Após o grande sucesso de crítica, fãs e bilheteria de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, o próximo filme mais aguardado da Marvel é Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (Doctor Strange in the Multiverse of Madness) e posso dizer que a espera vale a pena, mas talvez as expectativas diminuam por conta dos prós e contras do filme, na qual a direção, o elenco, cenários, os efeitos especiais, toques de horror, lutas e as dinâmicas são boas, mas o roteiro fica um pouco a desejar.
******SEM SPOILERS******
Com direção de Sam Raimi (primeira trilogia Homem-Aranha), Doutor Estranho no Multiverso da Loucura se divide entre o pós evento de Sem Volta Para Casa e o pós evento de WandaVision, em que vemos o multiverso do MCU ser desbloqueado, expandindo os limites, o que torna tudo inusitado e diferente, ao mesmo tempo que o nível de periculosidade cresce cada vez mais.
Neste novo capítulo vemos Doutor Estranho – com a ajuda de novos e antigos aliados místicos – atravessar realidades alternativas alucinantes e perigosas para enfrentar um novo e misterioso adversário. As primeiras perguntas que surgem na nossa cabeça é: O que está acontecendo? O que Stephen Strange está sonhando? Como é possível conhecer outras realidades? Quem abriu estas portas ao multiverso? Essas perguntas e outras ganham respostas na história, no entanto, é o desenvolvimento delas que podem dividir opiniões.
No entanto, ver Doutor Estranho é fundamental para conhecer o personagem e é imprescindível assistir a minissérie WandaVision, uma vez que os eventos finais se tornam o gatilho para o desenvolvimento da personagem Wanda/Feiticeira Escarlate nesta nova trama.
Antes de mais, para entender melhor toda ambientação e o contexto do filme, recomenda-se ter assistido algumas produções da Marvel como Doutor Estranho, a série animada What If, uma vez que há referências dentro do filme e o mais recente Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa. É obrigatório assistir todos? Não, acredito que seja possível entender a trama (nada que um Google não possa ajudar), mas caso já tenha assistido estes títulos, a compreensão será ainda melhor, uma vez que as referências ficarão mais evidentes para quem tem mais conhecimento às outras histórias.
Sendo assim, o filme se inicia introduzindo a personagem America Chavez ao lado do Doutor Estranho do seu universo em busca de uma solução para combater o demônio que deseja sugar o poder da garota. America pode viajar entre os universos e, com isso, ela acaba caindo no universo do nosso Doutor Estranho.
Interpretada por Xochitl Gomez, America ganha um bom desenvolvimento no filme com direito a um passado contado, a tristeza que marcou a sua vida, o poder que a coloca em perigo, ao mesmo tempo que a faz ter um vasto conhecimento sobre o multiverso, iniciando uma troca de ideias, conceitos e aprendizados com Stephen Strange, o que faz esta dupla fugir do estereótipo de mentor e aprendiz. Além disso, é esta nova parceria que dá o primeiro gatilho às consequências do filme.
Para entender melhor sobre os segredos do multiverso e como ele funciona, Strange pede ajuda à Wanda que, agora, é a Feiticeira Escarlate, a mais poderosa do MCU e que pode contribuir nesta nova empreitada. Com isso, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura apresenta uma narrativa que se divide em subtramas levando ao grande ápice da história na reta final. Enquanto o público acompanha Strange e America descobrindo o multiverso em busca de uma solução para o mal que se aproxima; do outro lado vemos o desenvolvimento da Wanda e as motivações que a fazem ter ações duvidosas, egoístas, perigosas e fatais, especialmente por ela ser a Feiticeira Escarlate.
Acredito que o maior problema do roteiro seja a real motivação de Wanda dentro do filme, um ponto que irá dividir opiniões. As ações da personagem são movidas pelo mesmo gatilho apresentado em WandaVision e, talvez, esta ideia repetida não seja o ideal que o espectador estava esperando ver no filme. Na minha opinião, faltam camadas para explorar uma personagem tão poderosa, um ponto confirmado nesta trama. Posso arriscar em dizer que o filme poderia ter explorado a loucura não só do multiverso em si, mas também como isso afetaria a Wanda em meio a tantas possibilidades infinitas que esse multiverso apresenta.
Mas tal problema consegue ganhar uma boa camuflagem pela excelente atuação de Elizabeth Olsen, muito bem extraída de Sam Raimi pela forma como ele a conduz na direção. O espectador consegue sentir medo das ameaças da Feiticeira Escarlate e o que ela pode fazer (e ela faz), assim como sente as dores profundas de uma Wanda esquecida no fundo de sua própria memória. É nítido os tropeços que o roteiro dá com a personagem, mas também é compreensível gostar da Wanda/Feiticeira por conta da entrega total da atriz neste papel.
O ator Benedict Cumberbatch continua excelente como Stephen Strange, confirmando mais uma vez que ele foi a escolha certa para o papel. Esta sequência consegue extrair mais da essência não só do super-herói em ação, como também dos seus sentimentos e da sua intimidade, especialmente quando se trata da Christine, o grande amor de sua vida, um ponto essencial à trama, uma vez que este sentimento é o que move as atitudes de diversas versões do Doutor Estranho pelo multiverso, adicionando referências à série What If, especialmente sobre o episódio focado neste personagem.
