Dizer que o filme Steve Jobs é uma cinebiografia sobre o magnata da Apple não é totalmente certo. Há dois motivos: primeiro, o roteiro não é baseado em biografia nenhuma, pois há mudanças no roteiro; segundo, a trama não vai mostrar a história completa do personagem, mas sim, três grandes momentos de sua vida: os bastidores do lançamento do computador Macintosh, em 1984; o lançamento da empresa Next, em 1988 e, por fim, a apresentação do iMac, em 2001. Quem leu a resenha que fiz sobre o filme Trumbo: Lista Negra sabe que não é toda cinebiografia (ou algo parecido) que gosto. Apesar de achar muito interessante a história de vida de Jobs, infelizmente, o filme, dirigido por Danny Boyle, não me conquistou 100%.
Toda a trama é desenvolvida em cenas recheadas de diálogos entre os personagens que estão sempre em movimento. O roteiro é muito bem escrito e isso não tem como negar, porém, não espere ver cenas emocionantes, ações e plots twists, pois isso não acontece em momento nenhum. No entanto, o dinamismo do filme se encontra, justamente, na química, ações e trocas de palavras entre os personagens. A evolução de cada um não é vista de forma completa, uma vez que o filme faz uma passagem de tempo bruscamente, mas isso não prejudica em nada. O cenário, a trilha sonora e a fotografia são muito boas e isso não tem do que queixar. Mas, o ponto que não me agradou muito foi na construção dos personagens Steve Jobs e Joanna Hoffman.
Personagens
O ator Michael Fassbender dá a vida a Steve Jobs nas telonas. Sua caracterização fica similar ao magnata, mas não igual (achei o Ashton Kutcher mais parecido no filme Jobs). No entanto, isso não afeta em quase nada da trama e, muito menos, em sua interpretação. Chega um momento em que o público nem presta mais atenção nisso.
Por trás do sucesso, Jobs era uma pessoa difícil de lidar por ser arrogante, chato, extremamente detalhista e perfeccionista, um chefe muito babaca e um pai ausente que rejeitou a filha por anos. Esses pontos são muito bem interpretados por Fassbender e não fica a desejar, pois tal arrogância fica bastante visível na trama. Porém, todos os seus atos são extremamente controlados e, até mesmo, apagados quando o personagem divide a cena com a personagem Joanna. E foi isso que me incomodou.
Kate Winslet interpreta Joanna Hoffman, braço direito e melhor amiga de Jobs. Se eu disser que Winslet não está boa, estaria sendo hipócrita, porque a atriz faz o seu trabalho e bem feito. Joanna é a pessoa quem coloca Jobs nos trilhos, dando juízo e puxando sua orelha diante de suas atitudes frias. A química entre os dois é muito boa e dá certo em todas as cenas. Porém, essa relação forte acaba “atrapalhando” um pouco o protagonista. Como assim? Eu explico. Toda vez que Jobs confronta, grita, rejeita ou trata mal alguém, Joanna aparece como a salvadora e apazigua tudo. No começo isso é interessante, mas isso se repete o tempo todo tirando a graça da trama. Toda vez que uma conversa esquentava, Joanna segurava as pontas. Mesmo quando não estava em cena, outro personagem a chamava para controlar a situação. Isso ficou chato e acabei não curtindo mais o filme. Talvez a personagem de Winslet tenha o papel de diminuir a imagem negativa de Jobs. Mas, a verdade é que eu queria ver mais dessa imagem, com menor interferência.
Aliás, os personagens que conseguem puxar esse lado chato de Jobs são Steve Wozniak (Seth Rogen), John Sculley (Jeff Daniels), Andy Hertzfeld (Michael Stuhlbarg), a filha Lisa Brennan (Perla Haney-Jardine) e a ex-namorada Chrisann Brennan (Katherine Waterston). Eles confrontam e instigam Jobs para uma discussão sempre bem argumentada. O público acompanha a troca de palavras e fica na torcida para quem vai vencer aquela conversa. Muitas vezes, pensei que Jobs fosse ceder, mas isso só acontece uma vez.
Considerações finais
Steve Jobs é um filme interessante para quem curte a história do magnata da Apple e queira saber mais detalhes sobre os momentos importantes de sua vida. Não espere ver a história completa, pois o filme se concentra em apenas três momentos. O ponto negativo é a interferência excessiva da personagem Joanna nos momentos de tensão e quase explosão de Jobs, o que fez perder vários pontos (pelo menos para mim).
Sinceramente? Michael Fassbender deveria concorrer ao Oscar na categoria de melhor ator pelo filme Macbeth. Já Kate Winslet? Seu trabalho é bom, mas não o suficiente para sua indicação na premiação (melhor atriz coadjuvante). Esperava mais.
E aí, já assistiram? Deixem nos comentários!
Ficha Técnica
Steve Jobs
Direção: Danny Boyle
Elenco: Michael Fassbender, Kate Winslet, Seth Rogen, Jeff Daniels, Michael Stuhlbarg, Katherine Waterston, Perla Haney-Jardine e Sarah Snook.
Duração: 2h2min
Nota: 6,5