Dando continuidade à safra 2022 de produções brasileiras da Netflix, De Volta aos 15 é a mais nova série do streaming que, na minha opinião, não é perfeita, mas é um acerto em termos de história adaptada e elenco. A série traz leveza e diversão em uma trama adolescente que aborda viagem no tempo e nostalgia, elementos que vem conquistando o coração de muitas pessoas e, desta vez, não fica a desejar, apesar de uma ressalva e outra. Vou te dizer o porquê vale a pena dar o play para conhecer esta história.
Baseado no livro homônimo da autora Bruna Vieira (youtuber e influenciadora digital), De Volta aos 15 irá transportar todos para 2006 ao acompanhar a divertida história de Anita e seu processo de autodescoberta e amadurecimento.
Assim, a série inicia com Anita (Maisa) com 15 anos sonhando em se tornar adulta e independente para, logo, realizar o seu sonho de deixar a pequena cidade Imperatriz e viajar pelo mundo. Mas ao completar 30 anos, Anita (Camila Queiroz) percebe que as coisas não caminharam como imaginava. Atualmente, ela trabalha como assistente, não tem objetivos concretizados, mora sozinha em São Paulo e não sabe qual rumo tomar.
Em meio a essa crise existencial, Anita precisa criar forças para retornar à cidade natal para o casamento da sua irmã mais velha Luiza (Mariana Rios). Ao chegar lá, ela se depara com antigos colegas da escola na qual não se afeiçoava e ainda sofria bullying, exceto Henrique, seu melhor amigo, e sua prima Carol que, hoje, está casada com Eduardo, um dos piores caras da escola que, infelizmente, só piorou com o passar dos anos.
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Quando alguns eventos desastrosos acontecem na festa, Anita se refugia em seu antigo quarto e, ao ligar o computador, ela revisita sua antiga página de fotos (o famoso floguinho). Ao ativar o site, ela é automaticamente transportada, como mágica, para o primeiro dia no colegial, em 2006. Agora, com uma nova chance um tanto quanto inusitada, Anita via tentar consertar a vida de todos ao seu redor, mas há um pequeno detalhe: cada mudança feita no passado impacta o futuro de todos, inclusive o dela, e nem sempre para melhor.
Com o total de seis episódios, o Pipoca na Madrugada assistiu aos quatro primeiros episódios e já pode afirmar que o primeiro acerto é De Volta aos 15 ser uma série curta tanto na quantidade de episódios quanto no tempo de duração (35 a 40 minutos no total), fazendo o espectador engrenar em uma trama leve e divertida que saber prender a atenção.
Toda a história ganha dinamismo por apresentar uma narrativa não-linear bem construída entre passado e futuro (2006 e 2021) em que ora acompanhamos as peripécias da protagonista versão adolescente; ora vemos Anita colher os frutos nos dias atuais de um passado modificado, indo e voltando no tempo para mover uma peça e outra a fim de que sua vida e das pessoas ao redor fique o mais perfeito possível, mas claro que, viajar no tempo e mexer em algo já concretizado não é nada fácil e ainda pode ser muito perigoso.
Sem dúvidas, o ponto alto e que faz tudo acontecer nesta história é a viagem no tempo que, a princípio, acreditei que manteria a protagonista presa no passado a temporada inteira, retornando aos dias atuais apenas na reta final. No entanto, a série surpreende justamente por fazer a protagonista ir e voltar no tempo para mostrar justamente os efeitos colaterais de cada mudança, confusão, erro ou ideia precipitada realizada no passado.
E como tal viagem no tempo acontece? Através do antigo site de fotos, conhecida por floguinho. Cada vez que Anita acessa e posta uma foto em sua página, a modificação acontece e ela vai tanto ao futuro para ver qual mudança ocorreu, ou retorna ao passado, no corpo adolescente, para dar continuidade ao seu plano ou corrigir os seus erros, uma ideia simples e que faz total sentido dentro da história.
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Aliás, De Volta aos 15 aproveita a viagem no tempo para mergulhar o público na nostálgica era dos anos 2000, com direito a CD’s, bichinho virtual (naquela época havia voltado), aparelho MP4, os figurinos e acessórios e, é claro, a febre do momento: as páginas de fotos (lembram do Fotolog?) e o famoso ORKUT e suas icônicas comunidades, um dos pontos altos de quem viveu a adolescência nesta época, e se você viveu, com certeza irá se lembrar e a nostalgia baterá forte e positivamente.
Um ponto que não posso deixar de falar é a construção do texto que, novamente, temos um roteiro recheado de diálogos com frases de efeito que soam forçados demais. Talvez estas frases se encaixem melhor no livro, mas ao transportar para o audiovisual, o uso em excesso é cansativo, maçante e torna as atuações robóticas. Isto é um erro muito comum em séries brasileiras (algo que não vemos tanto nos filmes e nas novelas) e que deveriam reavaliar tal detalhe.
Quem é Anita?
Por mais divertido, nostálgico e surreal que seja viajar no tempo, o principal ponto da história de De Volta aos 15 é descobrir quem realmente Anita é e discutir sobre as escolhas que cada um faz e como interferir no destino alheio pode ser prejudicial ou não.
Em boa parte da série, Anita é interpretada por Maisa, que mostra evolução em sua performance a cada produção. Gosto muito da atriz e, na minha opinião, ela foi uma boa escolha para o papel na qual ela entrega uma Anita extremamente sincera nas palavras, um ponto forte da personagem bastante usado como uma nova chance de fazer a coisa certa, se impor mais e não abaixar a cabeça para os outros pisar. No entanto, tal sinceridade também pode ser vista como algo negativo que faz a protagonista enfiar os pés pelas mãos, dar palpites e opiniões não bem-vindas e tomar decisões pelos outros, o que faz as consequências serem bastante desagradáveis, como mostra a sequência com Carol (Klara Castanho), uma vez que Anita faz a prima flagrar o seu crush Eduardo beijando outra e, consequentemente, ser atropelada. Para mim, esta é um dos maiores erros cometidos por Anita, já que ela coloca a vida de outra pessoa em risco, mesmo que não tenha sido esta a verdadeira intenção.