Aliás, o ator ganha um trabalho dobrado ao trazer outras versões do Doutor Estranho que, por sinal, são ótimas sendo possível até gostar de todos. Meus favoritos são as versões zumbi e sombria. Além disso, em um dado momento do filme, o público se depara com o trio Strange, America e uma das versões de Christine (Rachel McAdams), o que forma uma parceria bem interessante durante o ápice da reta final do filme.
Crítica: Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa
Não se pode falar de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura sem falar da ótima direção de Sam Raimi, que retorna aos cinemas dirigindo um filme de super-herói exatamente 20 anos após o lançamento do primeiro filme Homem-Aranha (com Tobey Maguire) dirigido por ele.
Sam Raimi se destaca pela forma como brinca com o jogo de câmeras, utilizando ângulos ousados e bons que, nem sempre vemos em filmes de heróis. Além disso, o diretor se destaca em outros pontos: o primeiro são os cenários que ganha identidades únicas e fortes para representar cada universo visitado, desde cores fortes e vibrantes até tons bem sombrios.
O segundo ponto forte de Raimi está nos efeitos especiais que, na minha opinião, são satisfatórios no geral, com destaque para a excelente cena em que os personagens atravessam os universos em uma sequência eufórica e alucinante muito bem feita em que cada universo ganha elementos e visuais próprios, o que faz parecer que estamos folheando um livro enquanto os personagens passam por todos eles. Além deste, há uma ótima cena de confronto entre dois doutores em que eles usam notas musicais de partituras para atacar, cujos efeitos e a trilha sonora se encaixaram com maestria.
Por último e o mais interessante é o toque especial de horror que Raimi injeta na trama, tornando Doutor Estranho no Multiverso da Loucura o primeiro filme de super-herói com elementos de terror. Este toque especial de horror não é assustador ao ponto de fazer o espectador levar um susto ou pular da cadeira, e sim, eleva a atmosfera sombria do filme, especialmente nas cenas protagonizadas pela Feiticeira Escarlate na qual ela tem o poder de entrar na mente das pessoas para manipular, ela aparece onde e quando você menos espera e não tem medo de atacar quando precisa.
Acredito que muitos anseiam pelas participações especiais que, de fato, acontecem no filme. No entanto, caso você tenha visto spoilers por conta do vazamento que ocorreu do filme na internet antes da estreia, isso pode, sim, interferir e afetar a sua expectativa, além de diminuir a graça. Falo isso por experiência própria, pois infelizmente tomei o spoiler, o que foi bem frustrante.
Considerações finais
Com relação ao final, o desfecho é grandioso, traz consequências positivas e negativas aos personagens, culminando em um final aberto e bom para um possível terceiro filme do Doutor Estranho. Há duas cenas pós-créditos, mas somente a primeira é importante.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura não tem um roteiro perfeito e a forma como o desenvolvimento é conduzido, por conta de certas motivações, pode dividir opiniões. Não é o melhor filme da Marvel e nem tão eufórico como foi Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, mas é um filme que apresenta um ótimo elenco cujas performances foram bem extraídas por uma direção bem feita que se destrincha entre vários pontos positivos como cenários, efeitos especiais, toques de horror e jogo de câmeras.
No fim das contas, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura apresenta prós em que o público aproveita muito bem e contras na qual não é possível fazer vista grossa e que poderiam ser melhores. Não é perfeito, mas é um filme bom e que acrescentará positivamente ao futuro do MCU.
******COM SPOILERS******
Em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, a real motivação de Wanda neste filme é ter os seus filhos de volta. Sendo assim, o longa usa os eventos finais de WandaVision em que Wanda já se tornou a Feiticeira Escalarte e, agora, estuda o livro mais perigoso, Darkhold, que guarda feitiços perigosos que, nas mãos erradas, pode destruir vários universos. Com isso, Wanda descobre que seus filhos – Billy (Jullian Hilliard) e Tommy (Jett Klyne) – existem em outros universos (lembram da cena em que ela escuta a voz deles na última cena de WandaVision) e, agora, ela deseja viajar pelo multiverso para encontrá-los e ficar com eles para sempre. Mas será que seria somente isso?
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É por conta desta obsessão que Wanda se torna a grande vilã do filme, já que ela é a responsável por colocar monstros para capturar America, a fim de sugar o poder da garota que, consequentemente, irá matá-la. Tal reviravolta acontece logo no começo, quando Stephen Strange pede ajuda à Wanda e descobre as verdadeiras intenções da personagem, iniciando um embate entre os dois a fim de proteger o multiverso e, é claro, a America.
É esta motivação de Wanda que faz ela ter atitudes irremediáveis e perigosas, um ponto que alguns podem não curtir, uma vez que o filme aproveita de novo a dor intensa do luto de Wanda para desenvolvê-la nesta trama, algo que já foi visto em WandaVision. Até poderiam usar o luto da personagem, mas acredito que o desenvolvimento poderia ter ganhado caminhos diferentes como disse anteriormente.
