Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (Black Panther: Wakanda Forever) chega aos cinemas para retratar o futuro de Wakanda após os eventos cruciais na Marvel e, é claro, na vida real. É um filme que encerra a fase 4 do MCU, ao mesmo tempo que é um longa de transição à fase 5. Mas, mais do que isso, a produção faz uma emocionante homenagem ao ator Chadwick Boseman, entrega o destino do personagem Rei T’Challa e direciona para quem carregará o manto de Pantera Negra, em meio aos novos desafios e um novo inimigo a frente.
Apesar da carga emotiva, dos bons efeitos especiais, lindos cenários e personagens fortes, o roteiro entrega facilidades questionáveis para as circunstâncias acontecerem, um ponto que dividirá opiniões sim. Ainda assim, o longa não deixa de ser bom e ter um desfecho sensível abrindo portas para um novo futuro.
Com direção de Ryan Coogler, impossível não falar de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre sem se lembrar de Chadwick Boseman, grande protagonista da trama que, infelizmente, faleceu em 2020 em decorrência de um câncer, um segredo que foi apenas revelado a todos no dia de sua morte. Com esta grande perda, a Marvel decidiu seguir em frente com a sequência do longa de 2018, dando uma nova vertente à história para direcionar o futuro de Wakanda e saber quem continuará com o legado do protetor do reino.
O filme inicia com Shuri tentando salvar a vida do irmão que, infelizmente, morre de uma doença desconhecida, seguindo para uma sequência visualmente estonteante e triste do funeral do T’Challa e a dor da família e de uma cidade que perde o seu filho e rei. A abertura da Marvel Studios é diferente, sem música e apenas com imagens do protagonista em homenagem à Chadwick, o que é quase impossível não se sensibilizar aqui.
Dito isso, Pantera Negra: Wakanda Para Sempre deixa claro que o público acompanhará uma trama que se desenvolve na base do luto e da superação, afinal, como ser indiferente com a perda de um grande ator na vida real e protagonista do filme?
Com isso, vemos Wakanda expor a vulnerabilidade diante da perda do seu protetor, mas sem deixar de ter força, enquanto lida com os problemas com o mundo exterior que desejam colocar as mãos na valiosa Vibranium, algo que a rainha Ramonda impede de que caia nas mãos erradas, sem esquecer da aliança que seu filho fez ao ajudar o mundo.
Internamente, o público se depara com as dores da família com a perda do rei/filho/irmão, especialmente pelos pontos de vista de Ramonda e Shuri, que não aceita a morte do irmão, carrega a culpa de não conseguir salvá-lo, e ainda, passa a nutrir o sentimento de vingança quando Wakanda é atacada por um novo inimigo.
Sem dúvidas, o filme é totalmente carregado por Letitia Wright e Angela Bassett, que ganham força com os ótimos personagens coadjuvantes como a Okoye (Danai Gurira) M’Baku (Winston Duke), Nakia (Lupyta Nyong’o) e Everett Ross (Martin Freeman). Entendo que os problemas com relação à Letitia na vida real tenham refletido no filme, inclusive fãs até pediram a saída da atriz por ela ser contra a vacina durante a pandemia do covid-19. Agora, vendo ao filme, seria bem difícil tirá-la uma vez que a personagem é o ponto central de tudo, fazendo a Marvel optar em reverter a situação com a atriz ao invés de substituí-la.
Enquanto acompanhamos Wakanda se reerguer em meio ao luto, o longa apresenta o antagonista Namor, líder do reino subaquático Talocan, um mutante extremamente forte que vê o seu lar ser ameaçado quando a superfície procura obsessivamente pelo Vibranium, o que faz ele ser radical em suas abordagens, especialmente com Wakanda, já que ele acredita ser o principal culpado.
