Se o terror Sorria (Smile) agradou em 2022, Sorria 2 (Smile 2) irá conquistar ainda mais o público e a crítica. A sequência intensifica o terror psicológico construído a partir da mitologia sobrenatural apresentada anteriormente; apresenta cenas mais escatológicas aos estilos ‘gore’ e ‘body horror’ sem ser gratuito; jump scares ainda mais eficazes; um roteiro bom que que conecta com o primeiro filme e usa da mesma fórmula, enganando o espectador novamente; e uma protagonista que transmite com maestria as aflições e uma agonia intensa ao público. Vale a pena assistir e vou te dizer o porquê.
Dirigido por Parker Finn – que acerta e melhora mais a sua direção – Sorria 2 acompanha a cantora e estrela pop Skye Riley, que vive a vida dos sonhos, com dinheiro, fama e a admiração dos fãs.
Mas nem tudo foram e são flores para Skye. Ela retorna aos holofotes após um ano do trágico acidente, que a deixou com sequelas no corpo, além da perda do namorado Paul Hudson, um ator de sucesso. Decidida a engrenar a carreira novamente e focar nos objetivos, Skye volta aos ensaios preparando-se para a tão aguardada turnê mundial.
No entanto, as fortes dores nas costas tiram sua concentração, o que a faz procurar pelo amigo Lewis Fregoli (Lukas Gage) para conseguir uma ajudinha. Mas ao ir na casa do colega, Skye presencia a terrível morte do amigo, cujo rosto estava marcado pelo famoso sorriso macabro. Desesperada, ela sai correndo do apartamento, para que sua imagem não seja manchada com uma morte repentina e misteriosa.
A partir daí, Skye começa a ser perseguida por este sorriso, confirmando que é a mais nova vítima amaldiçoada. Enquanto ela se desespera com as coisas que acontecem diante de seus olhos, sem saber o que é real ou não, a cantora pop precisa descobrir o que realmente está acontecendo e encontrar uma solução antes que a turnê mundial comece.
Sorria 2 entrega uma sequência inicial que conecta perfeitamente com o final do primeiro filme, uma vez que vemos que o policial Joel (Kyle Gallner) foi o último a receber a maldição. Assim, acompanhamos o personagem tentar se livrar desta corrente, culminando em um desfecho catastrófico e, consequentemente, confirmando que ainda não há uma solução encontrada para dar o fim a este ser sobrenatural.
E assim, temos o engate para a história a ser desenvolvida em Sorria 2. O primeiro ponto positivo desta sequência é que tudo o que foi visto no primeiro filme é intensificado aqui, como o terror psicológico – que era mais comedido – solta o freio intencionalmente para tornar a aflição e agonia da protagonista bastante palpável, o que funciona muito bem, pois o espectador consegue o mesmo enquanto não desgruda os olhos da tela e dá rápidas e constantes encolhidas na cadeira.
Novamente o imaginativo do público é atingido e sacaneado com a mesma fórmula já apresentada. Em vários momentos, Sorria 2 entrega cenas e diálogos que brincam com a realidade que, somente mais a frente, é possível descobrir se determinada cena aconteceu de verdade ou não. E já adianto que o filme destrincha estes acontecimentos, sem mastigar os detalhes, instigando a interpretação do espectador para tal entendimento. Ou seja, parece que a história não explica, mas explica sim.
E se a atmosfera do horror psicológico é intensificada, é graças ao bom trabalho dos jump scares e cenas escatológicas não gratuitas. A construção do susto faz com o que o espectador mergulhe na situação para compreender o que Skye está sentido e pensando; procure por algo estranho naquele cenário atual; fique apreensivo com o que pode acontecer ou não, para assim, o susto dar aquele choque instantâneo, despertando o medo relativo para cada um.
Além disso, há mais cenas sangrentas em que o filme explora mais do gore e body horror para desenhar os efeitos colaterais de quem sofre deste mal do sorriso.
Sorria 2 não entrega uma investigação minuciosa a respeito do mecanismo que este sobrenatural funciona, uma vez que isso foi feito no primeiro filme. Pelo contrário, a sequência desenha este rastro de sangue enquanto explora e brinca com a sanidade mental da protagonista diante deste horror, revelando o trauma sofrido por Skye, além de apresentar tanto para a vítima quanto ao público uma possível solução para acabar com este ser maligno de uma vez por todas.
E o toque especial que faz tudo funcionar é a atriz Naomi Scott, que rege muitíssimo bem esta orquestra de horror, em uma atuação dilacerante que cresce gradualmente na brutalidade à medida que ela se vê mergulhada em meio ao terror.
