Após quase dois anos de espera, a série Sombra e Ossos (Shadow and Bone) retorna em sua 2ª temporada na Netflix. O Pipoca na Madrugada já assistiu a produção que entrega uma trama superior ao que foi visto na 1ª temporada, dando continuidade a linha narrativa. Além disso, melhorias foram realizadas e pontos que ficaram a desejar anteriormente se sobressaem nestes novos episódios. Os personagens apresentam plots mais interessantes e um desenvolvimento mais robusto, enquanto o elenco ganha reforço com novos rostos que agradam e conquistam o espectador.
No geral, Sombra e Ossos retorna com uma potência mais elevada que a 1ª temporada, mais cenas de ação, sequências de luta frenéticas em uma boa atmosfera entre a luz e a escuridão. No entanto, o final poderá dividir opiniões e não agradar tanto, levantando questionamentos plausíveis sobre como o caminho da história será desenvolvido, caso a série seja renovada para 3ª temporada. Vale a pena assistir e vou te dizer o porquê.
******CONTÊM SPOILERS******
Duas histórias, um destino
A 2ª temporada de Sombra e Ossos contêm oito episódios, sendo que alguns apresentam até 1 hora ou pouco mais de duração, o que achei certo exagero. É possível sentir o tempo passar em alguns momentos, enquanto outros fluem muitíssimo bem. Além disso, a ausência do resumo do que rolou na temporada anterior é bastante sentida, uma vez que a série estreou há um bom tempo, e é normal que o espectador não se lembre de muitos detalhes, ainda mais sobre uma história de fantasia com requinte de detalhes. Espero que a Netflix acrescente um resumo aqui ou futuramente em uma próxima temporada.
Outro ponto a ressaltar é que a 2ª temporada da série mescla a saga de livros Sombra e Ossos e Six of Crows, o que foi e continua sendo um grande acerto. Como só li o primeiro livra da série Grishaverse, irei me abster de comparações entre livros e adaptação e apenas focarei em analisar a série.
Dito isso, os quatro primeiros episódios de Sombra e Ossos apresenta duas narrativas paralelas que, de um lado, o público acompanha a jornada de Alina e Mal ao fugirem de Ravka após descobrir que Kirigan/Aleksander é o vilão Darkling, responsável pelo surgimento da Dobra. Do outro lado, o espectador também assiste uma nova jornada do grupo Corvos em um plot separado que, por sinal, é bom, divertido e apresenta novas informações sobre os personagens.
Crítica da 1ª temporada de Sombra e Ossos
Estas subtramas, mesmo separadas, conseguem prender a atenção do público que, ora pode gostar das duas tramas, ora pode gostar apenas de uma. Mas ambas contam suas respectivas histórias, apresentam bem os novos personagens de cada lado e se conectam no timing certo para acompanharmos o grande plot e o final da temporada.
Corvos: melhor grupo, melhor trama
Assim como na 1ª temporada, o grupo Corvos conquista mais uma vez o espectador não só com sua subtrama simples, misteriosa e boa, mas principalmente pela dinâmica entre eles, que expõe um pouco mais das camadas de cada um.
Neste plot, Kaz, Inej e Jesper retornam para Ketterdam e descobrem que o Clube dos Corvos foi tomado por Pekka Rollings (Dean Lennox Kelly), arqui-inimigo de Kaz. Pra complicar ainda mais, o grupo é acusado de um crime que não cometeu, apenas para sumirem do mapa. Entre mistério e muito suspense, descobrimos que Rollings prejudicou Kaz no passado, o que o fez perder o irmão ainda na infância. Isso, juntamente com a rixa e a perda do clube se tornam o gatilho ideal para uma vingança perfeita. Neste caso, uma justiça mais do que merecida.
Enquanto acompanhamos o desenrolar desta briga deliciosa de assistir, o público passa a conhecer melhor cada personagem, entre veteranos e novatos. De um lado, vemos um lado mais vulnerável de Kaz (Freddy Carter), à medida que ele abaixa a guarda, mas se mantém firme com os seus planos e seu lado implacável para quem merece. Inej (Amita Suman) é a responsável por quebrar esta barreira e expor os sentimentos de Kaz que demonstra sentir algo pela amiga e parceira de trabalho. É neste momento que vemos o quão é impossível não shippar Kaz e Inej. Espera-se por uma cumplicidade de amigos e a série entrega uma química romântica maravilhosa.
Jesper (Kit Young) é outro personagem que continua cada vez melhor. Além da sua inata habilidade com pistolas, descobrimos que Jesper é um Grisha, mais precisamente um Duraste, na qual ele tem enorme habilidade com metais, consertando objetos facilmente, além de tornar peças simples em poderosas armas (por exemplo, um botão). E acredite, essa informação é preciosa e tal descoberta é bem aproveitada na história.
