13 Reasons Why é uma série que chamou a atenção na 1ª temporada com um conteúdo forte e impactante sobre suicídio, bullying, estupro, drogas, violência física e psicológica, assédio e depressão, entregando boas interpretações e uma narrativa que te prende com a essência do mistério com um desfecho perturbador e triste. A série poderia ter terminado por aí (já que era baseado em um único livro), mas ela ganha uma 2ª temporada que desenvolve as consequências da história de Hannah Baker, a investigação sobre sua morte e seus relatos nas fitas, apontando vários ‘culpados’.
O grande problema é que a série sofreu com um roteiro inchado e episódios prolongados, rendendo tomadas de decisão erradas, que acabam fugindo da proposta feita lá no início sobre alertar e mostrar tais problemáticas. Infelizmente, estes erros persistem nesta 3ª temporada que, por sinal, está melhor que a segunda, mas continua caminhando a passos tortos.
Crítica da 1ª temporada de 13 Reasons Why
Nesta nova trama de 13 Reasons Why, oito meses se passam após o grupo impedir que Tyler cometa um tiroteio na escola. Assim, eles encontram maneiras de arcar com esse fardo, além de encontrar ajuda na recuperação do amigo. Mas quando as consequências de um tumultuado jogo na escola culminam na morte de Bryce Walker, cabe a uma identidade misteriosa conduzir o grupo a uma investigação que ameaça trazer à tona os segredos de todo mundo. As apostas são feitas nesta nova temporada, nas quais as consequências, até mesmo as boas ações, podem alterar uma vida para sempre.
*****CONTÊM SPOILERS*****
A 3ª temporada de 13 Reasons Why ganha uma nova narradora-observadora que é a personagem Ani, recém-chegada na escola. Ela traz um olhar de fora da história e relata – tanto na narração quanto nas cenas do seu depoimento à polícia – tudo o que vai acontecendo ao redor e as informações que ela vai coletando e juntando ao longo da trama.
Outro ponto interessante é que a narrativa, por não ser linear, utiliza das técnicas de fotografia e cores para situar o telespectador em qual linha temporal está seguindo. Por exemplo, quando a série vai ao passado, as cenas flashbacks ganham tons mais coloridos e reluzentes; quando as cenas se passam no presente, elas ganham um efeito azulado e frio a fim de mostrar o estado de espírito em que se encontram os personagens. Além disso, há o recurso da transição de cena, em que o personagem observa uma cena sua do passado ou presente a fim de encaminhar o público para a época certa.
Crítica da 2ª temporada de 13 Reasons Why
Um fator a se acrescentar nesta narrativa é que alguns episódios são dedicados a um único personagem que, diferente da 2ª temporada, são poucos que ganham tal exclusividade e trazem um pouco mais de relevância e novos fatos à trama desenvolvida nesta temporada. Um detalhe a ressaltar é a abertura da série (continua boa) que muda um detalhe a cada episódio para indicar sobre qual temática será desenvolvida.
A desconstrução de Bryce Walker
Com o misterioso assassinato de Bryce Walker como ponto de partida e ápice desta temporada, a série traz vários flashbacks – desde o julgamento de Hannah até os dias atuais – que desconstrói o personagem, revelando um lado um fragilizado, quebrado, doloroso, sofrido, arrependido, solitário e doente de Bryce, mas sem esquecer os grandes erros cometidos por ele. Aqui, o telespectador se depara pela primeira vez com o relacionamento mais neutro e sincero do personagem com a mãe; a relação com Ani, uma vez que ela vai morar na casa da família Walker, pois sua mãe é enfermeira do avô de Bryce; a notícia sobre seu desaparecimento e morte; o funeral conturbado; e os sentimentos dúbios dos personagens com relação ao antagonista.
Sessão de Terapia: o que esperar da 4ª temporada?
Bryce é um personagem que começa sendo muito odiado, mas consegue brotar um sentimento de compaixão, além da injustiça com relação à sua morte. Ele tem que pagar pelos erros e crimes que cometeu? Com certeza, mas a justiça feita pelas mãos de outro não foi a melhor decisão que a série tomou, o que faz fugir da proposta interessante feita lá na 1ª temporada, de mostrar as problemáticas e encontrar caminhos justos para ajudar.
Quem é Ani?
Ani é uma personagem que ou você tolera, ou você a odeia. A atriz Grace Saif entrega uma boa interpretação, no entanto, são as tomadas de decisão do roteiro que estragam o seu desenvolvimento. O acerto foi colocá-la como narradora-observadora, pois o objetivo seria trazer um novo viés da trama, um olhar de alguém de fora que pudesse mostrar ao telespectador os segredos do grupo de um jeito mais nítido e sincero, servindo como um guia. Porém, tal proposta acaba se tornando algo muito forçado, fazendo o público acreditar que Ani conhece todo mundo e sabe de tudo há muito tempo, quando a verdade não é essa.