Naomi Scott apresenta Skye Riley em meio a uma recuperação ao vício e ao trágico acidente, resultando em um transtorno psicológico e cicatrizes, o que a afeta a autoestima, já que seu corpo é um instrumento fundamental à sua carreira. Além disso, as dores dificultam a rotina, uma vez que não pode ingerir remédios mais fortes por conta do vício.
Naomi torna cada passo de sua personagem natural e real, seja no retorno aos holofotes, os ensaios com os dançarinos, a rotina agitada com empresários, produtores e assistentes, incluindo a relação pessoal e de trabalho com a mãe (Rosemarie DeWitt), que cronometra a agenda da filha, ciente de tudo o que já aconteceu.
Conforme Sorria 2 coloca a protagonista nesta corrente amaldiçoada, vemos o glamour da cantora pop ganhar contornos sombrios e alucinantes, criando uma linha tênue entre o real e imaginativo, afetando também a dinâmica da protagonista, seja na amizade entre Skye e a melhor amiga Gemma (Dylan Gelula), a interação com os fãs, suas apresentações em eventos, a preparação para a turnê, entre outras coisas.
Novamente o filme utiliza a figura icônica do mal na forma de um ente querido ou amigo da vítima, junto com um sorriso longo e um olhar inclinado. Mas esta sequência melhora este ponto ao revelar sua verdadeira faceta na reta final, por pouquíssimo tempo a fim de não tirar a graça, que está em se esconder no rosto dos outros. Aliás, a sacada final que acontece no embate entre protagonista e entidade é genial e assustadora.
FINAL EXPLICADO ***COM SPOILERS***
O mal pode ser quebrado?
Com a protagonista cada vez mais sufocada com o sorriso que lhe atormenta, Sorria 2 apresenta uma possível solução para quebrar esta corrente e destruir tal entidade maligna de uma vez por todas.
Skye vê uma possível luz no fim do túnel ao receber ajuda de Morris (Peter Jacobson), um enfermeiro que viu seu irmão passar pela mesma situação. Ele revela que a entidade sobrevive em um corpo hospedeiro vivo, passando para o próximo quando já desfrutara de tudo da vítima, levando-a à morte.
Para quebrar a corrente e destruir o mal, é necessário matar temporariamente o hospedeiro para que a energia vital à entidade maligna seja dizimada. Assim, é sugerido parar o coração de Skye, retornando à vida em 8 a 9 minutos, tempo suficiente para matar o mal.
No entanto, Skye recusa a ajuda de primeira, fechando uma porta que salvaria sua vida, uma vez que ela já estava infectada há três dias. A partir desta recusa, o filme engana o espectador, pois tudo o que acontece com a protagonista é fruto da imaginação dela, realizada pela maldição.
Ou seja, ela não reata a amizade com Gemma; ela não ataca a mãe; ela não reencontra com Morris, muito menos consegue injetar o remédio que irá parar o seu coração.
Tudo isso é uma grande brincadeira do sorriso maligno, que leva a protagonista ao ápice final: Skye Riley finalmente dá início a turnê mundial, mas coloca um fim em sua vida: ela comete suicídio no palco, ao vivo, na frente de todos os fãs, repassando a maldição para milhares de pessoas. No entanto, apenas quem tiver um trauma forte no passado e esteja vulnerável a isso, será oficialmente amaldiçoado pelo sorriso maligno.
A corrente se mantém firme, mas uma solução para quebrá-la é apresentada nesta sequência, o que deixa portas abertas para um possível 3º filme que dará o ponto final a esta história.
Considerações finais
Sorria 2 explora a mitologia sobrenatural introduzida no filme original, assim como intensifica o terror psicológico com bons jump scares e cenas escatológicas apropriadas à proposta.
A trilha sonora emoldura o roteiro bom e eficaz, conectando-se ao primeiro filme sem criar uma forte dependência, apoiando-se ao que já foi visto sem precisar repetir explicações. O conjunto da obra ganha o toque especial de Naomi Scott em uma atuação pé no chão, dilacerante e brutal.
Se você gostou de Sorria, esta sequência cairá em sua graça também.
Ficha Técnica
Sorria 2
Direção: Parker Finn
Elenco: Naomi Scott, Lukas Cage, Rosemarie DeWitt, Kyle Gallner, Dylan Gelula, Ray Nicholson, Drew Barrymore, Peter Jacobson, Raúl Castillo, Miles Gutierrez-Riley, Iván Carlo e Delphi Harrington.
Duração: 2h7min
Nota: 4,0/5,0