Um ano após a estreia da 2ª temporada, Sweet Tooth retorna em sua 3ª e última temporada na Netflix para entregar as respostas cruciais sobre o Grande Colapso que dominou o mundo, a verdadeira origem do Flagelo e dos híbridos; a escolha da natureza sobre quem irá permanecer neste mundo; o encontro mais esperado; os últimos confrontos; quem sobrevive e, é claro, o verdadeiro narrador que conta esta história.
Posso dizer que a temporada final de Sweet Tooth, em comparação às anteriores, está bem mais madura e desafiadora, colocando o protagonista em uma trilha totalmente sombria e zero encantadora, o que faz sua compreensão sobre humanos e híbridos finalmente chegar à razão para tudo acontecer e, consequentemente, fazer uma escolha que afetará uma das partes.
Com oito episódios de até 50 minutos, a 3ª temporada de Sweet Tooth parte dos eventos finais da 2ª temporada em que vemos Gus, Jepp, Bear e Wendy rumo ao Alasca para o encontrar Birdie e, é claro, a tão esperada cura para o Flagelo. E esta nova jornada coloca os personagens em situações bem mais arriscadas e com ajudas mais espaçadas, ou seja, são eles por eles em vários momentos.
Um ponto interessante é que a série opta em colocar os personagens em cenários mais obscuros, com cores frias e fechadas com o intuito de desenhar desafios com uma periculosidade mais alta, além de traçar um amadurecimento evolutivo e necessário ao Gus, que vê, absorve e lida sozinho com situações tristes que a vida traça, mas também projetadas pelo próprio homem.
Em uma espécie de ‘road trip’, cada episódio coloca o quarteto em uma situação diferente, que ora eles dão um passo a frente, ora dão dois passos para trás, mas sem impedir da narrativa seguir em frente. A cada momento vemos o grupo encontrar novos rostos, conhecer histórias tristes, felizes e inspiradoras que revelam como os humanos continuam a enxergar os híbridos como um erro; e mostram aos híbridos para seguir em frente e não esconder quem eles são de verdade, mesmo que as dores tentem impedi-los.
Sweet Tooth: crítica da 1ª temporada
A 3ª temporada de Sweet Tooth fortalece a mensagem sobre a aceitação das diferenças, enquanto a ganância e ignorância impedem do homem de enxergar o ciclo e comando da natureza, uma verdade que finalmente é destrinchada para sabermos como o bem e mal irão seguir daqui para frente.
Nesta jornada, Sweet Tooth entrega três episódios que são os meus favoritos e, podem ser dos demais espectadores, como o episódio 4, em que Gus conhece a morte, as dores do luto e histórias que devem ser contadas para não serem esquecidas. Para mim, este é o ponto de virada em que o protagonista perde parte da sua inocência, aumenta o amadurecimento e continua sua caminhada para salvar o mundo, ainda que novas dores tenham sido implantadas. Aqui, vemos Gus crescer e caminhar sozinho também.
Os episódios 7 e 8 desenvolvem o estopim do caos, como a resposta sobre a origem do Flagelo e dos híbridos, a possível cura para o mundo e quem realmente sobreviverá para dar continuidade à vida na Terra: humanos ou híbridos? Impossível não se emocionar nesta reta final.
Os personagens principais continuam cativantes e carismáticos, mesmo rodeados pelo medo e o inesperado, sem deixar que a esperança se dilua de uma vez por todas.
Christian Convery continua formidável na pele de Gus ao entregar uma evolução do personagem em meio a uma guerra sobre a ignorância humana cuja insaciedade pelo perfeito e por sempre querer mais, gera consequências catastróficas, como se vê desde a 1ª temporada.
Mesmo que tudo ao redor seja difícil e doloroso, Gus não perde a fé e a bondade para salvar quem ama, quem precisa, quem é bom. A parceria dele com Jepp (Grandão) continua linda e mais forte, o que fará o público se sensibilizar bastante (prepare os lenços). Jepp admite que está envelhecendo e que esta jornada exige bastante do seu físico e psicológico, mas o amor que ele tem ao Gus o torna forte suficiente para ir até o fim e lutar até os minutos finais, mesmo quando parece não haver mais saída.
Outra dupla que chama a atenção é Bear e Wendy, que fortalecem o laço de irmãs nesta 3ª temporada. Mesmo com a saudade da mãe Aimee, Wendy enxerga a destreza, força e o amor que Bear tem por ela, abrindo caminho para que a híbrida faça o mesmo. E os obstáculos desafiam e fazem com que as duas aproveitem a chance de viver este amor de irmãs, já que no passado, isso foi interrompido.
