It – Capítulo 2 (It – Chapter 2) chega aos fãs da obra de Stephen King dois anos após a estreia do primeiro filme e, posso dizer com todas as letras, que a espera valeu a pena. Este segundo capítulo dirigido por Andy Muschietti e produzido por Barbara Muschietti reforça duas vezes mais o que vimos no primeiro longa, seja o horror, a amizade, o drama e, principalmente, a emoção. Sim, o público vai se assustar, rir e chorar com o filme, pois há uma carga emocional forte que reflete a força do Clube dos Perdedores, mesmo após tantos anos longe, e tal vínculo é necessário, uma vez que o mal retorna à Derry com uma sede ainda maior por vingança. É uma história que vai fazer o espectador se remexer na cadeira ou ficar completamente paralisado. No bom sentido.
Confira a entrevista com Andy e Barbara Muschietti sobre It 2
Se em 2017 acompanhamos o primeiro confronto das crianças com o palhaço demoníaco (ocorrido na trama em 1988), agora, vamos torcer para a versão adulta do clube dos perdedores encontrar uma forma de acabar com este mal definitivamente. Após 27 anos do grande terror vivido por todos, It – Capítulo 2 revela a nova vida de cada integrante do grupo. Bill (James McAvoy) tornou-se um grande escritor de sucesso, com direito a adaptação de sua obra para o cinema; Beverly (Jessica Chastain) faz sucesso no ramo da moda; Ben (Jay Ryan) é um renomado arquiteto; Eddie (James Ransone) é dono de uma empresa de limusines; Ritchie (Bill Hader) é sucesso nos palcos e nos programas com sua carreira de comediante; Stanley (Andy Bean) está bem e casado; e por fim, Mike (Isaiah Mustafa) é o único que permanece em Derry todo esse tempo e torna chefe da Biblioteca da cidade.
O filme ganha uma perspectiva mais angustiante que se equilibra aos novos fatos concretizados na Derry dos tempos atuais com a memória rasa dos personagens, uma vez que eles não se recordam de tudo o que aconteceu no passado. Um ponto importante a saber é que, uma vez que você sai da cidade após confrontar o mal como eles fizeram, este poder maligno é capaz de controlar o que você pode lembrar ou não. Assim, quando os primeiros assassinatos deste novo ciclo ocorrem – como o ataque cruel a um casal homossexual – Mike sabe que precisar ligar para todos, afinal, uma promessa foi feita anos atrás e, agora, ela terá que ser cumprida de qualquer jeito.
O roteiro de It – Capítulo 2 é mais longo e detalhado, mas isso não quer dizer que seja cansativo. A proposta é apresentar a versão adulta dos perdedores e como o confronto com Pennywise transformou eles ao longo desses anos e, é claro, a trama faz isso com maestria. Além disso, a narrativa mantém o grau de fidelidade ainda maior com o livro. O filme ganha uma edição um pouco mais picotada, ou seja, há muitos cortes entre uma cena e outra, um pouco bruscas em alguns momentos, para ajudar os personagens a recuperar as lembranças boas e ruins da cidade, junto com os medos reprimidos que, obrigatoriamente, são expostos com o mal pairando sob a atmosfera de Derry. A edição nos remete a ideia da leitura de um livro, o fim de um capítulo e começo de outro, ou cortes dentro do mesmo capítulo. Entendem o que eu quero dizer? Tal técnica é bem utilizada a fim de que o público, junto com os personagens, relembre o passado e os medos que alimentam o monstro.
It – Capítulo 2 mergulha muito mais no terror, entregando boas cenas de susto e muito mais escatológicas, além de um Pennywise triplamente feroz. Se Bill Skarsgard entregou uma performance brilhante no primeiro filme, neste ele está ainda melhor, mais medonho e horripilante.
Lembro que havia dito que não era necessário mostrar outras formas do monstro, mas era um engano. O longa entrega nuances aterrorizantes de Pennywise, que se transforma nos seres impossíveis descritos por Stephen King em sua obra. Um ponto muito positivo do filme é que tanto a direção quanto a produção e o roteiro conseguem transpor o terror inimaginável de King para a tela, trazendo mais clareza à mente, principalmente para quem leu o livro. Mas, mais do que bons sustos, o filme prende a atenção com uma ótima carga cômica e dramática que vai mexer com o seu emocional.
Antes rústico no primeiro filme, o cenário ganha mais vida e cor no segundo longa, tanto pela época em que a história se passa, quanto os momentos, como a cena do festival na cidade. Ainda assim, o filme carrega de tons amarelados e azulados para nos remeter a antiga e assustadora Derry.
Fiel ao livro?
Como disse anteriormente, It – Capítulo 2 mantém uma fidelidade ainda maior com o livro, justamente por conseguir desenhar e moldar o estilo, terror e os monstros criados por Stephen King. Claro que como toda adaptação de um livro há sempre algumas mudanças a fim de se encaixar melhor na versão cinematográfica. Aqui, há algumas modificações, como as épocas em que se passam a história: no livro, a trama acontece em 1958 e 1985; o filme se passa em 1988 e 2015/2016, justamente para aproximar-se mais da nossa atualidade.
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São feitas também pouquíssimas modificações nos monstros em que Pennywise se transforma, mas nada que prejudique o filme. Além disso, as circunstâncias em que os personagens vivem e as decisões tomadas no livro também sofrem pequenas mudanças no filme, mas, ainda assim, a essência da trama não se perde e é possível continuar compreendendo a jornada e as transformações de cada um.
