A franquia Sobrenatural (Insidious) chega ao fim com Sobrenatural: A Porta Vermelha (Insidious: The Red Door), que estreia nos cinemas e retrata o último capítulo da aterrorizante saga da família Lambert, que conhecemos em 2010. O filme tinha tudo para trazer um desfecho triunfante e inovador e, mesmo com boa produção, falha ao entregar uma história requentada e com vários elementos e vertentes que poderiam ter sido explorados, tornando-se um potencial desperdiçado.
Com direção de Patrick Wilson – que também atua em um dos papeis principais – Sobrenatural: A Porta Vermelha se passa 10 anos após os eventos de Sobrenatural 2, na qual o público se depara com o atual status da família Lambert, após Dalton e Josh terem as memórias apagadas de suas respectivas “viagens” ao Além.
Na trama, Josh e Renai (Rose Byrne) estão divorciados, enquanto Josh se esforça para combater o lapso de memória que vem enfrentando nos últimos anos, uma vez que ele sente que há um vazio em sua vida e não sabe a razão para tal existência. Já Dalton (Ty Simpkins) parte para a tão aguardada faculdade de artes, mas também sente um forte incômodo por não se lembrar da época dos seus 10 anos, fase em que ele ficou em coma.
Para complicar ainda mais, a relação de pai e filho não é nada boa e tal afastamento se dá justamente por estes lapsos de memória que ambos sofrem. Mesmo separados geograficamente, Josh e Dalton começam a ter visões sombrias e inexplicáveis. À medida que tais memórias vão retornando, os dois descobrem que as portas do passado não estão fechadas e antigos pesadelos vão aterrorizá-los novamente. Assim, para que o mal não volte ao mundo dos vivos, pai e filho terão que lembrar de tudo o que ocorreu para, finalmente, fechar esta porta de uma vez por todas.
Em termos de produção, Sobrenatural: A Porta Vermelha acerta nas ambientações que leva o público a saber quando estamos no mundo real ou no Além. Assim que Dalton relembra sobre o dom da projeção astral, acompanhamos o personagem transitar entre a realidade e o sobrenatural e, entre o vai e vem destas ‘viagens’, o cenário ganha cores diferentes: o real ganha tons amarelados e com mais luz, enquanto o Além ganha um tom frio azulado que se mescla com o preto para representar a obscuridade deste universo.
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O estilo vai se repetindo toda vez que tanto Dalton quanto Josh transitam de um mundo ao outro. Claro que essa transição poderia ser um pouco mais sutil com o objetivo de enganar o olhar do público e gerar medo pela desconfiança em não saber qual “mundo” está. Mas mesmo assim, esta parte não fica a desejar.
Outro ponto positivo de Sobrenatural: A Porta Vermelha são os jump scares que dão aquele susto gostoso de sentir, seja na sutileza de um vulto aparecendo ao fundo do cenário enquanto o protagonista se distrai; as rápidas cenas que dá forma a criatura macabra que assombra; os sustos repentinos quando tal forma ganha vida e salta aos nossos olhos (e nos personagens); e até mesmo, a sutileza de brincar com o famoso ‘medo de criança’, como colocar tal figura demoníaca debaixo da cama, dentro do armário ou no canto de um cômodo do local.
Outros pontos favoráveis e que complementam a produção aterrorizante são maquiagem e figurino, especialmente das criaturas demoníacas. Nisto, o longa acerta em cheio.
É com relação à história que Sobrenatural: A Porta Vermelha acaba pecando. Para entender esta trama, é necessário assistir Sobrenatural 1 e 2, especialmente o segundo, uma vez que este último capítulo faz uma conexão muito forte e traz diversas referências e flashbacks da história vista no segundo longa. Não há problema em fazer tal ponte com a trama anterior, mas o erro foi repetir uma história já vista, sem inovar, explorar outras vertentes e abordar elementos ainda não vistos. E Sobrenatural 5 tinha este potencial, mas que fora deixado completamente de lado.
A verdade é que o quinto filme é a mesma versão do segundo só que com o casal divorciado, os filhos mais velhos e alguns cenários a mais, além da tradicional casa da família Lambert.
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Tudo se repete a fim de mostrar os protagonistas trazendo de volta as memórias apagadas anos atrás e, até aí, tudo bem. O filme acerta ao mostrar Dalton usufruindo do talento com a arte para destravar tais lembranças sombrias; a amizade com a Chris (Sinclair Daniel) é outro fator interessante da história, uma vez que a personagem o ajuda a desvendar este mistério do seu passado, assim como enfrenta o mal frente a frente. Já com Josh, as cenas do exame na clínica e na casa, na qual é perseguido por uma criatura, são angustiantes e boas de acompanhar.
Porém, há diversos elementos, personagens e vertentes que o filme poderia ter explorado muito mais, como a relação conturbada de Josh e Dalton, destrinchando esta relação nos últimos 10 anos, assim como o divórcio com Renai. As brigas entre pai e filho poderiam ter sido o alimento perfeito para o retorno do mal, mas infelizmente isto não é aproveitado.
Além disso, temos a participação do personagem Carl (Steve Coulter), apresentado nos filmes anteriores e, aqui, ele seria o gatilho perfeito para dar início a esta última viagem ao obscuro, já que ele foi o responsável por apagar as memórias dos protagonistas. Mas infelizmente, Carl também não é aproveitado aqui. Também é possível sentir falta da dupla de paranormais Specs (Leigh Whannell) e Tucker (Angus Sampson), que apenas faz uma pequena participação especial, assim como nossa eterna personagem Elise (Lin Shaye). E sim, todos esses personagens poderiam ter feito a diferença na história, afinal, trata-se de um universo sobrenatural em que vivos e mortos se conectam de alguma forma.
Até mesmo o cenário do Além não é tão bem aproveitado. Sobrenatural 5 poderia ter injetado novas criaturas e deixado o tradicional demônio ainda mais forte, na qual tiraria vantagem dos ressentimentos do filho com o pai para nutrir este mal e tornar a situação ainda mais horripilante. Mas parece que nem o diabo estava a fim de participar.
Considerações finais
A reta final tenta trazer um possível plot twist que seria chocante, mas acaba perdendo a coragem. A franquia se encerra com certa emoção, mas sem sair da zona de conforto.
Sobrenatural: A Porta Vermelha tem boa produção e ótimos jump scares e uma direção do Patrick Wilson que é satisfatória, mas não inova. Há um nítido roteiro falho por requentar uma história já vista, sem inovar ou desfrutar de elementos e lacunas onde o potencial se encontrava. A franquia poderia ter ganhado um encerramento muito melhor, mas faltou ousadia.
Ficha Técnica
Sobrenatural: A Porta Vermelha
Direção: Patrick Wilson
Elenco: Patrick Wilson, Ty Simpkins, Rose Byrne, Sinclair Daniel, Hiam Abbass, Andrew Astor, Steve Coulter, Juliana Davies e Peter Dager.
Duração: 1h47min
Nota: 2,3/5,0