******CONTÊM SPOILERS******
A verdadeira origem do flagelo e híbridos
Na 2ª temporada, Sweet Tooth revelou que o colapso se inicia a partir do vírus originado no laboratório a fim de comprovar que Gus é a solução para a cura do Flagelo. Mas a 3ª temporada afunila ainda mais esta origem trazendo outras respostas de como realmente tudo começou incluindo a origem dos híbridos, até porque, como um laboratório conseguiria fazer um vírus e um ser vivo diferente, se já não houvesse existido anteriormente?
Sweet Tooth: tudo o que rolou na 2ª temporada
A partir da busca de Birdie, dos sonhos de Gus e a obsessão do Dr. Singh, descobrimos que tudo se originou a partir de uma caverna no Alasca. Não é à toa que a Birdie viaja para lá à procura de respostas e da cura, após descobrir as intenções da Dra. Gillian em procurar a cura para as grandes doenças, como a do flagelo (que ela mesma se infectou) e a própria doença degenerativa muscular dela (explicado na 2ª temporada).
O capitão Thatcher foi o primeiro a iniciar a busca pela cura das doenças no mundo. E a sua obsessão cresce e o faz ir em lugares que jamais deveriam ser acessados pelo homem. Ele encontra a caverna onde esconde o chamado ‘Sangue da Terra’, capaz de curar as doenças. No entanto, quando ele tenta tirar o sangue de lá, ele se torna o responsável por disseminar o flagelo, que também estava preso no local.
A verdade é que a natureza devolve o que o humano tenta destruir em nome do bem maior. Em busca da cura, o homem liberou o maior vírus que se disseminou na Terra, matando muitas pessoas. A lei da natureza será sempre a mais forte, escolhendo quem ficará para cuidar dela.
Ao contaminar a tripulação do navio, um dos tripulantes tenta impedir que o capitão leve a doença a diante. Todos morrem, incluindo o próprio Thatcher, uma vez que fora contaminado pelo Flagelo. Mas, uma vez que o homem encontrou o local exato, outros também encontrariam, já que tudo fora registrado em um caderno pelo capitão. Não é à toa que o caderno chega às mãos de Birdie.
Sobre os híbridos, Gus foi o primeiro híbrido feito em laboratório. Mas o primeiro híbrido na Terra surgiu há 100 anos, o homem-cervo, que viu sua mãe morrer, prometendo proteger a caverna e impedir que outras pessoas encontrassem o local. Ele protege Birdie e Gus até onde pode, mas morre depois de ficar machucado em um ataque. Antes de partir, ele entrega o mapa que marca o local da caverna.
Uma redenção controversa
Com a morte do General Abbott, quem toma as rédeas do mal nesta 3ª temporada é Zhang, uma grande fazendeira do Texas que derrotou os grupos menores, tomando todo o poder para si.
Enquanto Abbott tinha a intenção de fazer uma “seleção forçada” e salvar apenas os mais fortes e aqueles que estariam a seu favor, o propósito de Zhang é outro: refazer a reprodução humana e impedir que híbridos continuem nascendo, além de dizimar os que estão na Terra.
Inicialmente, a vilã Zhang parece ser desnecessária, mas à medida que sua maldade cresce, juntamente com a obsessão e sua história sendo contada, o espectador entende a importância do antagonismo que dá um ótimo gás na história, especialmente na reta final.
Aliás, é quase impossível não sentir raiva desta personagem em qualquer situação, seja pela forma fria em agir e eliminar quem se torna um obstáculo; a repulsa e o preconceito pelos híbridos, especialmente quando sua filha Rosie dá luz a quadrigêmeos lobos, rompendo os laços de mãe e filha; enquanto isso, Zhang faz de tudo para que a filha mais nova não tenha um filho híbrido, dando início à caçada ao Gus como vemos na 3ª temporada.
Um personagem que se entrega totalmente ao corrompimento é o Dr. Singh, que vai despertar raiva e ranço no espectador. Ao descobrir que Gus é a chave para a cura, seguido por sonhos com o menino-cervo e a caverna, Singh inicia uma nova obsessão em encontrar o local junto ao protagonista, juntando-se ao quarteto rumo ao Alasca.
Mas uma sucessão de traições do Dr. Singh ocorre, alimentados pela sede em ser o responsável em encontrar a cura, o que seria a sua redenção em meio as atitudes que teve até agora, incluindo a partida da esposa Rani. Aliás, os dois não se reencontram e a série da a entender de que Rani morreu, já que ela estava com o vírus do Flagelo e sem o antídoto temporário que a fez sobreviver até agora.
A cura existe? Quem sobrevive?
