Após 36 anos, o clássico de ação do cinema dos anos 80 ganha uma sequência superior e modernizada sem deixar de enaltecer as suas origens. Top Gun: Maverick entrega uma trama simples que carrega suas raízes nostálgicas com uma contemporaneidade sutil atingindo o seu público-alvo que, um dia, se apaixonou pelo filme e, agora, retorna de forma saudosista para contemplar o espetáculo visual, trilha sonora impecável, um elenco bem escalado e um protagonista que ficou melhor com o passar dos anos. Se puder, assista este filme na maior tela possível do cinema, pois a imersão é garantida e as expectativas serão satisfeitas, especialmente para quem gosta deste estilo filme.
Com direção de Joseph Kosinski, Top Gun: Maverick já começa com intensidade e fôlego bem do jeito rebelde do protagonista Pete Mitchell, mais conhecido por seu codinome Maverick, quebrando regras e fazendo o que ama cujo talento até sobra: pilotar e atingir limites perigosos que nem todos tem a coragem de se submeter a tal desafio.
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Mas agora, depois de anos fazendo a mesma coisa, Maverick é novamente designado ao posto de instrutor de um grupo de graduados TOP GUN para uma missão especializada da qual nenhum piloto vivo jamais participou. É neste treinamento que vê novamente Bradley Bradshaw, conhecido por Rooster, filho do falecido amigo Nick Bradshaw, o eterno Goose, personagem do primeiro filme. É a partir daqui que Maverick viverá impasses, reviverá o passado e lidará com sentimentos mal resolvidos enquanto decide quem realmente é capaz de fazer parte desta missão na qual a meta é uma só: voltar para casa vivo.
É o belo conjunto da obra que torna o filme ótimo, pois cada peça é trabalhada com êxito na qual alguns detalhes são ousados enquanto outros se mantém na base da simplicidade sem querer criar uma expectativa que não seria alcançada.
Em termos técnicos, Top Gun: Maverick entrega um espetáculo visual que prova que efeitos computadorizados podem ser muito bem feitos, além do uso das câmeras e a ousadia na performance dos ângulos e das filmagens que resultam em sequências fascinantes de serem vistas tanto em uma sala IMAX, cujo impacto será maior, mas até mesmo visto em uma tela menor não diminui a sensação gostosa de estar assistindo um bom filme.
Tanto as câmeras com close nos personagens, um ponto bastante usado aqui, quanto os ângulos das filmagens que acompanham as acrobacias dos aviões dão uma experiência de imersão ao espectador como se estivesse pilotando junto.
Outro ponto técnico que complementa o visual destas cenas deslumbrantes é a fotografia combinada com uma paleta de cores que mescla tons de amarelo, azul e verde, principalmente quando contrasta com a imagem do personagem que escurece deixando apenas o seu contorno no meio de um cenário amplo e bonito, como se fosse uma pintura. Além disso, nota-se certa diferença nas cores e saturação de cenas IMAX a fim de tirar o público desta imersão para levá-lo de volta à história do filme. Entendem o que quero dizer?
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Saindo da parte técnica, Top Gun: Maverick também acerta no tom do texto ao entregar uma narrativa que se conecta bem com o primeiro filme, trazendo de volta raízes nostálgicas que afeta os sentimentos e certas decisões do protagonista. Mais do que isso, o filme entrega com sutileza uma contemporaneidade na medida certa sem deixar de lado o estilo masculinizado – seja o corpo e até mesmo nos diálogos – que, querendo ou não, atraiu grande público nos anos 80 e, agora, quer trazer este mesmo público para esta sequência, enquanto os elementos mais joviais, inclusive o próprio elenco, tem como papel atrair um público mais jovem. Uma coisa é certa: se você gosta do primeiro filme, vai gostar desta sequência. Mas caso este não seja o estilo de filme que se encaixa no seu gosto, talvez o segundo filme também não caia, mas pode te surpreender.
Com relação aos personagens, todo o elenco é bom, tem o encaixe perfeito em seus papéis, alguns se destacam um pouco mais que os outros, mas todos tem o seu espaço de tela. Mas Top Gun: Maverick é carregado por Tom Cruise que retorna ainda melhor provando que o tempo só é vantajoso ao ator.
Maverick é ultra experiente na profissão com talento para dar e vender, em que sua rebeldia o leva a patamares extraordinários e a realizações que pouquíssimos pilotos alcançaram. É sua ousadia e façanha que o torna excelente aos olhos dos outros, mesmo que isso irrite superiores e quebre regras.
No entanto, são as raízes nostálgicas de Top Gun que trazem vulnerabilidade ao protagonista, que relembra a morte do melhor amigo Goose e o que ele poderia ter feito no passado. Esta avalanche de sentimentos cai em suas costas ao encontrar Bradley ‘Rooster’ Bradshaw (Miles Teller), que deseja seguir os mesmos passos que o pai, mas guarda dor, rancor e sentimentos mal resolvidos com Maverick, que teme que o jovem tenha o mesmo fim trágico que o melhor amigo, o que faz Maverick pensar, guardar informações e ficar com o pé atrás até o instante em que percebe que as dores e lembranças precisam ser deixadas para trás. A química de mentor e aluno de Cruise e Teller é boa, tocante e divertida, o que vai agradar a maioria.
Aliás, todo o elenco é bom com destaque para Jennifer Connelly como Penny, o par romântico de Maverick que, aliás, a atriz está maravilhosa neste filme; Glenn Powell como Hangman, um piloto autossuficiente e cheio de si, o que faz ele ser babaca em certas horas, mas também reconhece quando está errado ou alguém é tão bom quanto ele; Monica Barbaro é Phoenix, a piloto mulher que integra o time e não fica por baixo em momento algum, mostrando humildade e inteligência; Jon Hamm como o tenente Cyclone, que bate de frente com Maverick por conta da quebra de regras e dos riscos em que o grupo é colocado; e a participação especial de Val Kilmer como Iceman, que traz um tom melancólico e reflexivo ao protagonista e como serão seus próximos passos quando, de fato, o passado for deixado para trás.
Considerações finais
A reta final de Top Gun: Maverick é frenética em duas sequências eufóricas que faz o público ficar tenso e atento sobre o destino de cada personagem, resultando em um desfecho simplesmente bonito, nostálgico e digno.
Top Gun: Maverick se torna belo por cada peça da obra ser trabalhada com carinho, seja a conexão nostálgica com o primeiro filme e a história simples, o elenco bem escalado com química de ponta; técnicas muitíssimo bem feitas como fotografia, trilha sonora do excelente Hans Zimmer, ângulos ousados e filmagens acrobatas que dão imersão ao público e, é claro, um Tom Cruise melhor do que nunca, entregando um protagonista maduro, vulnerável e ainda rebelde.
Top Gun: Maverick é um ótimo filme e, mesmo que não seja o seu estilo, tente dar uma chance. Talvez a surpresa seja positiva.
Ficha Técnica
Top Gun: Maverick
Direção: Joseph Kosinski
Elenco: Tom Cruise, Miller Teller, Jennifer Connelly, Glen Powell, Monica Barbaro, Lewis Pullman, Jay Ellis, Danny Ramirez, Jennifer Connelly, Jon Hamm, Ed Harris, Val Kilmer, Charles Parnell, Bashir Salahuddin, Greg Tarzan Davis, Lyliana Wray, Manny Jacinto, Jake Picking e Jean Louisa Kelly.
Duração: 2h11
Nota: 3,9/5,0