Ao lado do nosso querido pistoleiro, conhecemos Wylan Hendricks (Jack Wolfe), que é contratado por Kaz para ajudá-lo no plano para se vingar de Pekka Rollings. Wylan é um químico formidável e excelente entendedor e fazedor de explosivos. Inteligente, o personagem é doce, sensível e fofo, formando o par perfeito com Jesper que, juntos, um novo shipp é destravado e a química é natural e envolvente. Este é mais um casal que você aprecia ver na tela.
Um ponto interessante e muito positivo na série é que Nina (Danielle Galligan) se junta aos Corvos, e esta foi a melhor coisa que aconteceu para a personagem. Enquanto que na 1ª temporada, seu plot foi direcionado mais ao romance com Matthias, tornando a trama quase descartável, a 2ª temporada aproveita este gancho para Nina trabalhar com Kaz e o grupo, em troca de libertar o Matthias da cadeia. No entanto, a Nina não fica naquela obsessão de apenas salvar o amor de sua vida, pelo contrário, este é seu objetivo, mas o desenvolvimento dela enriquece ao fazer parte dos Corvos e engatar nesta aventura perigosa.
Crítica: Shazam – Fúria dos Deuses
No geral, posso dizer que a subtrama dos Corvos dá o toque especial na série desde a 1ª temporada e, agora, o seu saldo continua positivo. Acredito que se não tivessem misturados as tramas das sagas dos livros, a adaptação teria ficado sem graça e cansativa em apenas acompanhar a jornada da Conjuradora do Sol em derrotar o Darkling (mesmo eu amando o vilão).
Novos aliados e início da guerra
Paralelamente a subtrama dos Corvos, Sombra e Ossos claramente não deixa de lado a trama principal de Alina em tentar derrotar o Darkling e destruir, de uma vez por todas, a Dobra das Sombras.
No entanto, há alguns pontos positivos e ressalvas a se fazer. Para começar, todo o desenvolvimento de Darkling, desde a sobrevivência na Dobra que, consequentemente, o fez ter mais forças com as sombras que lhe protegem e matam quem estiver no caminho, até as discussões com Alina e o início da guerra, são ótimas. Continuo defendendo o personagem e esta série faz o espectador ter afeição e torcer para o antagonista, mesmo ele sendo o lado errado da situação. O ator Ben Barnes continua excelente em uma atuação na qual ele entrega charme, obscuridade, sensualidade e química, especialmente com Alina, que é a sua maior oponente que ele mais deseja, seja romanticamente ou no objetivo de obter poder total e manter a escuridão.
Enquanto que na 1ª temporada, Baghra (Zoe Wanamaker) aparece bem pouco e é menos explorada, nos novos episódios de Sombra e Ossos, a personagem tem uma participação maior e melhor, em que já sabemos que ela é mãe de Darkling, mas quer ajudar Alina a dar o fim neste mal, mesmo sendo o seu filho. Para isso, a Conjuradora do Sol precisa unir os três principais amplificadores que irá deixá-la imbatível para acabar com a escuridão.
Nesta jornada, Sombra e Ossos apresenta mais três novos personagens: o corsário Sturmhond, seu alter-ego na qual ele viaja em busca de negociações e aprecia a liberdade. Mas, na verdade, ele é Nikolai Lantsov (Patrick Gibson), príncipe que serviu a infantaria do Primeiro Exército. Ele retorna para Ravka para defender o lugar que ama e se tornar o rei que o povo merece. Nikolai se torna um ótimo aliado para Alina nesta guerra contra o mal, uma adição positiva à trama.
Junto ao príncipe, a série apresenta os irmãos Tolya (Lewis Tan) e Tamar (Anna Leong Brophy), grishas de Shu Han e não leais a nenhum país. Ótimos lutadores, esses personagens coadjuvantes aparecem no timing certo e ajudam principalmente nas sequências de maior perigo.
Com relação à Alina (Jessie Mei Li), a protagonista ganha um desenvolvimento melhor e mais lapidado do que na 1ª temporada. Aqui, ela mostra mais interesse em seus objetivos, é direta ao ponto, não hesita em bater de frente com Darkling e lutar para dar o fim à escuridão. Em termos práticos e estratégicos, Alina engrandece nos momentos de ação da série. Mas quando se trata de romance, a personagem balanceia e, talvez, este seja um ponto de vista único e pessoal para cada um.
Desde o início não curto Alina e Mal juntos, pois acho um casal sem graça, na qual vemos mais expectativas e reciprocidade da protagonista do que do parceiro, e nesta 2ª temporada não é diferente. Mesmo declarando seu amor, Mal (Archie Renaux) ainda é um personagem sem graça, ‘pombo’, na qual falta aquela chama e o charme que envolveria mais o espectador, assim como o Darkling é e faz.