O ator Tenoch Huerta estreia no MCU, de forma satisfatória no geral, nos quesitos caracterização e personalidade do personagem, pontos que não ficam a desejar. A sua história de origem é bem introduzida em que o público compreende de onde veio, como ele se tornou um mutante e como o reino de Talocan surgiu nas profundezas da água. No entanto, a motivação para iniciar uma guerra com Wakanda é o ponto que dividirá opiniões, culpa de um roteiro que se inclina mais às facilidades.
Em compensação, Pantera Negra: Wakanda Para Sempre entrega cenários lindos tanto de Wakanda quando de Talocan, com alta doses de efeitos especiais que são satisfatórias. Arrisco até dizer que Talocan é uma versão aquática de Wakanda que, em alguns momentos, até nos lembra um pouco da ambientação de Pandora do filme Avatar.
Outro ponto positivo é que o filme encerra a fase 4 e abre portas para a fase 5 do MCU ao introduzir novos personagens que, em breve, veremos em futuras produções da Marvel. São participações boas e na medida certa, cujo aprofundamento virá em suas respectivas produções solos.
Mas, qual é o problema de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre? Talvez a carga emocional fale mais alto aqui e, de fato, fala mesmo, mas é possível enxergar que o roteiro se enfraquece ao entregar facilidades para que as circunstâncias aconteçam, levando uma coisa a outra. Isso é notável pela falta de comunicação entre os personagens, em que tanto o governo norte-americano quanto Talocan acreditam que Wakanda seja a grande culpada pelos ataques, quando não é.
Este impasse leva a uma sequência de argumentos e motivações fracas que geram conflitos e efeitos colaterais graves, culminando em uma grande vingança que poderia colocar tudo a perder. Acredito que o filme poderia ter construído motivações melhores, usando o arco do governo americano de forma eficaz, sem deixá-lo em segundo plano, o que faria o espectador comprar melhor a ideia do conflito entre Talocan e Wakanda.
Isso leva a história a um terceiro ato que se desenvolve pelo sentimento de vingança, salvando-se quando um dos personagens coloca os pés no chão, fazendo a razão falar mais alto do que a emoção. Mesmo com estas ressalvas, isso não diminui a carga importante que o filme tem, muito menos o torna ruim. Dizer que é o pior filme da Marvel de 2022 é fazer um drama desnecessário.
******COM SPOILERS******
Esta segunda parte irá retratar alguns pontos de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre com spoilers. Quando vemos o governo à procura do Vibranium, enquanto Wakanda descobre sobre esta busca frenética e o desrespeito com a aliança proposta, Shuri, Okoye e Ramonda descobrem que uma jovem cientista é a responsável por construir a máquina que o governo usa, capaz de encontrar este recurso natural tão desejado por todos.
É aqui que somos apresentados à personagem Riri Williams (Dominique Thorne), que será protagonista da série Ironheart. Sua introdução é boa e eficaz, na qual sabemos do seu forte potencial e inteligência para construir grandes máquinas, inclusive seu uniforme similar ao do Homem de Ferro. Mas seu desenvolvimento ficará para a série. Além disso, Riri passa a ajudar Shuri, enquanto a princesa a defende de Namor, que deseja matar a cientista, já que acredita que ela seja a responsável pelo mal à Talocan.
Mais uma vez, a Marvel utiliza do famoso arco em que uma adolescente serve como estopim para o caos, já que Wakanda e Talocan entram em conflito por conta de Riri. Acredito que o estúdio não vai deixar de usar este gatilho, mas confesso que esta fórmula já está bastante cansativa. Pelo menos algumas produções não usaram isso, como Mulher-Hulk, Cavaleiro da Lua, Loki, Falcão e o Soldado Invernal e, até mesmo, Ms. Marvel, mesmo sendo protagonizada por uma adolescente.
Junto com a introdução de Ironheart para a fase 5 do MCU, também temos a participação de Valentina Allegra de Fontaine, interpretada por Julia Louis-Dreyfus, que apareceu em Falcão e o Soldado Invernal (2021) e Viúva Negra (2021). Descobrimos que ela foi casada com Everett Ross e, aqui, ela se enfurece quando descobre o contato secreto de Ross e Wakanda, acreditando que ele esteja encobrindo os possíveis ataques. Acredito que a, partir daqui, veremos a formação do grupo Thunderbolts, uma vez que a Val já está em fase de recrutamento e já abordou o John Walker e a Yelena.
