Entre uma mordida e outra no Big Mac, alguma vez você já se perguntou como surgiu a maior rede de fast food do mundo? Parece que a história do Mc Donald’s é bonita, afinal, a ideia de entregar um lanche em questão de minutos parece ser uma realização revolucionária e, de fato, é. Mas esse empreendimento tem uma história um tanto quanto obscura e meio podre.
Dirigido por John Lee Hancock, Fome de Poder conta a história de Ray Kroc (Michael Keaton), um vendedor de máquinas de milk shake que carrega nas costas o peso da frustração pelo negócio não dar muito certo, mas que é sustentado pela sua ambição e determinação em vender o produto para crescer profissionalmente. Um dia, Ray fica intrigado ao receber um pedido de máquinas e, assim, ele parte para a cidade de San Bernardino para saber quem foi que fez essa compra tão grande. Ao chegar lá, ele se depara com uma lanchonete simples, onde as pessoas comem o lanche com as mãos, sem prato, sem talher e sem mesa para se apoiar. No entanto, é um diferencial que faz o local ficar lotado o tempo todo: o sistema de montagem e entrega instantâneo, chegando a durar 30 segundos do momento em que o cliente faz o pedido até a entrega do pacote. Isso sem falar no preço: apenas 35 centavos. Quem diria que, um dia, as pessoas já pagaram apenas centavos em um lanche.
Ao descobrir que o sistema speedy foi criado pelos irmãos Dick (Nick Offerman) e Mac (John Carroll Lynch) Donald’s, Ray propõe uma sociedade entre os três para abrir franquias da marca pelos Estados Unidos. Mais do que boa, a ideia fez o negócio crescer ainda mais, porém, com o tempo, a ambição de Ray fala mais alto, fazendo o empresário tomar medidas drásticas e impetuosas ao ponto de dominar todo o negócio para si e deixar os irmãos Donald’s a ver navios.
Escrito por Robert Siegel, o roteiro segue uma boa estrutura e traz muitos detalhes sombrios sobre a construção do império McDonald’s. O roteiro é linear e revela uma verdade nua e crua por trás da marca, afinal, o público fica ciente de que os verdadeiros criadores foram “enganados” por Ray, que usou do seu talento para fazer o negócio crescer, no entanto, ele tomou para si todo o poder em jogo. O mais interessante da trama é que ela apenas apresenta a história sem justificar os atos de cada personagem, deixando para o espectador a tarefa de julgar e tirar suas próprias conclusões.
Pode ser que o filme canse um pouco, pois há momentos em que a narrativa se estende, deixando a dúvida se determinada cena era realmente necessária estar no filme. Mas mesmo assim, o público continua atento e intrigado com a trama, afinal, qual será o desfecho de tudo isso?
Quem é vítima e quem é vilão?
Não podemos negar: Michael Keaton (Birdman) incorpora um Ray Kroc trabalhador, esforçado e dedicado à sua profissão, fazendo o público morder essa isca, pois é a pura verdade. Mas é no decorrer da trama que vemos que a ambição de Ray é maior do que imaginávamos e ele usa dessa característica para obter o sucesso que tanto sonhou. Mas afinal, ele é o vilão por ter tomado o negócio só para si ou uma pessoa que apenas aproveitou a oportunidade para crescer profissionalmente? São as atitudes e suas consequências que fazem o espectador tirar a sua própria conclusão sobre o personagem. Na minha opinião, Ray é um homem que teve uma grande oportunidade nas mãos, mas foi inescrupuloso e frio com as pessoas a sua volta para alcançar os seus objetivos. Ele não pensou duas vezes em deixar alguém para trás, como sua esposa Ethel (Laura Dern) ou injetar novas ideias sem o consentimento de Dick e Mac.
Mas aí, o espectador se pergunta: porque os irmãos Donald’s não fizeram nada? Eles foram impedidos de lutar pelo negócio? Eles são vítimas nessa história? Este também é outro caso que cabe a cada um julgar quando for assistir ao filme. Na minha opinião, os irmãos Dick e Mac tiveram uma excelente ideia e souberam muito bem executá-la. Aliás, a cena em que eles explicam como a ideia surgiu é formidável e até inspira o público. No entanto, o grande erro deles foi acreditar em todas as palavras de Ray e deixar o negócio nas mãos dele, apenas se importando com a lanchonete em San Bernardino. Outro ponto bastante questionável é o talento e a visão de cada um. Enquanto Ray quis expandir e levar a marca para frente, os irmãos não souberam ter essa mesma atitude, deixando o talento deles “preso em uma caixa”. Mas por causa disso, eles mereciam ser passados para trás? Claro que não. No entanto, eles não souberam ter o devido cuidado com o negócio. E mesmo passando por tudo isso, eles ainda acreditaram novamente nas palavras de Ray, que já havia mostrado que não é digno de confiança. Fica difícil defender por mais que os irmãos Donald’s mereçam.
Considerações finais
Pelas circunstâncias, o público já fica ciente do desfecho da história, que traz um final feliz para um e um final triste para os demais. Fome de Poder é uma história que vale muito a pena conhecer, não só por se tratar sobre a marca McDonald’s, mas também porque o filme traz interpretações formidáveis como a de Michael Keaton e questiona pontos importantes no mundo do empreendedorismo: talento, oportunidade, ambição, crescimento e, é claro, confiança. Será que ter só uma boa ideia é o suficiente? Será que talento é sinônimo de sucesso? Será que para crescer é preciso passar por cima de tudo e todos, custe o que custar? Até onde você iria para alcançar os seus objetivos?
O que acharam do filme? Deixem nos comentários!
Ficha Técnica
Fome de Poder
Direção: John Lee Hancock
Elenco: Michael Keaton, Nick Offerman, John Carroll Lynch, Laura Dern, Linda Cardellini, Patrick Wilson, B.J Novak, Griff Furst e Steve Coulter.
Duração: 1h55min
Nota: 8,9