Novamente a série toma decisões precipitadas, principalmente quando Ani passa a ter uma relação mais íntima com Bryce, descontruindo toda a atmosfera da série, além de colocá-la numa posição contraditória e ganhar uma máscara de mentirosa e traidora. No fim das contas, o que era para servir como algo positivo na série, a personagem acaba se tornando irritante, intrometida e pretenciosa por achar que pode resolver tudo. O interrogatório dela ajuda a contar a história? Sim, mas também contribui para a omissão das informações, deixando a trama mais falhada com as decisões mal executadas.
Quem se destaca
A recuperação de Tyler é um dos pontos positivos desta 3ª temporada. Eles tiram o personagem de uma conturbada situação, fazendo ele ter uma segunda chance de recomeçar após sofrer tantas dores do bullying e do ataque de Monty ao final da 2ª temporada. A cena da confissão para o grupo e sua progressão são os momentos mais emocionantes do personagem.
Quem também evolui é Jessica ao tentar acabar com a cultura do estupro na escola a partir de protestos, manifestações e a liderança do corpo estudantil. No entanto, Jessica passa a enxergar que somente gritar e fazer barulho não levará a nenhum resultado, mas conversar e ser escutada é o melhor caminho a seguir. Porém, o final acaba estragando o desfecho da personagem, na minha opinião.
Finalmente Justin consegue admitir o seu problema com drogas, mas até lá ele precisa lidar com a situação que o coloca em risco em vários momentos, especialmente na linha entre a suspeita e a inocência com relação à morte de Bryce. No entanto, o personagem consegue entrar na linha rumo à recuperação, com a ajuda dos amigos e da família de Clay.
A série consegue fazer boas conexões de Tony, Zach, Alex e Monty com a história de Bryce. Eles ganham momentos marcantes e emocionantes, mas o final também estraga o desfecho de todos eles. Novamente vemos uma decisão errada afetar todo o ciclo desenvolvido nesta temporada.
Continua irritante?
Infelizmente Clay continua soando irritante por não saber confiar, o que é até possível compreender em alguns momentos, já que todo mundo mente. Mas o que mais lhe prejudica são os julgamentos precipitados, o ciúme, excesso de raiva e o medo que o levam a ter atitudes radicais a ponto de colocá-lo na linha de fogo. Mesmo assim, o seu senso de justiça e a vontade de ajudar e descobrir toda a verdade não deixa o personagem ir ladeira abaixo, no entanto, muitas vezes ele esquece que precisa se colocar como prioridade a fim de se proteger, deixando que os amigos aprendam a se defender sozinhos.
Final justo?
Os episódios finais começam a juntar as peças mostrando o que realmente aconteceu no dia do jogo, após tanta especulação e mistério ao longo dos 13 episódios. O final revela o protesto do grupo de Jessica que culmina em uma briga no campo, levando Bryce a ser agredido e também a agredir, aumentando a fúria de vários personagens. Alex Standall é apontado como assassino, uma vez que ele apenas joga Bryce no rio. Mas antes disso, Bryce briga com Zach e leva a pior, deixando-o incapacitado de nadar, o que faz o público entender a sua morte.
Vale a pena assistir a série The Boys?
Novamente, 13 Reasons Why toma outra decisão errada, fazendo o grupo colocar toda a culpa em Monty, já que ele já está preso pelo crime cometido com Tyler. O aluno paga pelo erro que fez, mas também paga por um erro que nunca cometeu.
Se for para analisar friamente, não existe um assassino, uma vez que todos contribuíram para a morte de Bryce, o que estraga o desfecho e a progressão de vários personagens como havia dito anteriormente. Infelizmente tudo isso acontece sob o ‘efeito dominó’, a famosa ‘ação e reação’, no entanto, a justiça feita com as próprias mãos é o melhor caminho a se tomar? Colocar a culpa em outro é a melhor decisão? Não.
13 Reasons Why tinha a chance de recuperar a proposta feita na 1ª temporada e salvar uma história com grande potencial e, mesmo com alguns acertos, os erros e as decisões mal executadas falam mais alto. Agora, é esperar e ver qual será a história e o grande final da série em sua 4ª e última temporada.
Ficha Técnica
13 Reasons Why
Baseado na obra de Jay Asher
Criação e Produção: Brian Yorkey
Elenco: Dylan Minnette, Alisha Boe, Brandon Flynn, Christian Navarro, Miles Heizer, Grace Saif, Devin Druid, Ross Butler, Justin Prentice, Timothy Granaderos, Amy Hargreaves, Josh Hamilton, Kate Walsh, Brenda Strong, Steven Weber, Wilson Cruz, Bryce Cass, Mark Pellegrino, RJ Brown, Anne Winters e Nana Mensah.
Duração: 13 episódios (60min aprox)
Nota: 5,5 (3ª temporada)