Tal erro é persistido com outros personagens, mas também é o que ajuda a desenvolver toda a história, seja na alteração do futuro, assim como o desenvolvimento, amadurecimento e evolução da protagonista, que é um dos pontos principais da série.
A relação de Anita com todos os personagens flui muito bem, mas a maiores químicas são com o melhor amigo Henrique (Caio Cabral) que, por sinal, nutre um amor singelo por ela, criando o mistério se os dois ficarão juntos no final ou não; com o amigo César, e, é claro, com o pai (Felipe Camargo), que já é falecido no futuro e, agora no passado, Anita tem a oportunidade de se reconectar com ele novamente. Apesar ter apenas uma cena dos dois nestes quatro episódios, espero que a série entregue momentos mais bonitos desta dupla até o final, uma vez que a figura paterna sempre foi forte e importante para a protagonista que, no momento, necessita de um guia especial como ele. Acredito que o pai será crucial na mudança final de Anita. Vamos aguardar.
Já no futuro, em 2021, acompanhamos a versão de Anita interpretada por Camila Queiroz, que está confortável no papel e entrega uma atuação satisfatória. No entanto, gostaria que a série mostrasse a protagonista desfrutando mais dos efeitos colaterais ocorridos pelas mudanças que ela faz no passado, e não apenas citar o que foi modificado ou não. Quando vocês assistirem vão entender melhor.
Personagens coadjuvantes
Todos os personagens coadjuvantes são bons e têm o seu destaque na série no momento certo, seja o núcleo familiar com a mãe e a irmã Luiza (Amanda Azevedo), que percebem mudanças no comportamento dela e como isso atinge elas também, especialmente a irmã que passa a olhar para os lados e a abrir seu leque de oportunidades, deixando de ser apenas a garota perfeita, que faz tudo e deixa todos orgulhosos. Já a mãe (Luciana Braga) não é tão bem explorada até este quarto episódio, infelizmente.
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Toda a confusão de De Volta aos 15 se concentra no núcleo escolar, seja com a amizade com Henrique e o amor que ele sente por Anita; a prima Carol, que fica magoada com as atitudes da protagonista; César (Pedro Vinicius), um dos meus personagens favoritos e que tem um background interessante na história ao tratar sobre sexualidade e identidade de gênero. A amizade dele com Anita e os demais flui muito bem e gostaria que a série mostrasse mais o futuro dele, como já vimos em uma mudança quando ele passa a ser Camila, uma mulher trans e melhor amiga de Anita em 2021.
Já o trio tóxico da escola é composto por Fabrício, Eduardo e Joel que, na primeira versão do futuro, vemos que ninguém mudou muito, continua na mesma. À medida que Anita modifica o passado, eles passam a sofrer pequenas transformações e certo amadurecimento, como Fabricio (João Guilherme), que é apaixonado pela irmã da Anita, mas ainda não aceita o jeito do seu irmão César, um ponto que torço para série mostrar o destino deles.
Joel (Antonio Carrara) é o que mais se transforma quando as palavras de Anita lhe atingem, observando e analisando quem realmente é seu amigo ou não, o que faz ele se aproximar cada vez mais de Anita e, consequentemente, modificar o seu futuro também. Porém, à medida que os dois se conectam, a série dá a entender que Joel sabe algo a mais sobre viagem no tempo. Será que ele esconde algo? Ou seria apenas uma coincidência pelo fato dele gostar deste assunto? Vamos aguardar a reta final da história.
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Dos três, o que menos evolui é Eduardo (Gabriel Wiedemann) que, na minha opinião, é um dos piores personagens, seja na construção caricata, na risada ridícula e nas atitudes babacas na fase adolescente e adulta. Será que ainda há salvação para ele?
Considerações finais
De Volta aos 15 apresenta uma história teen em uma viagem no tempo nostálgica que reflete sobre escolhas, amadurecimento, autodescoberta e evolução em que, talvez mudar o passado não seja a chave para a solução dos problemas e, sim, as escolhas certas a partir do momento em que decide realmente agir para construir um caminho melhor.
Todo o elenco é bom e satisfatório, com destaque para Maisa que segura as pontas do início ao fim, assim como Camila Queiroz em uma versão adulta em fase de amadurecimento, colhendo o que está plantando novamente. Com uma ressalva ou outra, De Volta aos 15 é uma série leve e deliciosa de assistir, tornando-se mais um acerto da Netflix.
Ficha Técnica
De Volta aos 15
Adaptação do livro de Bruna Vieira
Direção: Vivi Jundi e Dainara Toffoli
Roteiro: Janaina Tokitaka, Renata Kochen, Alice Marcone e Bryan Ruffo
Elenco: Maisa, Camila Queiroz, Klara Castanho, João Guilherme, Caio Cabral, Pedro Vinícius, Gabriel Wiedemann, Antônio Carrara, Amanda Azevedo, Lucca Picon, Pedro Ottoni, Fernanda Bressan, Mariana Rios, Bruno Montaleone, Alice Marcone, Breno Ferreira, Yana Sardenberg, Gabriel Stauffer, Rafael Coimbra, Fabricio Licursi, Kiko Vianello, Felipe Camargo e Luciana Braga.
Duração: 6 episódios (35 a 40min aprox.)
Nota: 3,0/5,0 (4 primeiros episódios)