Adaptar livros para o cinema é algo complicado devido ao grau de fidelidade exigido, especialmente pelos fãs. Agora, adaptar as obras de Stephen King é um desafio que não só exige a mesma linha de raciocínio da história, mas também os detalhes que, neste caso, fazem muita diferença. Desta vez, a adaptação cinematográfica é de A Torre Negra, composta por sete livros escritos por King desde a sua adolescência. Tal desafio ficou por conta do diretor Nikolaj Arcel, que resumiu uma parte dos livros em apenas 1h35min de longa. O resultado, porém, não foi alcançado, o que irá desagradar o público e decepcionar, mais uma vez, os fãs do autor.
Isso significa que o filme é ruim do começo ao fim? Na minha opinião, não. A adaptação de A Torre Negra tem suas falhas, mas no final das contas, ainda prende a atenção com os personagens e uma aventura ao estilo “Super Cine”. Do que se trata a história? No começo, o filme já deixa claro o significado da Torre Negra: uma espécie de prédio mágico localizado no centro da Terra, capaz de equilibrar as forças do bem e manter a escuridão longe deste universo. Porém, o Homem de Preto (Matthew McConaughey) deseja destruir a torre com a finalidade de governar o mundo sob a escuridão. Para isso, ele utiliza a força das crianças para derrubar o prédio nesse mundo alternativo, causando terremotos no mundo atual conhecido como Keystone Earth. O único que pode impedi-lo de seguir em frente com o plano é Roland Deschain (Idris Elba), um famoso pistoleiro que promete defender a Torre com sua própria vida. Paralelamente, acompanhamos o garoto chamado Jake Chambers (Tom Taylor IV), que sonha com as duas figuras do mundo alternativo, além do prédio. Ele tenta a todo custo entender o significado dos seus sonhos, além de associá-los com os repentinos terremotos, porém sua mãe e seu padrasto acreditam que o menino possa estar perdendo a razão. Na tentativa de interná-lo, Jake foge e se depara com um portal que, ao atravessá-lo, verá que todos os seus sonhos são reais. Mas, mais do que isso, Jake pode ser o elemento-chave da Torre.
Antes de falar sobre o filme, quero deixar claro que não li os livros, mas conheço a escrita e a forma como Stephen King desenvolve suas histórias. Dessa forma, posso dizer que o roteiro de A Torre Negra é fraco, justamente por deixar de lado toda a riqueza de detalhes que King construiu, tornando a história uma aventura superficial. A trama não é difícil de ser compreendia, mesmo se passando em tempos e espaços diferentes. Mas é nítida a falta que faz uma explicação mais consistente, principalmente dos personagens. O filme não deixa clara a razão de o Homem de Preto usar as crianças como arma de destruição. O que há de especial nelas? Por que Jake é o escolhido para ter o dom da visão? Por que ele pode ser considerado a chave de tudo? A Torre impede que a escuridão domine a Terra, mas qual é o seu verdadeiro significado? São essas e outras questões que o roteiro deixa passar como se não fosse fazer falta. Mas faz. Mesmo com um roteiro falho, a trama conquista a atenção do público com bons efeitos especiais, bons personagens e uma aventura que, mesmo sem sua riqueza explorada, consegue fluir ao longo dos três atos, mesmo perdendo o pouco da força que tem.
Pode ser que muitos não gostem, mas eu gostei e me interessei bastante pelos personagens. Por isso que a ausência de detalhes e profundidade de cada um pode decepcionar muitos, assim como me decepcionou. Entre todos, o Homem de Preto é o meu favorito. Matthew McConaughey interpreta um vilão frio e prático, que utiliza a magia obscura para tirar o que ou quem estiver no seu caminho. Atrapalhou? Morre. Ele é simples e direto, um quesito que, para mim, chama bastante a atenção em um antagonista. Detesto quando o personagem tem a solução na sua frente, mas opta pelo caminho mais difícil para executá-lo. E isso não só vale para o vilão, mas também para o herói.
Idris Elba também não fica para trás e executa uma boa performance na pele do pistoleiro. Roland é determinado e sabe o que tem que fazer, porém, sua fé e foco são abalados quando todos em sua volta são destruídos, sem que ele pudesse salvá-los a tempo. Ver o herói passar por essa fase de medo e vingança é interessante, mas poderia ter ficado melhor se o personagem ganhasse mais camadas no filme, algo que passa longe de acontecer.
Tom Taylor IV até tem uma caminhada regular no filme, mas gostaria de ter visto o personagem mais perturbado com os sonhos e, assim como os demais, com mais camadas a serem exploradas, especialmente quando ele atravessa para o mundo alternativo.
Considerações finais
O final de A Torre Negra é satisfatório, mas previsível, o que não impacta e muito menos surpreende o espectador. Seria hipocrisia dizer que o filme é ruim por completo, porque não é. No geral, a aventura prende a atenção do começo ao fim e consegue manter o ritmo, mesmo perdendo a força ao longo do seu desenvolvimento. Os personagens são bons e as performances são bem executadas pelos atores. No entanto, a culpa por todos os problemas é do roteiro, que apresenta uma adaptação fraca, superficial e previsível de uma história rica e complexa. No final das contas, o filme será apenas blockbuster que cairá no esquecimento ao longo do tempo. Mas o mais triste é que os fãs da obra de Stephen King sairão decepcionados do cinema. A Mas até aí, o próprio autor já tinha alertado sobre uma possível decepção.
Ficha Técnica
A Torre Negra
Direção: Nikolaj Arcel
Elenco: Idris Elba, Matthew McConaughey, Tom Taylor IV, Katheryn Winnick, Dennis Haysbert, Claudia Kim, Fran Kranz, Abbey Lee, Jackie Earle Haley, Alex McGregor, José Zuniga, Michael Barbieri, Nicholas Hamilton e Karl Thaning.
Duração: 1h35min
Nota: 6,0