçada (não tenho problemas de visão) e, às vezes, as legendas eram cortadas para fora da tela. Isso não é um problema para quem entende inglês, mas quem assistir legendado e não entender 100% o idioma pode sair um pouco prejudicado. Isso aconteceu na sessão que assisti, mas pode ter sido uma exceção. Acontece. Mas é bom ficar atento a isso.
O extraordinário pode até ser demais, mas em Mogli – O Menino Lobo, o extraordinário foi perfeito. O filme estreia hoje nos cinemas e vale muito a pena assistir.
Ficha Técnica
Mogli – O Menino Lobo
Direção: Jon Favreau
Elenco (dubladores): Neel Sethi (Mogli), Ben Kingsley, Bill Murray, Scarlett Johansson, Idris Elba, Christopher Walken, Lupita Nyong’o, Giancarlo Esposito e Emjay Anthony
Dubladores brasileiros: Dan Stulbach, Thiago Lacerda, Alinne Moraes, Thiago Abravanel, Marcos Palmeira e Júlia Lemmertz
Duração: 1h36min
Nota: 10