Um diretor, uma atriz e treze manifestos. O resultado? Uma ótima obra cinematográfica que fala sobre a arte, suas raízes e derivações e como ela é vista, analisada e valorizada pela sociedade. Dirigido por Julian Rosefeldt, Manifesto é a recitação de manifestos artísticos fragmentados em treze personagens interpretados com maestria por Cate Blanchett. Inicialmente, o diretor começou fazendo pequenos vídeos com a atriz que, logo depois, foi editado para se tornar um longa-metragem com 1h30 minutos de duração.
Manifesto não tem como proposta em trazer uma trama com começo, meio e fim sobre a história da arte, mas sim um roteiro bem elaborado e questionador que faz homenagens e críticas à arte – seja cinematográfica, literária, arquitetônica ou escultural, tornando essa experiência bem reflexiva para o público, afinal, o filme não só enaltece e provoca a arte, como também questiona em como a sociedade enxerga uma obra-prima.
Entre os manifestos, há declarações futuristas, dadaístas, artistas fluxus, suprematistas, situacionistas, o Dogma 95, além de outras declarações de outros grupos artísticos, como músicos, bailarinos, cineastas e arquitetos. Em cada passagem, nota-se o debate e o embate sobre a arte: em um momento ela é enaltecida; em outro, é tirada do seu pedestal e criticada, tornando o filme uma espécie de colagem de manifestos que, mesmo com distinções, se encaixam perfeitamente.
O que torna o filme mais interessante é que essas recitações ganham um tom cômico e dramático, o que torna o longa agradável de ser assistido, mesmo que em alguns momentos ele pareça ser um pouco maçante. Tal toque especial é dado pela ótima performance de Cate Blanchett que, além das mudanças de cabelo, roupa e maquiagem que, por sinal, tem um peso importante no conjunto, as nuances no tom de voz, nas expressões faciais e no olhar, fazem o espectador enxergar cada manifesto e a captar com mais facilidade as suas essências.
Dos treze, há quatro manifestos que chamam a atenção e que se são os meus favoritos. O primeiro é o manifesto recitado pela mãe conservadora em forma de oração no início do jantar. Além de divertida, o monólogo ganha um peso sarcástico e contraditório ao mesclar com as imagens do cenário. O segundo é o manifesto do orador fúnebre. Nessa cena acontece um velório e um enterro, enquanto a personagem discursa. A verdade é que essa cena não representa a morte de uma pessoa, mas sim a morte da arte, o seu declínio para o esquecimento. O terceiro manifesto é o da professora que, enquanto ensina aos seus pequenos alunos sobre a arte, ela indaga sobre as técnicas de fazer um filme e ainda afirma dizendo que nada é original, que tudo é feito por caminhos diferentes, o que o torna a arte inovadora aos nossos olhares. Por fim, o quarto manifesto é o da apresentadora do jornal chamada Cate (mesmo nome da atriz) conversando com a repórter que também se chama Cate. O diálogo delas ganha um toque cômico ao afirmar que tudo é falso, inclusive o cenário onde elas estão posicionadas. É como se elas estivessem tirando um sarro da arte e até do que elas fazem.
Considerações finais
Manifesto não é uma história sobre a arte. É uma narrativa que, no formato de colagem, nos apresenta treze manifestos vistos por trezes performances que enaltece e critica a arte e como a sociedade contemporânea a recebe em suas diversas facetas. O filme não tem como objetivo em dar respostas e, sim, fazer o espectador questionar, analisar e refletir sobre o assunto e até como ele mesmo enxerga a arte em sua volta. Manifesto não é um longa de entretenimento. É um filme de arte sobre a arte.
Ficha Técnica
Manifesto
Direção: Julian Rosefeldt
Elenco: Cate Blanchett, Erika Bauer e Ruby Bustamante
Duração: 1h38min
Nota: 7,5