Sabe quando aqueles amigos da escola ou faculdade resolvem fazer um filme e cada um aparece em cena fazendo uma coisa diferente e depois juntam tudo e publicam o vídeo na internet? Ninguém Entra, Ninguém Sai é mais ou menos assim, só que com atores e um diretor. Não quero ser chata nem nada, então vou explicar logo o porquê de estar fazendo este tipo de comparação. Dirigido por Hsu Chien, o longa vai contar a história de alguns casais que ficam presos em um motel graças a uma quarentena imposta no local, já que um dos funcionários é diagnosticado com uma doença altamente contagiosa. E o que acontece quando várias pessoas ficam em um mesmo espaço? Muita confusão e diversão cercado pela polícia e mídia.
A sinopse em si é legal, mas quando nos deparamos com o filme vemos uma verdadeira salada mista. O roteiro tenta falar de tudo um pouco, mas não consegue se aprofundar, deixando a história completamente superficial sem que a gente possa levá-la a sério em nenhum momento. As primeiras cenas são OK e nos apresentam os personagens e suas respectivas subtramas. Temos Letícia (Danielle Winits), uma juíza rigorosa que adora fazer “brincadeirinhas” com o seu assessor Acauã (Tatsu Carvalho); Para impressionar a namorada Suellen (Letícia Lima), Edu (Emiliano D’Ávila) faz uma vaquinha e a leva para o melhor motel da cidade, mas a garota só quer saber de casamento; os adolescentes Caju (João Côrtes) e Bebel (Bella Piero) vão para o motel para ter a tão sonhada primeira vez; após um assalto, a virgem Margot (Mariana dos Santos) é mantida presa no motel pelo assaltante Alexandre (Rafael Infante) onde eles terão que passar um tempo juntos para que a polícia não prenda o rapaz. E, claro, temos nossa antagonista, a faxineira Francisca (Guta Stresser), uma mulher devota de algum santo (ou não) na qual jura fazer uma faxina definitiva nesse ambiente de perdição.
Assim que todos ficam presos no motel por 40 dias, a trama tenta falar de vários assuntos como casamento e empoderamento feminino, gostos sexuais, a primeira vez na adolescência, virgindade aos 30 anos, relação de mãe e filho, prazeres reprimidos, amizade, baixa auto-estima e por aí vai. Os assuntos são bons, porém, o grande problema é que tudo vira uma grande algazarra na tela do cinema em que o público ri sem levar nada a sério. É uma verdadeira zorra. Durante a coletiva de imprensa, o diretor revelou que deu liberdade para os atores improvisar e acrescentar ações e falas em suas cenas. Sinto dizer que isso não ajudou muito, pelo contrário, deixou tudo ainda mais confuso. Além disso, há três coisas que me incomodaram e, talvez, possam incomodar os demais espectadores: a primeira é que temos o personagem Donizete (Paulinho Serra) que é detectado com a doença contagiosa. Ao ser internado, ele é tratado pela Dra. Severine (Monique Alfradique), uma médica sem noção. Para descobrir a verdadeira causa da infecção que se alastra no motel, ela passa a ter atitudes muito estranhas e inusitadas que faz você pensar “o que ela está fazendo?”. Não tem como levar a personagem a sério e, até agora, estou tentando entender o motivo de ter colocado essas cenas forçadas no filme. A segunda coisa que me incomodou foi o Coronel Padilha (André Mattos) dizer várias e várias vezes “Ninguém Entra, Ninguém Sai”. Era necessário dizer o título do filme toda hora? É irritante. O terceiro é a personagem Francisca posta como a vilã. No começo, o filme faz o público acreditar que ela é uma mulher ranzinza, mal amada e seguidora de alguma entidade do mal. No entanto, a justificativa para a personagem agir dessa forma e o seu desfecho são tão ridículos, que o melhor a se fazer é aceitar e dar risada.
Para não ser muito injusta, o filme tem seus momentos bons que faz o público rir e isso se deve a participação de Sérgio Mallandro no papel de um vidente e aos atores Rafael Infante e Letícia Lima. Gosto deles desde o canal Porta dos Fundos e nesse filme eles mandam bem.
Considerações finais
O que posso dizer do desfecho do filme? Uma verdadeira algazarra que não passa de uma grande pegadinha do Serginho Mallandro ao som de ‘Sandra Rosa Madalena’. Ninguém Entra, Ninguém Sai é uma comédia cuja premissa é legal, mas o desenvolvimento é uma verdadeira salada mista. O roteiro tenta abordar assuntos interessantes, mas deixa todos superficiais. Em alguns momentos o público até ri e se diverte, mas, no geral, não é para se levar a sério. Aliás, acredito que isso seja proposital, mas o desenvolvimento da história poderia ter sido melhor. Infinitamente melhor.
E aí, o que acharam do filme? Deixem nos comentários!
Ficha Técnica
Ninguém Entra, Ninguém Sai
Direção: Hsu Chien
Elenco: Danielle Winits, Letícia Lima, Rafael Infante, Emiliano D’Ávila, Guta Stresser, Mariana do Santos, Tatsu Carvalho, João Côrtes, Bella Piero, Paulinho Serra, André Mattos, Monique Alfradique, Renata Castro Barbosa, Sérgio Mallandro, Gabriel Tororo, Anselmo Vasconcelos, Antonio Pedro, Bruno Bebianno e Izak Dahora.
Duração: 1h30min
Nota: 4,0