Na reta final da 3ª temporada de Sweet Tooth, tudo acontece quando Gus, Jepp e Dr. Singh chegam ao Alasca, seguidos pela vilã Zhang, seus capangas e, é claro, Wendy e Bear que chegam com os antagonistas.
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Finalmente a série mostra o encontro mais esperado desde a 1ª temporada: Gus e Birdie. Vemos uma ternura complacente de Birdie ao saber que o filho esteve bem e protegido este tempo todo, misturados ao sentimento de culpa por ter perdido anos de aproveito ao lado do menino.
Depois da morte do ‘Homem-Cervo’ e conhecer a sua história, os dois – ao lado de Jepp – encontram a famigerada caverna onde tudo começou. E é neste momento que tanto os personagens quanto o público descobrem a verdadeira resposta para tudo. Será que os humanos merecem viver em um mundo destruído por sua própria ganância? Os humanos merecem viver em um planeta cuja riqueza é constantemente drenada por uma fome insaciável do homem que nunca se satisfaz?
O híbrido existia há 100 anos, assim como o vírus do Flagelo, que foram levados ao redor do mundo pelo próprio homem. A natureza, agora, toma as rédeas do ciclo da vida e escolhe quem realmente vai sobreviver: híbridos ou humanos?
Quando esta explicação se torna compreensível ao Gus, ele entende o que realmente precisa ser feito. Mas antes, o garoto vê sua mãe ser morta por Dr. Singh, que acredita que o sangue de Gus misturados ao Sangue da Terra é a cura certa. Birdie se sacrifica pelo filho, ciente de que ele fará a coisa certa.
Mesmo ferido, Jepp protege o menino até o último minuto, quando Zhang tira o machado cravado da árvore, liberando novamente o vírus do Flagelo que atinge todos, como a própria vilã e suas filhas, Siana (melhor amiga de Birdie) e Bear.
Neste momento Gus toma a decisão de queimar a árvore que originou tudo, deixando que a natureza faça a sua escolha. Sem a árvore, o vírus do Flagelo some e todos sobrevivem. A linhagem dos híbridos continuará, enquanto somente os humanos que ainda estão vivos serão os últimos na Terra.
Todos conseguem escapar da caverna que desaba, exceto Dr. Singh que finalmente vê sua redenção acontecer. Ele se sacrifica para salvar Gus pela última vez.
No Alasca, Siana, a filha híbrida Nuka e os demais ficam para reerguer o local que foi destruído. As filhas de Zhang vão embora com os seus filhos, enquanto a mãe é deixada para trás juntamente com o seu preconceito e a não aceitação da existência dos híbridos, provando que há humanos que escolhem não mudar.
Quem é o narrador?
Quem sobrevive para contar a história em Sweet Tooth? Enquanto voltam para casa, Gus vê que Jepp está ferido e cansado por conta da idade e do seu estado físico. Enquanto a história é contada pela última vez, o espectador descobre que o narrador da série – interpretado por James Brolin – é o Gus mais velho, que conta toda a sua história aos seus netos, frutos da família que fez ao lado de Wendy.
Bridgerton: tudo o que rolou na 1ª parte da 3ª temporada
Com a sobrevivência e dominância dos híbridos, Gus, Wendy e Bear voltam para casa e constroem um novo lar ao lado dos outros irmãos. Enquanto Gus mais velho conta a história, o público fica apreensivo até o último minuto para saber se Jepp sobreviveu ou não. E a resposta é sim! Jeep volta para casa ao lado do garoto e vive conforme a natureza traça o seu caminho.
Sweet Tooth encerra a história com um amadurecimento sensível, emocionante e lindo ao retratar lutas sobre diferenças, aceitação, esperança e a constante busca por um mundo melhor, mesmo que a maldade possa surgir. No fim das contas, a natureza é quem escolhe quem realmente é apto a cuidar dela.
O que acharam da temporada final de Sweet Tooth?
Ficha Técnica
Sweet Tooth
Adaptação da série de HQ’s de Jeff Lemire
Criação: Jim Mickle e Beth Schwartz
Produção executiva: Robert Downey Jr, Susan Downey, Amanda Burrell e Linda Moran
Elenco: Christian Convery, Nonso Anozie, Adeel Akhtar, Stefania LaVie Owen, Amy Seimetz, Will Forte, James Brolin, Rosalind Chao, Cara Gee, Ayazhan, Naledi Murray, Sarah Peirse, Mia Artemis, Nixon Bingley, Harvey Gui, Yonas Kibreab, Amie Donald, Christopher Sean Cooper Jr.
Duração: 3ª temporada (8 episódios)
Nota: 3,9/5,0