Com relação ao roteiro, a trama se desenvolve com facilidades que poderiam ter ganhado uma abordagem mais forte, consistente e coerente. É nítido que Wakanda não tem culpa pelas ameaças à Talocan, porém a rainha e Shuri decidem não revelar nada sobre este reino ao governo, enquanto ambos os lados acreditam que Wakanda seja culpada. A falta de comunicação entre as partes piora as coisas e deixa as motivações fracas, culminando em ataques que nutrem o sentimento de vingança em Shuri.
Enquanto Shuri protege Riri, Namor acredita que Wakanda está do lado do governo quando, na verdade, eles querem apaziguar a situação para evitar uma guerra. Mas as consequências vão piorando, como por exemplo, quando a Nakia entra em Talocan para resgatar Shuri e Riri e mata dois integrantes do reino, o que faz Namor iniciar um ataque feroz, deixando a capital de Wakanda destruída, culminando na morte da rainha Ramonda e despertando a fúria em Shuri.
Aliás, a motivação de Namor também é fraca, pois ele não quer entender que Wakanda não tem culpa, deseja eliminar uma jovem por acreditar ser a grande responsável e usa da história de origem para querer dar uma lição na superfície a fim de proteger o reino.
Por causa disso, ele acaba matando Ramonda, o que é outro ponto alto e muito triste, tornando-se o estopim que alimenta a raiva de Shuri para iniciar uma guerra à Namor. Mas não podemos negar que o personagem é um mutante muito forte, ele consegue estragar Wakanda, deixar as dora milage e outros integrantes vulneráveis, mesmo com toda a tecnologia a favor deles.
Em meio à raiva, Shuri até presencia a figura de Killmonger, vilão do primeiro filme, uma boa participação especial de Michael B. Jordan. Ele aparece para representar as frustrações que a princesa sente no momento, mas é a imagem da mãe e do irmão que a fazem cair em si e não matar Namor em uma sequência boa de luta, na qual o líder de Talocan se rende à Wakanda, quando Shuri finalmente decide vestir o traje do Pantera Negra.
Cena pós-crédito
Na cena pós-crédito de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, o público já está ciente de que Nakia foi embora de Wakanda para o Haiti logo depois da guerra contra o Thanos em Vingadores: Ultimato. No entanto, descobrimos – junto com Shuri – que ela teve um filho com o Rei T’Challa e, atualmente, ele já está na faixa dos seis anos de idade, o tempo que ela partiu do reino.
Sim, temos o herdeiro de T’Challa que, com certeza, assumirá o manto do Pantera Negra futuramente. Enquanto isso não acontece, Shuri assumirá o trono de Wakanda e o traje do protetor até o filho de Nakia ter condições de arcar com esta responsabilidade. E sim, Pantera Negra retornará em breve no MCU.
Considerações finais
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre encerra a fase 4 da Marvel com melancolia e uma sensível homenagem à Chadwick Boseman, abrindo portas para a fase 5 com a introdução de novos personagens, uma Wakanda em fase de superação e um novo Pantera Negra no comando. Mesmo apresentando uma premissa boa e um antagonista promissor, o roteiro peca com furos e facilidades que deixam as motivações fracas na história, salvando-se na reta final. Ainda assim, o filme emociona bastante mesmo com suas falhas à vista.
Ficha Técnica
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
Direção: Ryan Coogler
Elenco: Letitia Wright, Angela Bassett, Lupyta Nyong’o, Danai Gurira, Tenoch Huerta, Winston Duke, Martin Freeman, Dominique Thorne, Michaela Coel, Lake Bell, Julia Louis-Dreyfus, Richard Schiff, Florence Kasumba, Mabel Cadena e Alex Livinalli.
Duração: 2h41min
Nota: 3,5/5,0