Lá em 2019, o público foi conquistado por um adolescente órfão bancando o super-herói. Agora, Shazam: Fúria dos Deuses (Shazam: Fury of the Gods) traz de volta Billy Batson em uma nova aventura na qual irá lidar com o peso da responsabilidade heroica, enquanto lida com a chegada de novas vilãs que prometem tomar de volta o que é delas.
Entre ataques e conflitos grandiosos, o personagem também precisa encarar suas inseguranças enraizadas, enquanto cuida e conta com a ajuda dos seus irmãos também heróis. Tudo isso é desenvolvido em uma atmosfera que mescla comédia e drama, exagero e breguice na medida certa, tornando esta sequência divertida, honesta, despretensiosa e gostosa de assistir. Para mim, tanto o primeiro quanto o segundo filme são bons, funcionam e se conectam satisfatoriamente.
Shazam: Fúria dos Deuses se passa em torno de dois anos após os eventos do primeiro longa, em que acompanhamos Billy Batson no auge da adolescência ao lado de sua consolidada família. Com os poderes dados pelo antigo mago, Billy se torna no herói ao dizer a palavra mágica, impedindo destruições e salvando vidas. Mas, nem sempre, tudo sai como imagina. No entanto, ele não está mais sozinho e, agora, seus irmãos também tem poderes, formando a família Shazam pronta para o combate e sempre unidos.
Mas a dinâmica e a calmaria serão interrompidos com a chegada das filhas de Atlas, antigas deusas que chegam à Terra com o objetivo de recuperar os poderes que lhe foram roubados, o que desencadeará uma vingança desproporcional que ameaçará o destino do mundo.
A direção de David F. Sandberg garante novamente o tom cômico em uma dose um pouco mais exagerada e não enjoativa, sem deixar de lado o drama no timing certo, que faz a história conquistar ainda mais o espectador. A narrativa injeta essa dramaticidade ao lidar com o medo do abandono, o maior gatilho do protagonista, já que o conhecemos como um garoto órfão deixado de lado pela mãe e o sistema. Com sua mais nova família, tanto sua versão adolescente quanto o seu alter-ego herói tenta manter o grupo unido, o que desperta novos sentimentos e incômodos para cada um.
Enquanto vemos Billy controlar cada passo dos irmãos, especialmente no quesito de ser um super herói, tal atitude acaba pesando para os demais personagens, seja para Mary (Grace Caroline Currey) que luta por sua independência para não se tornar um fardo aos seus pais adotivos; ou para Freddy (Jack Dylan Grazer), cujo deslumbre pelo seu alter-ego heroico (Adam Brody) o faz querer salvar o dia sem depender dos outros irmãos, além de se aventurar em novas situações, especialmente as mais românticas.
Quando o público nota que a vulnerabilidade de Billy (Asher Angel) o torna inseguro, mas também determinado e resiliente, isso faz com que a sabedoria do herói decline para o lado emocional, mesmo que o racional não seja o seu ponto forte, gerando momentos engraçados e melancólicos.
No geral, Shazam: Fúria dos Deuses acerta na narrativa familiar, cujo elenco continua o mesmo e melhor, dando espaço para todos, inclusive para suas subtramas, sejam menores ou não. Todos brilham à sua maneira, seja com a doçura e inocência de Darla (Meagan Good/Faithe Herman), que a torna esperta e ligeira; a inteligência de Eugene (Ross Butler/Ian Chen); e o segredo e a libertação de Pedro (DJ Coltrona/Jovan Armand) para ser feliz. No fim, os irmãos reconhecem que podem traçar os seus próprios caminhos, mantendo esta união familiar sólida como base fundamental para a felicidade de todos.
Paralelamente ao drama familiar e os conflitos internos de cada um, a família Shazam precisa lidar com a nova ameaça que chega para colocar a Terra em grande conflito. As filhas de Atlas são grandes e antigas deusas que desejam recuperar o poder que lhe foi tirado de seu pai que, por sinal, é o mesmo da família Shazam. Assim, as três se infiltram no planeta não só para recuperar o que é delas, mas também para trazer seu reino de volta com a Árvore da Vida. Para isso, o trio irá até as últimas consequências, mesmo que leve a um destino letal a todos.
Shazam: Fúria dos Deuses apresenta um antagonismo mais grandioso, em que tudo é exagerado, seja nos diálogos, nas performances, ações e reações. A atriz Helen Mirren é Hespera, a líder do trio, que segue o plano e não mede esforços em recuperar o poder que lhe pertence. Já Lucy Liu é Kalypso, uma deusa mais vingativa, raivosa e de pavio curto. Sua agressividade e egoísmo a fazem tomar decisões precipitadas e impulsivas que ocasionam em desastres maiores apenas com o intuito de devolver da pior forma o que lhe foi tirado no passado. Por fim, Rachel Zegler é Anthea, a irmã mais sensata, que apenas quer seguir com o plano se afetar ninguém, cuja jornada a fará tomar outras atitudes que mudam o percurso, afetando suas irmãs.
