Uma criança bancando o super-herói pela cidade é a melhor coisa de se ver em uma tela. Mais do que isso, Shazam é um filme de herói leve, divertido, engraçado na medida certa e enriquecido por apresentar valores sobre amizade, união, família e escolhas. Tudo isso e um pouco mais sob pontos de vista de crianças e adolescentes.
Dirigido por David F. Sandberg, o filme é a adaptação da HQ ‘Shazam! Com Uma Palavra Mágica’, da fase dos novos 52. O longa traz a origem pura do super-herói adulto por fora e adolescente por dentro. Apesar de ter os seus momentos hilários, Shazam capta a emoção do espectador ao trazer momentos mais melancólicos, especialmente quando o protagonista precisa lidar com conflitos relacionados à família e origem.
Na trama, Billy Batson (Asher Angel) é um garoto de 15 anos que vive fugindo dos lares adotivos, garantindo ter a capacidade de se virar sozinho. A verdade é que, mais do que nunca, Billy quer reencontrar sua família e, para isso, utiliza de artimanhas inteligentes para conseguir pistas e fugir das autoridades. Mas essa aventura acaba rápido quando ele é adotado pelo casal Rosa (Marta Milans) e Victor (Cooper Andrews). Na casa vivem mais cinco filhos adotados: a adolescente Mary (Grace Fulton) e as crianças Freddy (Jack Dylan Grazer), Eugene (Ian Chen), Pedro (Jovan Armand) e Darla (Faithe Herman), cada um com personalidades peculiares e fantásticas.
Um dia, ao defender Freddy de dois garotos da escola, Billy vai direto para o metrô que o leva magicamente até o grande Mago Shazam (Djimon Hounson), defensor do Portal da Eternidade que protege o mundo contra os sete pecados capitais: gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e orgulho. Por estar velho e sem os seus irmãos ao seu lado, o mago precisa encontrar alguém puro de coração e alma, capaz adquirir os poderes de Shazam. É dessa forma que Billy Batson é o grande escolhido, e as razões que fazem a gente entender essa escolha são bem desenvolvidas no filme.
O que torna Shazam formidável é a forma como o enredo equilibra bem o desenvolvimento das subtramas, dos personagens e dos pontos essenciais da origem do protagonista. Mais do que uma história de super-herói, o filme trata de assuntos que moldam a essência do personagem, como família, amizade e união. Por ter se separado da mãe ainda pequeno, Billy rejeita qualquer aproximação, mas quando encontra Victor e Rosa e estreita uma amizade sensacional com Freddy, é aí que o público nota o quão o personagem é solitário e como é difícil um garoto novo lidar com esse conflito interno. O que mais me surpreende é que, enquanto nos demais filmes o super-herói idolatra a imagem da família (mesmo que não a tenha mais), a realidade de Billy é mais dura e triste, uma origem que não é possível enaltecer tanto.
Say my name!
Assim que Billy se transforma em Shazam, o filme ganha um tom ainda mais divertido, justamente por vermos um super-herói alto e forte agindo como um garoto de 15 anos. Um dos pontos mais engraçados e o que fortalece a história é a amizade de Freddy e Billy/Shazam, que juntos, exploram os poderes do herói e encontram meios para esconder a nova identidade secreta do amigo. Há cenas hilárias desde os inúmeros testes para saber quais superpoderes Shazam possui, a busca por um esconderijo (já que todo herói possui um) até os vídeos publicados no YouTube, tornando Shazam uma figura icônica na cidade.
São essas cenas que mostram o quanto Zachary Levi está ótimo no papel e confortável em interpretar um adulto poderoso com a personalidade jovem, deixando bem nítido nos diálogos e nas atitudes. Jack Dylan Grazer não fica para trás e entrega um Freddy nerd, engraçado e, mais do que isso, um amigo para contar a toda hora. Por ser rejeitado na escola e ainda sofrer bullying, Freddy também sente na pele a solidão e, ao conhecer Billy, encontra uma esperança e alguém com quem pode contar. Aliás, Levi e Grazer é a melhor dupla que você vai ver em tela, tendo uma química que funciona do começo ao fim.
