Quem for assistir Papillon, talvez ache o filme extenso demais e, de fato é, porém vale a pena passar por essa experiência que traz uma história mais sensorial, em que os diálogos são menos trabalhados e as cenas, atitudes e expressões desenvolvem a trama e engajam o público fazendo sentir exatamente o que os personagens sentem e passam como medo, sofrimento, fraqueza, tristeza, agonia, desespero e, o pior de tudo, sem esperança.
Dirigido por Michael Noer, o remake baseado na obra homônima de 1969, de Henri Carriére, é baseado na história real de Henri ‘Papillon’ Charrière, um homem que é acusado injustamente de assassinato e condenado à prisão perpétua na temível Ilha do Diabo, na Guiana Francesa. Determinado a recuperar a sua liberdade, Papillon forma uma aliança com outro condenado, Louis Dega que, em troca de proteção, concorda em financiar essa fuga. Juntos, eles terão que superar todos os seus limites e grandes obstáculos para conseguir escapar da prisão e provar a inocência.
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Papillon não tem o objetivo em escavar o passado dos personagens, muito menos traçar um perfil detalhado deles. Apenas há informações fundamentais para que a trama engrene na sobrevivência, temática do filme que, por sinal, é bem desenvolvida. O longa consegue construir uma atmosfera claustrofóbica e agonizante em que o homem é tratado em condições miseráveis. Privacidade? Fora de cogitação. Até mesmo os mais privilegiados são as maiores vítimas, uma vez que nem o próprio dinheiro é capaz de defendê-los por muito tempo.
O filme leva um bom tempo para explorar a ambientação, mas entrega um resultado satisfatório: cenário fétido, horroroso, fúnebre, sofrível e perigoso, onde a esperança é apenas uma ilusão. Toda a paisagem é triste e as regras rígidas transformam a rotina em um eterno castigo. Caso alguém fuja, são dois a cinco anos de solitária; se matar algum prisioneiro ou policial, a execução é garantida.
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Dentro desse universo esquecido, o filme entrega dois protagonistas memoráveis, cujos atores não cogitamos vê-los juntos em tela, mas que entregam uma atuação muito satisfatória. Charlie Hunnam é Papillon, um homem que não aceita a condenação que lhe foi imposta, usa todas as condições – ruins ou péssimas – a seu favor e tem o silêncio como o seu melhor aliado. Em um determinado momento do filme, o espectador acompanha o personagem em luta contra esse silêncio, contra as paredes que lhe mantém estagnado e, é claro, contra sua própria mente para não se dar por vencido. É uma cena densa, mas com o propósito de fazer o público sentir essa agonia de Papillon. Assim como Z – A Cidade Perdida, Hunnam arrisca mais uma vez em um papel menos popular e acerta ao entregar um personagem forte e visceral.
Rami Malek é outro que não fica para traz e entrega um personagem com medo do que está por vir, mas com Papillon ao seu lado, é possível notar certa dubiedade em sua personalidade. Será que ele é fiel ao parceiro de cela ou o trairá em algum momento? Será que ele pode virar o jogo, encontrar uma nova saída ou jogar tudo para o alto? Louis é um personagem que faz duvidar e o seu final surpreende.
Considerações finais
Papillon é um filme sobre sobrevivência, confiança, riscos e perigo. É o retrato da pior condição que um ser humano pode viver, e o fato de saber que isso foi real, torna tudo ainda mais visceral e impactante. Hunnam e Malek formam uma ótima dupla que carrega nas costas um filme sensorial, que conta mais com as interpretações e pouco com as palavras. Por ser um filme extenso, um pouco cansativo e ainda abordar um assunto que foge do gosto popular, talvez não seja uma história para todos, mas ainda assim vale a pena conhecer.
Ficha Técnica
Papillon
Direção: Michael Noer
Elenco: Charlie Hunnam, Rami Malek, Eve Hewson, Roland Moller, Tommy Flanagan, Michael Socha, Yorick Van Wageningen, Ian Beattie, Olja Hrustic, Jim High, Michael Adams e Lorena Andrea.
Duração: 1h57min
Nota: 8,0