As atrizes entregam uma atuação mais caricata, performática e exagerada que, quando entram em cena com Shazam (Zachary Levi), tanto o lado cômico quanto a ação são jogados na tela. Aliás, essas sequências entregam uma dose maior de cenas com direito a explosões, destruições e mais lutas paralelas do que no primeiro filme, o que irá satisfazer os apaixonados pelo gênero.
Além disso, há uma divisão do elenco que formam duplas e pequenos grupos que funcionam bem no decorrer do filme, garantindo momentos divertidos de acompanhar, como o drama entre Freddy e Billy; a dinâmica entre Freddy e o Mago (Djimon Hounson) que é formidável; a dupla Freddy e Anthea, cuja química é inesperada e boa; Billy com os demais irmãos em busca de um plano para derrotar as vilãs, o que gera momentos hilários, como a cena em que eles escrevem uma carta para as filhas de Atlas. Acreditem, esta cena é sensacional e o riso é certeiro.
Nessa dramédia, a história também entrega diálogos melosos e bregas para não serem levados a sério. A sequência também não esquece de fazer referências à cultura pop, mesmo que isso seja amenizado se comparado ao primeiro longa. Outro ponto alto do filme é a trilha sonora carregada de músicas do gênero rock e pop que dão um toque especial a todas as cenas de ação.
******COM SPOILERS******
A reta final de Shazam: Fúria dos Deuses se sobrecarrega em uma sequência eletrizante em que todos lutam contra vilãs e monstros, deixando para Billy/Shazam tomar a grande decisão de salvar todos deste mal, mesmo que isso exija um sacrifício maior: a sua própria vida.
A fúria de Kalypso a faz matar Hespera e tirar o poder de Anthea, fazendo plantar a Árvore da Vida na Terra, gerando um reino inóspito, infectado e cruel, com criaturas destruindo tudo ao redor, enquanto a cidade ganha uma atmosfera pós-apocalíptica.
Para derrotar de uma vez por todas Kalypso que, se empodera sob um grande dragão, Billy utiliza do grande cajado para absorver todo o seu poder e, assim, botar um ponto final nisso. Preso sob a redoma feita por Hespera (para prender Kalypso), Billy executa o plano e dá um fim nisso, pagando pelo seu preço.
Ao final, a família encontra Billy que não resistiu à força, uma cena melancólica e triste de um sacrifício feito em nome do amor que o jovem tem pela família que tanto desejou.
No entanto, Shazam: Fúria dos Deuses traz a participação especial de Gal Gadot como Mulher-Maravilha, capaz de reacender o cajado, unir deuses e humanos e, é claro, trazer Billy de volta a vida. Aliás, a cena vai da emoção para o hilário com Shazam deslumbrado pela heroína amazona.
Cenas pós-créditos
Shazam: Fúria dos Deuses contêm duas cenas pós-créditos, sendo a primeira a favorita. Aqui, James Gunn não dá ponto sem nó e faz a agente Emilia Harcourt (Jennifer Holland) e John Economos (Steve Agee) recrutarem Shazam para fazer parte da Sociedade da Justiça, na qual o herói não hesita e aceita a proposta imediatamente. Isso quer dizer que o personagem Shazam é confirmado no universo da DC criado por Gunn e, assim, aparecerá em futuras produções.
A segunda cena pós-crédito faz conexão com o primeiro filme em que vemos o vilão Doutor Silvana (Mark Strong) preso há dois anos e, agora, volta a falar com a lagarta que o visitou na cadeia na primeira vez. É uma cena redundante, que não acrescenta muita coisa, apenas afirma que Silvana continua preso, desejando que a lagarta fale logo o que quer e o tire de lá.
Considerações finais
Shazam: Fúria dos Deuses é uma sequência que faz ótima conexão e dá continuidade ao primeiro filme, apresenta novas e exageradas vilãs, garante mais doses de ação, mantém o tom cômico, equilibra a dramaticidade ao se aprofundar nas inseguranças do protagonista, enquanto lida com o peso da responsabilidade de ser um herói e ressignifica o valor da família.
Apesar de gostar demais do primeiro filme, Shazam: Fúria dos Deuses é bom, honesto e entrega o que promete sem ser uma produção pretensiosa.
Ficha Técnica
Shazam: Fúria dos Deuses
Direção: David F. Sandberg
Elenco: Zachary Levi, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Helen Mirren, Lucy Liu, Djimon Hounson, Rachel Zegler, Adam Brody, Grace Caroline Currey, Meagan Good, Ross Butler, DJ Coltrona, Cooper Andrews, Marta Milans, PJ Byrne, Faithe Herman, Jovan Armand e Ian Chen.
Duração: 2h10
Nota: 3,8/5,0