Outro ponto interessante a se saber é que os sonhos de Stephen Strange nada mais são do que visualizações e descrições de suas outras versões em outros universos, o que faz ele compreender que o multiverso existe e a razão para America ter aparecido em seu caminho.
Durante os embates com a Feiticeira Escarlate, Strange e America vão para outro universo em que o Doutor Estranho deste mundo já está morto, que se sacrificou para derrotar o Thanos. Em seu lugar, ficou Mordo (conhecido lá no primeiro filme), o mais novo Mago Supremo, que afirma que o grande perigo não é a Feiticeira Escarlate e, sim, o próprio Doutor Estranho, já que ele sempre está propenso a seguir o mesmo destino de fazer um feitiço proibido para salvar, colocando todos em perigo.
O Doutor deste novo universo abusou dos poderes, o que obrigou o grupo Iluminatis a sacrificá-lo em nome de um bem maior, colocando sua imagem como herói para as pessoas, uma decisão hipócrita no fim das contas, mas que seria melhor aceita por todos.
O grupo Iluminatis foi criado por Doutor Estranho a fim de que alguém pudesse tomar as decisões mais difíceis quando ninguém conseguisse. É aqui que as participações especiais acontecem, pois o grupo é formado por Mordo (Chiwetel Ejiofor), Raio Negro (Anson Mount) da série Inumanos, Maria Rambeau (Lashana Lynch) como a Capitã Marvel, a Capitã Carter (Hayley Atwell) (outra referência à What If), o tão aguardado Reed Richards (Senhor Fantástico) do Quarteto Fantástico, interpretado por John Krasinski e o já esperado Professor Charles Xavier (Patrick Stewart).
No entanto, a melhor reviravolta acontece neste momento, pois a Feiticeira Escarlate consegue manipular a mente da Wanda deste universo, fazendo ela invadir o local e iniciar um embate sangrento e fatal com o grupo Iluminatis em que ela mata todos eles. Sim, a Wanda é implacável e mata cada membro de um jeito macabro e irônico nas palavras, incluindo o professor Xavier que entra em sua mente para resgatar Wanda e acabar com este mal, mas a força mental da Feiticeira fala mais alto e ela o elimina friamente. Aliás, esta cena dos dois dentro da mente de Wanda é fenomenal.
O filme aplica mais elementos de horror durante a perseguição com Strange, America e Christine, uma vez que Wanda ganha uma aparência de zumbi, até visto nos trailers.
Finalmente ao colocar as mãos em America e levá-la de volta para o atual universo, Stephen Strange não vê outra saída a não ser manipular sua versão já morta (a primeira que aparece no filme) para impedir que a Feiticeira sugue o poder da garota. A versão zumbi de Doutor Estranho é muito boa.
No embate final, America não mata a Feiticeira (nem poderia, né?), mas faz os filhos dela verem quem ela realmente é, causando comoção e remorso na personagem por não querer ser mais este monstro. Com isso, a Feiticeira destrói todos os livros Darkhold dos universos e fica presa quando esta destruição acontece. Mas será que ela morreu? Eu tenho certeza que não. Ela apenas fica mantida presa.
O final de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é marcado pela salvação de America que, agora, se torna uma das alunas de Wong e treina para controlar seu poder para, um dia, poder rever suas mães que se perderam no multiverso por conta de um acidente quando America ainda era pequena e soltou o poder sem querer.
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No entanto, as ações trouxeram consequências para Stephen Strange que, agora, também tem o terceiro olho, que pode ser conhecido como Olho de Agamotto. Este olho tem o poder de buscar e revelar a “verdade”, emitir a “luz”, reproduzir eventos recentes, coisas sobrenaturais e acompanhar o corpo do usuário em estado astral. Ainda não sabemos como este olho funcionará dentro da história do personagem. Vamos aguardar.
Cenas pós-créditos
A primeira cena pós-crédito de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura traz a aparição da nova personagem Clea, interpretada pela atriz Charlize Theron, estreante no universo cinematográfico Marvel. Pelas pesquisas, Clea é a sobrinha de Dormammu, mas a cena não revela mais detalhes, apenas mostra ela pedindo ajuda a Doutor Estranho em um dos universos sombrios. E isso dá gancho para o novo filme do Doutor Estranho, uma vez que no final é confirmado que ele irá retornar.
A segunda cena é boba e só será engraçada de acordo com o humor de cada um. Na cena, vemos o vendedor de rua se socando por conta do feitiço que Stranger jogou nele. Agora, ele finalmente para de se bater e grita ‘ACABOU’ e o filme acaba. Uma cena até divertida e patética.
Ficha Técnica
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
Direção: Sam Raimi
Elenco: Benedict Cumberbatch, Elizabeth Olsen, Xochitl Gomez, Rachel McAdams, Benedict Wong, Chiwetel Ejiofor, Julian Hilliard, Jett Klyne, Patrick Stewart, Michael Stuhlbarg, Hayley Attwell, John Krasinski, Anson Mount, Bruce Campbell, Lashana Lynch e Charlize Theron.
Duração: 2h6min
Nota: 3,0/5,0