O que você pensaria se alguém lhe falasse que existe uma casa com inúmeros cômodos um tanto quanto inusitados? Eu sei, chega a ser um pouco difícil de acreditar, mas esta é uma história real que foi parar nos cinemas. Dirigido pelos irmãos Michael e Peter Spierig, A Maldição da Casa Winchester se passa em um ponto isolado da cidade de São Francisco, Califórnia, onde fica localizada a casa mais mal assombrada do mundo. Construída pela herdeira da família, Sarah Winchester (Helen Mirren), a casa não tem fim. Levantada durante décadas, sete dias por semana, 24 horas por dia, a mansão contém mais de 600 cômodos distribuídos em sete andares. Quem olha de fora, chega à conclusão que a obra é fruto de uma mente insana de uma mulher. No entanto, tal construção nada mais é do que uma espécie de prisão, um asilo para vários espíritos que têm o objetivo de aterrorizar qualquer membro da família Winchester.
Com a perda do marido e do filho, Sarah acredita que esses fantasmas estão indo atrás dela, de sua sobrinha Marion Marriott (Sarah Snook) e o filho Henry (Finn Scicluna-O’Prey) a fim de eliminar os últimos membros. Receosos com a saúde mental da herdeira da família, a bancada do conselho da fábrica de armas Winchester solicita a presença do renomado psiquiatra Dr. Eric Price (Jason Clarke) para avaliar o estado de Sarah, porém tudo o que ele achava uma simples fantasia passa a ser um verdadeiro pesadelo, colocando suas próprias certezas à prova.
Além de ser baseado em uma história real, o roteiro não faz rodeios e entrega tanto na sinopse, quanto no trailer ou no primeiro ato do filme o objetivo da trama: a casa é construída a fim de aprisionar espíritos vingativos que foram mortos com as armas fabricadas pela família. É uma premissa clara, consistente e interessante, afinal, qual é a razão que leva uma mulher construir inúmeros quartos para prender espíritos? Por um lado, o filme esclarece o porquê dos espíritos estarem tão inquietos e interferirem tanto no mundo real. Mas por outro, entrega uma justificava um pouco fraca ao tentar fazer o público compreender as atitudes de Sarah. Por que não chamar um exorcista ou, simplesmente, mudar para outra casa, cidade ou país? Os espíritos a seguiriam para qualquer canto que fosse? Infelizmente não temos essa resposta.
O filme faz questão de enfatizar o barulho constante da construção, fazendo o público caminhar com os personagens pelo labirinto de corredores. O mais legal é que o roteiro também nos dá detalhes de que não é simplesmente uma mera construção: para cada cômodo levantado, há uma decoração diferente, um número específico de pregos a serem batidos naquela porta e a razão dela ser mantida fechada. Todos esses detalhes são bons e instigantes, pois nos dá mais detalhes sobre o tipo de espírito que se encontra em cada cômodo.
No entanto, quando mergulhamos nesse mundo de assombração ao lado de Eric Price, a trama ganha um ritmo estranho, previsível e bem clichê, o que diminui completamente o entusiasmo de quem está assistindo. Há um plot twist que eu não esperava e até achei bom. Porém, a resolução mingua quando o filme força uma conexão do que se passa na casa com o passado do psiquiatra.
Jason Clarke está bem e interpreta um psiquiatra que se entrega à aos prazeres da vida e ao vício de entorpecentes após um passado bem conturbado e trágico. Ao adentrar na mansão, Eric fica relutante em acreditar que há espíritos em sua volta, mesmo vendo coisas através do espelho, ouvindo barulhos estranhos pelas paredes ou se assustando com sombras pelos corredores. Isso é até bom, pois o espectador também vai por esse caminho e entra na mesma onda do personagem com o objetivo de se surpreender no momento da reviravolta. Mas, como disse, o filme força um encontro do passado do personagem com as assombrações da casa, tornando a resolução do mistério melodramática e sem graça.
Helen Mirren é uma excelente atriz e nota-se que ela está bem e confortável com o papel, mesmo que o desenvolvimento da personagem não seja uma obra-prima. Sarah Winchester tem plena consciência de que está sã e sabe que está construindo uma infinita casa justamente para proteger sua sobrinha, especialmente o filho que se encontra à mercê dos espíritos mais fortes. Porém, em nenhum momento sua mente é testada a ponto de duvidarmos se há mesmo um desequilíbrio mental. Talvez, se essa dúvida fosse implantada, o filme ganharia uma atmosfera de suspense maior e menos objetiva. Um único plot twist com uma resolução fraca, infelizmente, não faz a trama vingar como eu esperava.
Considerações finais
A Maldição da Casa Winchester chama a atenção por trazer uma premissa interessante e baseada em fatos reais. No entanto, o desenvolvimento faz a história perder o entusiasmo, sendo objetiva demais e entregando uma resolução forçada, fácil e previsível, com apenas um único plot twist que demora a acontecer e não segura a trama. Aqui, a técnica do jumpscare é constante e chega a irritar. Os personagens são satisfatórios, mas se atmosfera da dúvida fosse maior e a trama carregasse um pouco mais de segredos, talvez o longa fosse uma grata surpresa. A Maldição da Casa Winchester não chega a ser um filme ruim, mas ele perde a chance de fazer o público acompanhar uma história que poderia surpreender no final das contas.
Ficha Técnica
A Maldição da Casa Winchester
Direção: Michael e Peter Spierig
Elenco: Helen Mirren, Jason Clarke, Sarah Snook, Finn Scicluna-O’Prey, Eamon Farren, Angus Sampson e Tyler Coppin.
Duração: 1h40min
Nota: 5,0