Se Levi interpreta um ótimo herói adolescente, Asher Angel entrega um papel inverso, trazendo uma essência misturada entre a diversão e melancolia em seu personagem de uma forma genial, já que Billy precisa lidar com os novos poderes, enquanto luta para aceitar a sua nova família, sem esquecer de buscar sua verdadeira origem. Há uma cena de Billy que é muito boa, mas é de partir o coração.
Este trio é fabuloso, mas os coadjuvantes não ficam em segundo plano. Um ponto forte de Shazam é boa parte do elenco ser formado por jovens, trazendo frescor, jovialidade, esperteza e diversão em toda a trama. A mais velha da família, Mary se preocupa com o futuro, ao mesmo tempo que teme em deixar sua família para seguir em frente; Eugene é sincero, direto e adora um videogame; Pedro é mais introspectivo, mas mostra carinho e empatia pela família à sua maneira; e a pequena Darla se transforma no centro das atenções por ser esperta, fofa, inocente, extremamente comunicativa e cheia de esperança por todos.
Referências que amamos
Se tem uma coisa que o público fã de super-heróis adora são as referências à cultura pop, e isso Shazam faz com muito gosto. No filme, o espectador irá se deparar com referências ao Batman, Superman, a briga dos dois, Aquaman, à cena icônica do piano do filme Quero Ser Grande, estrelado por Tom Hanks, Rocky Balboa, Street Fighter e, quem tiver um olhar mais atento, vai perceber uma referência ao universo de Invocação do Mal.
Além disso, o filme ganha um cenário real da cidade de Filadélfia, que se engrandece com os bons efeitos especiais, justamente nas cenas em que Shazam entra em ação, seja voando, lançando raios, pulando em prédios e, é claro, lutando contra o vilão.
Origem do vilão
Um ponto que chama bastante a atenção é que o filme não começa com a história de Billy/Shazam, muito menos entrega um antagonista já pronto e decidido o que irá fazer na trama. Pelo contrário, o enredo se prontifica em nos contar primeiro a origem do vilão, quem ele era e a razão para se transformar em quem ele é hoje. Tudo isso se conecta aos fatos que precisamos tomar conhecimento sobre como funciona o Portal da Eternidade, o perigo dos sete pecados capitais e quem tem a capacidade de se tornar o novo Shazam.
Mark Strong é o vilão Dr. Thaddeus Sivana que, quando criança, é rejeitado pelo mago após se sucumbir às forças do mal, deixando-o obcecado em reencontrar o portal por anos e anos. O ponto positivo é que o vilão não é construído na base de apenas em destruir a cidade ou abrir uma fenda para acabar com a Terra e, sim, é movido pela obsessão em ter os poderes de Shazam, tendo um desfecho bom e justo. No geral, Strong está bem no papel e entrega frieza, manipulação e foco, mas em alguns momentos, o personagem está robótico e sem expressão.
Considerações finais
O terceiro ato traz uma reviravolta muito boa e interessante que os fãs da HQ vão amar, por isso, fuja de qualquer spoiler para não estragar a surpresa.
Shazam reformula o tom dos filmes da DC, trazendo leveza e diversão ao contar a história do super-herói sob o ponto de vista de crianças e adolescentes que vão te conquistar do começo ao fim. É uma história rica sobre amizade, união, conflitos e confrontos e, mais do que um super-herói, é uma história sobre família e para a família.
PS: Há duas cenas pós-créditos. Não saia correndo do cinema!
Ficha Técnica
Shazam
Direção: David. F. Sandberg
Elenco: Zachary Levi, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Mark Strong, Djimon Hounson, Grace Fulton, Ian Chen, Faithe Herman, Jovan Armand, Cooper Andrews, Marta Milans, Adam Brody, Meagan Good, D.J Coltrona, Ross Butler e Michelle Borth.
Duração: 2h12min
Nota: 9,0