Aquaman entrega uma nova roupagem cinematográfica ao universo DC, deslocando de um cenário mais sombrio – como os filmes do Batman – e caminhando para um ambiente mais fidedigno aos quadrinhos, suas histórias de origem e cenários fantásticos de encher os olhos. Posso dizer que Aquaman é mais um acerto e frescor para este universo, com boa direção, ótimos efeitos especiais, bons personagens e um herói perfeito por não ser perfeito.
Dirigido por James Wan, Aquaman conta a origem do rei dos mares, desde o amor ‘proibido’ de sua mãe (rainha Atlanna) e seu pai (um mero mortal), as diferenças entre Água e Terra, os treinamentos do jovem Arthur com o mentor Vulko, até o instante em que ele precisa enfrentar seus oponentes para salvar os dois mundos que, no final das contas, são o seu lar.
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O primeiro ponto positivo do filme, sem dúvida, é o roteiro ágil que conta uma história de origem não linear, progressiva e nada confusa, com inserções de flashbacks no timing certo, sem quebrar o ritmo da narrativa. No primeiro ato, o filme já revela como o mundo da água e da terra se conectam, com o encontro de Atlanna e Tom, os motivos que levaram a rainha de Atlântida a parar naquele local e, é claro, o amor singelo que surge entre os dois, que leva ao nascimento de Arthur Curry. Depois de um tempo, a rainha precisa retornar às origens e deixar sua vida na superfície para trás, ganhando justificações boas e plausíveis na trama. Assim, o público migra para os anos seguintes, acompanhando um Arthur adulto, extremamente forte e ciente de seus poderes e do que pode fazer.
Nessa narrativa são inseridos os flashbacks em que o espectador toma um conhecimento maior e melhor sobre Arthur, como ele se deu conta do seu dom e quando passou a controlar todo o poder e força herdados de sua mãe. É incrível a forma como a câmera gira entre os personagens, dando ótimos cortes nas cenas para mesclar o presente e passado. Junto a isso, acompanhamos a tradicional jornada do herói, que à medida que sua responsabilidade em tomar posse do trono de Atlântida aumenta, as situações tomam proporções cada vez mais grandiosas, desde enfrentar seu meio-irmão Orm, até encarar obstáculos e criaturas tenebrosas pelo vasto oceano, o que rendem empolgantes cenas de luta, com destaque para a primeira cena no submarino e a sequência frenética na Itália.
Profundezas da origem
Se Aquaman caminha bem com a trama de Arthur Curry, o filme acerta ainda mais ao detalhar ao espectador a verdadeira história de Atlântida, como a cidade era nos tempos de uma Terra primitiva, reinado pelo Rei Atlan, um homem cujo extremo da ambição levou a cidade às profundezas do mar, ganhou um ressurgimento magnífico, mas transformou os cidadãos e dividiu os povos. Além disso, o roteiro toma o cuidado ao explorar as diferentes cidades como o Reino das Salmoras, o Reino dos Pescadores, o Reino liderado pelo rei Nereus, pai de Mera, o Fosso e o Mar Oculto, regiões que, mesmo que o espectador não saiba nada sobre a história do herói, toma um conhecimento básico e bom desses elementos. Por fim, o público descobre e se junta ao protagonista na jornada para descobrir sobre a lenda do Tridente Sagrado, a peça-chave que pode salvar ou destruir todos.
Cenários e efeitos deslumbrantes
Outro ponto que não fica a desejar são os cenários em Aquaman que, a meu ver, não seria um ótimo filme sem seus efeitos especiais grandiosos e extravagantes. Sim, você vai se deparar com criaturas formidáveis e assustadoras e ambientações coloridas e futurísticas, entregando uma Atlântida moderna e high-tech, que armazena uma tecnologia capaz de criar armas potentes para destruir a superfície e, também, o próprio fundo do mar.
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E todo esse trabalho é muito bem dirigido pelas mãos de James Wan. Nota-se que o diretor tem um enorme carinho e cuidado em cada detalhe, até mesmo com os cabelos dos personagens se movimentando dentro da água.
Personagens
Junto a uma excelente ambientação e uma narrativa bem estruturada, o filme entrega bons personagens com boa química e suas respectivas motivações que engrenam cada um nessa jornada. Jason Momoa está ótimo como Aquaman e não consigo ver outro ator interpretando o super-herói. Mesmo tendo o poder e a força de Atlântida em seu sangue, o personagem tem uma personalidade mais debochada, desleixada, bruta e rústica, que foge do tradicional modelo perfeito do super-herói. Aliás, Arthur demonstra ser menos altruísta e com atitudes mais egoístas, algo que quase não vemos em outros heróis. Há uma cena específica que exemplifica bem esta parte. No entanto, o protagonista aprende e se transforma gradativamente no rei que ambos os mundos precisam naquele exato momento. O mais bonito de ver é o amor, carinho e dedicação que ele tem com o pai, e a saudade e culpa que ele sente com a partida da mãe, sem deixar de amá-la um minuto se quer.
Interpretada por Amber Heard, Mera tem mais audácia em suas atitudes. Ela não desiste de Atlântida, muito menos de persuadir Arthur para salvar o lar dos dois, passando por várias situações de riscos como uma ótima guerreira e não como uma princesa que precisa ser resgatada. A química de Heard e Momoa é boa e os alívios cômicos entre eles divertem em alguns momentos.
Patrick Wilson é o Rei Orm, meio-irmão de Arthur, um rei movido por uma política impetuosa e pela ambição ao extremo poder. Além do preconceito com o irmão mestiço e o confronto para não perder o trono, Orm tem um objetivo ainda maior, que coloca toda a Atlântida e a superfície em grande risco. Wilson entrega um bom vilão que sabe mover bem a trama, especialmente as ações e reações do protagonista.
Nicole Kidman tem poucas cenas, mas ótima participação, fortalecendo ainda mais o time feminino do filme. Willem Dafoe, Dolph Lundgren e Yahya Abdul-Mateen II também não ficam a desejar. Yahya é Arraia Negra, outro forte oponente que tem boas razões para não dar sossego para Arthur.
Considerações finais
Como em quase todo filme de herói, há sempre aqueles closes que enaltecem o personagem, junto com uma edição de som engrandecedora, tornando a trama cativante, ainda que clichê.
O final dá certo receio por quase cair na entediante trama do herói lutar contra um grande monstro, mas o filme consegue desviar do previsível, entregando um desfecho bom e bonito.
Aquaman traz um novo frescor ao universo cinematográfico da DC com uma ótima direção, uma boa história de origem, um herói que é perfeito por não ser perfeito, um vilão com boas motivações, atuações cativantes, cenários e efeitos especiais que tornam o filme grandioso e estiloso.
Vale a pena conhecer a história do Rei dos Mares e descobrir mais sobre as profundezas deste oceano.
Ficha Técnica
Aquaman
Direção: James Wan
Elenco: Jason Momoa, Amber Heard, Patrick Wilson, Nicole Kidman, Willem Dafoe, Yahya Abdul-Mateen II, Dolph Lundgren, Ludi Lin, Temuera Morrison, Michael Beach, Randall Park, Graham McTavish, Leigh Whannel e Robert Longstreet.
Duração: 2h24min
Nota: 9,0