E as crianças?
Para quem não sabe, o elenco do primeiro filme também está em It – Capítulo 2, que retorna em flashbacks. Mais uma vez, há um grata surpresa, pois as cenas flashbacks são inéditas, e não apenas uma repetição do que vimos no primeiro longa, o que ajuda o público a conhecer melhor os personagens, além de ganhar novas informações sobre o grupo, como por exemplo, a cumplicidade que se torna ainda maior, as discussões e brincadeiras, o amor de Ben por Beverly que fica mais nutrido, as brincadeiras engraçadas entre Ritchie e Eddie, uma compreensão melhor sobre Stanley, o esconderijo secreto do grupo, os talentos de cada um, as conversas que o ajudaram durante a primeira batalha contra Pennywise e o possível destino do grupo quando o conflito acabasse. Pode parecer até redundante, mas as cenas flashbacks trazem clareza sobre a versão adulta, suas escolhas de vida e motivações que os fazem retornar à Derry.
O retorno dos perdedores
Um dos maiores receios de It – Capítulo 2 era o retrato adulto de um elenco maravilhoso que nos conquistou no primeiro filme com uma performance incrível e uma afinidade invejável. Mais uma vez, o elenco foi escolhido a dedo, tanto pelo talento quanto pela aparência física ser muito semelhante com as crianças. Mas, mais do que isso, o elenco adulto consegue manter a essência dos personagens crianças que, pode acreditar, é um fator muito importante que ajuda no desenvolvimento da trama.
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Sem dúvidas, os maiores destaques deste segundo capítulo são Bill Hader e James Ransone. Hader entrega um Ritchie bem mais engraçado, enquanto Ransone faz um Eddie que enfatiza ainda mais o seu lado hipocondríaco, além da comunicação ativa e agilizada. Ambos entregam um alívio cômico bom e dosado, mas o que faz essa dupla se destacar é a carga dramática e emocional de seus papéis. Sim, você vai chorar com as descobertas, os diálogos, as atitudes e decisões desses dois.
James McAvoy está muito bem como Bill e, além da semelhança física, ele retrata bem os trejeitos do garoto vivido por Jaeden Martell, inclusive a gagueira que o personagem tem e o público vai entender como esse problema volta. O personagem ainda carrega nas costas a culpa pela morte do irmão Georgie e isso é uma das motivações que o move neste novo conflito com Pennywise.
Jessica Chastain também está bem e entrega uma Beverly mais fragilizada e com menos força do que a vimos no primeiro filme, devido às circunstâncias, o abuso e a violência que sofre com o pai na infância que, infelizmente, ela carrega isso ao longo desses 27 anos. Jay Ryan entrega um ótimo e inteligente Ben, carinhoso e romântico como sempre foi, deixando claro que o amor por Beverly nunca morreu, pelo contrário, é a chave que o religa para retornar ao fatídico destino de reencontrar com Pennywise. Chastain e Ryan entregam uma química singela e uma cena que vai emocionar o público.
Interpretado por Isaiah Mustafa, Mike é o único que permanece em Derry e, por isso, se lembra de tudo. A sua obsessão por Pennywise é compreensível tirando certa culpa de suas costas. Além disso, Mike torna-se o guia do grupo, ajudando cada um na tarefa de recuperar as antigas memórias, além de mostrar qual é o caminho que todos devem seguir para destruir o monstro. Andy Bean entrega cenas bastante emocionantes de Stanley e é somente isso que você precisa saber para assistir ao filme.
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Temos também o retorno do vilão Henry Bowers (Teach Grant), em que o público descobre o que aconteceu com ele após cair nos esgotos de Derry no final do primeiro filme, o destino fatídico do personagem e, é claro, o que ele faz para causar na cidade e com o clube dos perdedores mais uma vez.
Quem tiver um olhar afiado vai reconhecer algumas participações especiais no filme, em cenas curtas e rápidas.
Considerações finais
O terceiro ato é angustiante, intenso, tenso e com uma alta carga emocional que fará alguns até derrubar lágrimas.
It – Capítulo 2 entrega um desfecho ao clube dos perdedores muito mais horripilante, intenso, tenso e dramático. É uma história de terror que alcança o inimaginável de Stephen King com maestria, entrega um elenco cuja performance é satisfatória em que a essência do grupo não se perde. Temos um Pennywise sedento por vingança e ainda mais aterrorizante. Mas mais do que horror, It – Capítulo 2 é uma história sobre medo, amizade, união, confiança e afinidade, fatores que fazem o público se apaixonar mais uma vez por esta história.
O filme é o final de uma trama que traz aos personagens o recomeço, uma nova página de um livro, o primeiro parágrafo de uma nova história.
Ficha Técnica
It – Capítulo 2
Direção: Andy Muschietti
Produção: Barbara Muschietti
Elenco: Jessica Chastain, James McAvoy, Bill Hader, Isaiah Mustafa, Jay Ryan, Andy Bean, James Ransone, Bill Skarsgard, Jaeden Martell, Wyatt Oleff, Sophia Lillis, Finn Wolfhard, Jeremy Ray Taylor, Chosen Jacobs, Jack Dylan Grazer, Teach Grant, Xavier Dolan, Jake Weary, Luke Roessler, Nicholas Hamilton, Owen Teague, Ryan Kiera Armstrong, Will Beinbrink, Stephen Bogaert e Joan Gregson.
Duração: 2h45min
Nota: 9,5
Fotos: Warner Bros Pictures