Pegando Fogo (Burnt) é um filme para se deliciar. A trama faz você rir, se divertir e passar raiva. Além disso, você também questiona alguns pontos tanto da história quanto do roteiro e da edição. É um filme que cativa pelo olhar, aguça o paladar, aumenta o interesse pela gastronomia e alfineta o seu lado crítico. Dirigido por John Wells, a trama retrata a vida de Adam Jones (Bradley Cooper), um chef de cozinha renomado em Paris, que vê sua vida desmoronar ao entrar no mundo do álcool e das drogas. Para recuperar o tempo perdido, Adam vai para Londres disposto a recomeçar a carreira e conquistar a terceira e tão sonhada estrela do famoso Guia Michelin. Para isso, ele vai contar com a ajuda de sua antiga equipe, da nova chef Helene (Sienna Miller) e do amigo, Tony (Daniel Bruhl), que gerencia um restaurante na capital britânica.
O que muitos podem questionar (eu pelo menos me questiono) é se o mundo da gastronomia é assim: por trás de cada prato perfeito existe tensão, choro, excesso de raiva, falta de tempo, desespero, etc. Muito disso é retratado na trama, especialmente pelas atitudes de Adam, mas isso eu vou falar mais pra frente. Tal tensão e dinamismo são bem retratados pelos cortes rápidos da edição, o que remete a uma rotina turbulenta dentro do restaurante. O que mais impressiona são os detalhes (feitos em close) das cenas: o preparo das mesas, os talheres posicionados milimetricamente, a forma como a carne é colocada no prato, etc. Além de rechear os olhos de quem assiste, as cenas são bem suculentas ao ponto de despertar a fome de qualquer um. O roteiro é bem estruturado, com bons diálogos e cenas intensas. Porém, há três pontos que me incomodaram um pouco. A primeira é a edição, pois há um pequeno erro de continuação, nada muito grave, mas quem prestar bastante atenção vai perceber. O segundo é o início de um romance que, na minha opinião, achei desnecessário. A trama ficaria muito bem sem isso. Por fim, no terceiro há uma surpresa que irei comentar mais pra frente.
Personagens
Bradley Cooper mostra que estudou a arte da gastronomia e os macetes de um verdadeiro chef de cozinha. O temperamento forte do seu personagem, sem dúvida, é o ponto alto da história. Mesmo sendo considerado o melhor chef, a forma como ele trata amigos e funcionários, além de manipulá-los, incomodam o espectador. Afinal, será que os bastidores de um restaurante badalado de Paris, Londres, Nova York ou São Paulo são assim? Longe das panelas, vemos apenas Adam Jones, um rapaz que está sóbrio e longe das drogas há mais de dois anos, mas sempre ressaltando seu lado egoísta, determinado e voraz. Seu passado o condena e persegue até hoje, gerando novos problemas. A pequena trama que mostra ele devendo dinheiro a agiotas é um pouco superficial. Gostaria que a cena tivesse mais tensão.
Sienna Miller fica muito bem no papel de Helene, que divide o seu tempo acirrado como chef de cozinha e mãe solteira. Além de ser o braço direito de Adam, a personagem mostra que é possível trabalhar em equipe sem alarmar tanto (ou gritar). É doce e compreensível, mas também sabe ser rígida e objetiva nas palavras quando necessário.
Daniel Bruhl não fica para trás, afinal, Tony é um amigo e tanto para Adam. Entregar o restaurante nas mãos de um chef cuja personalidade é extremamente forte é uma decisão difícil, mas Tony acredita no potencial do amigo, mesmo desconfiando no início da trama. O desenrolar da história traz um “segredinho” de Tony que apimenta a cena entre ele e Adam.
Há outros personagens coadjuvantes importantes que dão o ponta pé inicial de uma cena para outra, como Uma Thurman na pele de uma crítica gastronômica, Omar Sy, como o rancoroso Max, Matthew Rhys, na pele do chef Reece, concorrente acirrado de Adam e Emma Thompson, como a Dra. Rosshilde, médica e conselheira de Jones.
Considerações finais
Pegando Fogo é um filme que desperta intensidade com as interpretações e fome com um cenário lindo e rico em comidas. O terceiro ato do filme traz um pequeno plot twist pregando uma peça tanto no espectador quanto nos personagens. É engraçado, mas depois que você sai do cinema, você se pergunta: será que se essa cena não tivesse acontecido, a história não teria sido mais realista? O final traz pequenos acontecimentos que o espectador capta a mensagem apenas com as expressões dos atores. Um final bom por sinal. Pegando Fogo vale a pena assistir? Sim! Só não se esqueça de comprar a pipoca e o refrigerante, pois Bradley Cooper vai despertar a sua fome.
E aí? Quem assistiu? Deixem nos comentários o que acharam do filme!
* Dedico essa resenha a minha amiga Lucymara que, depois de oito anos, foi ao cinema comigo!
Ficha Ténica
Pegando Fogo
Direção: John Wells
Elenco: Bradley Cooper, Sienna Miller, Daniel Bruhl, Emma Thompson, Omar Sy, Matthew Rhys, Uma Thurman, Alicia Vikander e Riccardo Scamarcio.
Duração: 1h42min
Nota: 8,0