Mesmo sendo chatinho e sem sal, Mal se torna um elemento fundamental à história, quando descobre-se que ele é o terceiro amplificador que Alina precisa, o que faz todos temer por sua vida. Claro que o personagem não merece um destino trágico, mas também a série não faz questão de apresentar pontos e características que façam o público torcer por ele, mesmo sabendo do grau de sua importância. Confesso que é mais fácil shippar Alina com Darkling ou Nikolai do que com Mal.
Luz vs Escuridão
A partir do 5º episódio vemos os arcos se unificarem em nome da guerra que está em desenvolvimento. Assim, vemos os Corvos se unirem ao grupo de Alina para ajudá-la a dar o fim na escuridão. Enquanto Kaz, Jesper, Inej, Wylan e Tolya vão de encontro à espada, capaz de destruir as sombras da Dobra, o restante do grupo de Alina e Nikolai se dividem para a batalha, mas são atacados repentinamente por Darkling, que move a Dobra e alastra a escuridão ao redor da cidade.
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O penúltimo episódio, na minha opinião, é ótimo e poderia ser o final da 2ª temporada, pois entrega sequências de ação bem feitas, lutas, brigas e fugas que até deixam o público angustiado sobre o que pode acontecer e quem pode morrer.
Aliás, temos o embate mais esperado em que vemos Alina e Mal unirem forças e amplificar o poder da Conjuradora do Sol, que entra na Dobra para acabar com Darkling de uma vez por todas. Mas será que isso acontece?
E aquele final?
Na verdade, sim, acontece, mas não vejo isso com um saldo muito positivo para Sombra e Ossos. Primeiro, a série perde a coragem de matar Mal, o que enfraquece um pouco a trama, pois havia essa possibilidade (não que ele mereça, tá?). E para complicar, Alina consegue matar o Darkling, que deixa Mal bastante ferido.
Antes de morrer, Darkling avisa que a luz precisa da escuridão e que um equilíbrio tem que existir. Será que Alina dará conta disso? Para complicar, vemos que Alina salva Mal ao adquirir o Merzost, um poder da Dobra das Sombras capaz de matar aos poucos quem lhe possui, como foi com Darkling.
O que não curti neste final? Pra começar, a morte do Darkling é um grande plot twist, pois nos despedimos de um dos melhores e maiores personagens da série. Segundo, após se recuperar, Mal decide que quer sua liberdade e aceita a oferta de Nikolai em se tornar o novo corsário e navegar pelos mares afora. É sério que, depois de tudo, ele ainda decide não ficar com Alina, mesmo ela fazendo tudo por ele e para ele? Mal merece traçar o seu próprio caminho, mas é difícil gostar de um personagem sonso que se afasta de Alina novamente.
Assim, com o fim da Dobra das Sombra, a morte de Darkling e a partida de Mal, Alina se casa com Nikolai – um trato feito com objetivo de salvar todos – tornando-se rei e a rainha de Ravka para restaurar a cidade. No entanto, a cena da cerimônia mostra pontos que servem como ganchos: ao ser atingindo por uma das sombras, Nikolai absorve parte da escuridão; com o merzost, Alina descobre que seu poder está mais forte e até obscuro, no momento em que ela mata a pessoa que ataca todos, uma vez que está drogada por um componente que se alastra pela região.
Do outro lado, vemos os Corvos unidos em um novo plano, que é impedir que as drogas cheguem até a cidade, uma vez que o produto é capaz de deixar o poder dos grishas mais fortes, o que resultar em grandes desastres.
Crítica: Todo Dia a Mesma Noite
Apesar de termos ganchos até interessantes para uma possível 3ª temporada, como a história de Sombra e Ossos continuará sem o seu maior vilão? Se a série for renovada e confirmarem Ben Barnes no elenco, como a trama irá trazer o Darkling de volta, se ele está morto? São pontos que ficam no ar, cujas respostas podem não ser tão boas. Resta a esperança para que a série ganhe novos episódios e uma história que seja conclusiva.
O que acharam da 2ª temporada de Sombra e Ossos?
Ficha Técnica
Sombra e Ossos
Adaptação das obras de Leigh Bardugo
Criação: Eric Heisserer
Elenco: Jessie Mei Li, Ben Barnes, Archie Renaux, Freddy Carter, Amita Suman, Kit Young, Sujaya Dasgupta, Danielle Galligan, Patrick Gibson, Jack Wolfe, Lewis Tan, Anna Leong Brophy, Dean Lennox Kelly, Daisy Head, Calahan Skogman, Zoe Wanamaker, Luke Pasqualino, Edward Davis.
Duração: 2ª temporada (8 episódios)
Nota: 3,7/5,0