A Lenda de Tarzan é um filme que não criei expectativas, mas que me surpreendeu especialmente na forma de contar a história da figura mítica criada por Edgar Rice Burroughs, em 1918. Desde sua criação, o cinema retratou o personagem em várias versões (desenho, comédia) relatando sua vida na selva. Desta vez, o diretor David Yates (Harry Potter) resolveu fazer diferente e contar a vida de Tarzan em meio à civilização e os motivos que o levaram a retornar à selva. Após aceitar a identidade de John Clayton III e se casar com Jane (Margot Robbie), Tarzan (Alexander Skarsgard) toma a decisão de retornar à selva africana para investigar um esquema que envolve a escravidão dos povos nativos. Quem o ajuda nesta jornada é o ex-combatente George Washington Williams (Samuel L.Jackson), que deseja se redimir do mal que causou durante a guerra civil. Porém, a história vai mais além, pois a viagem nada mais é do que uma armadilha para cair nas mãos do chefe Mbonga (Djimon Hounso) que nutre uma sede de vingança por um ato cometido pelo rapaz anos atrás. Quem o ajuda nesta emboscada é o Capitão Rom (Christoph Waltz), um homem frio e soberbo capaz de fazer qualquer coisa para obter o que quer, especialmente os diamantes da terra africana.
Como já vimos várias vezes a história de Tarzan, David Yates se preocupou em contar o que acontece depois que o rapaz deixa a selva e a razão dele retornar à terra natal. Entre uma cena e outra, o filme relembra o passado de Tarzan com flashbacks que mostram como ele foi cuidado e amado pelos gorilas, como aprendeu a viver na floresta e, por fim, o seu primeiro encontro com Jane. O roteiro é estruturado, mas não espere que este se preocupe em contextualizar o passado do protagonista e por que ele não quer retornar à selva, uma vez que ele hesita no primeiro instante. A ideia do filme é mostrar o presente e como ele irá sair daquela emboscada, salvando as pessoas que ama.
Um ponto bem interessante do filme é a interação do Tarzan com os animais, trazendo mais realidade nas ações. Mesmo retornando à civilização, o personagem ainda possui seu lado bruto e selvagem e lembra como deve agir diante dos animais, uma vez que ele está em um espaço que não lhe pertence. Por exemplo, ao reencontrar seu irmão gorila, ele luta com o animal para estabelecer “quem é que manda ali”. A luta é bruta, feia e o próprio espectador sente as dores de cada golpe que o personagem recebe. Além disso, toda vez que se encontra um gorila é imprescindível abaixar curvar-se para fazer reverência e mostrar respeito. Entenderam o que eu quis dizer? Quando vocês assistirem ao filme, irão compreender melhor esta parte.
O cenário, a fotografia e os efeitos utilizados no filme são lindos, dando uma visão geral de toda selva a partir de planos feitos de cima para baixo (como se alguém tivesse tirado uma foto lá do céu).
Personagens
No geral, a história é boa, mas dá leves escorregadas com os personagens. Aqui, Alexander Skarsgard nos entrega um ótimo Tarzan e não consigo ver outro ator fazendo este papel. Mesmo acostumado à civilização, o personagem ainda apresenta traços de sua vida passada e isso é muito bem interpretado pelo ator (quando Tarzan mostra que não consegue esticar os dedos das mãos). No entanto, senti falta de diálogos mais consistentes e isso deixou o personagem, algumas vezes, um pouco duro e reprimido. Às vezes em que ele se soltava mais era quando estava ao lado de George Washington. Além disso, a verdadeira razão da briga entre Tarzan e o chefe Mbonga não é tão forte assim e isso nos faz lembrar um pouco dos motivos que levaram a briga no filme Batman vs Superman.
Margot Robbie nos entrega uma ótima Jane e sua química com Skarsgard é excelente. Aqui, temos uma Jane menos donzela, mais forte e audaciosa, mas, mesmo apresentando esses traços fortes, o filme retrata a personagem como “a mocinha que precisa ser salva”, uma vez que ela cai nas mãos do Capitão Rom. Pra mim, isso tirou um pouco graça da personagem, pois diminuiu essa força que a personagem trouxe lá no começo do filme. No entanto, isso não me fez gostar menos dela. É a melhor Jane que eu já vi até hoje.
Samuel L. Jackson faz o típico personagem que apoia o protagonista em todas as horas e suas cenas são ótimas. O alívio cômico do filme fica por conta de George Washington e, nas cenas de luta, o ator traz traços dos personagens interpretados nos filmes do Quentin Tarantino (Os Oito Odiados) e isso é bastante nítido.
Christoph Waltz traz uma boa carga de papeis em que ele é o vilão e isso só o ajuda neste filme. Assim como Samuel L. Jackson, Waltz também nos lembra de seu personagem Hans Landa (Bastardos Inglórios) e apresenta um Capitão Rom frio, irônico, violento e soberbo. O espectador sentirá raiva dele do começo ao fim.
Considerações finais
A Lenda de Tarzan surpreende por retratar outro lado da vida do personagem. Novamente, quero deixar claro que a trama não irá focar muito em seu passado e, talvez, algumas pessoas possam ficar frustradas com isso. No entanto, vale a pena assistir ao filme e apreciar as boas interpretações. A Lenda de Tarzan estreia nos cinemas nesta quinta-feira.
Ficha Técnica
A Lenda de Tarzan
Direção: David Yates
Elenco: Alexander Skarsgard. Margot Robbie, Samuel L. Jackson e Christoph Waltz
Duração: 1h50min
Nota: 8,9